TODO AQUELE QUE CRÊ NUM DOGMA, ABDICA COMPLETAMENTE DE SUAS FACULDADES. MOVIDO POR UMA CONFIANÇA IRRESISTÍVEL E UM INVENCÍVEL MEDO DOENTIO, ACEITA A PÉS JUNTOS AS MAIS ESTÚPIDAS INVENÇÕES.

Quarta-feira, 20 de Janeiro de 2010

 

Os incapazes de atacar um pensamento atacam o pensador. (Paul Valery)
Sempre encontramos pela frente fanáticos que sempre estão querendo demonstrar que sabem mais de Bíblia do que nós espíritas. Talvez, inconscientemente, eles julgam ser mais inteligentes ou quiçá mais iluminados que todos nós, uns pobres coitados, que não seguimos a estreita maneira deles de interpretar a Bíblia, especialmente, por estarem atolados até o pescoço nos dogmas fabricados pela liderança religiosa de antanho, cujo objetivo era o de apenas dominar os incautos fiéis, uma vez que não lhes movia o interesse do aperfeiçoamento moral deles.
Vejamos mais um, cuja fala iremos comentar, pois se ficarmos calados pensará que não temos argumentos, reforçando-lhe a crença, que certamente negará, de ser mais inteligente que todos nós. Como não nos interessa a pessoa em si, mas os seus argumentos, omitiremos propositalmente o seu nome. Faremos isso, pois o que ela coloca é bem o pensamento de muitos outros, sabemos disso.
---- Mensagem encaminhada ----
De: xxxxxxxxxxxxxxx <wwwwwwww@yahoo.com.br>
Para: apologia_gae@yahoo.com.br
Enviadas: Terça-feira, 6 de Maio de 2008 16:05:45
Assunto: Hipocrisia kardecista
A prática kardecista de utilizar a Bíblia de acordo com a própria conveniência chega a ser nojenta. Se a Bíblia não é a Palavra de Deus para os homens, os espíritas não deveriam utilizá-la, já que nela não crêem como tal. Falam de Jesus de acordo com a própria conveniência, naquilo que lhe agrada. Quando Jesus fala que João Batista era o Elias que havia de vir, utilizam isto para respaldar a reencarnação, porém quando Jesus fala sobre condenação eterna, Jesus não presta mais. Engraçado que o professor francês que se auto intitulava um druida, que hoje dá nome a um perna de pau do Vasco da Gama, disse que Jesus era o espírito mais puro já existente, o próprio espírito divino. Poderia o próprio espírito divino mentir quando fala sobre condenação eterna? Quando fala sobre a ressurreição dos mortos? Quando fala sobre a teologia do Pai, Filho e Espírito Santo, do derramamento de sangue para remissão de pecados e não na teologia da libertação? Os espíritas kardecistas utilizam-se das palavras de Jesus assim como um motel se utilizou para fazer propaganda. O motel colocou um cartaz na porta dizendo: amai-vos uns aos outros. Deste mesmo modo o espírita faz com as palavras de Jesus para fazer propaganda da falsa doutrina do pedagogo francês, que se contradiz muito em seus escritos. Esquecem que Jesus falou ao povo de Israel: Ouve ó Israel! O Senhor Teu Deus é o único Deus. Engraçado que o Deus de Israel condena quem consulta os mortos. Mas esta palavra de Jesus não serve à conveniência kardecista. criaram um deus conforme suas conveniências, possibilitando o reino dos céus a qualquer um que se esforce, como se fosse por mérito próprio e não pela remissão dos pecados como Jesus disse. Se vocês quiserem, eu dou todas as referências Bíblicas disto que eu falei. Só mostrem para o Paulo da Silva Neto Sobrinho. Eu quero que explique baseado no contexto, e não isoladamente (conforme no motel). Eu quero saber se dentro do kardecismo há algum espírito mais evoluído que Jesus? Se não há, parem de contradizê-lo.
É comum aos que sentem a fraqueza de seus próprios argumentos iniciarem atacando a integridade ou honradez das pessoas ou coisas que desejam combater, esse, que se nos apresenta agora, não foge a esse fado.
Com hipocrisia é o que nos acusam de agir. Certamente que, seguindo Jesus, lhe perdoaremos, pois, indubitavelmente, como acontece com todos os nossos detratores, não conhece absolutamente nada de Espiritismo, no íntimo, teme-nos, pois acha que somos um “perigo” a ele, quando na verdade pouco nos importa a sua maneira de crer, não no sentido de menosprezo, mas por respeitar-lhe a forma de pensar. O Espiritismo, como bem disse Kardec, não veio para aqueles que tem uma religião e nela crêem, veio, isso sim, para os que não tem ou os que negam os valores espirituais, por viverem no materialismo exacerbado.
Considera nojento a prática espírita de utilizar a Bíblia, certo é direito dele. Podemos até ser acusados de não praticar o que consta em Mateus 5,22, mesmo correndo esse risco, diremos, por nossa vez, que mais nojento que isso é atacar as pessoas em suas crenças sem lhes dar o direito de defesa. Deveria saber que usamos a Bíblia apenas porque os fanáticos intolerantes, como é o caso dele, a utilizam para nos atacar. É o que estamos sempre a dizer: “Não faça da sua Bíblia uma arma, pois a vítima pode ser você”. Não só desejamos, mas até mesmo imploramos, que ninguém mais a use com o pretexto de demonstrar que nós espíritas estamos errados na forma de expressar nossa religiosidade, como se fossemos obrigados a ver pela bitolada ótica deles. Caso isso fosse verdadeiro tornaria sem sentido algum a parábola do bom samaritano, na qual Jesus recomenda-nos seguir o procedimento daquele que era, à época, considerado um herético, talvez, na visão desse nosso contraditor, agindo com hipocrisia.
Aos que afirmam ser a Bíblia a palavra de Deus somente podemos considerar que ou realmente não a leram, ou se leram não a entenderam, apenas seguem seus líderes que lhes incutem suas próprias idiossincrasias, merecem nossa comiseração. Muito bem disse o Huberto Rohden (1893-1981), que foi um filósofo, educador e teólogo, que se a Bíblia for mesmo a palavra de Deus devemos convir que Ele tenha colocado na “porta do céu” uma placa com os dizeres “Expediente fechado”, pois, a partir do ano 100 E.C., aproximadamente, nada mais revelou aos homens. Se isso não aconteceu, então, são os fanáticos que “fecham os olhos” para não ver as carnificinas, contradições, coisas anticientíficas, lendas, mitologias etc, como se vê a mancheias em suas páginas. Apenas nos reservamos no direito de não a considerarmos como sendo a palavra de Deus, deixando essa opção aos que assim a acharem melhor conduzir suas vidas. Entretanto, isso não significa que nela não venhamos a encontrar alguma coisa que podemos considerar como sendo mesmo a palavra de Deus, sabemos separar o joio do trigo, não agindo como bibliólatras fanáticos.
Quando falamos do “Jesus que presta”, falamos do Deus que ele nos apresenta, um Deus-Pai, não um deus-carrasco que nos condena eternamente, sem chance de redimirmos dos nossos erros, que aliás, são cometidos por ainda não entendermos plenamente as leis de Deus, portanto deveríamos ser orientados e não castigados, coisa que, sem dúvida, até mesmo um pai humano faria assim.
Se buscamos textos à nossa própria conveniência, não fazemos nada mais do que esse crítico faz, estaremos diante de “dois pesos e duas medidas”? Ademais, é evidente que temos de escolher os textos que nos são favoráveis, aliás, não a nós, mas às Leis divinas, pois aceitar matanças e até indução ao estupro, é evidente que não podemos aceitá-los como inspiração divina, sendo totalmente excluídos de nosso conceito. Que tal se entendesse que todos seremos salvos (Mt 18,12-14), que Deus não pode ser pior que um pai humano (Mt 7,11), que devemos sim pagar pelos nossos erros, entretanto, não eternamente (Mt 5,26). Se deixasse se levar pelo nobre sentimento de amor veria que condenação eterna não existe nas leis de Deus, uma vez que até os cobradores de impostos e as prostitutas, considerados gentes de má vida, entrarão no reino dos céus (Mt 21,31). Por outro lado, o conceito bíblico de eterno é um tempo do qual não se sabia o término, pois nem mesmo a falha legislação humana tem atualmente aplicado pena perpétua aos criminosos, justamente para lhes dar oportunidade de reconciliarem-se com a sociedade.
Os que se ojerizam com a idéia da reencarnação, são, normalmente, aqueles que acreditam na condenação eterna no “fogo do inferno”, entretanto, nenhum entendido de Bíblia, tal e qual esse crítico se posa, foi capaz de provar que Deus o tenha criado. Todos nós temos os Dez Mandamentos como de origem divina, sendo assim, perguntamos: existe a pena de “assar no fogo do inferno” para quem não cumpre algum deles? Seria bom ler o Sl 103,8-10, antes da tentativa, certamente inepta, de responder-nos essa questão.
Quanto ao ser druida, leiamos o que o biógrafo Henri Sausse disse a respeito:
Uma noite, seu Espírito protetor, Z., deu-lhe, por um médium, uma comunicação toda pessoal, na qual lhe dizia, entre outras coisas, tê-lo conhecido em uma precedente existência, quando, ao tempo dos Druidas, viviam juntos nas Gálias. Ele se chamava, então, Allan Kardec e, como a amizade que lhe havia votado só fazia aumentar, prometia-lhe esse Espírito secundá-lo na tarefa muito importante a que ele era chamado, e que facilmente levaria a termo. (SAUSSE, H. Biografia de Allan Kardec in KARDEC, A. O que é o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2007, p. 19).
Portanto, pode se ver claramente que Kardec não “se auto intitulava um druida”, obteve essa informação de um espírito, o que é bem diferente do que foi afirmado pelo crítico com o objetivo de denegrir a imagem do Codificador, por absoluta falta de argumentos para contestar-lhe os pensamentos.
Percebe-se que o contraditor sabe o que Kardec disse a respeito de Jesus (pergunta 625, de O Livro dos Espíritos), então, deveria também saber que ele é o nosso guia e modelo, não o próprio Espírito Divino, mas que este o animava. Certamente, que, por isso mesmo, não poderia mentir. E já que nos reunimos em nome dele, confiamos plenamente que ele está em nosso meio (Mt 18,20). Entretanto, mentem os que interpretam seus ensinamentos à sua conveniência, dando-lhes significado totalmente estranho para um Deus de Amor, como acontece, por exemplo, ao afirmarem da ressurreição dos mortos como algo físico, uma vez que Jesus pregou a ressurreição do espírito, até mesmo porque, como afirmou Paulo, “a carne e o sangue não podem herdar o reino dos céus” (1Cor 15,50). Mas já que falamos em mentir, poderia, nosso crítico, ler os passos 2Sm 12,13-14 e 1Rs 21,19 visando classificá-los com o teor de Dt 24,16.
Um dos grandes problemas que nos leva o fanatismo é que os que assim agem acreditam em tudo que está escrito, sem ao menos se darem ao trabalho de questionar se o que está lá é verdade ou não. Deveriam pesquisar mais e veriam que a expressão “batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19), somente constante dos textos após o ano de 325, foi adicionada pelos dogmáticos teólogos católicos, conforme já apontamos em nosso texto “O Ritual do Batismo”, do qual transcrevemos:
Analisemos a primeira passagem em que aparecem as orientações de Jesus, ressurreto, aos discípulos (ver tb Mc 16,14-18):
Mt 28,16-20: Os onze discípulos foram para a Galiléia,... Então Jesus se aproximou, e falou: "... Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês...”.
Essa passagem é o que, por último, encontramos no evangelho de Mateus e somente nele é que se recomenda batizar “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”, ou seja, em toda a Bíblia é o único passo que diz isso. Chama-nos atenção para o fato de que, naquela época, não se acreditava na Trindade, provando que isso é uma vergonhosa interpolação para justificar práticas ritualísticas criadas posteriormente à morte de Jesus. Agiram dessa forma para transparecer que era coisa comum no período em que Ele ainda vivia entre os discípulos.
Léon Denis, em Cristianismo e Espiritismo, disse:
Depois da proclamação da divindade de Cristo, no século IV, depois da introdução, no sistema eclesiástico, do dogma da Trindade, no século VII, muitas passagens do Novo Testamento foram modificadas, a fim de que exprimissem as novas doutrinas (Ver João I, 5,7). “Vimos, diz Leblois (145), na Biblioteca Nacional, na de Santa Genoveva, na do mosteiro de Saint-Gall, manuscritos em que o dogma da Trindade está apenas acrescentado à margem. Mais tarde foi intercalado no texto, onde se encontra ainda”.
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(145) “As bíblias e os iniciadores religiosos da humanidade”, por Leblois, pastor de Strasburgo.
(DENIS, 1987, p. 272). (grifo nosso).
Grifamos apenas para ressaltar que a origem dessa informação foi tirada da fala de um pastor; isto é importante para demonstrar a imparcialidade de quem dá a notícia.
Entretanto, para nossa própria grata surpresa, conseguimos também provar essa interpolação, ao lermos Orígenes(185-254), considerado como um dos “Pais da Igreja”, que viveu na Antiguidade cristã. Na sua obra apologética intitulada Contra Celso (cerca de 248), ele, refutando as críticas deste filósofo pagão contra os cristãos, transcreve, em seu discurso, muitas passagens bíblicas, e, entre elas, cita Mt 28,19 com o seguinte teor: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos” (ORÍGENES, 2004, p. 154). O que atesta que a expressão “batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” foi mesmo colocada, posteriormente, para se justificar o dogma da Trindade.
O historiador e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, David Flusser (1917-2000), que lecionou no Departamento de Religião Comparada por mais de 50 anos, nascido na Áustria, foi estudioso da literatura clássica e talmúdica, conhecia 26 idiomas, informa que:
De acordo com os manuscritos de Mateus que foram preservados, o Jesus ressuscitado ordenou aos seus discípulos batizar todas as nações “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. A fórmula trinitária franca, aqui, é de fato notável, mas já foi mostrado que a ordem para batizar e a fórmula trinitária faltam em todas as citações das passagens de Mateus nos escritos de Eusébio anteriores ao Concílio de Nicéia. O texto de Eusébio de Mt 28:19-20 antes de Nicéia era o seguinte: “Ide e tornai todas as nações discípulas em meu nome, ensinando-as a observar tudo o que vos ordenei”. Parece que Eusébio encontrou essa forma do texto nos códices da famosa biblioteca cristã em Cesaréia. 75 Esse texto mais curto está completo e coerente. Seu sentido é claro e tem seus méritos óbvios: diz que o Jesus ressuscitado ordenou que seus discípulos instruíssem todas as nações em seu nome, o que significa que os discípulos deveriam ensinar a doutrina de seu mestre, depois de sua morte, tal como a receberam dele. (FLUSSER, 2001, p. 156).
É importante transcrevermos também a nota 75 em que Flusser coloca sua base de informação:
75.Ver D. Flusser, "The Conclusion of Matthew in a New Jewish Christian Source", Annual of the Swedish Theological lnstitute, vol. V, 1967, Leiden, 1967, pp. 110-20; Benjamin J. Hubbard, “The Matthean Redaction of a Primitive Apostolic Commissioning", SBL, Dissertation Series 19, Montana, 1974. Mais testemunho da conclusão não-trinitária de Mateus está preservado num texto copta (ver E. Budge, Miscelleaneous Coptic Texts, Londres, 1915, pp. 58 e seguintes, 628 e 636), onde é descrita uma controvérsia entre Cirilo de Jerusalém e um monge herético. "E o patriarca Cirilo disse ao monge: 'Quem te mandou pregar essas coisas?' E o monge lhe disse: 'O Cristo disse: Ide a todo o mundo e pregai a todas as nações em Meu nome em cada lugar". O texto é citado por Morcon Smith, Clement of Alexandria and a Secret Cospel of Mark, Harvard University Press, Cambridge, Mass, 1973, p. 342-6. (FLUSSER, 2001, p. 170).
Na seqüência, Flusser diz que...
um testemunho adicional das versões mais curtas de Mt 28:19-20a foi descoberto há pouco tempo numa fonte judeu-cristã...(FLUSSER, 2001, p. 156), citando como fonte: Sh. Pinès, “The Jewish Christians of the Early Centuries of Christianity According to a New Source”, The Israel Academy of Sciences and Humanities Proceedings, vol. II, nº 13, Jerusalém, 1966, p. 25. (FLUSSER, 2001, p. 170).
Para corroborar tudo isso iremos apresentar a opinião de Geza Vermes, um dos maiores especialistas sobre a história do cristianismo, que, falando sobre esse passo, disse:
[...] Nos programas missionários anteriores, não houve questão quanto ao batismo, e menos ainda quanto a batizar nações inteiras. Além disso, o batismo administrado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo não tem precedente não só nos Evangelhos, mas também em qualquer lugar de todo o Novo Testamento. A fórmula que ocorre em Atos dos Apóstolos é batismo “em nome de” Jesus (At 2,38; 8,16; 10,48; 19,5) e, em Paulo, batismo “em Cristo” (Rm 6,3; Gl 3,27). Fora de Mateus, a fórmula trinitária, Pai, Filho e Espírito Santo ocorre pela primeira vez no manual litúrgico da igreja primitiva intitulado Didaqué ou Instrução dos Doze Apóstolos, que é datado da primeira metade do século II d.C. Tudo isso aponta para uma origem tardia de Mt 28,18-20.[...] (VERMES, 2006, p. 377-378). (grifo nosso).
Podemos colocar dois argumentos para contradizer essa passagem de Mateus: 1º) é que Jesus, quando vivo, não recomendou o batismo de água, mas um outro, o que veremos mais à frente; 2º) em Atos (2,38; 8,16; 10,48 e 19,5) temos a prova de que se batizava somente “em nome de Jesus”, evidenciando falta grave de quem fez a interpolação por não ter percebido esse pequeno detalhe. Eh!... Não há mesmo crime perfeito!
Mas esse fato não passou despercebido pelos tradutores da Bíblia de Jerusalém, que o minimizam dizendo:
É possível que, em sua forma precisa, essa fórmula reflita influência do uso litúrgico posteriormente fixado na comunidade primitiva. Sabe-se que o livro dos Atos fala em batizar “no nome de Jesus” (cf. At 1,5+; 2,38+). Mais tarde deve ter-se estabelecido a associação do batizado às três pessoas da Trindade. Quaisquer que tenham sido as variações nesse ponto, a realidade profunda permanece a mesma. O batismo une à pessoa de Jesus Salvador; ora, toda a sua obra salvífica procede do amor do Pai e se completa pela efusão do Espírito. (explicação para Mt 28,19, p. 1758). (grifo nosso)
Eis aí acima a que se pode chegar, quando se busca a verdade, não aquilo que dizem ser, pena que fanáticos não conseguem fazer isso.
Sobre a teologia “do derramamento de sangue para remissão de pecados”, há coisas interessantes: João Batista pregava “o batismo de arrependimento para remissão de pecados” (Mc 1,4; Lc 3,3), ficando claro que a remissão de pecados não decorria do derramamento de sangue. Por outro lado, esses dois evangelistas mantêm uma outra idéia ao registrar os acontecimentos durante a ceia, que passou a ser a forma de selar o pacto da Nova Aliança (Mc  14,24; Lc 22,20). João (13) não diz coisa alguma relacionada a sangue, só Mateus (26,28) é onde se encontra essa afirmação, entretanto, cabe-nos questionar o porquê Jesus afirmara que o julgamento seria na base do “a cada um segundo as suas obras” (Mt 16,27); qual o sentido dele ter dito que a nossa “salvação” estaria nos atos de caridade aplicados a favor do próximo, conforme se deduz da parábola do juízo final (Mt 25,31-46) e, por fim, se essas obras não valem nada, por qual razão recomendou-nos seguir o exemplo do bom samaritano que cuidou do homem semimorto à beira da estrada (Lc 10,29-36), como forma de entrarmos no reino dos céus?
É para nós uma grande novidade saber que pregamos a “teologia da libertação”, mas, no fundo, acreditamos que sim: queremos libertar as pessoas do julgo da liderança religiosa que só quer o dízimo delas, como também, lutamos para libertar todos da prisão mental a qual submetem seus fiéis, justamente para arrancar-lhes o dízimo. Há uma frase lapidar de Paulo: “O Senhor é o Espírito; e onde se acha o Espírito do Senhor aí existe a liberdade” (2Cor 3,17), o que significa dizer, em outras palavras, que onde não há liberdade o Espírito do Senhor não existe, ou seja, não se encontra. Ganha um doce quem adivinhar onde?
Em relação à comparação da placa de motel, quem sabe foi de tanto ver as igrejas usando tal expediente para “pelar” seus fiéis, dizendo: “Dê todo o seu dinheiro, que Deus lhe dará em dobro”. (Os pobres coitados não percebem que se deram todo o seu dinheiro ficarão sem nada e o dobro de nada é nada mesmo!!!). Sabemos muito bem que as pessoas acabam transferindo para as outras aquilo que são intimamente, é o que os psicólogos afirmam, é por esse motivo que devemos compreender nosso contraditor, quando adjetiva-nos de “falsa doutrina”.
Nem ao menos sabe separar as coisas, pois Jesus nunca disse “Ouve ó Israel!”, parece-nos mais o que falava Moisés (Dt 5,1; 6,4; 9,1; 27,9). Exato, o nosso crítico está absolutamente certo “O Deus de Israel” condena quem consulta os mortos, porém, o Deus de Jesus não condenou absolutamente nada, inclusive, ele próprio, conversou com os Espíritos de Moisés e Elias, justamente para demonstrar que essa proibição não provem de Deus. É completamente fora de lógica imaginar que Deus tenha criado uma maneira de comunicarmos com os mortos para depois afirmar que fazendo isso estaríamos praticando coisa abominável a Ele, convenhamos que seria muito mais racional que não criasse essa possibilidade. Assim, a “conveniência kardecista” é usar a razão e a lógica para pautar as coisas que devemos fazer ou não, a ficar apegado a um livro que nem mesmo sabemos exatamente quais foram os seus autores.
Quanto às referências bíblicas a respeito da salvação “grátis” (pela remissão dos pecados), não precisa citar, temos pleno conhecimento delas e já demonstramos como erroneamente as interpretam, e, certamente, a sua conveniência faria você buscar somente o que lhe interessa para justificar o que pensa. Lembramos aqui de que se o derramamento do sangue de Jesus fosse para remissão dos pecados, então estaremos todos salvos, de um lado, ou então teremos que arrumar um outro Cristo para morrer pelos pecados dos homens que foram cometidos depois de sua morte até agora, pois a prática pagã de expiação de pecados por sangue, no caso de animais, só valia para os pecados cometidos, não para pecados futuros. Sem falar que estamos esperando o resultado prático até hoje, pois, a rigor, o homem continua pecando. Uma outra coisinha: por que o pecado de Adão e Eva não foi remido já que nascemos com o pecado original (que é bem “original”, isso é mesmo!)?
 
 
 
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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 18:55

Vamos procurar, nos textos bíblicos, o significado para o termo arrebatar; um deles é com o sentido de morrer; vejamos:
Sl 102,25: “Então eu disse: 'Meu Deus, não me arrebates na metade dos meus dias'. Teus anos duram gerações de gerações”.
Sb 14,15: “Um pai, atormentado por um luto prematuro, manda fazer uma imagem do filho tão cedo arrebatado. Agora honra como deus aquele que antes era apenas um homem morto, e transmite para as pessoas de sua casa ritos secretos e cerimônias”.
Podemos, também, nessas passagens acima, usar o vocábulo levar, desde que este tenha o mesmo significado, qual seja, o de morrer.
Temos relatos onde um espírito é quem faz o arrebatamento:
Ez 3,14: O espírito me ergueu e me arrebatou. Eu fui amargurado e irritado, pois a mão de Javé pesava sobre mim.”
Ez 43,5: “Então o espírito me arrebatou e levou para o pátio interno:...”
At 8,39: “...o Espírito arrebatou Filipe, e o eunuco não o viu mais... foi parar em Azoto;...”
Encontramos também, em algumas traduções bíblicas, as expressões “ergueu e me levou”, “me transportou e me levou” e “me levantou, e me levou” para o passo Ez 3,14 e “ergueu-me e trouxe-me”, “levou-me e transportou-me” e “levantou-me e me levou” para Ez 43,5, isso nos leva a concluir que arrebatar também tem os significados aqui citados. Em At 8,39 é usado somente arrebatou.
O que poderíamos entender dessas passagens? Seria, talvez, um fenômeno de transporte, considerando que os envolvidos foram corporalmente parar num outro lugar? Embora seja um fenômeno extraordinário demais, ele é o mais provável para explicar o acontecido, tomando-se os relatos como verdadeiros.
Não seria isso o que aconteceu com Elias? Ora, pelo que percebemos tal ocorrência não era totalmente estranha aos que o conheciam. Leiamos:
1Rs 18,11-12: “E agora, o senhor me manda dizer ao meu patrão que Elias está aqui?! Quando eu sair daqui, o espírito de Javé transportará o senhor não sei para onde. Eu irei informar Acab, e ele, não o encontrando, me matará. E seu servo teme a Javé desde a juventude”.
Explicam-nos os tradutores da Bíblia de Jerusalém: “Esses desaparecimentos repentinos parecem ter sido um dos traços da história de Elias (2Rs 2,16) até o seu arrebatamento definitivo (2Rs 2,11s)”. (BJ, p. 497). Com isso poderemos entender o porquê de os irmãos profetas, que moravam em Betel e os que moravam em Jericó, terem dito a Eliseu: "Você está sabendo que Javé hoje mesmo vai levar embora seu mestre, nos ares, por cima da sua cabeça?" (2Rs 2,3.5), obtendo dele a resposta: “Claro que eu sei. Mas fiquem quietos” (2Rs 2,3.5). Ou seja, todo mundo já sabia o que ia acontecer a Elias.
Podemos, ainda, ver a tranqüilidade com que Elias via essa questão, não ficando temeroso em relação ao seu iminente “arrebatamento”, inclusive, dizendo a Eliseu que ele poderia lhe pedir o que quisesse antes que ele fosse arrebatado (2Rs 2,8). E, na seqüência, ele, Elias, subiu ao céu no redemoinho, após o aparecimento de um carro de fogo com cavalos de fogo que o separou de Eliseu (2Rs 2,11). Os cinqüenta profetas que estavam acompanhando o desenrolar dos fatos (2Rs 2,7), se propuseram a enviar alguns homens valentes para procurar Elias, dizendo: “Talvez o espírito de Javé o tenha arrebatado e jogado sobre algum monte ou dentro de algum vale” (2Rs 2,16). Só que Eliseu, retrucou: “Não mandem ninguém” (2Rs 2,16). A questão é: se pensassem mesmo que Elias tivesse ido literalmente para o céu, essa idéia de procurá-lo não faz o menor sentido. O fato de Eliseu não ter concordado, talvez, se explique que ele não fazia questão de que achassem Elias, porquanto, ele, como seu discípulo, é quem iria substitui-lo no cargo de “profeta oficial”, vamos assim dizer.
Então, Elias poderia ter sido levado (arrebatado) para um outro lugar? É provável, pois em 2Cr 21,12-15 está narrado que depois desse episódio com Elias, Jeorão (sua forma abreviada é Jorão), rei de Judá, recebeu uma carta dele. O escritor Paulo Finotti, em seu livro Ressurreição, informa-nos sobre isso: “Assim, quando Jeorão, rei de Judá, começou a reinar, já havia ocorrido o que está escrito em II Reis 2:11,12, e se Elias ainda podia enviar uma carta ao rei Jeorão é porque, após a sua “ascensão”, continuava aqui na terra profetizando para o reino de Judá. (FINOTTI, 1971, p. 26-27).
Realmente, segundo a citada narrativa bíblica (2Cr 21,12-15), Elias, depois de ter sido supostamente arrebatado aos céus, enviou mesmo uma carta a Jeorão, filho e sucessor de Josafá, de Judá. O que pode ser corroborado com os tradutores da Bíblia de Jerusalém, que afirmam:“De acordo com a cronologia de 2Rs, Elias tinha desaparecido antes do reinado de Jorão de Israel (2Rs 2; 3,1) e, portanto, antes de Jorão de Judá (2Rs 8,16; cf. no entanto 2Rs 1,17). O cronista deve utilizar uma tradição apócrifa”. (p. 607).
Sem levarmos em consideração que Jesus disse que “o reino dos céus está dentro de vós” (Lc 17,21) e acreditando nesse arrebatamento como se Elias tivesse ido para o céu, fica-nos uma interrogação: por qual privilégio isso aconteceu, pois até mesmo Jesus passou pela experiência da morte? E se “Elias era homem fraco como nós” (Tg 5,17) e que “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10,34), então, disso concluímos, que não havia a menor possibilidade dele receber qualquer tipo de tratamento especial.
Temos mais duas passagens; entretanto são um tanto quanto problemáticas. A primeira é a do livro de Ezequiel:
Ez 8,1-3: “No dia cinco do sexto mês do ano seis, eu estava sentado em casa, com os anciãos de Judá sentados em minha presença, quando sobre mim pousou a mão do Senhor Javé. Tive nesse momento uma visão: era uma figura com aparência de homem... Ele estendeu uma espécie de mão e me pegou pelos cabelos. O espírito me carregou entre o céu e a terra e, em visões divinas, levou-me a Jerusalém, até o lado de dentro da porta que dá para o norte, lá onde estava a imagem que tanto provocava o ciúme.”
Tudo nos leva a crer que, em princípio, trata-se de um desdobramento, ou seja, o espírito do profeta se desliga do corpo e é levado por um anjo até Jerusalém, onde vê os acontecimentos. Alguns tradutores bíblicos têm o fenômeno como vidência (Bíblia Sagrada Paulinas, p. 928 e Bíblia Sagrada Vozes, p. 1040). Na Shedd, encontramos, a explicação para “em visões de Deus”, expressão citada em Ez 8,3:
Esta frase põe fim ao debate sobre como Ezequiel podia ter sido transportado para Jerusalém e responde às teorias que dizem que o profeta nunca foi para a Babilônia, mas, sim, estava vendo os acontecimentos em Jerusalém e profetizando para os cativos na Babilônia. Trata-se de visões, da qualidade de vidência, coisa que sempre existiu entre os orientais, e já que são visões que vieram diretamente de Deus, é claro que o profeta sentira que foi uma situação verídica, de acontecimentos atuais em Judá. (p. 1160-1161).
Com isso acabamos por ficar na dúvida em relação ao acontecido com Ezequiel, se temos um fenômeno de desdobramento ou uma vidência à distância (clarividência), pois as duas situações poderiam explicá-lo.
A outra vamos encontrá-la no capítulo 14 do livro de Daniel, que, juntamente com o 13, não faz parte das bíblias protestantes, somente das de cunho católico. Segundo pudemos constatar esses dois capítulos são adições gregas (Bíblia de Jerusalém, p. 1579). Dito, isso, leiamos:
Dn 14,33-39: “Na Judéia vivia o profeta Habacuc. Ele fez um cozido, partiu uns pães numa gamela e ia saindo para a roça, a fim de levar essa comida para os trabalhadores. O anjo do Senhor disse a Habacuc: "Esse almoço que você tem aí leve para Daniel, lá na Babilônia, na cova dos leões". Habacuc disse: "Meu senhor, eu nunca vi a Babilônia, nem conheço essa cova!" O anjo do Senhor pegou-o pelo alto da cabeça, carregou-o pelos cabelos e, com a rapidez do vento, colocou-o à beira da cova. Habacuc gritou: "Daniel, Daniel! Pegue o almoço que Deus lhe mandou". Daniel disse: "Tu te lembraste de mim, ó Deus, e nunca abandonas aqueles que te amam". Então Daniel pegou o almoço e comeu. Imediatamente o anjo do Senhor colocou Habacuc de novo no mesmo lugar onde estava antes”.
Sobre Habacuc temos: “Nada sabemos desta personagem, a não ser uma referência legendária em Dn 14,33-39” (MONLOUBOU e DU BUIT, 1997, p. 336). Portanto, podemos concluir que a referência a ele nessa passagem é lenda pura. Não bastasse isso, ainda temos sérios problemas com o outro personagem da história. Enquanto alguns datam que Daniel tenha vivido próximo do ano 605 a.C., os acontecimentos relatados em Daniel, fora a primeira parte (caps. 1-6) teriam ocorrido na época de Antíoco Epífanes, ou seja, entre 167 a 164 a.C., o que nos dá uma longevidade extraordinária ao profeta Daniel. A coisa é tão alarmante que até tradutores bíblicos questionam sobre a realidade dos fatos narrados no livro que leva esse nome:
O livro divide-se em duas partes distintas: cc. 1-6, onde se narra a vida de Daniel na corte da Sabilônia, e cc. 7-12 que contém quatro visões sobre a derrocada dos reinos terrestres e a implantação final do reino de Deus. O livro termina com os cc. 13-14 (apenas na versão grega) que relatam as histórias de Susana, dos sacerdotes de Bel e do dragão.
A situação histórica coloca o nosso Daniel no reinado do Antíoco IV Epífanes, que determinou o extermínio da religião judaica e a consecutiva helenização da Palestina. O autor do livro de Daniel (a nós desconhecido) serve-se de histórias antigas, segundo o gênero agádico, então muito em voga (cc. 1-6; 13-14), para inculcar esperança e fé aos judeus perseguidos por Antíoco IV. Assim como Deus protegeu Daniel e os seus companheiros de todos os perigos, assim acontecerá com os judeus que forem fiéis à Lei e às tradições religiosas. O autor não tem em vista escrever fatos históricos, mas histórias moralizadoras, que poderiam, na realidade, ter um fundo ou um núcleo histórico, mas de segunda importância, Os dados internos do livro, lingüístico, histórico e teológico obrigam-nos a datar o livro por altura da morte do rei Antíoco IV (165-164 a.C.). Os cc. 7-12 são do gênero apocalíptico, muito diferentes, portanto, da tradição profética. Os apocalipses, cuja característica é a pseudonímia, nascem nesta altura e prolongam-se até aos sécs. II-III d.C. Ao longo do livro daremos as diversas explicações nas notas respectivas, quer sobre problemas de gênero literário, histórico, problemas lingüísticos, de canonicidade etc. (Bíblia Sagrada - Santuário, p. 1313). (grifo nosso)
Com esses dois problemas, ou seja, que Habacuc e Daniel tenham vivido na época de Antíoco IV, o relato do livro não deve ser tomado à conta de uma realidade objetiva:
Os principais recursos do gênero e do livro são a ficção narrativa e a alegoria. O autor conhece o passado em grandes linhas, estiliza-o e conta-o como profecia. Para isso, inventa um personagem passado, a quem dá um nome ilustre, pondo-lhe na boca a história passada como profecia do futuro. A ficção é basicamente uma inversão de perspectiva. Outros recursos narrativos envolvem a ficção. (Bíblia Sagrada do Peregrino, p. 2126).
Não podemos deixar de citar a passagem na qual relata-se a tentação de Jesus. Transcrevemo-la nas versões de cada um dos evangelistas:
Mt 4,1-2.5.8.11: “Então o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, sentiu fome.
Então o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o na parte mais alta do Templo.
O diabo tornou a levar Jesus, agora para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e suas riquezas.
Então o diabo o deixou. E os anjos de Deus se aproximaram e serviram a Jesus”.
Mc 1,12-13: “Em seguida o Espírito impeliu Jesus para o deserto. E Jesus ficou no deserto durante quarenta dias, e aí era tentado por Satanás. Jesus vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam”.
Lc 4,1-2.5.9: “Repleto do Espírito Santo, Jesus voltou do rio Jordão, e era conduzido pelo Espírito através do deserto. Aí ele foi tentado pelo diabo durante quarenta dias. Não comeu nada nesses dias e, depois disso, sentiu fome.
O diabo levou Jesus para o alto. Mostrou-lhe por um instante todos os reinos do mundo.
Depois o diabo levou Jesus a Jerusalém, colocou-o na parte mais alta do Templo. E lhe disse: "Se tu és Filho de Deus, joga-te daqui para baixo”.
Esse acontecimento está narrado após o batismo de Jesus. Entretanto João Evangelista, que, apesar de também mencioná-lo, não fala absolutamente nada sobre esse episódio da tentação, que não conseguimos decifrar se foi só um fato isolado ou se Jesus foi tentado durante os quarenta dias, visto os textos se conflitarem nesse ponto.
A idéia que se tem é que, após receber o Espírito Santo, Jesus foi por ele levado ao deserto para ser tentado, fato que julgamos totalmente estranho; diríamos, até, “mui amigo” quem o levou. Uma coisa que quase ninguém fala é da impossibilidade de Jesus ter sido tentado, caso seja ele a própria divindade, pois está escrito: “Deus não pode ser tentado pelo mal” (Tg 1,13). Por outro lado, mesmo sem o considerar assim, parece-me que não se leva em conta que os demônios sabiam de sua origem; então, como poderiam afrontá-lo? Diante dele o que normalmente acontecia era: “De muitas pessoas também saíram demônios, gritando: 'Tu és o Filho de Deus'. Jesus os ameaçava, e não os deixava falar, porque os demônios sabiam que ele era o Messias” (Lc 4,40-41).
Há ainda mais uma situação de arrebatamento: essa acontecida com Paulo, o apóstolo dos gentios, que assim a descreveu:
“Conheço um homem em Cristo, que há catorze anos foi arrebatado ao terceiro céu. Se estava em seu corpo, não sei; se fora do corpo, não sei; Deus o sabe. Sei apenas que esse homem - se no corpo ou fora do corpo não sei; Deus o sabe! foi arrebatado até o paraíso e ouviu palavras inefáveis, que não são permitidas ao homem repetir” (2Cor 12,2-4).
Pelo que conhecemos dos fenômenos mediúnicos, certamente poderemos classificar essa ocorrência com Paulo como sendo o da emancipação de sua alma, comumente chamada de desdobramento. O espírito se desliga temporariamente do corpo e vai para um outro lugar, que lhe atrai ou no qual tenha uma tarefa a fazer, podendo, inclusive, adquirir novos conhecimentos ou receber instruções daqueles que se encontram no plano espiritual.
Diante da ignorância dos fatos, para os quais não tinham explicação diante de seus conhecimentos, buscaram arrimo no “poder” de Deus, levando-os à conta de milagres, não tendo, em razão disso, outra justificativa a não ser reputá-los como sobrenaturais. Assim, passou-se a considerar o arrebatamento de Elias como sendo um fenômeno de ordem sobrenatural, pelo qual, ele, de corpo e alma, teria sido literalmente levado para o céu, apesar disso contrariar os passos: “a carne e o sangue não podem herdar o reino dos céus” (1Cor 15,50) e “o reino dos céus está dentro de vós” (Lc 17,21), como também não se compatibilizar com “o Espírito é que dá vida, a carne não serve para nada” (Jo 6,63). O que se fará com ela, a carne, numa dimensão espiritual, onde até o próprio “Deus é Espírito” (Jo 4,24)? E não vale o chavão: “mistérios de Deus”!
Supondo-se tal fato verdadeiro, Elias somente poderia ter sido transportado a um outro a um outro local aqui na Terra, como entenderam os filhos dos profetas, conforme consta de 2Rs 2,16; caso contrário seria a outro mundo igual ao nosso, pois teria que continuar vivendo da mesma forma que vivia aqui na Terra (alimentando, saciando a sua sede, respirando, dormindo, etc), provando aí, então, a existência de outros mundos iguais ao planeta Terra, caso Deus não tenha criado um lugar só para Elias.
 
 
 
 
 
 
Referência bibliográfica:
 
Bíblia Anotada, versão Almeida, revista e atualizada. São Paulo: Mundo Cristão, 1994.
Bíblia de Jerusalém, nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia do Peregrino, edição brasileira. São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia Sagrada, 37ª ed., São Paulo: Paulinas, 1980.
Bíblia Sagrada, 68ª ed. São Paulo: Ave Maria, 1989.
Bíblia Sagrada, 8ª ed., Petrópolis: Vozes, 1989.
Bíblia Sagrada, edição revista e corrigida. Brasília: SBB, 1969.
Bíblia Shedd, 2ª ed., São Paulo: Vida Nova; Barueri, SP: SBB, 2005.
FINOTTI, P. Ressurreição, São Paulo: Edigraf, 1972.
MONLOUBOU, L. e DU BUIT, F. M. Dicionário Bíblico Universal. Petrópolis: Vozes; Aparecida, SP: Santuário, 1997.
 
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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 18:12

Não há idéia nova que não sofra o ataque impiedoso dos homens. Esse ataque se estende a tudo, às inovações materiais e espirituais, como se o progresso devesse abrir caminho através das maiores dificuldades.

Todos sabem o tributo que deram à evolução os grandes gênios que a Terra tem tido. Vamos encontrar os pioneiros, qualquer que seja o domínio de sua atividade, pagando muito caro a ousadia de quererem trazer ao gênero humano os benefícios de suas descobertas, de suas obras, de suas luzes.

A estrada dos nossos conhecimentos está tingida com o sangue dos mártires. E se qualquer invenção, nos âmbitos da matéria, é recebida com hostilidade, fácil é compreender a oposição formidável que deve acarretar um movimento espiritual.

Ora, o Espiritismo veio agitar o mundo das idéias, e quando é a razão que se põe em marcha, as lutas são extraordinárias.

As novas doutrinas espiritualistas estenderam sua ação e disciplinas várias e, ao mesmo tempo, invadem os domínios da Filosofia, da Ciência e da Religião. Eis, por consequência, os conservadores de pé atrás. É o homem velho que se levanta espantado, atemorizado, irritado.

Não são apenas "princípios" o que a Doutrina Espírita vem abalar; é o comodismo, é o jogo dos interesses. Há mais ainda: os privilégios se sentem ameaçados.

O Espiritismo foi, pois, o espantalho que surgiu no século XIX e contra ele e contra sua tese formou-se uma coligação geral. Todos os corpos doutrinários, todas as instituições, até então conflagrados pelas mais profundas divergências, se adunaram como as cidades gregas diante do alude persa.

Ciência e religião, que viviam em divórcio, irmanaram-se para combater o "inimigo", como irmanadas ficaram as igrejas, até então umas com outras em perpétua guerra.

O Espiritismo, como o Cristo, porém, não veio destruir a lei, mas dar-lhe cumprimento. Não há por que o recearem os homens de bem. Sempre houve no mundo lugar para todos e o Sol do amor divino estende-se por toda parte. As doutrinas que a Terceira Revelação veio fornecer à Humanidade só visam encaminhá-la para Deus.

Não são os pórticos sagrados que perigam; o que periga é a iniquidade, a felonia, a cupidez, a hipocrisia, a veniaga, o embuste, o orgulho, a prepotência, a intolerância, a estagnação. Sobretudo o que periga é o círculo acanhado em que se tem procurado fechar o pensamento, manietando-lhe os surtos, aprisionando-o, esmagando-o.

Aqueles que cumprem os seus deveres, com sinceridade, estarão inteiramente seguros, ou sob o zimbório das suas catedrais ou sob o colmo dos seus tugúrios.

O Espiritismo prega o respeito a todas as crenças; o que busca reformar não são os templos, são os corações. E porque o homem, esquecido dos princípios divinos, se afasta das missões que lhe incumbem, é que o Espírito Santo desce à Terra e vem, nas manifestações da mediunidade, mostrar às criaturas interesseiras que Deus prescinde dos seus serviços.

Entre as diversas formas de combate ao Espiritismo conta-se a de procurar minar pela base as suas doutrinas, desmoralizando os seus livros fundamentais.

Tirante as agressões chocarreiras e as injúrias anônimas, que deixamos de lado, este é o terreno dos intelectuais e por isso merece que o consideremos.

Padres e pastores protestantes, grande parte das vezes bem ilustrados, servindo-se de argumentos lançados com habilidade digna, aliás, de melhor empresa, analisam as obras espíritas e buscam mostrar os erros e as contradições da doutrina ou de Allan Kardec.

Em suma, ao lerem-se as objurgatórias, a impressão tida, num relance de olhos, é que todo o ensinamento espírita não passa de um montão de tolices, e que os eméritos "defensores do Cristianismo", como se proclamam, procuram destruí-las em benefício da fé.

As diatribes correm o mundo. O que diz um padre repete o pastor; o que diz um pastor vai servir de tese a um materialista. A literatura minaz abre caminho. Os impressos vão de igreja em igreja, passam de mão em mão e depois correm de boca em boca. Alguns bem elaborados, redigidos com estilo, com elegância, com humorismo, aparentando construção lógica, vão surtindo o seu efeito entre o povo ignaro.

Ora, apesar do grande esforço que representa para os nossos frágeis ombros e para as nossas poucas letras, revidar aos ataques, tomamos a empreitada de demonstrar a inanidade do propósito demolidor, resolvendo coligir as principais objeções apresentadas pelos adversários do Espiritismo, apanhando-as de várias fontes, a fim de mostrar os equívocos em que caíram seus autores.

Este trabalho representa, portanto, uma resposta às críticas lançadas ao Espiritismo. O que deve ficar em foco é a matéria; o de que se cuida é rebater teorias, desfazer enganos, explicar textos, corrigir transcrições, restabelecer a verdade.

Se algo há a reprochar de seus acusadores é o se haverem deixado levar pelo espírito de seita, que empana, por vezes, lúcidas inteligências.

O partidarismo, onde quer que se manifeste, anuvia o sentimento de justiça. As fortes cerebrações, quando tomadas de paixão, nem sempre escolhem o caminho acertado. E é tão falho o nosso entendimento e tão precário o nosso juízo, que tudo devíamos estudar com ânimo desprevenido, mormente os que procuramos servir a Deus e principalmente os que têm cargos de responsabilidade nos seio das sociedades, como condutores de almas.

O que lhes havia a censurar, se acaso censura merecessem, seria a pressa que se deram em julgar se o necessário exame, pelo desejo de verem aparrada uma doutrina que não divisam com bons olhos.

Conta-se que Pedro III, rei de Castela, costumava nomear pessoalmente os juízes do seu reino. Um dia, vagou no Tribunal de Sevilha um lugar de juiz e três concorrentes o disputaram. Pedro III chamou-os a todos e, indicando-lhes com a mão a metade de uma laranja que boiava na água de um tanque, perguntou: - Que é aquilo?

O primeiro respondeu sem hesitar: - É uma laranja.

- a metade de uma laranja – disse o segundo, sem refletir.

E como o terceiro não respondesse, o rei repetiu a interrogação.

Então, o aspirante a juiz, servindo-se de um bastão, aproximou de si a metade da laranja que flutuava, voltou-a em todos os sentidos, e, depois de ter hesitado alguns instantes, disse: - Deve ser a metade de uma laranja.

- És um sábio – assegurou o rei – e vais ser o nomeado, porque não te atreveste, como os outros concorrentes, a julgar sem haver estudado bem a questão. Mais ainda: embora estivesses quase convencido de que não te enganavas, nem mesmo assim quiseste resolvê-la definitivamente.

Os nossos caros irmãos católicos, protestantes ou materialistas deveriam, pois, no caso, proceder sempre como aquele terceiro concorrente: examinar muito a meia laranja antes de darem o seu veredicto.

Mas quão inverso é o que acontece! Com que afoiteza eles afirmam ou negam tudo, estribados em hipóteses precárias, em esteios movediços, numa argumentação casuística! Com que confiança asseguram que não há Espíritos ou que os Espíritos não se comunicam, apesar do infindável acervo de provas em abono da comunicabilidade! É de ver-se a certeza com que apresentam o seu laudo negativo, quando ele repousa nos andaimes arquitetados depois de exercícios malabares, fruto de prodigiosa acrobacia intelectual.

Á vista dos fenômenos, todos convergentes para a sustentação e demonstração da hipótese espírita, os ilustrados dignitários dos diferentes credos ou se calam ou recorrem às mais absurdas, injustificáveis e improváveis teorias. O que está claro diante dos olhos é o que eles não vêem.

Agora o contrário: a existência do inferno, do diabo, de três pessoas numa só, sendo Deus, ao mesmo tempo, o Filho e o Espirito Santo, isto não lhes causa dúvidas.

Não importa que um Espírito se apresente, se identifique por todos os processos conhecidos na Terra, que diga o que ninguém sabe, que prove a sua qualidade de Espírito, com os meios de prova que se requerem nas demonstrações terrenas. Não importa isto: tudo passa à conta do diabo. E devemos acreditar que os acontecimentos não se podem dar por outra forma, nem de outro jeito. Como elemento probante, o mais que se nos fornecem são textos bíblicos, elásticos, refutáveis, inverificáveis. Em matéria de prova devemo-nos todos contentar com isso.

Os representantes da ciência substituem, nos seus argumentos, a palavra diabo pela de subconsciente e dão como resolvido o problema.

É com esse material que uns e outros, ora com alguma ênfase, ora com muito humor, se julgam com o direito, senão com o dever, de se oporem à tese espírita, e então afirmam, asseguram, atestam de modo categórico, que ela está absolutamente, irrefragavelmente perdida!...

Diante de Pedro III não saberíamos como se iam haver os respeitáveis ministros da palavra, os dignos representantes de Deus ou de Minerva, para justificar a freima com que apresentam o seu julgamento.

Muito difícil será conseguir de nossos antagonistas que sobreponham, nos seus estudos, o amor da verdade ao dos princípios que defendem. Acreditamos, porém, nos processos da evolução, e esperamos poder ver, um dia, nesta ou em futuras encarnações, os esforçados antagonistas de agora, empregando as suas energias em defender as ora incriminadas doutrinas, com a mesma sinceridade que puseram em combatê-las.

(À margem do Espiritismo, Carlos Imbassahy)

 

 

 

É com não pouca honra e gratificação que ao lado de nosso apagado nome tomamos emprestado as palavras opulentas desse obreiro infatigável, polemista modelar, escritor claro e persuasivo, que soube, com irrefragável lógica, delineada com precisão e clareza inexcedíveis, rebater à pertinácia de críticas e condenações, carentes de lógica e reveladoras de precário raciocínio e assim demonstrar a inanidade absoluta de todas as críticas e ataques de que há sido alvo a Doutrina dos Espíritos. O que nos deixa por legado uma tarefa imensamente facilitada de responder aos nossos críticos, cujos argumentos, tirantes a forma e a ordem em que se alinham, são sempre os mesmos.

Por isso este site é dedicado a todos aqueles que abrigam o espirito investigador e empreendedor em seu imo, fazendo da dúvida racional e do questionamento incessante o trampolim necessário para a construção de suas próprias opiniões e filosofias de vida.

 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 18:02

É comum vermos as expressões: "a Bíblia diz", "a Bíblia fala", "porque está na Bíblia", "a Bíblia emprega a palavra tal em tal sentido", etc., como se ela fosse um ser vivo com capacidade de pensar e até de se expressar. Não entendem alguns teólogos, principalmente os dogmáticos, que na verdade foram os autores bíblicos que pensaram e se expressaram, e ao longo do tempo, foi ela, por força da afirmativa de ser "a palavra de Deus", adquirindo essa vida própria.

Se tivermos mente aberta, para analisar seu conteúdo, veremos que existem várias passagens que não podem, de forma alguma, ser atribuídas a Deus. Isso, por outro lado, colocaria em cheque a questão de ser ela somente a palavra de Deus. Ora, como ela fazia parte dos rituais religiosos, era lida nos templos, e esses rituais assumem, em todos os tempos e lugares, um caráter sagrado, assim, a Bíblia, adquiriu também o caráter de Sagrada, passando a ter, por isso, a denominação de Bíblia Sagrada, como a conhecemos hoje.

Devemos, para extrair a verdade que ela contém, analisar os fatores culturais e os de época que, de maneira irrefutável, influenciaram os autores bíblicos. Sabemos que muitas pessoas não admitem essas coisas, mas não podemos compactuar com a ignorância, e deixar as coisas como estão. Assim, para o próprio bem dela, devemos mostrar que determinadas coisas foram mudando de sentido (ou significado) com o passar dos tempos.

De uma maneira geral, para o ser humano, parece ser muito mais fácil acreditar em algo, mesmo que ele não exista, do que mudar o seu pensamento a respeito de alguma coisa em que ele já acredita. Assim, com certeza, o que iremos colocar não será ouvido por muitos. E talvez sejamos execrados por outros, além de aqueles que irão nos mandar "arder no mármore do inferno". Mas, nada disso nos fará silenciar diante do que nossa consciência nos diz para fazer, já que buscamos "a verdade que liberta", não a que querem a todo custo nos impor. Achamos isso uma afronta à nossa inteligência, pois agem como se ninguém, a não serem eles, tivesse capacidade de pensar.

 

O primeiro mandamento divino dado ao homem, nós vamos encontrá-lo em Gn 2, 16-17: "E Javé Deus ordenou ao homem: ‘Você pode comer de todas as árvores do jardim. Mas não pode comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, com certeza morrerá’". Aqui a pena para a desobediência ao mandamento foi a morte. Relaciona-se, pois, a uma situação presente, e não para o futuro.

Mas, estranhamente, as penas impostas, é o que se supõe, ao primeiro casal humano foram: a) mulher: parir com dor, paixão que a arrastaria para o marido (graças a Deus), e que seria dominada por ele; b) homem: ter que trabalhar até o "suor do rosto", para tirar da terra os produtos dos quais deveria alimentar-se, e voltar ao pó, ou seja, morrer. Devemos observar que todos os castigos impostos estão relacionados à sua vivência diária, nada de vida após a morte.

Quando o povo hebreu estava no Deserto de Sur, após a sair da escravidão no Egito, Deus disse: "Se você obedecer a Javé seu Deus, praticando o que Ele aprova, ouvindo seus mandamentos e observando todas as leis, eu não mandarei sobre você nenhuma das enfermidades que mandei sobre os egípcios". A pena para a desobediência seriam as enfermidades, ou seja, coisas, também, para uma vida terrena.

Diante do Monte Sinai, é que Deus aparece a Moisés, e lhe entrega as tábuas com os Dez Mandamentos. Nessa ocasião, Moisés, apresenta ao povo várias outras normas de conduta, dizendo ser por ordem de Javé, muitas das quais a morte era a pena a ser aplicada ao infrator, contrariando a determinação de "não matarás", contidas nas duas Tábuas que acabara de receber, as quais ainda deveriam estar debaixo de seus braços, e até aqui não foi estabelecida nenhuma penalidade para os infratores.

Em Levítico, cap. 26, Deus fala das bênçãos e maldições, como conseqüência do cumprimento ou não dos Seus Estatutos e Suas normas, é aí que são estabelecidas as penalidades para a desobediência. Podemos observar que todas as bênçãos prometidas por Deus não é o céu que as religiões dizem ser o destino dos que seguem fielmente a Deus. Todas as recompensas prometidas estão relacionadas a uma vida terrena, não a uma vida futura no céu.

Mesmo em relação às penalidades (maldições), os castigos são sempre relacionados com a vida aqui na terra, ou seja, na vida presente. Apesar das penas serem extremamente rigorosas, nada de inferno para ninguém. E é até importante ressaltar que, se Deus dá vários castigos cada vez maiores, se a expressão "sete vezes mais" foi utilizada por quatro vezes é porque espera a recuperação do infrator, por mais tardia que seja. E, ao final, ainda diz que "não os rejeitarei, nem os desprezarei até o ponto de exterminá-los", ou seja, mesmo que errem muito, Deus possui uma enorme comiseração para com os infratores. Excluindo, portanto, qualquer idéia de penas eternas. É o que também podemos deduzir de Ezequiel 33, 11: "Não sinto nenhum prazer com a morte do injusto. O que eu quero é que ele mude de comportamento e viva".

Em Deuteronômio, cap. 25, encontramos essa interessante passagem: "Quando houver demanda entre dois homens e forem à justiça, eles serão julgados, absolvendo-se o inocente e condenando-se o culpado. Se o culpado merecer açoites, o juiz o fará deitar-se no chão e mandará açoitá-lo em sua presença, com número de açoites proporcional à culpa. Podem açoitá-lo até quarenta vezes, não mais; isso para não acontecer que a ferida se torne grave, caso seja açoitado mais vezes, e seu irmão fique marcado diante de vocês".

Merecem comentários:

     

  • "absolvendo-se o inocente": isto significa que não se deve condenar um inocente.

     

     

  • "condenando-se o culpado": por questão de justiça o culpado deverá ser condenado.

     

     

  • "se o culpado merecer açoites": sinal que pode haver situação especial em que o culpado não mereça receber um castigo, uma repreensão poderia, talvez, ser mais útil.

     

     

  • "o juiz... mandará açoitá-lo em sua presença": a presença pessoal do Juiz indica a necessidade de se ter certeza do cumprimento da pena, se o culpado a merecer.

     

     

  • "com número de açoites proporcional à culpa": sendo o castigo proporcional à culpa, significa que não poderá haver pena igual para todos os tipos de infração à lei.

     

     

  • "podem açoitá-lo até quarenta vezes, não mais": significa, incontestavelmente, que tudo tem um limite, que a pena não poderá ser eterna.

     

No livro de Isaías, lemos: "Se absolvermos o malvado, ele nunca aprende a justiça; sobre a terra ele distorce as coisas direitas e não vê a grandeza de Javé". A idéia central da passagem vai de encontro ao simples perdão, como pensam alguns, já que se diz ser necessário "castigar" o culpado, para que ele, efetivamente, possa aprender a justiça.

Em Eclesiastes encontramos: "Ao sair, eles verão os cadáveres daqueles que se revoltaram contra mim, porque o verme que os corrói não morre jamais e o fogo que os consome jamais se apaga". A mão de Javé se manifestará para os seus servos, mas se indignará contra seus inimigos. Porque Javé vem com fogo, e seus carros parecem furacão, para desabafar sua ira com ardor e sua ameaça com chamas de fogo. É com fogo que Javé fará justiça sobre toda a terra, e com sua espada ameaça o mundo todo: são muitas as vítimas que ele faz". É dessa passagem que as correntes religiosas buscam sustentar o "inferno eterno", entretanto, se bem observamos, é apenas uma figura de linguagem, sendo portanto um simbolismo, não uma coisa objetiva.

O fogo é considerado um elemento purificador. E eterno designar um período determinado apesar da incerteza de sua duração. Assim, a expressão "fogo eterno" poderia, dentro da perspectiva de que a "misericórdia triunfa sobre o juízo" (Tg 2, 13), ser entendida como um período de purificação, do qual não se sabe o fim, nada mais que isso. Podemos comprovar usando a passagem Salmos 103, 8-9: "O Senhor é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno. Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira".

Chegamos a uma interessante conclusão: que apesar da palavra inferno constar da Bíblia, não o podemos aceitar a não ser no sentido de "um longo tempo de purificação", o que se confunde com o conceito de purgatório, que somos forçados a aceitar, mesmo não constando da Bíblia, já que alguém poderia alegar isso.

Jesus ao dizer: "daí não sairá, enquanto não pagar até o último centavo" (Mateus 5, 26) e "O patrão indignou-se, e mandou entregar esse empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida" (Mateus 18, 34) deixa claro que até pagar a dívida ou o último centavo seria o tempo em que o devedor ficaria preso ou entregue aos torturadores, não mais que isso, abolindo, portanto, a idéia do inferno eterno.

As religiões dogmáticas, ao invés de desenvolverem em seus adeptos a idéia de um Deus de amor, para que cada um passe a verdadeiramente amá-Lo, e assim deixem de praticar o mal por amor, confundem-nos com ameaças do inferno, num sentido incompatível com o amor de Deus para conosco, deixando seus fiéis em dúvidas sobre o que mesmo seguir. Usam de uma psicologia negativa, querendo que Deus seja TEMIDO, isso é puro TERRORISMO RELIGIOSO.

 

 

 

 

Bibliografia:

Bíblia Anotada = The Ryrie Study Bible/Texto bíblico: Versão Almeida, Revista e Atualizada, com introdução, esboço, referências laterais e notas por Charles Caldwell Ryrie; Tradução de Carlos Oswaldo Cardoso Pinto, São Paulo: Mundo Cristão -, 1994; Bíblia Sagrada, Editora Ave Maria, São Paulo, 1989, 68a. Edição; Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Sociedade Bíblia Católica Internacional e Paulus, 14a. impressão, 1995; Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, São Paulo, 37a. Edição, 1980; Bíblia Sagrada, Editora Vozes, Petrópolis, 1989, 8a. Edição; Novo Testamento, LEB – Edições Loyola, São Paulo, SP, 1984; Dicionário Bíblico Universal, L.Monloubou e F.M. Du Buit – Petrópolis, RJ, Vozes, Aparecida, SP: Editora Santuário, 1997; A História da Bíblia, Hendrik Willen Val Loon, tradução de Monteiro Lobato, São Paulo, Ed. Cultrix, 1981; Enciclopédia Encarta (Eletrônica).

 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 17:24

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Últ. comentários
Excelente texto. Parabéns!
É como você mesmo colocou no subtítulo do seu blog...
Ok, Sergio.O seu e-amil é só esse: oigres.ribeiro@...
Ok, desejaria sim.
Ola, Sérgio.Gotaria de lhe fazer um convite:Gostar...
Obrigado e abraços.
www.apologiaespirita.org
Ola, Sérgio.Gostei de sua postagem, mas gostaria s...
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