TODO AQUELE QUE CRÊ NUM DOGMA, ABDICA COMPLETAMENTE DE SUAS FACULDADES. MOVIDO POR UMA CONFIANÇA IRRESISTÍVEL E UM INVENCÍVEL MEDO DOENTIO, ACEITA A PÉS JUNTOS AS MAIS ESTÚPIDAS INVENÇÕES.

Quarta-feira, 21 de Abril de 2010

Os protestantes retiraram sete livros inteiros da Bíblia. Vou lhe dar uma ajuda nessa árdua tarefa:
1- Não foi por conterem erros "históricos ou geográficos" que foram removidos, pois o livro de Reis, de Crônicas, Gênesis, Êxodo também possuem este tipo de erro, e continuam na Bíblia;
2- Não foi porque os judeus não o aceitam desde o ano 90dC, pois este argumento levaria a rejeitar todo o Novo Testamento;
3- Não foi por "ensinar" "mentira, vingança" etc, que podemos colar vários trechos presentes em toda a Bíblia que "ensinam" estas coisas (obviamente somente para quem não a compreende);
4- Não foi por conter histórias repletas de simbolismo, pois vários livros da Bíblia possuem estes relatos;
5- Sobrou apenas as "heresias" da oração pelos mortos, que os judeus fazem até hoje(kadish), e os cristãos sempre fizeram; e a importância das boas obras para o fortalecimento da fé.Como vemos, apenas o item 5 é que justifica a retirada estratégica , na maior cara-de-pau, de 7 livros inteiros da Bíblia. E justamente porque ensinavam claramente doutrinas rejeitadas pelos protestantes que os removeram.

publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 05:29

Terça-feira, 20 de Abril de 2010

Disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste, e será que todo mordido que a mirar viverá. Fez Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma haste;sendo alguém mordido por alguma serpente,se olhava para a de bronze, sarava. (Nm 21,8-9).

Primeiramente, devemos encontrar a definição para a palavra serpente citada em Gênesis. Kardec, em esclarecendo sobre o seu significado, disse:

“A palavra nâhâsch existia antes da língua egípcia, com o significado de negro, provavelmente porque os negros tinham o dom do encantamento e da adivinhação. Foi talvez por isso também que as esfinges, de origem assíria, eram representadas com a figura de um negro”.

“Não foi senão na versão dos Setenta – que, segundo Hutcheson, corromperam o texto hebreu em muitos lugares, - escrita em grego no segundo século antes da era cristã, que a palavra nâhâsch foi traduzida para serpente. As inexatidões dessa versão, sem dúvida, prendem-se às modificações que a língua hebraica sofrera no intervalo; porque o hebreu do tempo de Moisés era então uma língua morta, que diferia do hebreu vulgar, tanto quanto o grego antigo e o árabe literário diferem do grego e do árabe modernos”. (KARDEC, A. A Gênese, p. 219).

Até hoje não conseguimos entender o porquê dos teólogos estarem sempre relacionando, no episódio da tentação de Eva, a serpente a satanás. Isso para nós é muito estranho, pois, sabendo que Jesus nos recomenda sermos prudentes como as serpentes(Mt 10,16), fato que torna sem sentido algum essa relação. Quem admitir a correlação entre a serpente e satanás fatalmente estará colocando Jesus numa situação insustentável, já que Ele, ao nos recomendar ter essa qualidade da serpente, estará admitindo que satanás também possui a qualidade da prudência? E, além disso, não sabemos por que cargas-d’água de contínuo colocam essa palavra (serpente) com a inicial maiúscula, o que veementemente repudiamos; por isso nós sempre a escrevemos com letra minúscula mesmo, deixando para usar maiúscula apenas quando estamos nomeando a divindade.

Ao se referir à serpente como o mais astuto de todos os animais (Gn 3,1), é porque ela agiu de moto próprio; portanto, não foi usada por ninguém para dizer o que disse, abstraindo-se da questão de que esse animal não fala. “É, pois, provável que Moisés entendesse, por sedutor da mulher, o desejo indiscreto de conhecer as coisas ocultas suscitadas pelo Espírito de adivinhação...” (KARDEC, A. A Gênese, p. 220).

Mas Kardec, ao fazer suas considerações sobre esse versículo, disse:

“A serpente está longe de passar hoje pelo tipo da astúcia; está, pois, aqui, com relação à sua forma antes que pelo seu caráter, uma alusão à perfídia dos maus conselhos que deslizam como a serpente, e nos quais, freqüentemente, por essa razão, não se confia mais. Aliás, se a serpente, por ter enganado a mulher, foi condenada a rastejar sobre o ventre, isso queria dizer que ela antes tinha pernas, e, então, não era mais uma serpente. Por que, pois, impor à fé ingênua e crédula das crianças, como verdades, alegorias tão evidentes, e que, em fazendo seu julgamento, se faz com que, mais tarde, olhem a Bíblia como um enredo de fábulas absurdas?” (KARDEC, A. A Gênese, p. 219)

Aliás, estamos cansados de ouvir pessoas dizerem que satanás é o pai da mentira; entretanto, contrariamente, tudo quanto à serpente disse foi verdade. Vejamos:

  • Ao dizer que “É certo que não morrereis” (Gn 3,4) a serpente falou absolutamente a verdade, pois o casal continuou vivo;inclusive, relata-se que Adão viveu até completar 930 anos (Gn 5,5).

Observar que “Adão (haadam) é a personificação da Humanidade, sua falta individualiza a fraqueza do homem, em que predominam os instintos materiais, aos quais não sabe resistir” (KARDEC, A. A Gênese, p. 218).

  • Ao explicar o porquê de Deus proibir que comessem do fruto da árvore, ela, a serpente, disse a Eva: Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal (Gn 3,5), exatamente como acontecido, pois os olhos de ambos se abriram (Gn 3,7) e passaram a ser conhecedores do bem e do mal como Deus, uma vez que se afirma Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal (Gn 3,22)

Lembrando que “a árvore, como árvore da vida, é o emblema da vida espiritual; como árvore da Ciência, é o da consciência do homem que adquire do bem e do mal para o desenvolvimento de sua inteligência, ...” (KARDEC, A. A Gênese, 218)

Como conseqüência, Deus, temendo que o casal comesse do fruto da árvore da vida e que se tornasse igualmente imortal, expulsa-o do jardim do Éden (Gn 3,22) onde, conseqüentemente, a falta de Adão representa a infração da lei de Deus e a vergonha de Adão e Eva, ante o olhar divino, que é a confusão do culpado na presença do ofendido e o suor no rosto, para conseguir sua alimentação, o que representa o trabalho neste mundo que se deve ter para alcançar o progresso que é através do trabalho.

Quanto à questão do tu és e ao tornarás” (Gn 3,19), na verdade, era algo que Adão já devia saber, uma vez que, pela narrativa, trata-se apenas de uma explicação e não um castigo como muitos pensam; senão vejamos o versículo na íntegra: “No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado: porque tu és e ao tornarás”. O “castigo” aqui é comer com o suor do rosto, pois se a morte fosse realmente um castigo, estaríamos em sérios apuros para explicar porque os animais e as plantas, que não pecaram, também morrem.

Não podemos também nos esquecer de que se supondo um castigo, ele foi aplicado somente a Adão e considerando que Eva já tinha recebido o seu (as dores do parto), por questão de justiça, não poderia ainda receber o de Adão, já que Adão não recebeu o dela. Não vimos nenhum homem “parir com dor” (graças a Deus!). Por outro lado, se Deus falou mesmo pelos profetas, Jeremias afirmou que cada um, porém, será morto pela sua iniqüidade (Jr 31,30) o que Ezequiel reafirmou quando disse “a alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18,20) e, mais importante ainda, foi confirmado por Jesus “a cada um segundo suas obras (Mt 16,27).

Muitos estudiosos dizem, com razão, que a maioria das correntes religiosas ditas cristãs é, na verdade, puro “paulinismo” e não cristianismo, pois, para elas, a opinião de Paulo prevalece sob a de Jesus. A esses pegaremos uma de suas opiniões, sobre o assunto de que estamos tratando; leiamo-la: “... a serpente enganou a Eva com a sua astúcia,...” (2Cor 11,3), que, conforme podemos concluir, atribui à própria serpente, e não a satanás, a culpa de ter enganado a Eva.

Não há como aludir a serpente com satanás, pois satã - significa "o adversário", "o acusador". O termo "acusador” existia no Império Persa, cuja função era a de percorrer secretamente o reino Persa e fiscalizar tudo o que estava sendo feito de mal no sentido de apresentar denúncias diante do imperador, que mandava chamar os funcionários faltosos e os castigava. Com a evolução da doutrina religiosa judaica, satã acabou se convertendo, de um acusador dos pecados dos homens, num deus secundário, oposto a Javé. Satã não é Lúcifer mencionado em Isaías 14,12, pois se referia ao Rei da Babilônia, já que a narrativa da passagem inicial do capítulo quatorze, assim diz que: Sentença que, numa visão, recebeu Isaías, filho de Amoz, contra a Babilônia. (Is 14,1). Sentença que se referia contra a Babilônia e não a um anjo que, inclusive, já houvera caído, segundo os que se apegam à letra que mata. Ele, satã, não é um anjo que se revoltou contra o Senhor. Ele é apenas um acusador, ou seja, um dos olhos do Senhor, que anda pela Terra e comparece perante o Senhor para acusar e não se opor contra Javé.

Não poderemos deixar de citar uma outra passagem interessante onde, segundo o relato bíblico, o próprio Deus recomenda que se coloque num poste a imagem de uma serpente. Quem quiser comprovar é só ler Nm 21,8-9. Naquela ocasião, ainda no deserto, os hebreus chegaram a uma região infestada de serpentes venenosas, que ingenuamente atribuíram a um castigo de Deus. A serpente de bronze feita por Moisés, segundo recomendação divina, serviu como meio de cura das pessoas que foram mordidas, que, após olharem para a serpente de bronze, ficavam curadas. Essa imagem da serpente de bronze foi objeto de adoração pelo período de cerca de 700 anos. Esta mesma serpente, levantada no deserto por Moisés, veio a ser mencionada por Jesus, quando este esteve com o Sacerdote Nicodemos “... E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado,” (João 3:14), fazendo a alusão de que Ele, Jesus, viria a ser elevado no madeiro, predizendo a sua crucificação.

Curiosamente ela é o símbolo da medicina, que é representado por duas serpentes enroladas num poste e o da farmácia que é uma serpente enrolada numa taça; em ambos representa o poder da cura.

 

 

 

Referência bibliográfica

Bíblia Pastoral – São Paulo: Paulus, 1990.

KARDEC, A. A Gênese, Araras – SP: IDE, 1993.

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 02:03

Segunda-feira, 19 de Abril de 2010

 

Examinem tudo e fiquem com o que é bom. (Paulo de Tarso, 1Ts 5,21).

Os erros não deixam de ser erros porque todos os cometem ao mesmo tempo. (FOX, 1996).

Em busca da solução para a dor e o sofrimento, os povos primitivos inventaram uma lenda com a qual pensavam justificá-los. Daí surgiu a lenda de Jó. Não, caro leitor, nós ainda não estamos necessitando ser dominados com uma camisa de força; mas usaremos a força dos argumentos para provar o que estamos falando com essa análise que faremos do livro de Jó.

Alguns tradutores afirmam:

“A literatura sapiencial floresceu em todo o Antigo Oriente. Ao longo de sua história, o Egito produziu escritos de sabedoria. Na Mesopotâmia, desde a época sumérica, foram compostos provérbios, fábulas e poemas sobre o sofrimento que se assemelham ao livro de Jó”.

(...)

Não é de admirar que as primeiras obras sapienciais de Israel se pareçam muito com a de seus vizinhos: todas elas provêm do mesmo ambiente”. (Bíblia de Jerusalém, p. 797).

“... o autor usa uma antiga lenda sobre a retribuição (1,1-2,13; 42,7-17), omitindo o final (42,7-17) e substituindo-o por uma série de debates que mostram o absurdo da teologia em voga, incapaz de atender à nova situação (3,1-42,6)”. (Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, p. 639)

O autor toma como ponto de partida uma lenda comum na época e, com leves retoques, a relata em 1,1-2,13. O final primitivo dessa lenda se encontra em 42,7-17. A intenção é substituir o final da lenda pelo debate que se encontra em 3,1-42,6”. (Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, p. 640).

“Da natureza poética do livro se segue que não se deve insistir na veracidade histórica de cada passo da discussão. Além disso, a própria índole do diálogo supõe que o autor não tenha querido aprovar todas as idéias expressas pelos interlocutores. A chave da composição conexa está em 42,1-8: Jó, embora tendo um conceito elevado de Deus, pecou por presunção e violência; aos seus amigos, pelo contrário, faltou o conceito adequado de Deus e de sua Providência”.

O prólogo e o epílogo são ficções literárias. Discute-se a historicidade da pessoa de Jó; a opinião mais plausível é a de que também seja uma personagem fictícia, pois o objetivo da obra não é contar a história de um sofredor, e sim, oferecer uma solução e um consolo a todos os que sofrem...”. (Bíblia Sagrada – Edições Paulinas, p. 579).

Como se vê, desde tempos imemoriais, os “donos” das religiões sempre fizeram suas interpolações (usando até lendas, como aqui) e que, para dar força a elas, as atribuía à divindade a que eles prestavam culto.

Lembramo-nos muito bem, quando, nos primeiros contatos com as letras, nossa professora primária, para entreter a turma e desenvolver-lhes a imaginação, contava as famosas histórias infantis. Invariavelmente iniciava assim Era uma vez...” buscando atrair a atenção dos alunos e criando, desde o início, um clima de expectativa. Bom, poderá nos perguntar: mas o que tem isso a ver com o assunto que você se propõe a falar? O que estamos propondo, caro leitor, é uma relação direta entre essas histórias e a história de Jô; veja como se inicia o relato bíblico:

Era uma vez um homem chamado Jó, que vivia no país de Hus. Era um homem íntegro e reto, que temia a Deus e evitava o mal. (Jó 1,1)

É estonteante a correlação entre as histórias infantis e essa que estamos citando. Aliás, sobre esse país de Hus instala-se cizânia geral sobre onde se localiza:

  • Hus, não identificada, mas por certo, situada ao oriente da Palestina. Há quem a coloque no Hauran, sul de Damasco (cf. Gen. 36,28; Lam 4,21),... (Bíblia Sagrada – Edições Paulinas, p. 580)
  • Embora não saibamos com certeza onde se encontra Hus, sabemos que não é território israelita. (Bíblia do Peregrino, p. 1062).
  • Terra de Hus é o território de Edom, fora de Israel... (Bíblia Sagrada – Vozes, p. 634).
  • ... Jó, que viveu em Hus, provavelmente a sudoeste do Mar Morto,... (Bíblia Sagrada - Santuário, p. 733).
  • Ficava a sudeste da Palestina, na Iduméia ou Edom (cf. Lm, 4,21). (Bíblia Barsa, p. 389).
  • Certamente ao sul de Edom (cf. Gn 36,28; Lm 4,21). (Bíblia de Jerusalém, p. 803).

No fundo, ninguém tem certeza de onde é, mas, para escapar dessa dúvida, alguns querem situá-la num lugar conhecido, esperando que os néscios acreditem neles. Consultamos vários mapas bíblicos e em nenhum deles encontramos a localização de Hus, obviamente por não saberem mesmo onde era ou, conforme acreditamos, não passa de uma ficção literária.

Mas, continuando:

Tinha sete filhos e três filhas. Possuía também sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, quinhentas mulas e grande número de empregados. Jó era o mais rico dos homens do Oriente. Os filhos de Jó costumavam fazer banquetes, um dia na casa de cada um, e convidavam as três irmãs para comer e beber com eles. Quando terminavam esses dias de festa, Jó os mandava chamar, para purificá-los. Ele madrugava e oferecia um holocausto para cada um deles, pensando: ‘Talvez meus filhos tenham pecado, ofendendo Deus em seu coração’. E Jó fazia assim todas as vezes” (Jó 1, 2-5).

Tal qual as estórias infantis, aqui também é realçada a riqueza de Jó e um pouco de sua vivência diária. Interessante, nesse relato, é que não são citados os nomes de seus filhos, como seria de se esperar, caso o relato fosse verdadeiro; nem mesmo o de sua mulher.

Embora não seja o que pretendemos abordar, vale uma digressão para um outro assunto, não menos curioso. É a questão de satanás, como sendo o deus do mal; leiamos:

Certo dia, os anjos se apresentaram a Javé e, entre eles, foi também Satã. Então Javé perguntou a Satã: "De onde você vem?" Satã respondeu: "Fui dar uma volta pela terra". Javé lhe disse: "Você reparou no meu servo Jó? Na terra não existe nenhum outro como ele: é um homem íntegro e reto, que teme a Deus e evita o mal". Satã respondeu a Javé: "E é a troco de nada que Jó teme a Deus? Tu mesmo puseste um muro de proteção ao redor dele, de sua casa e de todos os seus bens. Abençoaste os trabalhos dele e seus rebanhos cobrem toda a região. Estende, porém, a mão e mexe no que ele possui. Garanto que ele te amaldiçoará na cara!" Então Javé disse a Satã: "Pois bem! Faça o que você quiser com o que ele possui, mas não estenda a mão contra ele". E Satã saiu da presença de Javé. (Jó 1, 6-12).

A expressão satanás, conforme nos informam vários tradutores bíblicos, quer dizer “acusador”, não sendo, portanto, um ser, mas apenas uma função. Imaginemos num Tribunal de Júri, o promotor de justiça que age na linha de acusação do réu, exatamente o que, no texto, se atribui a esse anjo. Confirmamos o que dizemos pela nota a seguir, relativa a essa passagem:

“A corte celeste, que decide os rumos da história, se reúne no estilo de uma corte oriental. Satã, que significa adversário no tribunal, não é aqui a personificação do mal, e sim uma espécie de investigador...” (Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, p. 640).

Observar que, se na narrativa está se afirmando que entre os anjos que se apresentaram a Javé estava também satanás, é porque ele, evidentemente, era um deles. E se estava junto com os outros não era anjo mau coisíssima nenhuma. Seria a mesma coisa que se dizer que o Promotor de Justiça, que é o outro pólo de que necessita a sociedade para o equilíbrio da Justiça, é um advogado mau, pelo simples fato de exercer a função de acusador.

Entretanto, não sabemos de onde a teologia retira que ele, satanás, é um anjo mau. Só por pura extrapolação, pois, pelo que se vê do relato bíblico, a única coisa que fez foi ferir um pouco o orgulho de Javé. Isso porque, quando Javé disse que Jó era um homem íntegro, o anjo respondeu que ele era assim só porque “os braços” de Javé se estendiam sobre ele, protegendo-o e proporcionando-lhe as regalias terrenas, mas que, se não tivesse isso, talvez Jó não se comportasse daquele modo. Aí Javé deixa que o anjo retire de Jó tudo quanto tinha para ver se assim ele ainda se manteria firme na sua integralidade, como se em algum momento Deus pudesse ter dúvida sobre qualquer coisa ou sentisse a necessidade de alguém lhe provar algo que pensava ser verdadeiro.

Muitos têm a Jó como o “paciente sofredor”; mas será mesmo? Veja:

Então Jó abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento, dizendo: ‘Morra o dia em que nasci e a noite em que se disse: 'Um menino foi concebido'. Que esse dia se transforme em trevas; que Deus, do alto, não cuide dele e sobre ele não brilhe a luz. (Jó 3,1-4).

         A pergunta é: uma pessoa paciente amaldiçoa o dia em que nasceu ou isso é tipo dos impacientes? Como se diz; perguntar não ofende.

         Mas, não bastasse isso, continua o impaciente e já revoltado Jó:

Por que não morri ao sair do ventre de minha mãe, ou não pereci ao sair de suas entranhas? Por que dois joelhos me receberam, e dois peitos me amamentaram? Agora eu repousaria tranqüilo e dormiria em paz, junto com os reis e governantes da terra, que construíram túmulos suntuosos para si, ou com os nobres que possuíram ouro e encheram de prata seus mausoléus. Agora eu seria um aborto enterrado, uma criatura que não chegou a ver a luz”. (Jó 3,11-16).

O nosso amigo apelou feio, pois disse ter sido preferível que tivesse sido abortado. Atitude compreensível para os que, advogando a vida única, não encontra explicação para a dor e o sofrimento, cujo entendimento só poderá ser justificado se aceitarmos a reencarnação, única situação em que a justiça de Deus se manifesta em plenitude. Mas, apesar disso tudo, encontramos em Jó verdades que bem se aplicam aos que acreditam na reencarnação:

Pelo que eu sei, os que cultivam injustiça e semeiam miséria, são esses que as colhem” (Jó 4,8).

E o homem gera seu próprio sofrimento, como as faíscas voam para cima (Jó 5,7).

         Dessa fala de Jó retiramos a Lei de Causa e Efeito, comumente denominada de carma, cuja relação com a reencarnação é direta; quem acredita em uma delas acredita também na outra.

Há em Jó uma afirmação que os teólogos fazem de tudo para mudar-lhe o sentido. Leiamo-la:

Então um espírito passou por diante de mim; fez-me arrepiar os cabelos do meu corpo; parou ele, mas não lhe discerni a aparência; um vulto estava diante de meus olhos; houve silêncio, e ouvi uma voz:...” (Jó 4,15-16).

Aqui fica evidente, por demais, o fato de Jó ter percebido um espírito; entretanto, os não comprometidos com a verdade, mas com seus próprios dogmas, mudam a palavra “um espírito” por um sopro (Bíblias: Vozes, Ave Maria, Paulus) ou por um vento (Bíblia Pastoral). Lamentável!

         Um conselho de Jó:

“Consulte as gerações passadas e observe a experiência de nossos antepassados. Nós nascemos ontem e não sabemos nada. Nossos dias são como sombra no chão. Os nossos antepassados, no entanto, vão instruí-lo e falar a você com palavras tiradas da experiência deles”. (Jó 8,8-10).

Mesmo não sendo o sentido que iremos dar, é, por sinal, um sábio conselho, pois os nossos antepassados podem nos orientar com suas experiências pessoais, de modo que não venhamos a errar em coisas que poderemos ter conhecimento para fazer da forma certa. Considerando que àquela época havia muito pouca coisa escrita, como consultar as gerações passadas se seus componentes já morreram e levaram para o sepulcro seus conhecimentos? Simples: Evocando-os para lhes consultar o espírito, e, evidentemente, estamos falando aos que acreditam na possibilidade da comunicação com os mortos. Aos que não acreditam, perguntaremos: Teria algum sentido Moisés proibir de se comunicar com os mortos se isso não existisse ou não fosse possível?

Muitos acreditam que o homem ainda vem pagando pelo pecado de Adão e Eva; aliás, isso parece muito com a dívida externa brasileira, que governo nenhum consegue pagar; e disso tiram que os filhos pagam pelos erros dos pais; mas Jó parece não concordar com isso:

“Dizem que Deus castiga os filhos do injusto! Ora, faça que o injusto mesmo pague e aprenda: que veja com seus próprios olhos a desgraça, e beba a ira do Todo-poderoso. Pois, o que lhe importa a sua família depois de morto, quando o tempo de sua vida tiver chegado ao fim?” (Jó 21,19-21).

Pena que, em sua justificativa, Jó demonstra não acreditar na vida após a morte, evidenciando uma posição incontestavelmente materialista: morreu acabou.

Um ponto fundamental levantado por Jó, mas, infelizmente, ainda não assimilado pela grande maioria das pessoas:

Deus paga ao homem conforme as suas obras e retribui a cada um conforme a sua conduta. Deus, na verdade, não age de modo injusto. O Todo-poderoso nunca viola o direito”. (Jó 34, 11-12)

E mesmo assim, alguns ainda acham que, por pertencerem à determinada corrente religiosa ou por aceitarem Jesus como seu Senhor e salvador já estejam salvos. Doce ilusão! A justiça é clara: a cada um segundo suas obras.

Diante da afirmação acima de que Deus “retribui a cada um conforme sua conduta”, como explicar que alguém tenha nascido aleijado se Deus corrige o homem também com o sofrimento na cama”? (Jó 33,19). Explicação lógica somente se acreditarmos na pré-existência do espírito e na reencarnação; aliás, para nós, é o grande problema insolúvel de Jó: mesmo justo ainda sofre. Como não podiam atribuir esse sofrimento a Deus, por ser injusto, inventaram esse teste da “paciência”.

A falta de conhecimento das leis da natureza fazia com que o povo hebreu atribuísse a uma atitude de Deus determinados fenômenos naturais como, por exemplo:

“Enche as mãos com raios e atira-os no alvo certo. O trovão anuncia a chegada dele, e a sua ira se acende com a injustiça”. (Jó 36,32-33).

         E ainda há quem diga que a Bíblia é totalmente de inspiração divina. Ô, coitado! Mas a coisa fica bem pior, quando atribuem solidez ao céu (firmamento):

Por acaso você estendeu com ele o firmamento, sólido como espelho de metal fundido?” (Jó 37,18)

A palavra firmamento vem de firme, já que acreditavam que o céu, esse azul que vemos acima de nossas cabeças, era totalmente sólido. Para o povo hebreu havia de ser assim, pois era a única maneira de explicar a existência das águas que caíam por ocasião das chuvas, já que não conheciam o fenômeno da evaporação da água. Observar que em Gêneses já encontramos essa idéia:

Deus disse: ‘Que exista um firmamento no meio das águas para separar águas de águas!’ Deus fez o firmamento para separar as águas que estão acima do firmamento das águas que estão abaixo do firmamento. E assim se fez. E Deus chamou ao firmamentocéu’". (Gn 1, 6-8).

         Essa é também mais uma das inúmeras passagens que não podemos atribuir como sendo de inspiração divina, já que são evidentemente frutos da cultura daquela época.

Muito curioso é que algumas passagens sugerem a idéia da pré-existência da alma, bem como, a reencarnação, como essa, por exemplo:

Certamente você sabe disso tudo, pois então havia nascido e viveu muitíssimos anos. (Jó 38,21).

         Se alguém nos descrevesse um animal dessa forma:

Suas costas são fileiras de escudos, ligados com lacre de pedra; são tão unidos uns com os outros, que nem ar passa entre eles; cada um é tão ligado com o outro, que ficam travados e não se podem separar. Seus espirros lançam faíscas, e seus olhos são como a cor rosa da aurora. De sua boca irrompem tochas acesas e saltam centelhas de fogo. De suas narinas jorra fumaça, como de caldeira acesa e fervente. Seu bafo queima como brasa, e sua boca lança chamas. Em seu pescoço reside a força, e diante dele dança o terror.

Que idéia nós iríamos ter desse animal? Exato: um dragão! Pois é, caro leitor, na Bíblia há a descrição de um animal assim... Veja:

Por acaso você é capaz de pescar o Leviatã com anzol e amarrar-lhe a língua com uma corda? Você é capaz de furar as narinas dele com junco e perfurar sua mandíbula com gancho? Será que ele viria até você com muitas súplicas ou lhe falaria com ternura? Será que faria uma aliança com você, para você fazer dele o seu criado perpétuo? Você brincará com ele como se fosse um pássaro, ou você o amarrará para suas filhas? Será que os pescadores o negociarão, ou os negociantes o dividirão entre si? Poderá você crivar a pele dele com dardos ou a cabeça com arpão de pesca? Experimente colocar a mão em cima dele: você se lembrará da luta, e nunca mais repetirá isso! Veja! Diante dele, toda segurança é apenas ilusão, pois basta alguém vê-lo para ficar com medo. Ninguém é tão corajoso para provocá-lo. Quem poderia enfrentá-lo cara a cara? Quem jamais se atreveu a desafiá-lo, e saiu ileso? Ninguém debaixo de todo o céu. Não deixarei de descrever os membros dele, nem sua força incomparável. Quem abriu sua couraça e penetrou por sua dupla armadura? Quem abriu as duas portas de sua boca, rodeadas de dentes terríveis? Suas costas são fileiras de escudos, ligados com lacre de pedra; são tão unidos uns com os outros, que nem ar passa entre eles; cada um é tão ligado com o outro, que ficam travados e não se podem separar. Seus espirros lançam faíscas, e seus olhos são como a cor rosa da aurora. De sua boca irrompem tochas acesas e saltam centelhas de fogo. De suas narinas jorra fumaça, como de caldeira acesa e fervente. Seu bafo queima como brasa, e sua boca lança chamas. Em seu pescoço reside a força, e diante dele dança o terror. Os músculos do seu corpo são compactos, são sólidos e imóveis. Seu coração é duro como rocha e sólido como pedra de moinho. Quando ele se ergue, os heróis tremem e fogem apavorados. A espada que o atinge não penetra, nem a lança, nem o dardo, nem o arpão. Para ele o ferro é como palha, e o bronze como madeira podre. A flecha não o afugenta, e as pedras da funda se transformam em palha para ele. A maça é para ele como estopa, e ele zomba dos dardos que assobiam. Seu ventre, coberto de escamas pontudas, é uma grade de ferro que se arrasta sobre o lodo. Ele faz ferver o fundo do mar como caldeira, e a água fumegar como vasilha quente cheia de ungüentos. Atrás de si deixa uma esteira brilhante, e a água parece cabeleira branca. Na terra ninguém se iguala a ele, pois foi criado para não ter medo. Ele se confronta com os seres mais altivos, e é o rei das feras soberbas". (Jó 40,25-41,26).

         Vejamos como nos explicam a palavra Leviatã:

Leviatã (ou também o Dragão, a Serpente Fugitiva – cf. 26,13; 40,25+; Is 27,1; 51,9; Am 9,3; Sl 74,14; 104,26) era, na mitologia fenícia, monstro do caos primitivo (cf. 7,12+); a imaginação popular podia sempre recear que despertasse, atraído por uma eficaz maldição contra a ordem existente... (Bíblia de Jerusalém, p. 805).

         Assim, vemos aqui que a cultura de outros povos está influenciando um autor bíblico. Daí concluirmos que realmente não dá para aceitar que a inspiração divina seja responsável por isso.

         Vamos agora analisar a última passagem do livro de Jó:

“E Javé abençoou a Jó, mais ainda do que antes. Ele possuía agora catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas. Teve sete filhos e três filhas: a primeira chamava-se Rola, a segunda Cássia e a terceira Azeviche. Em toda a terra não havia mulheres mais belas do que as filhas de Jó. E o seu pai repartiu a herança entre elas e os irmãos delas”. (Jó 42,12-15).

Esse final glorioso de Jó é deveras muito intrigante, pois, enquanto os seus filhos continuaram na mesma quantidade (Jó 1,2), os seus bens duplicaram em relação à sua posse anterior (Jó 1,3). Será que os bens terrenos terão mais valor que os nossos filhos? Outra coisa: para o povo judeu a mulher não tinha nenhum valor; por isso é estanho a citação dos nomes das filhas de Jó, quando o esperado, se fosse para citar algum nome, seriam os dos seus filhos. Por outro lado, as filhas só receberiam herança se não houvesse filhos para recebê-la: Depois diga aos filhos de Israel: 'Se um homem morrer sem deixar filhos, passem a herança para a filha dele”. (Nm 27,8).

Por essa passagem fica confirmado que a idéia de uma vida após a morte ainda não era pensamento comum; daí suporem que as bênçãos de Deus deveriam ser dadas em bens terrenos e não em bens espirituais, ou seja, para uma vida no plano espiritual.

Conclusão

         De certa forma a nossa opinião já foi dada no desenrolar deste estudo; por isso, vamos, por termos achado fantástica, transcrever a opinião de Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin, tradutores da Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, publicação da Paulus:

“... percebemos que o livro de Jó é uma crítica de toda teologia que se pretenda definitiva e universal. Essa teologia pode se tornar um verdadeiro obstáculo para a própria experiência de Deus. E aqui o autor dá o seu recado: É preciso pensar a religião a partir da experiência de Deus e não de uma teoria a respeito dele”.

(...)

“O livro é um convite para nos libertar da prisão das idéias feitas e continuadamente repetidas, a fim de entrar na trama da vida e da história, onde Deus se manifesta ao pobre e se dispõe a caminhar com ele para construir um mundo novo. Tal solidariedade de Deus se transforma em desafio: Estamos dispostos a abandonar nossas tradições teológicas para nos solidarizar com o pobre e fazer com ele a experiência de Deus?” (p. 639).

Como se diz popularmente: falou pouco e disse tudo.

Paulo da Silva Neto Sobrinho

Ago/2005

Referências bibliográficas

 

A Bíblia Anotada, São Paulo: Mundo Cristão, 1994.

Bíblia Sagrada, São Paulo: Ave Maria, 1989.

Bíblia Sagrada, Edição Barsa. Rio de Janeiro: Catholic Press, 1965.

Bíblia Sagrada, Edição Pastoral. São Paulo: Paulus, 2001.

Bíblia Sagrada, São Paulo: Paulinas, 1980.

Bíblia Sagrada, Aparecida-SP: Santuário, 1984.

Bíblia Sagrada, Petrópolis-RJ: Vozes, 1989.

Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 2002.

Bíblia do Peregrino, São Paulo: Paulus, 2002.

Bíblia Sagrada, Sociedade Bíblica do Brasil, Brasília, DF, 1969.

Escrituras Sagradas, Tradução do Novo Mundo das, Cesário Lange, SP: STVBT, 1986.

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 04:43

Domingo, 18 de Abril de 2010
O Livro dos Espíritos, Livro II, cap V, item 222, obra codificada por Allan Kardec
 
O dogma da reencarnação, dizem certas pessoas, não é novo, pois foi tomado de Pitágoras. Jamais dissemos que a Doutrina Espírita é invenção moderna; o Espiritismo decorrendo de uma lei natural, deve existir desde a origem dos tempos e nos esforçamos sempre em provar que se encontram traços dele desde a mais alta antiguidade. Pitágoras, como sabemos, não é o autor do sistema da metempsicose, pois o tomou dos filósofos indianos e dos meios egípcios, onde existiu desde tempos imemoriais. A idéia da transmigração das almas era, pois, uma crença comum, admitida pelos homens mais eminentes. Por que meio chegou até eles? Pela revelação ou pela intuição? Não sabemos, porém, qualquer que seja, uma idéia não atravessa os tempos e é aceita por inteligências destacadas, sem ter um lado sério. A antiguidade dessa doutrina seria, pois, antes uma prova que uma objeção. Todavia, como se sabe igualmente, há entre a metempsicose dos antigos e a doutrina moderna da reencarnação, esta grande diferença que os Espíritos rejeitam de maneira absoluta: a transmigração da alma do homem para os animais e dos animais para o homem.

Os Espíritos, ensinando a doutrina da pluralidade das existências corporais, renovam pois, uma doutrina que nasceu nas primeiras idades do mundo e que se conservou até os nossos dias no pensamento íntimo de muitas pessoas.

Apresentam-na apenas sob um ponto de vista mais racional, mais conforme com as leis progressistas da Natureza e mais em harmonia com a sabedoria do Criador, despojada dos acessórios da superstição. Uma circunstância digna de nota é que não foi somente neste livro que eles a ensinaram nos últimos tempos. Antes da sua publicação numerosas comunicações da mesma natureza foram obtidas, em diversos países, e depois se multiplicaram consideravelmente. Seria o caso de examinarmos, aqui, porque todos os Espíritos não parecem de acordo com este ponto; isto faremos mais tarde.

Examinemos o assunto sob um outro ponto de vista, e, abstração feita de toda a intervenção dos Espíritos, deixemo-los de lado por enquanto; suponhamos que esta teoria não foi ensinada por eles e mesmo que ela não foi, jamais, por eles cogitada. Coloquemo-nos, momentaneamente, em um terreno neutro, admitindo o mesmo grau de probabilidade para uma e outra hipótese, a saber: a da pluralidade e da unidade das existências corpóreas, e vejamos para qual delas nos guiará a razão e o nosso próprio interesse.
Certas pessoas repelem a idéia da reencarnação por motivos apenas da sua conveniência, dizendo acharem bastante uma só existência e que não gostariam de recomeçar outra semelhante; reconhecemos que o simples pensamento de que tenham de reaparecer sobre a Terra, as faz pularem de furor. Temos só uma coisa a lhes perguntar: é se pensam que Deus pediu os seus conselhos e consultou seu gosto para regular o Universo. Ora, de duas coisas, uma: ou a reencarnação existe, ou não existe; embora os contrarie, será preciso suporta-la sem que Deus tenha que lhes pedir permissão para isso. Parece-nos ouvir um doente dizer: "Já sofri demais hoje e não quero mais sofrer amanhã". Qualquer que seja a sua irritação, ela não o ajudará a sofrer menos amanhã e nos dias seguintes, até que esteja curado; portanto, se eles devem tornar a viver corporalmente, eles viverão, eles se reencarnarão; protestarão inutilmente, como uma criança que não quer ir à escola ou um condenado que não quer ir para a prisão, pois, é necessário que passem por ela. Semelhantes objeções são muito pueris para merecerem um exame mais sério. Diremos, entretanto, para os tranqüilizar, que a doutrina espírita sobre a reencarnação não é tão terrível como imaginam, e se a tivessem estudado a fundo não ficariam tão assustados. Saberiam que as condições dessa nova existência depende deles; ela será feliz ou infeliz segundo o que tiverem feito nesse mundo, e podem, a partir desta vida, se elevarem tão alto que não temerão mais a queda no lodaçal.

Supomos que falamos a pessoas que crêem em um futuro qualquer depois da morte, e não àqueles que tomam o nada por perspectiva, ou que pretendem afogar sua alma no todo universal, sem individualidade, como as gotas de chuva no oceano, o que vem a ser o mesmo. Se pois, credes num futuro qualquer, não admitireis, sem dúvida, que ele seja o mesmo para todos, pois, de outro modo, onde estaria a utilidade para o bem? Por que se reprimir, não satisfazer todas as suas paixões, todos os seus desejos, mesmo à custa de outros, uma vez que não teria conseqüência?

Credes que este futuro será mais ou menos feliz ou infeliz segundo o que fizermos durante a vida; tendes, pois, o desejo de que seja tão feliz quanto possível, uma vez que deve sê-lo pela eternidade. Teríeis, por acaso, a pretensão de serdes um dos homens mais perfeitos dos que existiram sobre a Terra e de ter, assim, o direito de alcançar sem dificuldade a felicidade suprema dos eleitos? Não. Admitis que há homens que valem mais que vós e que têm direito a uma melhor situação, sem que com isso estejais entre os condenados. Muito bem! Colocai-vos, por um instante, pelo pensamento, nessa situação intermediária que seria a vossa, como o admitis, e supondo que alguém venha dizer-vos: "Sofreis; não sois tão felizes como poderíeis ser, enquanto tendes diante de vós seres que gozam uma felicidade perfeita; quereis trocar vossa posição com a deles?" - Sem dúvida direis: "que é preciso fazer?" - Menos que nada, recomeçar o que fizeste mal e procurar fazer melhor. - Hesitaríeis em aceitar mesmo ao preço de várias existências de provas? Tomemos uma comparação mais prosaica. Se a um homem que, sem estar entre os últimos dos miseráveis, sofre privações em conseqüência da escassez de seus recursos, viessem dizer: "Eis uma imensa fortuna que podeis gozar, sendo necessário, para isso, trabalhar arduamente durante um minuto". Fosse ele o mais preguiçoso da Terra e diria sem hesitar- "Trabalhemos um minuto, dois minutos, uma hora, um dia se for preciso; que importa isso se vou terminar minha vida na abundância?" Ora, o que é a duração da vida corpórea em confronto com a eternidade? Menos que um minuto, menos que um segundo.

Raciocinemos desta maneira: Deus, que é soberanamente bom, não pode impor ao homem o recomeço de uma série de misérias e de tribulações. Concluiremos, por acaso, que há mais bondade em condenar o homem a um sofrimento perpétuo por alguns momentos de erro, antes que lhe dar os meios de reparar suas faltas? "Dois fabricantes tinham, cada um, um operário que podia aspirar a vir a ser sócio do patrão. Ora, aconteceu que esses dois operários empregaram uma vez muito mal a sua jornada de trabalho e mereceram ser despedidos. Um dos dois fabricantes despediu seu operário, malgrado suas súplicas, e ele não tendo encontrado trabalho, morreu de miséria. O outro disse ao seu: perdeste um dia e me deves outro em compensação. Executaste mal o teu trabalho e me deves a reparação. Eu te permito recomeçar; trata de executa-lo bem e eu te conservarei, podendo ainda aspirar sempre à posição superior que te prometi." Há necessidade de se perguntar qual dos dois fabricantes foi mais humano? Será Deus, a própria clemência, mais impiedoso que um homem? O pensamento de que nosso destino está fixado para sempre em razão de alguns anos de provas, ainda mesmo quando não tenha dependido de nós alcançarmos a perfeição sobre a Terra, tem qualquer coisa de doloroso, enquanto que a idéia contrária é eminentemente consoladora: ela nos deixa a esperança. Assim, sem nos pronunciarmos pró ou contra a pluralidade das existências, sem admitir uma hipótese à outra, diremos que, se podemos escolher, não existe ninguém que prefira um julgamento sem apelação. Um filósofo disse que se Deus não existisse seria preciso inventa-lo para a felicidade do gênero humano; poder-se-ia dizer o mesmo da pluralidade das existências. Mas, como dissemos, Deus não nos pede permissão, não consulta nosso gosto; isto é ou não é. Vejamos de que lado estão as probabilidades e tomemos a questão sob outro ponto de vista, sempre abstração feita do ensinamento dos Espíritos e unicamente como estudo filosófico.

Se não há reencarnação, não há senão uma existência corporal, isto é evidente. Se nossa atual existência corporal é a única, a alma de cada homem é criada no seu nascimento, a menos que se admita a anterioridade da alma, caso em que se perguntaria o que era a alma antes do seu nascimento e se esse estado não consistiria, de alguma forma uma existência. Não há meio-termo: ou a alma existia ou não existia antes do corpo; se ela existia antes do corpo, qual era a sua situação? Tinha, ou não, consciência de si mesma? Se não tinha consciência é como se não existisse. Se tinha sua individualidade, era ela progressiva ou estacionária? Num ou noutro caso, em que grau estava ao tomar o corpo? Admitindo, de acordo com a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou, o que vem a ser o mesmo, que antes da encarnação ela não tinha senão faculdades negativas, colocamos as seguintes questões:


1 - Por que a alma mostra aptidões tão diversas e independentes das idéias adquiridas pela educação?

2 - De onde vem a aptidão extra-normal, de certas crianças de tenta idade por tal arte ou tal ciência, enquanto outras se conservam inferiores ou medíocres, por toda a vida?

3 - De onde provêm, para alguns, as idéias inatas ou intuitivas que não existem em outros?

4 - De onde vêm, para certas crianças, os instintos precoces de vícios ou de virtudes, os sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza, que contrastam com o meio em que nasceram?

5 - Por que certos homens, abstração feita da educação, são uns mais avançados que outros?

6 - Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomardes uma criança hotentote recém-nascida e a educardes nas melhores escolas, fareis dela, um dia, um Laplace ou um Newton?

Perguntamos: qual é a filosofia ou a teosofia capaz de resolver estes problemas? Não resta dúvida que ou as almas são iguais ao nascerem ou são desiguais. Se são iguais, por que aptidões tão diversas? Dir-se-ia que isto depende do organismo? É, então, a doutrina mais monstruosa e mais imoral. O homem não é mais que uma máquina, joguete da matéria, sem responsabilidade dos seus atos, podendo tudo repelir em razão de suas imperfeições físicas. Se elas são desiguais é que Deus as criou assim; mas, então, por que a superioridade inata concedida a algumas? Esta parcialidade está conforme a sua justiça e o amor que ele tem a todas as suas criaturas?

Admitamos, ao contrário, uma sucessão de existências anteriores progressivas e tudo estará explicado. Os homens trazem, ao nascer, a intuição do que aprenderam antes. São mais ou menos avançados segundo o número de existências que viveram, segundo estejam mais ou menos distantes do ponto de partida; absolutamente como numa reunião de indivíduos de todas as idades, cada um terá um desenvolvimento proporcional ao número de anos que tenha vivido. As existências sucessivas serão, para a vida da alma, o que os anos são para a vida do corpo. Reuni, um dia, mil indivíduos de um a oitenta anos; suponde que um véu caia sobre todos os dias que precederam e que na vossa ignorância os creiais nascidos no mesmo dia; perguntareis, naturalmente, por que uns são grandes e outros pequenos, uns velhos e outros jovens, uns instruídos e outros ainda ignorantes; mas se a nuvem que oculta o passado vem a se dissipar, compreendereis que eles viveram um tempo mais ou menos longo, e tudo se explicará. Deus, em sua justiça, não pode ter criado almas mais, ou menos, perfeitas; mas, com a pluralidade das existências , a desigualdade que vemos não contraria a mais rigorosa equidade, pois apenas vemos o presente, não o passado. Repousa este raciocínio sobre um sistema ou uma suposição gratuita? Não, partimos de um fato patente, incontestável: a desigualdade das aptidões e do desenvolvimento intelectual e moral, que se encontra inexplicado em todas as teorias correntes; enquanto que a explicação é simples, natural, lógica, por uma outra teoria. É racional preferir aquela que não explica nada a esta que explica?

Em relação à sexta questão, dir-se-á, sem dúvida, que o hotentote é de uma raça inferior; então perguntaremos se o hotentote é um homem ou não. Se é um homem, por que Deus o fez, e à sua raça, deserdado dos privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é um homem, por que procurar faze-lo cristão? A Doutrina Espírita tem mais amplitude do que tudo isto. Segundo ela, não há várias espécies de homens, há apenas homens cujos espíritos estão mais ou menos atrasados, mais suscetíveis de progresso; isto não está mais conforme a justiça de Deus?

Vimos a alma em seu passado e em seu presente; se a considerarmos quanto ao seu futuro, encontraremos as mesmas dificuldades:

1 - Se nossa existência atual, unicamente, deve decidir o nosso destino, qual é, na vida futura, a posição respectiva do selvagem e do homem civilizado? Estão eles no mesmo nível ou distanciados em relação à felicidade eterna?

2 - O homem que trabalhou toda a sua vida no seu aprimoramento está na mesma posição daquele que permaneceu inferior, não por sua culpa, mas porque não teve tempo, nem possibilidade de se aperfeiçoar?

3 - O homem que praticou o mal porque não pôde se esclarecer, será culpado de um estado de coisas que não dependeu dele?

4 - Trabalha-se para esclarecer, moralizar e civilizar os homens. Mas por um que se esclarece, há milhões que morrem, cada dia, antes que a luz chegue até eles. Qual o destino destes últimos? São tratados como réprobos? No caso contrário, que fizeram para merecerem estar na mesma categoria que os outros?

5 - Qual o destino das crianças que morrem em tenra idade, antes de poderem fazer o bem ou o mal? Se estiverem entre os eleitos, por que este favor, sem haverem nada feito para o merecer?

Existe uma doutrina que possa resolver todas essas questões?

Admiti as existências consecutivas e tudo se explicará conforme a justiça de Deus. O que não se puder fazer numa existência, se fará em outra. É assim que ninguém escapa à lei do progresso, em que cada um será recompensado segundo o seu mérito real, e ninguém está excluído da felicidade suprema, a que todos podem pretender, quaisquer que sejam os obstáculos que tenham encontrado em seu caminho.

Essas questões poderiam ser multiplicadas ao infinito, porque os problemas psicológicos e morais que não encontram solução, senão na pluralidade das existências, são inumeráveis; limitamo-nos aos mais gerais. Qualquer que ele seja, dir-se-á que a doutrina da reencarnação não é admitida pela Igreja; isto seria, pois, a subversão da religião.

Nosso objetivo não é tratar esta questão neste momento; é-nos suficiente o termos demonstrado que ela é eminentemente moral e racional. Ora, o que é moral e racional, não pode ser contrário a uma religião que proclama Deus a bondade e a razão por excelência. Que teria sido da religião se, contra a opinião universal e o testemunho da Ciência, ela se obstinasse contra a evidência, e rejeitasse do seu seio todos os que não acreditassem no movimento do Sol e nos seis dias da Criação? Que crédito houvera merecido, e que autoridade teria tido, entre povos esclarecidos, uma religião baseada em erros manifestos dados como artigos de fé? Quando a evidência se patenteou, a Igreja se colocou a seu lado. Se está provado que, sem a reencarnação, as coisas que existem são impossíveis, se certos pontos do dogma não podem ser explicados senão por este meio, é preciso admitir-se e reconhecer-se que o antagonismo desta doutrina e desses dogmas não é mais que aparente. Mais tarde mostraremos que a religião está menos distanciada do que se pensa, desta doutrina, e que não sofreria mais do que já sofreu com a descoberta do movimento da Terra e dos períodos geológicos que, à primeira vista, pareceram desmentir os textos sagrados. O princípio da reencarnação ressalta, aliás, de várias passagens das Escrituras e se encontra notavelmente formulado, de maneira explícita no Evangelho:

"Quando desciam do monte ( após a transfiguração ), Jesus lhes ordenou, dizendo: A ninguém conteis do que acabais de ver, até que o Filho do homem seja ressuscitado de entre os mortos. Os seus discípulos então o interrogaram dizendo: Por que pois, dizem os escribas que é preciso que Elias venha primeiro? Mas Jesus lhes respondeu: Em verdade, Elias virá primeiro, e restabelecerá todas as coisas. Mas declaro-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe sofrer tudo o que quiseram. Assim farão eles também morrer o Filho do homem. Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista". (São Mateus, cap.XVII).

Uma vez que João Batista era Elias, há, pois, uma reencarnação do Espírito ou da alma de Elias no corpo de João Batista.

Qualquer que seja, de resto, a opinião que se tenha sobre a reencarnação, que se a aceite ou não, se existe deve ser suportada, não obstante toda a crença em contrário. O ponto essencial é que o ensinamento dos Espíritos é eminentemente cristão; apóia-se na imortalidade da alma, nas penas e recompensas futuras, na justiça de Deus, no livre arbítrio do homem, na moral do Cristo, não sendo, portanto, anti-religioso.

Raciocinemos, como o dissemos, abstração feita de todo ensinamento espírita - que para certas pessoas não tem autoridade - que, se nós, e tantos outros, adotamos a opinião da pluralidade das existências, não é só porque ela nos veio dos Espíritos, mas porque nos pareceu a mais lógica e a única que resolveu essas questões, até então insolúveis.

Viesse ela de um simples mortal e a teríamos adotado da mesma forma e não hesitaríamos mais tempo em renunciar às nossas próprias idéias. Do momento que um erro está demonstrado, o amor-próprio tem mais a perder, que a ganhar, si se obstina em uma idéia falsa. Do mesmo modo nós a teríamos repelido, embora vinda dos Espíritos, se nos parecesse contrária à razão, como repelimos tantas outras, porque sabemos por experiência que não é preciso aceitar cegamente tudo o que vem deles, como aquilo que vem da parte dos homens. Seu primeiro título, para nós, antes de tudo, é de ser lógico, mas existe outro que é de ser confirmado pelos fatos: fatos positivos, e, por assim dizer, materiais, que um estudo atento e racional pode revelar a qualquer um que se dê ao trabalho de observar com paciência e perseverança, na presença daqueles que não permitem mais a dúvida. Quando esses fatos se popularizarem como os da formação e do movimento da Terra, será necessário reconhecer a evidência, e os seus opositores terão gasto em vão os argumentos contrários. Reconheçamos, pois, em resumo, que a doutrina da pluralidade das existências é a única que explica isto que, sem ela, é inexplicável; que ela é eminentemente consoladora, conforme a mais rigorosa justiça e é, para o homem, a âncora de salvação dada por Deus em sua misericórdia.

As próprias palavras de Jesus não podem deixar dúvidas a respeito. Eis o que diz no Evangelho segundo São João, capítulo III:

3. - "Jesus, respondendo a Nicodemos, disse: Em verdade, em verdade te digo, que se um homem não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus".

4. - Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer uma segunda vez?

5. - Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se um homem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te espantes do que te disse: É preciso que nasçais de novo.
 
 
 
Ressurreição da Carne - LE q. 1010
 
- O dogma da ressurreição da carne é a consagração da reencarnação ensinada pelos Espíritos?
Como quereis que o seja de outro modo? Essas palavras, como tantas outras, não parecem insensatas aos olhos de certas pessoas, senão porque as tomam ao pé da letra. Por isso, conduzem à incredulidade. Mas dai-lhes uma interpretação lógica, e aqueles que chamais livres pensadores as admitirão sem dificuldade, precisamente porque eles refletem; porque não vos enganeis, esses livres pensadores não desejam mais do que crer. Eles têm, como os outros, talvez mais que os outros, sede do futuro, mas não podem admitir o que é contestado pela ciência. A doutrina da pluralidade das existências está conforme a justiça de Deus. Só ela pode explicar o que, sem ela, é inexplicável. Como quereríeis que o princípio não estivesse na própria religião?

Assim a Igreja, pelo dogma da ressurreição da carne, ensina ela mesma a doutrina da reencarnação?
Isso é evidente. Essa doutrina, aliás, é a conseqüência de muitas coisas que passaram despercebidas e que não se tardará a compreender nesse sentido. Logo se reconhecerá que o Espiritismo ressalta a cada passo do próprio texto das Escrituras Sagradas. Os Espíritos não vêm, pois, destruir a religião, como alguns o pretendem mas, ao contrário, vêm confirma-la, sanciona-la por provas irrecusáveis. Mas como é chegado o tempo de não mais empregar a linguagem figurada, eles se exprimem sem alegoria e dão às coisas um sentido claro e preciso, que não possa estar sujeito a nenhuma interpretação falsa. Eis porque, dentro de algum tempo, tereis mais pessoas sinceramente religiosas e crentes que as que não tendes hoje.
 
São Luis
publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 00:28

Sábado, 17 de Abril de 2010

O erro não se torna verdade por multiplicar-se na crença de muitos, nem a verdade se torna erro por ninguém a ver... (GANDHI).

Introdução

Vamos procurar fazer um estudo sobre a questão da ressurreição, na tentativa de encontrar qual o entendimento que os antigos tinham sobre isso.

Sabemos não ser muito fácil fazer esse tipo de pesquisa, pois os textos bíblicos de hoje, não sendo os originais e estando eivados de “vícios” de tradução, torna o resultado dessa tarefa assaz comprometido com a verdade, já que “a verdade bíblica” pode ser bem diferente da realidade. Por outro lado, conceitos arraigados que servem de arquétipo ao homem hodierno, talvez possam nos levar a um caminho fora do nosso objetivo principal que é saber quais são realmente os fatos verdadeiros.

Mas, para que não fiquemos apenas numa opinião isolada, e mesmo de pouco valor, trazemos a opinião do pesquisador holandês Emanuel Tov, especialista nos Manuscritos do Mar Morto, contida na Revista Veja edição 1747, na reportagem “Espião do Passado”, de autoria de Adriana Carvalho:

Nas cavernas de Qumran e em outros lugares de Israel, nós encontramos centenas de manuscritos, todos da Bíblia hebraica, o Velho Testamento. Comparando com as traduções que conhecemos hoje da Bíblia, notamos que há passagens que eram mais curtas, outras mais compridas ou com textos diferentes dos que conhecemos hoje. O Livro de Jeremias nos manuscritos aparece em uma versão talvez 15% mais curta. Isso significa que, nas cópias feitas por gerações após gerações, freqüentemente os escribas mudavam os textos, acrescentando alguns detalhes, suprimindo outros. Eles consideravam-se também autores e permitiam-se fazer alterações. Isso ocorreu com os textos de Homero, as tragédias gregas, não apenas com a Bíblia. (CARVALHO, 2002, p. 14).

Primeiramente, cabe-nos informar qual é o significado daquilo que iremos tratar. Diz-nos o Aurélio que ressurreição significa: “S. f. 1. Ato ou efeito de ressurgir ou ressuscitar; ressurgência. 2. Rel. Festa católica comemorativa da ressurreição de Cristo, ao terceiro dia após a morte: 3. Fam. Cura surpreendente e imprevista. 4. Fig. Vida nova; renovação, restabelecimento. 5. Quadro que representa a ressurreição de Cristo. 6. Rel. Na doutrina cristã, o surgir para uma nova e definitiva vida, distinta e, em certa medida, oposta à existência terrestre, e que, a partir da ressurreição de Cristo, aguarda todos os fiéis cristãos”.

E que ressuscitar significa: “V. t. d. 1. Fazer voltar à vida; reviver, ressurgir. 2. Restaurar, renovar, reproduzir: V. int. 3. Voltar à vida; tornar a viver; reviver, ressurgir. 4. Tornar a surgir; reaparecer, ressurgir: 5. Escapar de grande perigo”.

Assim, podemos, para o nosso estudo, concluir que ressurreição é a ocorrência que faz voltar à vida, tornar a viver ou reviver; quem passou pelo derradeiro momento da morte física. Nesse conceito, mais abrangente, podemos também considerar como ressurreição a volta do Espírito à sua condição anterior no plano espiritual, ou seja, a ressurreição do espírito.

Já pelo conceito encontrado no Dicionário Bíblico Universal é:

Ressurreição não é a volta à vida. É de maneira inexata que se fala de ressurreição a propósito das crianças curadas por Elias e Eliseu (1Rs 17, 2Rs 4), a propósito do filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17), de Lázaro (Jo 11) etc. Os textos se referem somente a um retorno à vida que não dispensa a pessoa beneficiada de ter que morrer um dia. Ressuscitar é descobrir, além da morte, uma vida de tipo novo, comportando relações novas dos homens entre si e dos homens com Deus. (p. 681)

O que não conseguimos estabelecer é quando e porque o povo hebreu passou a acreditar na ressurreição, pois os textos bíblicos, só mais tardiamente, por volta de 175 a 161 a.C., é que passam a falar dessa possibilidade.

 

Histórico

Nos livros que compõem o Antigo Testamento, percebemos que essa idéia aparece, como que caída de um pára-quedas, já que até o século II a.C., nem se pensava nisso; antes, ao contrário, não tinham nenhuma perspectiva para a existência de alguma coisa depois da morte.

A cultura egípcia admitia a vida após a morte. Leiamos:

A morte, para os egípcios, tinha um especial interesse. Havia entre eles uma crença absoluta no renascer dos mortos. Por isso, a preocupação em preservar o cadáver e o desenvolvimento da técnica de mumificação. De acordo com sua religião, a alma precisava de um corpo para morar por toda a eternidade.

Acreditava-se que a morte apenas separava o corpo da alma. Daí, a obrigação a ser cumprida pelos parentes quanto ao morto querido: a mumificação de seu corpo.

Se a vida poderia durar eternamente, desde que a alma encontrasse no túmulo o corpo destinado a servi-lhe de morada, era precioso, portanto, preservar suas características físicas. (A Magia do Egito, nº 01, p. 47).

É interessante o que pensavam a respeito do após morte:

A vida no outro mundo começava no próprio túmulo com uma viagem pelo subterrâneo. Primeiro, o ka (energia vital) deixaria o corpo acompanhado por ba (alma). O deus Coros conduz o ba através dos portais de fogo até o salão do juízo final.

O julgamento final era a prova de fogo para que a pessoa morta alcançasse, finalmente, a vida eterna.

No julgamento final, o morto deveria provar que foi verdadeiro e justo durante a vida, sem ter faltado com a verdade.

Se a pessoa não passasse pelo julgamento final, estaria condenada a uma espécie de coma perpétuo, ou seja, teria então uma segunda morte porque, agora, o acesso à eternidade estaria vedado. (A Magia do Egito, nº 05, p. 12).

Os egípcios acreditavam que o corpo ressuscitaria magicamente do outro lado da vida por meio de um ritual chamado de ‘abertura da boca’. O sacerdote ou alguém da família tocava a boca do morto com um instrumento de metal para que ele pudesse ter uma boa passagem para o outro mundo e conseguisse pronunciar as palavras necessárias na hora do julgamento.

No mundo dos mortos, os egípcios eram julgados pelo deus Osíris e seus 42 assessores. Diante de cada juiz, o defunto declarava não ter passado por determinada infração. Seu coração era pesado numa balança. ‘Se pesasse mais que a pluma da justiça de Maat, a deusa da ordem universal, o morto seria engolido por um monstro em forma de crocodilo, leão e hipopótamo e teria, assim, uma morte definitiva, deixando por completo de existir’, afirma o historiador Ciro Flamarion Cardoso, da Universidade Federal Fluminense. (Revista das Religiões, p. 42).

Ora, sabemos que o povo hebreu permaneceu por 430 anos em escravidão no Egito, tempo suficiente para incorporar, em sua cultura, os costumes do povo que o subjugava. O que nos causa espécie é por que a ressurreição não aparece na Bíblia desde a época dos hebreus no Egito?

O que vemos é que, inicialmente, nem tinham idéia de vida após a morte. Não aparece nem mesmo, quando promulgados, no monte Sinai, os Dez Mandamentos. Neles observamos que todas as recompensas e penalidades, estabelecidas por Deus, estão relacionadas às situações terrenas, não para uma vida futura após a morte.

Na visão que tinham, todos iam para o mesmo lugar; o sheol. Com o passar dos anos, desenvolveu-se a idéia de que somente os injustos é que iam para lá. O sheol era, na verdade, a sepultura comum, da qual não viam nenhum corpo voltar, razão de pensarem que a vida só se resumia a essa aqui na terra. Quando imaginavam que alguém estava nas graças de Deus, davam a ela uma vida longa. É por isso que aparecem na Bíblia pessoas com tempo de vida inverossímil.

A idéia da ressurreição aparece, pela primeira vez, no período histórico situado entre 175 a.C. a 161 a.C., narrados em 2 Macabeus e em Daniel; ambos os relatos se referem a esse mesmo período.

É certo que alguns teólogos admitem que Isaías teria falado a respeito dela. Mas é difícil saber com certeza, pois quê “suas palavras foram conservadas e sofreram acréscimos. ... São acréscimos mais extensos ‘o Apocalipse de Isaías’ (24-27), que por seu gênero literário e por sua doutrina não pode ser situado antes do século V a.C.;...” (Bíblia de Jerusalém, p. 1238).

Quando lemos em Is 26,19: “Os teus mortos tornarão a viver, os teus cadáveres ressurgirão”, ficamos na dúvida sobre de que se trata realmente; mas, em nota de rodapé, explicam-nos: “O texto poderia se entender como restauração nacional (cf. Ez 37) ou como afirmação da fé na ressurreição dos mortos (Dn 12,2)”. (Bíblia Sagrada Vozes, p. 912).

Reportando-nos a Ezequiel, lemos a seguinte explicação para o passo 37,1-14:

Cumprindo-se os castigos anunciados pelo profeta (Ez 4-24) os exilados caíram em profunda prostração. Longe de sua terra, sem templo nem culto, estavam ameaçados de perder a identidade de povo eleito (cf. 20,32; 33,10). As esperanças de uma restauração pareciam perdidas (37,11). Neste contexto Ezequiel anuncia uma restauração milagrosa de Israel, a ser produzida pelo espírito de Deus. (Bíblia Sagrada Vozes, p. 1072).

E, confirmando essa afirmativa, citamos da Bíblia de Jerusalém:“Como em Os 6,2; 13,14 e Is 26,19, Deus anuncia aqui (cf. 11-14) a restauração messiânica de Israel, após os sofrimentos do Exílio (cf. Ap 2-,4+)” (p. 1534).

Até aí estavam indo muito bem; mas...

Contudo, pelos símbolos utilizados, ele já orientava os espíritos para a idéia de ressurreição individual da carne, entrevista em Jó 19,25+, explicitamente afirmada em Dn 12,2; 2Mc 7,9-14; 12,43-46; Cf. 2Mc 7, 9+. Para o NT, ver Mt 22, 29-32 e sobretudo 1Cor 15. (Bíblia de Jerusalém, p. 1534).

Do texto de Ezequiel: “... estes ossos representam toda a casa de Israel, que está a dizer: ‘Os nossos ossos estão secos, a nossa esperança está desfeita. Para nós está tudo acabado. Pois bem, profetiza e dize-lhe: Assim diz o Senhor Iahweh: Eis que abrirei os vossos túmulos e vos farei subir dos vossos túmulos, ó meu povo, e vos reconduzirei para a terra de Israel” (37,11-12), confirmando o que foi dito a respeito da restauração do povo de Israel. Não é, portanto, uma ressurreição coletiva e nem individual o que se pode deduzir do texto. Vemos  este apenas como uma tentativa de se achar uma saída para justificar a crença na ressurreição da carne.

Embora não fosse desta forma que pensávamos em tratar desse assunto, devemos, para uma melhor compreensão, ver o que se narra nos livros 2 Macabeus e Daniel.

a) Livro de Macabeus

O Segundo Livro dos Macabeus não é uma continuação dos fatos narrados por 1Mc. É antes um relato paralelo a 1 Mc 1-7. Começa com os fatos do tempo do Sumo Sacerdote Onias III e do rei Seleuco IV (180 aC.). E termina pouco antes da morte de Judas Macabeu, com a derrota de Nicanor (161 a.C.). Apresenta-se como um resumo de uma obra mais ampla, em cinco volumes, de um tal de Jasão de Cirene (2,19-32). Este Jasão mostra-se bem informado ao menos sobre a situação em Jerusalém, a administração selêucida e seu funcionamento.

O autor do resumo é um desconhecido, profundamente religioso, talvez um fariseu. É um apaixonado pela causa dos judeus e grande admirador de Judas Macabeu, seu herói principal. A obra de Jasão de Cirene deve ter sido composta em torno de 130 a.C. E o ‘resumo’ deve ser posterior a 124 a. C (data da primeira carta; 1,9) e anterior a 63 a. C., quando Jerusalém foi ocupada pelos romanos. Como se nota pelas duas cartas iniciais e pelo prólogo, o ‘resumo’ foi composto em Alexandria e sobretudo para leitores da comunidade judaica local. (Bíblia Sagrada Vozes, p. 573).

As informações que Jasão possuía – segundo o que podemos deduzir do resumo fiel – especialmente as notícias minuciosas e exatas sobre certas particularidades da história dos Selêucidas, informações precisas sobre títulos, cargos etc., nos levam a crer que tenha consultado arquivos palestinenses e ouvido boas testemunhas. É sabido, com efeito, que os judeus cultos da época costumavam empreender tais viagens e pesquisas.

A exatidão das notícias, que Jasão dá só poderá ter recolhido por via oral, leva-nos a crer que as tenha escrito quando ainda vivas as testemunhas oculares dos fatos, e que, portanto, sua obra tenha sido escrita nos últimos 20 anos séc. II a.C. (Bíblia Paulinas, p. 553).

Por que o autor sentiu necessidade de retomar uma história já conhecida? Qual a originalidade? Podemos dizer que a intenção do autor é reler os mesmos fatos, para mostrar que a luta em defesa do povo se enraíza na atitude de fé, que confia plenamente no auxílio de Deus. (Bíblia Pastoral, p. 611).

Os minúsculos que atestam a recensão do sacerdote Luciano (300 d.C.) conservam por vezes um texto mais antigo que os dos outros manuscritos gregos, texto que se reencontra nas Antiguidades Judaicas do historiador Flávio Josefo, que segue geralmente 1Mc e ignora 2Mc. A Vetus Latina, também, é a tradução dum texto grego perdido e freqüentemente melhor que o dos manuscritos que conhecemos. O texto que está na Vulgata não foi traduzido por são Jerônimo – para quem os livros dos Macabeus não eram canônicos – e não representa senão uma recensão secundária. (Bíblia de Jerusalém, p. 718).

As informações acima são necessárias para compreendermos bem o que nos traz esse livro. Observe, principalmente, o que grifamos em negrito. Podemos tirar que esse livro foi escrito por alguém que acreditava na ressurreição e o escreveu depois dos fatos acontecidos.

2Mc 7,9: “Estando prestes a dar o último suspiro, disse: ‘Tu, execrável como és, nos tiras desta vida presente. Mas o Rei do universo nos ressuscitará para uma vida eterna, pois morremos por fidelidade às suas leis”.

Analisando a frase “nos tira desta vida presente”, presumimos que acreditavam em outra vida, e quando se disse: “nos ressuscitará para uma vida eterna”, confirma essa idéia. Então, a ressurreição aqui tratada é a do espírito. E sobre essa última expressão, nos informam na Bíblia de Jerusalém que: “Lit. ‘para uma revivificação eterna da vida’” (Bíblia de Jerusalém, p. 777), o que sustenta a idéia concluída por nós.

2Mc 7,11: “dizendo com dignidade: ‘De Deus eu recebi esses membros, e agora, por causa das leis dele, eu os desprezo, pois espero que ele os devolva para mim’”.

Aqui, ao que parece, a ressurreição que esperavam é a do corpo.

2Mc 7,13-14: “Passado também este à outra vida, submeteram o quarto aos mesmos suplícios, desfigurando-o. Quase a expirar, disse: ‘É desejável passar para a outra vida às mãos dos homens, conservando em Deus a esperança de ser um dia ressuscitado por ele. Para ti, porém, não haverá ressurreição para a vida!”.

Essa passagem é singular, pois volta à questão de se acreditar em “outra vida”; entretanto, o texto já induz à idéia de uma ressurreição futura, talvez a do juízo final. Mas, é aí que a coisa fica difícil de entender, pois em outras Bíblias encontramos coisa diferente; vejamos:

Morto este, aplicaram os mesmos suplícios ao quarto, e este disse, quando estava a ponto de expirar: ‘É uma sorte desejável perecer pela mão humana com a esperança de que Deus nos ressuscite. Mas para ti, certamente não haverá ressurreição para a vida”. (Bíblia Sagrada Ave Maria).

Tiraram a idéia da versão anterior de que acreditavam em uma “outra vida”, mas já não se tem a idéia que a ressurreição seja para um tempo futuro, dá-nos a entender que é próxima. Ao dizer que “para ti, não haverá ressurreição para a vida”, que vida? Não seria a vida espiritual? Não seria a ressurreição do Espírito? Se for, ficaria contrário a idéia da ressurreição do corpo. Assim esse livro não nos fornece elementos seguros para saber o que realmente pensavam.

2Mc 7,23: “Por isso, é o Criador do mundo, que organizou o nascimento dos homens e preside à geração de todas as coisas, ele mesmo é quem, na sua misericórdia, vos dará de novo o espírito e a vida, pois agora desprezais a vós mesmos, por amor às suas leis”.

Será que aqui poderemos entender que “vos dará de novo o espírito e a vida” como a ressurreição espiritual? Acreditamos que sim. Observe que é mais forte essa ocorrência do que a ressurreição do corpo.

2Mc 12,43-44: “Em seguida fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles”.

Oferecerem sacrifícios pelos pecados, apenas teria sentido, se acreditassem que já estariam ressuscitados, para que esses sacrifícios tivessem valor imediato.

b) Livro de Daniel

A data desta [composição] é fixada pelo testemunho claro fornecido pelo cap. 11. As guerras entre Selêucidas e Lágidas e uma parte do reinado de Antíoco Epífanes nele são narradas com grande luxo de pormenores insignificantes para o propósito do autor. Este relato não se parece com nenhuma profecia do Antigo Testamento e apesar de seu estilo profético, relata acontecimentos já ocorridos. Mas a partir de 11,40 muda o tom: o 'Tempo do fim” é anunciado de um modo que recorda os outros profetas. O livro teria sido composto, portanto, durante a perseguição de Antíoco Epífanes e antes da morte dele, antes mesmo da vitória da insurreição macabaica, isto é, entre 167 a 164. (Bíblia de Jerusalém, p. 1245).

O livro de Daniel já não representa a verdadeira corrente profética. Não contém mais a pregação dum profeta enviado por Deus em missão junto de seus contemporâneos; foi composto e imediatamente escrito por um autor que se oculta por detrás dum pseudônimo, como já sucedera no opúsculo de Jonas. (Bíblia de Jerusalém, p. 1246).

Autor e tempo de origem: Dn 1-6 nos coloca no tempo do exílio babilônico (séc VI a.C.). Dn 7-12, onde Daniel fala de si na primeira pessoa, é atribuído a Daniel, judeu deportado em 606 aC. De fato, até o séc. XIX o livro foi atribuído a este profeta exílico; mas deste então tornou-se opinião generalizada entre autores não-católicos e católicos que na realidade o livro foi escrito no séc. II a.C, no tempo da perseguição de Antíoco IV, entre os anos 167 a 163 a.C., no início do período macabeu. ... Portanto, o autor é um desconhecido, talvez pertencente ao grupo assideu (cf. 1Mc 2,27), o que não exclui que o livro contenha elementos mais antigos.

O Autor desconhecido quis oferecer aos seus contemporâneos, cruelmente perseguidos pelo rei Antíoco, um livro de conforto e consolação. (Bíblia Vozes, p. 1086).

Com efeito, este escrito foi redigido em três línguas: em hebraico, em grego e em aramaico; ora, os dois últimos idiomas não eram ainda utilizados no tempo em que o livro coloca o profeta. O seu redator, que escreveu certamente no segundo século a.C, serviu-se de documentos anteriores, que podem remontar até a própria época de Daniel. (Bíblia Ave Maria, p. 40).

Pouco depois dele, Dn 12,2 explicitará a fé numa retribuição após a morte e no pensamento dele esta fé estará ligada à fé na ressurreição dos mortos, já que a mentalidade hebraica não concebe a vida do espírito separada da carne. No judaísmo alexandrino a doutrina progredirá em caminho paralelo e irá mais adiante. Depois que a filosofia platônica, com sua teoria da alma imortal, tiver libertado o pensamento hebraico de seus entraves, o livro da Sabedoria afirmará que “Deus criou o homem para a imortalidade (2,23) e que depois da morte a alma fiel gozará de felicidade sem fim junto de Deus, enquanto os ímpios receberão seu castigo (3,1-12). (Bíblia de Jerusalém, p. 798).

A situação histórica coloca o nosso Daniel no reinado do Antíoco IV Epífanes, que determinou o extermínio da religião judaica e a consecutiva helenização da Palestina. O autor do livro de Daniel (a nós desconhecido) serve-se de histórias antigas, segundo o gênero agádico, então muito em voga (cc. 1-6; 13-14), para inculcar esperança e fé aos judeus perseguidos por Antíoco IV. Assim como Deus protegeu Daniel e os seus companheiros de todos os perigos, assim acontecerá com os judeus que forem fiéis à Lei e às tradições religiosas. O autor não tem em vista descrever fatos históricos, mas histórias moralizadoras, que poderiam, na realidade, ter um fundo ou um núcleo histórico, mas de segunda importância. Os dados internos do livro, lingüístico, histórico e teológico obrigam-nos a datar o livro por altura da morte do rei Antíoco IV (165-164 a.C). (Bíblia Santuário, p. 1313).

A explicação que encontramos para o grupo dos assideus: “Forma grecizada do hebr. Hasîdîm, os ‘piedosos’, comunidade de judeus apegados à Lei. Eles resistiram à influência pagã desde antes dos Macabeus e tornaram-se a tropa de choque de Judas (cf. Mc 14,6), mas sem se subordinarem à política dos Asmoneus (cf. 1Mc 7,13). Segundo Josefo, durante a chefia de Jônatas, por volta de 150, eles se dividiram em fariseus (Mt 3,7+ e At 4,1+) e essênios, mais bem conhecidos desde as descobertas de Qumrã (cf. Ant. XIII, 17s)”. (Bíblia de Jerusalém, p. 724).

Os fariseus acreditavam na ressurreição, anjo, espírito, imortalidade da alma, coisas que dariam para justificar o aparecimento da idéia de ressurreição, somente agora, já que estes dois livros, Macabeus e Daniel, provavelmente tiveram como autores pessoas com essas origens.

O historiador Flávio Josefo registra, nessa época, as classes dos fariseus, dos saduceus e a dos essênios; inclusive, as duas primeiras são citadas no Novo Testamento.

Recapitulando: autor desconhecido, escrito por volta de 165-164 a.C., o que nos coloca em data próxima do livro anterior, ou seja, 2 Macabeus.

Dn 12,2: “Muitos dos que dormem na terra poeirenta, despertarão; uns para a vida eterna, outros para vergonha, para abominação eterna”.

Encontramos a seguinte nota na Bíblia Santuário:

O profeta anuncia a libertação de Israel após os horrores levados a efeito por Antíoco Epífanes. Além da ressurreição nacional, o v.2 anuncia a ressurreição da carne (Is 26,29; 2Mc 7,9-14, 23-36; 12,43-46). A doutrina da ressurreição da carne é tipicamente bíblica e semita, enquanto que a da imortalidade da alma é de sabor mais helênico. (pp. 1338-1339).

Aqui, como já explicamos anteriormente sobre Ezequiel, é provável que a idéia seja mesmo a da ressurreição nacional, ou seja, restauração do povo de Israel.

Vejamos agora o que ainda mais encontramos para desvendar qual era o conceito de ressurreição.

 

a) Voltar à vida no mesmo corpo

Elias, que ressuscitou um filho de uma viúva (1Rs 17,17-24);

Elizeu, que fez o mesmo com um filho de uma sunamita (2Rs 4,32-37);

Pedro, por ter ressuscitado a jovem chamada Tabita (At 9,36-41);

Paulo, que fez voltar à vida o menino Êutico, que havia morrido após ter caído de uma janela (At 20,9-12);

Jesus, a filha de Jairo (Mt 9,18-26; Mc 5,21-24.35-43; Lc 8,40-42.49-56), o filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17) e Lázaro (Jo 11,1-44).

Será que realmente houve propriamente uma morte? Devemos observar, que no caso da filha de Jairo, Jesus disse: “a menina não morreu, está dormindo” (Mt 9,24; Mc 5,39 e Lc 8,52). Em relação a Lázaro a coisa é mais complicada, pois, apesar de Jesus ter afirmado que “esta doença não é para a morte” (Jo 11,4), e “nosso amigo Lázaro dorme” (Jo 11,11), o texto bíblico apresenta uma contradição a partir do versículo 13 a 16, dizendo que se trata de morte mesmo. Ora, isso, a nosso ver, decorre de um acréscimo ao texto original para se justificar a tese da ressurreição corporal, cujo teor, se retirarmos do texto não ocasiona solução de continuidade da narrativa, mantendo incólume o contexto.

Temos dito, em várias oportunidades, que os médicos de hoje, se tivessem vivido naquele tempo, seriam considerados “profetas”, pois, com certeza, com os atuais conhecimentos de medicina, iriam “ressuscitar” inúmeras pessoas. A grande questão é saber se Lázaro e a filha de Jairo, e o filho da viúva de Naim estavam realmente mortos, ou se passaram por uma EQM - Experiência de Quase Morte, que tem despertado o interesse de vários pesquisadores nos tempos atuais...

Esse conceito é o popular; mas, como já demonstramos pelo Dicionário Bíblico, ele não é exato.

 

b) Voltar à vida em outro corpo

Lc 9,7-9: “O tetrarca Herodes, porém, ouviu tudo o que se passava, e ficou muito perplexo por alguns dizerem: ‘É João que foi ressuscitado dos mortos’; e outros: ‘É Elias que reapareceu’; e outros ainda: ‘É um dos antigos profetas que ressuscitou”. Herodes, porém, disse: ‘A João eu mandei decapitar. Quem é esse, portanto, de quem ouço tais coisas?’ E queria vê-lo”. (ver Mt 14,1-2 e Mc 6,14-16).

Lc 9,18-19: “Um dia Jesus rezava num lugar retirado e seus discípulos estavam com ele. Ele lhes fez a seguinte pergunta; ‘Quem sou eu no dizer das turbas?’ Eles responderam: ‘Para uns, João Batista, para outros, Elias ou algum dos antigos profetas ressuscitado’”. (ver também Mt 16,13-14; Mc 8,27-28).

Por essas passagens podemos perfeitamente saber que o povo realmente acreditava que alguém, que já havia morrido, poderia voltar como outra pessoa; senão, não teria sentido o que o povo pensava a respeito de Jesus. E se isso não fosse possível, com certeza, Jesus não teria feito essa pergunta; e, mais ainda: teria dito dessa impossibilidade, em função da resposta dada pelos discípulos. Assim, fica claro que o conceito de ressuscitar aqui nessas passagens pode muito bem ser entendido por reencarnar.

Somente devemos fazer uma ressalva quanto a João Batista, que não poderia se enquadrar nesse conceito; nós o estaremos explicando no item “d”.

 

c) Ressurgir em Espírito

Qual a ressurreição foi pregada por Jesus: a da carne ou a do Espírito?

Para responder essa questão é necessário lermos a resposta que Jesus deu aos saduceus, negadores da ressurreição, sobre uma mulher que, para cumprir a lei mosaica, teve que casar com os sete irmãos. A dúvida deles era: quando da ressurreição ela seria mulher de qual deles? A isso responde Jesus: “As pessoas deste mundo se casam. Contudo, as que são julgadas dignas de ter parte naquele mundo e na ressurreição dos mortos, lá não se casam. E já não podem morrer outra vez, porque são iguais aos anjos e filhos de Deus, sendo participantes da ressurreição”. (Lc 20,34-36). Se os que morrem são iguais aos anjos, isso significa que serão seres espirituais; daí, não se justifica mais o casamento, que é coisa para os que possuem corpos materiais.

Jesus disse que “O espírito é que dá vida, a carne de nada serve” (Jo 6,63), o que vem reforçar a nossa natureza como sendo a espiritual. Por outro lado, partindo de que “Deus é Espírito” (Jo 4,24) e que somos a sua imagem e semelhança, é inevitável concluirmos que, na verdade, somos também Espíritos.

Seguindo a leitura de Lucas, temos: “E que os mortos ressuscitem, é Moisés quem dá a conhecer através do episódio da Sarça Ardente, quando chama ao Senhor: o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; para ele, então, todos são vivos”. (Lc 20,37-38). Considerando que se afirma, na narrativa, que Abraão, Isaac e Jacó “todos são vivos” e que ainda não aconteceu o juízo final, para a esperada ressurreição dos corpos; considerando que os três tiveram morte física, é de se deduzir que, se eles estão vivos, estão, portanto, vivos em Espírito. E, concluindo: pela comparação de Jesus, eles já ressuscitaram, ou seja, estão vivendo a vida do Espírito; por isso, não morrem mais.

Disso concluímos que, o que Jesus ensinou foi a ressurreição do Espírito; não a do corpo físico, dogma de igrejas tradicionais. O que também poderá ser confirmado em Paulo, quando diz: “a carne e o sangue não poderão herdar o reino de Deus” (1Cor 15,50).

 

d) Ressurgir em Espírito influenciando outra pessoa

Mt 14,1-2: “Naquele tempo, Herodes, o tetrarca, veio a conhecer a fama de Jesus e disse aos seus oficiais: ‘Certamente se trata de João Batista: ele foi ressuscitado dos mortos e é por isso que os poderes operam através dele!’”.

Essa passagem nós a estamos colocando para explicar a questão de João Batista. Ora, se acreditavam que Jesus estava fazendo prodígios porque “os poderes de João Batista operam através dele”, isso, num português bem claro, seria a possibilidade de um morto exercer algum tipo de influência sobre um vivo. Confirmando, pelo menos como uma hipótese muito provável, que aceitavam a interferência dos mortos sobre os vivos, ou seja, isso nada mais é do que a comunicação entre os dois planos da vida.

Assim, também, podemos dizer que ressurreição, neste caso, seria a volta de um morto à sua condição de espírito.

 

Conclusão

Podemos concluir que o conceito de ressurreição não é só o que se nos têm passado pelas tradições religiosas. É mais abrangente.

Mas, ainda ficou uma questão no ar, poderá alguém nos falar. Sim, deixamos de propósito para falar agora: Jesus não ressuscitou no corpo físico? Não, apesar de que isso possa lhe causar um certo choque. Explicaremos.

Sabemos que em várias oportunidades, Jesus disse aos seus discípulos que ressuscitaria após sua morte. Preocupa-nos a compreensão correta do que, em seu conceito, era a ressurreição. Vejamos a seguinte passagem:

Lc 20,37-38: “E que os mortos ressuscitem, é Moisés quem dá a conhecer através do episódio da Sarça Ardente, quando chama ao Senhor: o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; para ele, então, todos são vivos”.

Veja bem; se Jesus, em se referindo a pessoas que haviam morrido, diz que, para Deus, todos “são vivos” é porque nossa individualidade sobrevive após a morte; em outras palavras, poderia estar se referindo à nossa condição de espíritos eternos. Ao que chamamos de morte é apenas um processo, ao qual nosso espírito, em seu regresso ao plano espiritual, de onde veio, devolve à natureza os elementos constitutivos do corpo físico, cuja finalidade era viabilizar o seu desenvolvimento moral e intelectual. Em vista disso, é que devemos entender que a ressurreição de que Jesus falava não era no corpo físico, e sim o ressurgir em espírito. Foi o que aconteceu com ele. Depois de sua morte, esteve ainda na terra em seu corpo espiritual, conforme se encontra em Atos: “Após sua paixão, ele lhes mostrou, com muitas provas, que estava vivo, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do Reino de Deus” (At 1,3).

Sabemos, por informação dos próprios espíritos, que eles se manifestam em seu corpo espiritual, denominado perispírito. Nele é evidenciada toda a evolução moral do espírito; assim quanto mais luminoso for, maior evolução e, via de conseqüência, quanto menos luz produzir, mais inferior é o espírito. Deve ser pelo motivo de sua luminosidade que, em algumas situações, Jesus não foi reconhecido pelos seus discípulos, como observamos em Mc 16,12: “Depois disto, ele apareceu sob outra forma, a dois deles que estavam a caminho do campo”. Também ao aparecer a Saulo, na estrada de Damasco (At 9,3-9), veio em sua plenitude espiritual, fato que impossibilitou aos que presenciavam o fenômeno de vê-lo; só ouviram sua voz. Ao narrar esse acontecimento, Paulo diz: “... aí pelo meio-dia, de repente uma grande luz que vinha do céu brilhou ao redor de mim” (At 22,6-9), o que confirma o que estamos dizendo sobre o perispírito refletir a evolução moral.

A matéria, igualmente, não oferece nenhuma resistência a esse corpo perispiritual. Temos a prova disso pelo fato de Jesus ter entrado em ambiente fechado: “Oito dias depois, os discípulos se achavam de novo na casa, e Tomé com eles. Jesus entrou, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e os cumprimentou: A paz esteja convosco!”. (Jo 20,26).

Podemos aceitar também que, em algumas circunstâncias, Jesus se materializou diante dos discípulos. Neste caso tornou-se tangível, o que podemos verificar quando diz: “Olhai para minhas mãos e pés: sou eu mesmo! Apalpai-me e vede: um fantasma não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho! Dizendo isto, mostrou-lhes mãos e pés. Mas como hesitavam em acreditar, por causa da muita alegria, e continuavam espantados, Jesus lhes disse: ‘Tendes aqui alguma coisa para comer?’ Deram-lhe um pedaço de peixe grelhado. Ele o tomou e comeu na presença deles”. (Lc 24,39-43). É bem provável que Jesus, ao se materializar, precisou demonstrar sua tangibilidade, tendo em vista que nem os discípulos nem os de sua época tinham conhecimento dos mecanismos das manifestações espirituais para entender o que estava acontecendo.

Temos que convir que, em certos relatos do Evangelho, existem alguns exageros. Assim, determinados acontecimentos foram colocados buscando valorizar os fatos ou a pessoa quem os produziu. Vejamos, como exemplo, o que consta em Jo 21,25: “Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem escritas uma por uma, creio que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que seriam escritos”.

Dito isso, vamos à 1ª carta aos Coríntios 15,3-6: “Eu vos transmiti principalmente o que eu mesmo recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; que apareceu a Cefas, depois aos doze. Em seguida apareceu, de uma só vez, a mais de quinhentos irmãos, dos quais a maior parte vive ainda hoje, embora alguns tenham morrido”. Nenhum dos quatro evangelistas fala que Jesus teria aparecido a quinhentas pessoas, assim podemos supor que pode ser apenas um exagero de Paulo.

Por outro lado, até mesmo a questão de Jesus ter ficado quarenta dias no meio dos discípulos poderíamos entender de outra forma, pois o número 40 possuía, para eles, um significado importante; observe esses exemplos:

- O povo hebreu permaneceu 40 anos no deserto (Nm 14,33-34);

- No dilúvio choveu 40 dias e 40 noites (Gn 7,12.17);

- Jacó ao morrer ficou 40 dias embalsamado (Gn 50,2-3);

- Moisés ficou no Sinai 40 dias e 40 noites, quando recebe os Mandamentos (Ex 24,18);

- Deus, por castigo, entrega os israelitas aos filisteus por 40 anos (Jz 13,1);

- Em desafio um filisteu se apresenta ao exército hebreu por 40 dias (1Sm 17,16);

- Davi reinou por 40 anos (2Sm 5,4);

- O templo tinha 40 côvados.(1Rs 6,17);

- O reinado de Salomão durou 40 anos (1Rs 11,42);

- Elias, após comer o que um anjo lhe dá, caminha 40 dias e 40 noites (1Rs 19,8);

- Jesus jejuou 40 dias e 40 noites (Mt 4,2).

Carlos Torres Pastorino, no Livro A Sabedoria do Evangelho (vol. I, p. 9), quando fala sobre como devemos fazer a interpretação da Bíblia, coloca:

Os números possuem sentido muito simbólico, assim:

10 – diversos

40 – muitos

07 – grande número

70 – todos, sempre.

Então, conclui, esse autor: “não devem ser tomados à risca”.

Dessas aparições de Jesus podemos realçar duas coisas. A primeira, é que há vida após a morte; caso contrário, ninguém poderia aparecer depois de morto. A segunda, é que os mortos se comunicam com os vivos, por mais que alguns ainda venham a dizer que isso não pode ocorrer; a nós não resta dúvida alguma quanto a isso. Alguns querem sustentar que Jesus tenha se manifestado com o corpo físico; entretanto isso não condiz com o que podemos tirar dos acontecimentos.

Então o Mestre não ressuscitou no corpo físico? Reafirmamos: não, apesar de que isso possa lhe causar um certo choque; no entanto, analisemos:

Quando se apresenta a Maria de Madalena, Jesus diz a ela: “não me toques porque ainda não subi para meu Pai” (Jo 20,17). Entretanto, em relação a Tomé disse: “Põe aqui o teu dedo, vê as minhas mãos, aproxima também a tua mão, põe-na no meu lado” (Jo 20,27), nos parecendo uma contradição. Ainda fica mais difícil compreender quando colocam Jesus dizendo “porque um espírito não tem carne, nem ossos, como vós vedes que eu tenho” (Lc 24,39), e, na seqüência, ele está comendo peixe assado (Lc 24,42-43). Tudo isso nos parece uma montagem para justificar a idéia que os hebreus tinham que a alma não sobreviveria sem o corpo físico.

No livro de Tobias, encontramos um anjo fazendo coisas comuns ao seres humanos, inclusive comendo; mas, ao final, ele declara: “Eu sou Rafael, um dos sete anjos... Vocês pensavam que eu comia, mas era só aparência... E o anjo desapareceu. Quando se levantaram, não o puderam ver mais”. (Tb 12,15-22). No caso de Jesus não poderia ser uma materialização? Nessa hipótese, estaria justificada a questão de ser tangível.

Mas, considerando que, em determinadas oportunidades, se manifesta e ninguém o reconhece, somente acontecendo após algum gesto, como isso poderia ocorrer se ele tivesse ressuscitado no corpo físico? Se fosse em espírito poderia muito bem pela sua evolução espiritual transparecer com tanta luz que não conseguiram mesmo identificá-lo prontamente. Teria Ele, quando vivo, dito algo que negaria depois de morto, já que acreditamos que o que pregou mesmo foi a ressurreição do Espírito?

Todos os evangelistas são unânimes em dizer que o corpo de Jesus foi colocado num túmulo novo. Enquanto pela narrativa de Mateus (27,59-60) e Marcos (15,46) o túmulo era de José de Arimatéia, Lucas (23,52) não dá a entender isso e João (19,41-42) diz que o túmulo se localizava no jardim perto do lugar onde Jesus fora crucificado, e o colocaram lá porque estava perto, ficando, portanto, a idéia que não pertencia a José de Arimatéia. Preste atenção: “colocaram” e não “enterraram”; não seria, por conseguinte, um lugar provisório?

Em Atos (5,1-11), quando se narra a morte de Ananias, e, logo após, a de Safira, sua mulher, está dito: “levaram para enterrar” (At 5,6.10), ou seja, em definitivo. Assim, por falta de maiores comprovações, podemos concluir que o lugar onde colocaram o corpo de Jesus não seria o seu túmulo definitivo, o que, provavelmente, foi feito depois; daí, a razão do desaparecimento de seu corpo, hipótese mais provável, pelas narrativas.

Por outro lado, no domingo de manhã, dois dias depois da morte de Jesus, algumas mulheres compraram perfumes e foram ao sepulcro para embalsamar o corpo (Mc 16,1; Lc 24,1), reforçando a idéia de que foi colocado ali provisoriamente. No relato de João (20,1-2) somente Maria Madalena foi ao sepulcro, sem dizer o motivo e que, ao encontrá-lo vazio, diz: “Retiraram do sepulcro o Senhor e não sabemos onde o puseram”. (20,2), ou seja, falou exatamente o que se esperava acontecer para um lugar provisório.

Por que estamos dizendo isso? Quem vai nos tirar desse impasse? Em Atos (16,7) Paulo e Timóteo tentam entrar na Bitínia; aí diz o texto: “mas o Espírito de Jesus os impediu”. Em 2Cor 3,17, Paulo afirma: “O Senhor é Espírito”. Pedro nos diz que Jesus: “...sofreu a morte em seu corpo, mas recebeu vida pelo Espírito” (1Pe 3,18) e nos dá outra informação dizendo que Jesus foi pregar o Evangelho aos mortos (1Pe 4,6); se isso aconteceu, Jesus só poderia ter feito em Espírito. Assim, tudo se converge para a idéia de que Jesus, após sua morte, ressuscitou em Espírito.

A conclusão final, portanto, fica-nos que a ressurreição contida na Bíblia é a do Espírito e não a do corpo. E sendo a do Espírito, a consequência é a influência do Espírito sobre um encarnado.

Fica aí evidenciada a necessidade de uma exegese mais realista dos fatos acontecidos, já que aquilo que os teólogos nos colocaram não condiz com a realidade.

 

 

 

 

Paulo Neto

Mar/2007

 

 

Referências bibliográficas:

A Magia do Egito, Os mistérios da Civilização, nº 01, Editora Escala.

A Magia do Egito, Deuses e Mitos, nº 5, Editora Escala.

Bíblia Sagrada, Centro Bíblico Católico, Editora Ave Maria, São Paulo, 1989, 68a. Edição;

Bíblia Sagrada, Edição Barsa, Catholic Press, 1965.

Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Paulus Editora, São Paulo, SP, 43ª. impressão, 2001;

Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, São Paulo, 37a. Edição, 1980;

Bíblia Sagrada, Editora Santurário Aparecida, São Paulo, 5ª Edição, 1984.

Bíblia Sagrada, Editora Vozes, Petrópolis, 1989, 8a. Edição;

Bíblia de Jerusalém, Paulus Editora, 2002, nova edição, revista e ampliada;

Novo Testamento, LEB – Edições Loyola, São Paulo, SP, 1984;

Dicionário Bíblico Universal, L. Monloubou e F.M. Du Bruit, Petrópolis, RJ, Vozes; Aparecida, SP: Editora Santuário, 1996.

Revista das Religiões, edição 2, Editora Abril, agosto 2003.

Revista Veja, edição 1747, ano 35, nº 15, 17 de abril de 2002, Ed. Abril

PASTORINO, C. T. A Sabedoria do Evangelho, vol. I, Rio de Janeiro: Sabedoria, 1964.

 

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Quinta-feira, 15 de Abril de 2010

Como tínhamos dito, o homem deve antes de tudo aprender a se conhecer a fim de clarear seu porvir. Para caminhar com passo firme, precisa saber para onde vai. É conformando seus atos com as leis superiores que o homem trabalhará eficazmente para a própria melhoria e do meio social. O importante é discernir essas leis, determinar os deveres que elas nos impõem, prever as conseqüências de suas ações. O dia em que estiver compenetrado da grandeza de sua função, o ser humano poderá melhor se desapegar daquilo que o diminui e rebaixa; poderá se governar com sabedoria, preparar por seus esforços a união fecunda dos homens em uma grande família de irmãos.

Mas estamos longe desse estado de coisas. Ainda que a humanidade avance na via do progresso, pode-se dizer, entretanto, que a imensa maioria de seus membros caminha pela via comum, em meio à noite escura, ignorante de si mesma, nada compreendendo do propósito real da existência.

Espessas trevas obscurecem a razão humana. As radiações da verdade chegam empalidecidas, enfraquecidas, impotentes para aclarar as rotas sinuosas trilhadas pelas inumeráveis legiões em marcha e para fazer resplender aos seus olhos o objetivo ideal e longínquo.

Ignorando seus destinos, flutuando sem cessar entre o preconceito e o erro, o homem maldiz, por vezes, a vida. Curvando-se sob seu fardo, lança sobre seus semelhantes a culpa das provas que suporta e que, muito freqüentemente, são geradas por sua imprevidência. Revoltado contra Deus, a quem acusa de injustiça, chega mesmo, algumas vezes, na sua loucura e desespero, a desertar do combate salutar, da luta que, por si só, poderia fortificar sua alma, esclarecer seu julgamento, prepará-lo para os trabalhos de uma ordem mais elevada.

Por que é assim? Por que o homem desce fraco e desarmado na grande arena onde trava sem trégua, sem descanso, a eterna e gigantesca batalha? É porque este globo, a Terra, está em um degrau inferior na escala dos mundos. Aqui residem em sua maior parte espíritos infantis, isto é, almas nascidas há pouco tempo para a razão. A matéria reina soberana em nosso mundo. Nos curva sob seu jugo, limita nossas faculdades, estanca nossos impulsos para o bem e nossas aspirações para o ideal.

Além disso, para discernir o porquê da vida, para entrever a lei suprema que rege as almas e os mundos, é preciso saber se libertar dessas pesadas influências, desapegar-se das preocupações de ordem material, de todas essas coisas passageiras e cambiantes que encobrem nosso espírito e que obscurecem nossos julgamentos. É nos elevando pelo pensamento acima dos horizontes da vida, fazendo abstração do tempo e do lugar, pairando, de alguma forma, acima dos detalhes da existência, que perceberemos a verdade.

Por um esforço de vontade, abandonemos um instante a Terra e gravitemos nessas alturas imponentes. De cima se desenrolará para nós o imenso panorama das idades sem conta, e dos espaços sem limites. Da mesma forma que o soldado, perdido no conflito, não vê senão confusão em torno dele, enquanto o general, cujo olhar abraça todas as peripécias da batalha, calcula e prevê os resultados; da mesma forma que o viajante, perdido nas sinuosidades do terreno pode, escalando a montanha, vê-las se fundir em um plano grandioso; assim a alma humana, da altura onde plana, longe dos ruídos da terra e longe dos baixios obscuros, descobre a harmonia universal — aquilo que, aqui em baixo, lhe parece contraditório, inexplicável e injusto, quando visto do alto, se reata, se aclara; as sinuosidades do caminho se endireitam; tudo se une, se encadeia; ao espírito, fascinado, aparece a ordem majestosa que regula o curso das existências e a marcha do universo.

Dessas alturas iluminadas, a vida não é mais, para os nossos olhos, como é para os da multidão — uma vã perseguição de satisfações efêmeras — mas antes um meio de aperfeiçoamento intelectual, de elevação moral, uma escola onde se aprende a doçura, a paciência e o dever. E essa vida, para ser eficaz, não pode ser isolada.

Fora de seus limites, antes do nascimento e após a morte, vemos, em uma espécie de penumbra, desenrolar-se inúmeras existências através das quais, ao preço do trabalho e do sofrimento, conquistamos, peça por peça, retalho por retalho, o pouco de saber e de qualidades que possuímos; por elas igualmente conquistaremos o que nos falta: uma razão perfeita, uma ciência sem lacunas, um amor infinito por tudo que vive.

A imortalidade se assemelha a uma cadeia sem fim e se desenrola para cada um de nós na imensidade dos tempos. Cada existência é um elo que se religa, na frente e atrás, a elos distintos, a vidas diferentes, mas solidárias entre si. O presente é a conseqüência do passado e a preparação do futuro. De degrau em degrau, o ser se eleva e cresce. Artesã de seu próprio destino, a alma humana, livre e responsável, escolhe seu caminho e, se este caminho é mau, as quedas que advirão, as pedras e os espinhos que a dilacerarão, terão o efeito de desenvolver sua experiência e esclarecer sua razão nascente.

 

Léon Denis

Livro: O Porquê da Vida

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Quarta-feira, 14 de Abril de 2010

 

Uma mensagem importante Meu prezado irmão. Que me ouça o Altíssimo, a cujo coração augusto e resplandecente, em o qual se contêm todas as excelsitudes do Cosmos, envio por ti a minha suplica fraternal. Para cá das fronteiras da terra, os Espíritos, despojados das impressões carnais como que se despersonalizam, identificados nas essências sublimes do amor fraterno, laço sacrossanto que une todos os mundos e todas as almas. E’ por esse motivo que nos qualificamos de irmãos. De fato, todos o somos, sob as vistas amoráveis do Magnânimo Pai Celestial, já que nos ligam as mesmas aspirações ao Perfeito, palpitando em nossos corações a mesma partícula divina, que nos faz vibrar as almas do mais forte de todos os anseios: o de união ao Criador. Até a mim chegou o apelo do teu coração dolorido e, se eu pudesse, arrancaria de ti as penosas impressões psíquicas, como se extirpa uma chaga. Todavia, Jesus é o médico de todas as almas e sabe qual o tratamento que lhes convém; mas, em razão do nosso livre alvedrio, somos senhores do nosso próprio destino. Depois de Deus, Ente Supremo, Absoluta Majestade do Universo, nada há, para os Espíritos, tão sagrado como o livre arbítrio. Dai a necessidade da iniciativa de cada individualidade, a bem da sua própria evolução. Afastar as possibilidades da auto-educação seria eliminar o progresso, seria despojar o ser de um dos seus divinos atributos, que é a liberdade. Da realidade desse asserto ressalta a ineficácia dos recursos da taumaturga, para a cura integral de uma alma enferma e abatida. E’ á própria alma que compete, em meio das lutas ásperas e dos cruciantes amargores, nos quais está o preço de sua redenção, quando denodadamente suportadas, concatenar as suas energias latentes e as suas forças desaproveitadas para estabelecer o controle da sua existência temporária, corrigindo defeitos, dominando inclinações nocivas, envidando esforços para que a sua vontade se fortaleça, seu sentimento se eleve, sua mente se clarifique, integrando-se ela assim na harmonia dos seres e das coisas. Uma doutrina religiosa ou um bom alvitre são elementos de cura, mas não são a própria cura. A primeira a auxilia, porque ensina, esclarece, ilumina, conforta, representando para o coração angustiado um manancial de energias, onde as criaturas encontram forças para sustar os fracassos quais irremediáveis, as desgraças coletivas e para evitar a propagação de males e ruínas, paralisando o surto de resoluções inconfessáveis. Isoladamente, porém, o Espírito, em qualquer plano da vida, tem de coordenar as suas possibilidades para o bem, para a luz, para o amor, em seu beneficio, fazendo das aspirações nobres e do trabalho proveitoso o santuário onde a sua mentalidade penetre diariamente para se purificar. Só assim conseguirá armazenar em si os grandes cabedais de energia, de fé e beleza moral, que lhe farão viver em correspondência com os planos superiores do universo, de onde lhe virão os primores intelectivos e sentimentais, como recompensa natural aos seus esforços. Uma das mais proveitosas formas dos Espíritos se entregarem a uma atividade fecunda a prol do seu aprimoramento está na reencarnarão e elas a escolhem como o caminho mais fácil para a evolução necessária e a almejada ventura. Na plenitude da consciência, calculam as suas possibilidades e traçam um plano a que obedecerão rigorosamente e que constitue quais sempre um como mapa de trabalhos e sofrimentos. Tomam a carne. Lutam e padecem. Suas provações parecem obedecer a um implacável determinismo e, com efeito, obedecem, porquanto foi o próprio Espírito quem traçou a senda que lhe compete percorrer, para vencer, dizemo-lo sem paradoxo, o seu próprio destino, transformando os acúleos da estrada em flores de evolução espiritual. Os bons desejos, a moral elevada, a confiança nos poderes superiores do Bem, as preces sinceras, se mantidas com perseverante vontade, lhe evitam os distúrbios psicológicos e as quedas, por pior que seja o caminho. E’ por estas razões, estribadas na mais pura lógica, que não nos é possível modificar de vez o teu estado físico. Expendemos as nossas mãos fraternas, amparamos-te com os nossos braços intangíveis, mas poderosos, e te indicamos a senda por onde chegarás á felicidade ou redenção: a misericórdia divina responderá aos teus apelos veemente. Luta com abnegação e com heroísmo. Todos os homens nascem para triunfar da prova a que se submetem; toda carne está eivada de taras perniciosas; mas, será licito ao Espírito entregar-se-lhe á influencia, olvidando as noções da sua liberdade ativa? Não. O atavismo é um dos grandes escolhos que devem ser vencidos pelas almas, no trabalho da sua purificação. O Espírito, em qualquer circunstancia, é obrigado a preponderar sobre a matéria. Operando dessa maneira, o homem espiritualizará todas as suas células orgânicas, porque, se o objetivo da matéria é dar corpo e expressão ás vibrações do Espírito, a função da alma é apurá-la, santificá-la. Quando o homem compreender o alcance dessa realidade, as taras desaparecerão do planeta; por enquanto, porém, os desígnios divinos se utilizam delas como de elementos úteis nas batalhas morais que a humanidade sustenta em favor do seu aperfeiçoamento. A causa de todas as moléstias reside na alma; mas, infelizmente, as criaturas humanas, vivendo apenas entre efeitos, que são coisas transitórias e efêmeras da existência planetária, não vão ás fontes de origem escrutar a causa das dores que as afligem. Para a enfermidade da alma, somente os remédios espirituais são aplicáveis; por isso é que te ofereço as minhas pobres palavras. Muito perde o homem com a sua impaciência. Em face da imoralidade, deveria ele encarar cada vida como um dia de trabalho. Que tu saibas aproveitar o teu dia, purificando-te nos ideais e nos atos generosos, santificando-te em sabedoria e amor. Aprende a viver em contacto com todos quantos te rodeiam. A sociabilidade atenua os rigores da provação; a doçura e a afabilidade nos proporcionam novos elementos vetais. Insular-nos, em meio das fontes de vida que os cercam, constitui grande mal. Deus nos criou para que nos amassemos intimamente uns aos outros. És incompreendido, torturado, ridiculizado ás vezes? Sirva isso ao teu progresso moral. Adapta-te ás formas de expressão dos que te não compreendem ainda e faze­lhes o bem que puderes. Toda alma deve ser um foco atraente de virtudes. O maior mérito de um Espírito reside nas boas ações que levou a efeito a prol dos outros. No sacrifício está o segredo da ventura espiritual e, nos instantes amargos de ríspidas provas, refugia-te no templo augusto das preces fervorosas e veementes. Do Alto dimanarão radiosidades indefiníveis para o teu Espírito, que se sentirá reconfortado na jornada terrena. Considera o objetivo do “CONHECE-TE A TI MESMO” e a tua mente, longe de ser atingida por vibrações de amargura, constituirá um refúgio luminoso de sagradas energias espirituais, onde outras almas buscarão conforto, coragem, luz e amor.

Fonte: Reformador – SETEMBRO, 1936



 

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Terça-feira, 13 de Abril de 2010

O Concílio de Constantinopla - 553 D.C.


A Reencarnação escamoteada e suprimida pela Igreja Católica. Por que será ?

Até agora, quase todos os historiadores da igreja romana acreditam que a Doutrina da Reencarnação foi declarada herética durante o Concílio de Constantinopla em 553 D.C, atual Istambul, na Turquia. No entanto, a condenação da Doutrina se deve a uma ferrenha oposição pessoal do finado imperador Justiniano, que nunca esteve ligado aos protocolos do Concílio. Segundo Procópio, uma mulher de nome Teodora, filha de um guardador de ursos do anfiteatro de Bizâncio, era a ambiciosa esposa de Justiniano, e na realidade, era quem manejava o poder. Ela, como cortesã, iniciou sua rápida ascensão ao Império. Para se libertar de um passado que a envergonhava, ordenou, mais tarde, a morte de quinhentas antigas "colegas" e, para não sofrer as conseqüências dessa ordem cruel em uma outra vida como preconiza a lei do Carma, empenhou-se em suprimir toda a magnífica Doutrina da Reencarnação. Estava confiante no sucesso dessa anulação, decretada por Justiniano " em nome de DEUS "

Em 543 D.C, o déspota imperador Justiniano, sem levar em conta o ponto de vista clerical, declarou guerra frontal aos ensinamentos de Orígenes - exegeta e Teólogo ( 185 - 235 D.C ), ( ver Obs. ao final ), condenando tais ensinamentos através de um sínodo especial. Em suas obras : De Principiis e Contra Celsum, Orígenes tinha reconhecido, abertamente, a existência da alma antes do nascimento e sua dependência de ações passadas. Ele pensava que certas passagens do Novo Testamento poderiam ser explicadas somente à luz da Reencarnação.

Do Concílio convocado por Justiniano só participaram bispos do oriente (ortodoxos). Nenhum de Roma. E o próprio "Papa", que estava em Constantinopla nesta ocasião, deixou isso bem claro.

O Concílio de Constantinopla, o quinto dos Concílios, não passou de um encontro, mais ou menos em caráter privado, organizado por Justiniano, que, mancomunado com alguns vassalos, excomungou e maldisse a doutrina da preexistência da alma, com protestos do Papa Virgílio, e a publicação de seus anátemas. Embora estivesse em Roma naquela época, o Papa Vigílio seqüestrado e mantido prisioneiro de Justiniano por oito anos, recusou-se a participar deste Concilio, quando Justiniano não assegurou o mesmo quórum de bispos representantes do leste e do oeste.

Uma vez convocado, o Concilio só incluiu 165 bispos da Cristandade em sua reunião final, dos quais 159 eram da Igreja oriental. Tal fato garantiu a Justiniano todos os votos de que precisava.

A conclusão oficial a que o Concílio chegou após uma discussão de quatro semanas teve que ser submetida ao "Papa" para ratificação. Na verdade, os documentos que lhe foram apresentados ( os assim chamados "Três Capítulos") versavam apenas sobre a disputa a respeito de três eruditos que Justiniano, há quatro anos, havia por um edito ( decreto ) declarado heréticos. Os "papas" seguintes, Pelagio I ( 556 - 561 D.C ), Pelagio II ( 579 - 590 D.C ) e Gregório ( 590 - 604 D.C ), quando se referiram ao quinto Concílio, nunca tocaram no nome de Orígenes.

A Igreja teve alguns concílios tumultuados. Mas parece que o V Concílio de Constantinopla II (553) bateu o recorde em matéria de desordem e mesmo de desrespeito aos bispos e ao próprio Papa Virgílio, papa da época.

Muitos inconformados alegam que esse Concílio não tratou da Reencarnação, e por isso a Igreja nunca esteve envolvida com tal princípio. Porém a verdade é que, os seus Cânons ( Regra geral de onde se inferem regras especiais ) do Magistério relacionado a este evento, mais especificamente o seu Cânon 11, trata da condenação das teses de Orígenes e suas referências à preexistência da alma. Vejamos uma versão em espanhol dessa parte decisória do Supremo Pontificado :

 

Magisterio del C.E II de Constantinopla :

[En parte idénticos con la Homología del Emperador, del año 551]

Can. 11. Si alguno no anatematiza a Arrio, Eunomio, Macedonio, Apolinar, Nestorio, Eutiques y Origenes, juntamente con sus impíos escritos, y a todos los demás herejes, condenados por la santa Iglesia Católica y Apostólica y por los cuatro antedichos santos Concilios, y a los que han pensado o piensan como los antedichos herejes y que permanecieron hasta el fin en su impiedad, ese tal sea anatema.

Aí está : O Cânon 11 ( Regra geral de onde se inferem regras especiais ) condenando Orígenes e suas teses da preexistência da alma. Ora, a preexistência do espírito com relação ao corpo vivificado por ele, é a base fundamental para a Teoria da Reencarnação, pois que, ao admitirmos o reencarne de um espírito, automaticamente estamos admitindo que ele já encarnou antes, pelo menos uma vez que seja.

Justiniano presidiu esse Concílio. Era um teólogo que queria saber mais de Teologia do que o Papa. Sua mulher, a imperatriz Teodora, foi uma cortesã e se imiscuía nos assuntos do governo do seu marido, e até nos de Teologia. Houve, portanto, a condenação da Doutrina da Preexistência, o que, "ipso facto", condenou também a reencarnação, pois não existe reencarnação sem a preexistência do Espírito.

VEJA COMO É FÁCIL CONCLUIR : Como a Doutrina da Reencarnação pressupõe a da preexistência do espírito, Justiniano e Teodora PARTIRAM, PRIMEIRO, PARA DESESTRUTURAR A DA PREEXISTÊNCIA, COM O QUE ESTARIAM, AUTOMATICAMENTE, DESESTRUTURANDO A DA REENCARNAÇÃO ( !!! )

Então, em 543 d.C, Justiniano publicou um édito, em que expunha e condenava as principais idéias de Orígenes, sendo uma delas a da preexistência. Em seguida à publicação do citado édito, Justiniano determinou ao patriarca Menas de Constantinopla que convocasse um Sínodo, convidando os bispos para que votassem em seu édito, condenando dez anátemas deles constantes e atribuídos a Orígenes [O Mistério do Eterno Retorno, pág. 127-127, Jean Prieur, Editora Best Seller, São Paulo, 1996].

      A principal cláusula ou anátema que nos interessa é a da condenação da preexistência que, em síntese, é a seguinte : "Quem sustentar a mítica crença na preexistência da alma e a opinião, conseqüentemente estranha, de sua volta, seja anátema" ( William Walker Atikinson, Ed. Pensamento, São Paulo, 1997).

Vamos ver agora essa cláusula na íntegra e NO ORIGINAL EM LATIM :

"Si quis dicit, aut sentit proexistere hominum animas, utpote quae antea mentes fuerint et sanctae, satietatemque cepisse divinae contemplationis, e in deterius conversas esse; atque ideirco apofixestai id este refrigisse a Dei charitate, et inde fixás graece, id est, animas esse nuncupatas, demissasque esse in corpora suplicii causa : anathema !"

 

OU SEJA :

"Se alguém diz ou sustenta que as almas humanas preexistiram na condição de inteligências e de santos poderes; que, tendo-se enojado da contemplação divina, tendo-se corrompido e, através disso, tendo-se arrefecido no amor a Deus, elas foram, por essa razão, chamadas de almas e, para seu castigo, mergulhadas em corpos, que ele seja anatematizado !" ( O Mistério do Eterno Retorno, pág. 127-127, Jean Prieur, Editora Best Seller, São Paulo, 1996 ).

Como se não bastasse, o tal Concílio NÃO DEVERIA TER VALIDADE UNIVERSAL, POIS NÃO FOI CONVOCADO PELO PAPA VIGILIUS que, na ocasião, achava-se prisioneiro do Imperador Justiniano !!! Vejam : O Imperador Justiniano mandou prender o Papa !!!

Além disso, há registros do historiador Paul Brunton ( com décadas de estudos comparativos das religiões e das tradições antigas do Oriente e um dos pensadores e Escritores mais perceptivos em transcrever aquela sabedoria para o mundo ocidental ) que afirma que Justiniano anexou ao relatório do Concílio de Constantinopla (553) um documento do Sínodo de Constantinopla, 543 d.C ( Sínodo é uma Assembléia de um pequeno número de bispos de uma região, enquanto que o Concílio Ecumênico é uma assembléia de todos os bispos da Igreja ), dando a entender que a condenção da Reencarnação, feita pelo Sínodo, fosse do Concílio !!!

Veja como manipularam as decisões desse Concílio !!!

      Paul Brunton foi considerado pelo meio acadêmico, como o maior sábio inglês do Século 20. Sua Obra "Verdades em Perspectivas", relata a morte, no Oriente Médio, de mais de um milhão de pessoas, logo após o Concílio de Constantinopla (553), em choques com as forças de segurança de Justiniano, porque não aceitaram a condenação da reencarnação.

 Vamos agora, por curiosidade, transcrever o início da introdução histórica desse célebre Concílio, contida na obra "Hefele, History of the Councils", Vol. IV, p. 289 :

“In accordance with the imperial command but without the assent of the Pope, the Council was opened on the 5th of May A.D. 553, in the Secretarium of the Cathedral Church at Constantinople. Among those present were the Patriarchs, Eutychius of Constantinople, who presided, Apollinaris of Alexandria, Domninus of Antioch, three bishops as representatives of Patriarch Eustochius of Jesuralem, and 145 other metropolitans and bishops, of whom many came also in the place of a sent colleagues”.

OU SEJA :

“De acordo com ordens do Imperador mas sem o consentimento do Papa, o Concílio foi aberto em 5 de maio de 553 da nossa era cristã, na Secretaria da Igreja Catedral em Constantinopla. Entre os presentes achavam-se os Patriarcas Eutichis de Constantinopla, quem presidiu, Apollinaris de Alexandria, Domninus de Antioquia, três bispos como representantes do Patriarca Eustochius de Jerusalém, e 145 outros bispos metropolitanos e bispos, dos quais VÁRIOS VIERAM TAMBÉM EM LUGAR DE COLEGAS AUSENTES.”

 E por que tanta ênfase na condenação de Orígenes ??? Ora, Orígenes, em sua Obra Capital, “Dos Princípios”, livro I, passa em revista os numerosos argumentos que mostram, na preexistência e sobrevivência das almas em outros corpos, o corretivo necessário à desigualdade das condições humanas. De si mesmo inquire qual é a totalidade dos ciclos percorridos por sua alma em suas peregrinações através do Infinito, quais os progressos feitos em cada uma de suas estações, as circunstâncias da imensa viagem e a natureza particular de suas residências.

Está aí a argumentação de como É FACIL ESCAMOTEAR A VERDADE, quando dizem que o Concílio II de Constantinopla não condenou a Reencarnação. O termo "Reencarnação" não poderia mesmo constar em qualquer documento ORIGINAL, antes de 1853, quando Kardec o formalizou em suas Obras. REPITO : O que fizeram naquele Concílio foi enfraquecer as bases da pluralidade das existências. Como a Doutrina da Reencarnação pressupõe a da preexistência do espírito, Justiniano e Teodora PARTIRAM, PRIMEIRO, PARA DESESTRUTURAR A DA PREEXISTÊNCIA, COM O QUE ESTARIAM, AUTOMATICAMENTE, DESESTRUTURANDO A DA REENCARNAÇÃO ( !!! )

E a Igreja aceitou o edito de Justiniano - "Todo aquele que ensinar esta fantástica preexistência da alma e sua monstruosa renovação, será condenado" - como parte das conclusões do Concílio. Esta atitude da Igreja levou a reações tais como a do Cardeal Nicolau de Cusa que sustentou, em pleno Vaticano, a pluralidade das vidas e dos mundos habitados, com a concordância do Papa Eugênio IV (1431 -1447), embora isso provocasse descontentamento de influentes clérigos da Cúria Romana. Porém, havia e houve sempre o interesse em sepultar esse conhecimento. Então, ao invés de uma aceitação simples e clara da Reencarnação, a Igreja passou a rejeitá-la, justificando tal atitude com a criação de Dogmas que lançam obscuridade sobre os problemas da vida, revoltam a razão e impõem dominação, ignorância, apatia e graves entraves à autonomia da razão humana e ao desenvolvimento espiritual da humanidade.

Portanto, a proibição da Doutrina da Reencarnação foi um erro histórico, sem qualquer validade eclesiástica, mas que foi adotada, por satisfazer os interesses do Sacerdócio Profissional e suas pomposas celebrações que mais lembram as excentricidades dos cultos exteriores farisaicos do que a simplicidade vivificante do amor exemplificado por Jesus.

É fácil para qualquer pessoa leiga no assunto, entender porque a Reencarnação foi banida dos ensinamentos da Igreja, a qual planejava manter a hegemonia sobre as pessoas ingênuas e satisfazer a sua ambição material. Para citar apenas UM exemplo, lembremo-nos da “Venda de Indulgências” praticada pela Igreja Católica. Quanto a esse fato, fazem-se necessários alguns esclarecimentos :

- A Igreja Romana da época costumava dizer que algumas pessoas possuíam mais méritos do que tinham necessidade, para serem salvas. Por isso, esse "mérito extra" dessas pessoas poderia ser transferido - especialmente através de pagamento - para pessoas cuja salvação era duvidosa. Martim Lutero protestou contra esta prática, chamada de indulgência.

- No dia 31 de outubro de 1517, Lutero tornou públicas suas 95 Teses contra a venda de indulgências. Com este gesto desencadeou o processo da Reforma.

- Indulgências eram recibos de perdão de pecados passados e futuros. Os pecados eram perdoados a peso de ouro !

- Até pelos mortos era permitido comprar indulgências. Um dos nomes mais conhecidos em Roma, nessa ocasião da construção da Basílica de São Pedro, foi o do cardeal João Tetzel que viajava pelo mundo católico recolhendo contribuições para essa construção. Uma das suas declarações relacionadas à oportunidade das pessoas escaparem do Purgatório por meio de indulgências se tomou célebre : " No momento em que uma moeda tilinta no fundo do gazofilácio, uma alma escapa do purgatório ". Em outras palavras :

" Quando o dinheiro na caixa cai, a alma do purgatório sai ".

- Em pouco tempo, as 95 Teses estavam espalhadas por toda a Alemanha.

- Em 30 de maio de 1518, Lutero enviou suas Teses ao Papa Leão X, pois estava convicto que o Papa iria apoiá-lo contra os abusos das indulgências.

- No dia 3 de janeiro de 1521, Lutero é oficialmente excomungado da Igreja Católica.

Nota : A Igreja Católica tem duas inesgotáveis "galinhas dos ovos de ouro" : o Purgatório e as Indulgências — sendo estas para salvar os ricos, os que têm dinheiro com que resgatar os seus pecados. Porém, lembremo-nos das palavras de Jesus, quando viu o jovem rico afastar-se dele por não se dispor a vender seus bens para segui-lo :

"Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino de Deus. ( Mt 19.23 ). Entretanto, dentro do ensino católico, essa entrada se tornou fácil para os ricos, e pouco importa se eles são bons ou não : as indulgências abrem-lhes as portas.

E os pobres que continuem sofrendo neste mundo e que paguem no purgatório por séculos sem fim, o castigo dos seus pecados, porque não têm dinheiro para missas e indulgências, mui­to embora Jesus houvesse dito: ... aos pobres é anunciado o Evangelho ( Mt 11.5 ). Porém o Papa Leão X ensinava que uma pessoa rica poderia doar terras e bens materiais à Igreja e assim comprar um lote de terreno no paraíso. ( SIC )

Não é por acaso que a Igreja Católica é um dos maiores proprietários de terras e imóveis em todo o mundo. Os banqueiros melhor informados calculam as riquezas do Vaticano entre DEZ A QUINZE BILHÕES ( Eu disse BILHÕES ) DE DÓLARES. Ele ( Vaticano ) possui grandes investimentos em bancos, seguros, produtos químicos, aço, construções, imóveis etc. SOMENTE OS DIVIDENDOS servem para manter de pé toda a organização, INCLUÍDAS AS OBRAS DE BENEFICIÊNCIA. Tal fortuna vem sendo ACUMULADA em função das reaplicações no mercado.

Por que, ao invés de reaplicar o dinheiro, o Vaticano não o redistribui para os mais carentes ? Será que é mesmo necessário ACUMULAR CERCA DE 15 BILHÕES DE DÓLARES para manter a Igreja Romana ?

      E a própria Revista "Isto É - Dinheiro" revela a situação financeira do Vaticano, que apesar das dificuldades, mantém um Patrimônio, revelado pela própria Cúria Romana, de 5 bilhões de dólares mais 3,2 bilhões de dólares depositados no Banco do Vaticano. E se essas cifras são reveladas pela própria Igreja, então, é sinal que o montante pode ser muito maior. E a Revista ainda diz : "... O pontífice tem ainda 1 mil apartamentos registrados em seu nome na capital italiana, Roma."   Para confirmar, acesse :

http://www.terra.com.br/istoedinheiro/255/negocios/255_santa_crise.htm


      Todos nós, e até mesmo os Católicos, não podemos acreditar que Deus prefira manter ouro e luxo nas suas Igrejas ao mesmo tempo que muitos de seus filhos morrem de fome pelo mundo.

Se um representante do Vaticano, hipoteticamente, perguntasse a Cristo: " Que devo fazer para obter a vida eterna ? ", Certamente que Cristo não poderia responder de um modo diferente deste : " Se quiseres ser perfeito, vai, vende o que tens (....) ". E a Igreja lhe deveria objetar : " Se queres que eu cumpra a tua ordem de representar-Te na Terra, devo possuir os meios do mundo ".

O problema é saber se isto, que é uma necessidade imposta pela realidade da vida, é traição de princípios, é prostituição do ideal. É lícito arrogar-se à posição de representantes de Cristo sem seguir os seus ditames ?

                Isto significa que o Cristianismo atual não é feito só por Cristo, mas é um seu produto, depois manipulado e adaptado pelos homens para seu uso. Resultou disso uma Igreja que é uma mistura de humano e de divino, nasceu um produto que parece híbrido, e que por querer ser as duas coisas não é exclusivamente nem uma nem outra.

Conta-se que Tomás de Aquino, o "doutor angélico" da Igreja Romana (1330 d.C.), ao visitar o Papa Inocêncio IV, este, depois de lhe haver mostrado toda a fabulosa riqueza do Vaticano, disse, fazendo alusão às palavras de Pedro ao coxo da porta Formosa :

- Vês, Tomás? A Igreja não pode mais dizer como nos primeiros dias: " Não tenho prata nem ouro..."

- É verdade - confirmou Tomás - Mas também não pode mais dizer ao coxo : " Levanta-te e anda ".

Estamos orando para que a Igreja possa dizer sempre com fé e convicção :

" Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou : Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda ! " (Atos 3.6).(§ 11).

- Conclusão Geral : Tal fato só poderia ser levado a termo se as pessoas desconhecessem que não era preciso “comprar” suas salvações e sim trabalharem intimamente a Reforma Espiritual para se tornarem dignos de elevação na Escala dos eleitos de Deus. Portanto a eliminação do princípio da Reencarnação era muito conveniente para a Igreja Católica.

Se nos reaproximarmos da doutrina da Reencarnação, afastando a dogmática crença na ascensão do corpo físico de CRISTO crucificado, crescerá no coração de cada um, e mesmo no coração daqueles que se educaram dentro do cristianismo católico, a fé nas verdades puras, ensinadas pelo próprio CRISTO.

"Naquele tempo os discípulos o interrogaram dizendo: Por que dizem pois os escribas que Elias deve vir primeiro? Ele respondeu: Digo-vos, porém, que Elias veio e não o reconheceram, antes fizeram dele o que quiseram. Então os discípulos compreenderam que tinha falado de João Batista" (Mateus cap.17 vers.10 a 13).

“... não pode ver o reino de DEUS senão aquele que nascer de novo..." (João cap.3 vers.3 a 10 - CRISTO ensinando reencarnação a Nicodemos).

Obs.:

Orígenes de Alexandria

 

Exegeta e Teólogo, jovem cristão filho de mártires, foi um profundo conhecedor das Sagradas Escrituras e também estudioso da Filosofia Grega, a qual foi levada ao seu maior brilho, graças à atuação desse notável intelectual.

      Na História da Igreja, além de ser o maior erudito religioso de sua época, Orígenes foi o primeiro grande intérprete das Escrituras. A partir dele praticamente todos os demais santos padres, de um modo ou de outro, seguiram os caminhos por ele indicados neste assunto. É apontado por vários historiadores como um dos maiores gênios cristãos de todos os tempos e dono da mais vasta cultura que se possa imaginar. Esta podia esbeleceu as regras de conservação e interpretação da Bíblia e lançou os fundamentos da reflexão cristã para os séculos vindouros. Apologista de grande valor e de rara fecundidade literária tentou uma fusão entre o Cristianismo e o Platonismo ( Doutrina caracterizada pela preocupação com os temas éticos, visando toda a meditação filosófica ao conhecimento do Bem, conhecimento este que se supõe suficiente para a implantação da justiça entre os Estados e entre os homens ).

Orígenes nos encanta por sua apurada visão Espiritual e sua maneira especialmente lúcida de abordar a mensagem de Cristo. Nascido por volta de 185 de nossa era, em Alexandria - onde ficava a famosa biblioteca, marco único na história intelectual humana, e que foi destruída pela ignorância e sede de poder dos romanos e, depois, por pseudo-cristãos ensandecidos e fanáticos, Orígenes, desde cedo teve contato com a doutrina Cristã, especialmente com seu pai, Leonídio, que foi martirizado em testemunho de sua fé.

Com isso, a família de Orígines passou a ser estigmatizada, tendo sido sequestrado todo o patrimômio que lhe pertencia. Para sobreviver, o jovem e brilhante Orígines passou a lecionar para ganhar seu sustento. Mente curiosa e aberta, dedicava-se ao estudo e a discussão da filosofia, notadamente Platão e os estóicos. Orígenes teve a mesma formação intelectual que viria a ter Plotino, na escola de Amônio Sacas e, com certeza, as doutrinas ditas orientais não lhe eram estranhas, e muito menos a ênfase num conhecimento pisíquico direto com o transcendente, que era típica da escola de Amônio, fundador do neoplatonismo e, também, um simpatizante ( pelo menos em parte ) do Cristianismo.

A Doutrina Palingenética, ou seja, da Reencarnação, era bem conhecida por Platão e Sócrates. Tal Doutrina, foi muito familiar a Orígenes em sua fase de formação, e posteriormente ele viria a divulgá-la abertamente, e este foi um dos motivos pelos quais foi perseguido pela vertente católico romana. Morreu em 254 D.C, na cidade de Tiro, em virtude da perseguição de Décio, mais conhecido pelo nome de Trajano, o qual era um incansável opositor do Cristianismo. Temos hoje, dessa forma, poucos de seus escritos, mesmo assim, devidamente "maquilados".

      Orígenes, é citado por Historiadores, como autor de aproximadamente 6.000 obras, todas em grego. Os escólios ( interpretações ) sobre as Sagradas Escrituras são reconhecidas como os melhores trabalhos desse grande Teólogo. Boa parte das que se conservaram, deveu-se à obra de tradução para o latim do Monge Rufino, que residia no monte das Oliveiras, e do Monge São Jerônimo, o tradutor da Vulgata, que residia em Belém.

 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 06:31

Segunda-feira, 12 de Abril de 2010

 

CONHEÇA MUITO MAIS SOBRE A INQUISIÇÃO PROTESTANTE

Autor: Fernando Nascimento

Introdução

O artigo que segue, revela em rica bibliografia, os números de mortos, e requintes de crueldade dos incomparáveis tribunais eclesiásticos protestantes. E deixará claro que as levianas acusações protestantes contra a Igreja Católica sorrateiramente mudaram a palavra “inquisição”, que quer dizer apenas: “sindicância”, “investigação”, em sinônimo de “matança de pessoas”. Ainda hoje, esse erro circula no meio protestante. Tal quimera caiu por terra, quando o renomado historiador Agostino Borromeo, após demorado estudo sobre a inquisição, concluiu que não chegaram a cem, o número de mortes, cometidas por católicos que em desobediência ao Papa, empregaram pena de morte contra os inquiridos.

Antes, abramos um parêntese, para de fato mostrarmos conforme os historiadores, que muita calúnia se lançou contra a Igreja Católica, no que concerne a falsa acusação de matança de “centenas”, “milhares” e até “milhões” de pessoas. Pura lenda, que na verdade não passava de mentira estratégica protestante, fomentada por anticatólicos como: Russel Hope Robbins, o apostata Doelling, Jules Baissac, Jean Français e Reinach.

O próprio Rui Barbosa quando principiante inexperiente, traduziu “O Papa e o Concílio” uma obra de um deles, do Doelling, e se arrependeu mais tarde, proibindo no prefácio a publicação da mesma, pelas calúnias apaixonadas. Dizia mais tarde Rui Barbosa, quando maduro e experiente: “Estudei todas as religiões do mundo e cheguei a seguinte conclusão: religião ou a Católica ou nenhuma.” (Livro Oriente, Carlos Mariano de M. Santos (1998-2004) artigo 5º).

Publicou a Agência européia de notícias Zenit: [CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 16 de junho de 2004 (ZENIT.org).- Atualmente, os pesquisadores têm os elementos necessários para fazer uma história da Inquisição sem cair em preconceitos negativos ou na apologética propagandista, afirma o coordenador do livro «Atas do Simpósio Internacional “A Inquisição”».

No volume, Agostino Borromeo, historiador, recolhe as palestras do congresso que reuniu ao final de outubro de 1998, no Vaticano, historiadores universalmente reconhecidos especializados nestes tribunais eclesiásticos.

«Hoje em dia --afirmou essa terça-feira, em uma coletiva de imprensa de apresentação do livro, o professor da Universidade «La Sapienza» de Roma-- os historiadores já não utilizam o tema da Inquisição como instrumento para defender ou atacar a Igreja».

Diferentemente do que antes sucedia, acrescentou o presidente do Instituto Italiano de Estudos Ibéricos, «o debate se encaminhou para o ambiente histórico, com estatísticas sérias».

O especialista constatou que, à «lenda negra» criada contra a Inquisição em países protestantes, opôs uma apologética católica propagandista que, em nenhum dos casos, ajudava a conseguir uma visão objetiva.

Isto se deve, entre outras coisas --indicou--, ao «grande passo adiante» dado pela abertura dos arquivos secretos da Congregação para a Doutrina da Fé (antigo Santo Ofício), ordenada por João Paulo II em 1998, onde se encontra uma base documental amplíssima.

Borromeu ilustrou alguns dos dados possibilitados pelas «Atas do Simpósio Internacional “A Inquisição”».

Revela o historiador sobre os processos e condenação referentes ao tribunal católico: “dos 125.000 processos de sua história, a Inquisição espanhola condenou à morte 59 «bruxas». Na Itália, acrescentou, foram 36 e em Portugal 4. Se somarmos estes dados --comentou o historiador-- não se chega nem sequer a cem casos...”
A Inquisição na Espanha, afirmou o historiador, em referência ao tribunal mais conhecido, celebrou entre 1540 e 1700, 44.674 julgamentos. Os acusados condenados à morte foram 1,8% e, destes, 1,7% foi condenado em «contumácia», ou seja, pessoas de paradeiro desconhecido ou que em seu lugar se queimavam ou enforcavam bonecos].(1) Até aqui a notícia de ZENIT.org.

Outro historiador, o protestante, Henry Charles Léa, cita 47 bulas, nas quais a Santa Sé continuamente insiste na jurisprudência que deve se observar nos tribunais eclesiásticos católicos. Alertam para não cair na violência e injustiças freqüentes dos juizes leigos. Basta folhear a monumental obra do próprio Léa, para convencer-se que na realidade as bruxas foram perseguidas e condenadas mais pelos detentores do poder civil e pelos protestantes do que pelo tribunal católico. (2)

Também o historiador Daniel Roups, é categórico nos seus registros: ”Foram numerosos os cânones dos concílios que, excomungando os hereges e proibindo os cristãos de lhes darem asilo, não admitiam que se utilizassem contra eles a pena de morte. Deviam bastar as penas espirituais ou, quando muito, as penas temporais moderadas”. (3)

João Paulo II enviou uma mensagem com motivo da apresentação das «Atas» do Simpósio Internacional sobre a Inquisição, na qual sublinha a necessidade de que a Igreja peça perdão pelos pecados cometidos por seus filhos através da história. Ao mesmo tempo, declarava, «antes de pedir perdão é necessário conhecer exatamente os fatos e reconhecer as carências ante as exigências cristãs».

Pelos filhos da Igreja Católica, que em desobediência cometeram alguns crimes, o Papa João Paulo II pediu perdão. Mas, quando o protestantismo parará de deturpar, omitir e caluniar, reconhecendo finalmente os extermínios que cometeu e atribui maldosamente aos católicos? Fecha parêntese.

VEJAMOS ENTÃO, A VERDADE DOCUMENTAL, E A CRUELDADE SEM PRECEDENTES DOS TRIBUNAIS PROTESTANTES.

A quantidade de registros literários dos próprios protestantes é vasta, porém, estranhamente ocultada pelos livros escolares, pela imprensa e mídia em geral. Muitas vezes vemos o que é omitido pelo lado protestante sendo por esses veículos, atribuídos maldosamente à Igreja Católica.

- O próprio Lutero nos legou o relato dessa prática, anos antes de lançar-se em revolta aberta, dizia: “(…) os hereges não são bem acolhidos se não pintam a Igreja como má, falsa e mentirosa. Só eles querem passar por bons: a Igreja há de figurar como ruim em tudo.” (Franca, Leonel, S.J. A Igreja, a reforma e a civilização, Ed. Agir, 1952, 6ª ed. Pág. 200).

Uma vez no protestantismo, já ensinava Lutero aos protestantes: “Que mal pode causar se um homem diz uma boa e grossa mentira por uma causa meritória e para o bem da igreja (luterana).” (Grisar, Hartmann, S.J., Martin Luther, His life & work, The Newman Press, 1960- pág 522).

Logo a mentira, a omissão e o falso testemunho se tornaram a coluna da doutrina dos pseudos “reformadores” protestantes.

A crueldade foi especialmente severa na Alemanha protestante. As posições de Lutero, contra os anabatistas, causaram a morte de pelo menos 30.000 camponeses. (4)

Calvino, pai dos presbiterianos, mandou queimar o espanhol Miguel Servet Grizar, médico descobridor da circulação sanguínea. Acusado de heresia, Servet foi preso e julgado em Lyon, na França. Conseguiu evadir-se da prisão e quando se dirigia para a Itália, através da Suíça, foi novamente preso em Genebra, julgado e condenado a morrer na fogueira, por decisão de um tribunal eclesiástico sob direção do próprio Calvino. A sentença foi cumprida em Champel, nas proximidades de Genebra, no dia 27 de outubro de 1553. Puseram-lhe na cabeça uma coroa de juncos impregnada de enxofre e foi queimado vivo em fogo lento com requintes de sadismo e crueldade. (5)

O luterano Benedict Carpzov, foi legista brilhante e figura esclarecida, até hoje ocupando lugar destacado na história do Direito Penal. Mas perdia a compostura contra a bruxaria, que considerava merecedora de torturas três vezes intensificadas com respeito a outros crimes, e cinco vezes punível com pena de morte. Protestante fanático, afirmava, quando velho, ter lido a Bíblia inteira 53 vezes. Assinou sentença de morte contra 20.000 bruxas, apoiando-se principalmente na “Lei” do Antigo Testamento. Não compreendendo o verdadeiro significado da Bíblia, considerava o Pentateuco como lei promulgada pelo próprio Deus, Supremo Legislador. Carpzov, para condenar a morte, usava (Lv 19,31; 20,6.27; Dt 12,1-5), citava de preferência o Êxodo (22,18); “Não deixarás viver a feiticeira”. (6)

Outro famoso perseguidor de bruxas na Alemanha, foi Nicholas Romy, considerado grande especialista e que escreveu um longo tratado sobre bruxaria, teve sobre sua consciência a morte de 900 pessoas. (7)

Já Froehligh, reitor da Universidade de Innsbruck e catedrático de Direito, que chegou a ser chanceler da Alta Áustria, insistia em que não só as supostas bruxas fossem condenadas, senão também seus filhos! E não se precisava muito para ser considerada bruxa, pois o seria qualquer pessoa que não tivesse um olhar franco.(8)

Naquele ambiente de superstição, crueldade e pânico perante as bruxas, foi possível o aparecimento de um Franz Buirmann, pervertido magistrado protestante e degenerado inimigo da bruxaria. Era um juiz itinerante. Referindo-se a ele dizia seu contemporâneo Hermann Loher: “Preferiria mil vezes ser julgado por animais selvagens, cair numa fossa cheia de leões, de lobos e ursos, do que cair em suas mãos”.

Deste impiedoso juiz se afirma que somente em duas incursões que realizou por pequeninas aldeias ao redor de Bonn, que perfaziam um total de 300 pessoas contando-se crianças e velhos, queimou vivas nada menos que 150 pessoas! Consta que ao menos em duas oportunidades (da viúva Boffgen e do Alcaide de Rheinbach), o juiz se apoderou de todos os bens dos condenados à fogueira (o Alcaide de Rheinbach era seu inimigo político. . .).(9)

Em Bamberga, sob a administração de um bispo protestante, queimou-se 600 pessoas. Na Genebra protestante, foram queimadas 500 pessoas no ano 1515. (10)

Se os protestantes do passado nenhum valor davam a essas muitíssimas vidas ceifadas no fogo, muito menos valor dão os protestantes de hoje, que por ignorância, orgulho ou omissão, se escusam de um simples pedido de perdão, para não ter que admitir as iniqüidades que falaciosamente atribuem aos outros.

A técnica, é a mesma do gatuno que bate uma carteira e grita: “pega ladrão!!!” Baseados no grito do gatuno, as mal informadas e ou mal intencionadas editoras de livros didáticos, a imprensa e a mídia fazem o resto do trabalho sujo. Tudo contribui para a perdição do que não busca conhecer a verdade.

Dizia Marcus Moreira Lassance Pimenta: “Ao ignorante, basta uma mentira bem contada para que a tenha como verdade. E ao sábio, não há mentira que o impeça de buscar a verdade”.

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A SEVERIDADE DOS TRIBUNAIS PROTESTANTES
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Foram terríveis os genocídios causados pelos protestantes na Alemanha. A então Alemanha estava dividida em mais de trezentas circunscrições, cada uma delas com seu próprio Supremo Tribunal civil e seu Direito particular. A perseguição às bruxas e a severidade dos castigos, dependiam geralmente dos respectivos senhores de cada região, que governavam com muita independência e poder quase absoluto.

Dentro de cada região, havia oscilações pendulares inclusive extremas, segundo os critérios subjetivos do mesmo senhor e segundo os conceitos das diversas sucessões no poder através dos anos e dos séculos. Daí a dificuldade em se calcular o número de pessoas condenadas à fogueira e à forca na Alemanha. Mas, das crônicas e processos regionais que chegaram até nós, cabe deduzir, que as vítimas se contaram por milhares. Gardner calcula 9 milhões (1). Morrow simplesmente diz que foram milhões (2).

W. A. Schoeder, contemporâneo aos fatos, anotou que nas localidades de Bamberg e Zeil, entre 1625 e 1630, (cinco anos) se realizaram nada menos que 900 processos de bruxaria. Deles (numa exceção), 236 terminaram com condenação à morte na fogueira. Só num ano, 1617, em Wurzburgo, foram queimadas 300 bruxas (3); em total nesta região, as atas apresentam l.200 condenações à morte (4).

Em 20 anos, de 1615 à 1635, em Estrasburgo, houve 5.000 queimas de bruxas (5).

Em cidades pequenas como a imperial Offenburg, que só tinha entre dois e três mil habitantes, se desenvolveram acérrimas perseguições às bruxas durante três decênios, e em só dois anos, segundo as atas, foram queimadas 79 pessoas (6).

Segundo o VERITY MURPHY em 16/6/2004, da BBC de Londres, o novo e mais completo relatório da inquisição, indica que, no auge da Inquisição, a Alemanha protestante matou mais bruxas e bruxos que em qualquer outro lugar.

Na Suíça, quando protestante, os casos de condenação de bruxas descritos nas crônicas conservadas, chegam a 5.417 (7). Nos Alpes Austríacos, as mortes chegaram ao menos a 5.000 (8).

Era absolutamente falsa a afirmação de muitos autores protestantes ingleses, de que a Inglaterra foi uma exceção dentro da bruxomania geral.
Segundo Ewen, (9), que cita documentos oficiais, o número de condenados à pena de morte por bruxaria, na Inglaterra protestante, exatamente de 1541 a 1736, teria sido menos de mil. As condenações à morte teriam sido menos de 30% das acusações. Mesmo assim, o comportamento inglês não fugiu ao ditado de que não há regras sem exceções.

Na Inglaterra destacava-se o protestante Mathew Hopkins que se autodenominava “descobridor geral de bruxas”. Parece que era um sádico encoberto. Quando encontrava uma mulher que excitava seus instintos sexuais anormais, obrigava-a a despir-se na sua presença e começava a fincar com uma agulha, as diversas partes do corpo dela (assim se procuravam áreas insensíveis, o que seria sinal de possessão demoníaca).
Mas… ele mesmo diante de outros protestantes, foi acusado de possuir estranhos poderes. Submetido às provas de bruxaria que empregara, foi condenado e morto (10).

Na Inglaterra não era necessário aplicar torturas — às vezes se deram! — porque a condenação freqüentemente era sentenciada sem necessidade de confissão por parte do acusado (11).
Em 1562 a rainha Elizabeth, e a versão definitiva do Witch Act ou “lei contra os bruxos”, de Jacques I em 1604, condenavam à morte a pessoa que tivesse feito qualquer malefício pretendendo acabar com a vida ou danar o corpo de alguém. Mesmo que não se percebesse efeito nenhum do malefício! Esta lei se manteve em vigor na Constituição até 1736.

Os protestantes do Reino Unido foram lentos. Na Inglaterra do século XVII, na área da interpretação dos fenômenos misteriosos ainda grassava a superstição demonológica, e houve várias condenações. O último juízo por bruxaria foi já entrado o século XVIII, em 1717, (12). E ainda demorariam mais vinte anos para abolir o estatuto inglês contra as bruxas, em 1736 (13).

A última morte por condenação como bruxa, na Escócia, foi em 1738. Na Irlanda, a lei contra bruxaria não foi abolida até 1821!
Em 1863, segunda metade do século XIX!, o povo inglês ainda linchou um velho por considerá-lo bruxo.

As perseguições protestantes atravessaram o Atlântico, e chegaram aos EUA. O primeiro corpo de estatutos — The Body of Liberties — que houve em Massachusetts, é de 1641 (14). Nele se diz: “Se algum homem ou mulher é bruxo que manifesta ou consulta um espírito familiar(?), será enviado à morte” (15).

A revisão de 1649 reiterava a mesma lei com pena capital (16). De sua vigência é um exemplo famoso, “o processo das bruxas de Salem,” em 1692. Como resquício, ainda hoje em alguns estados americanos, a pena de morte é vista com naturalidade, aos condenados gravemente pela justiça. Mudaram apenas os réus e a forma de exterminar.

O pânico da população perante as bruxas e a ira contra elas, refletem-se no caso de Ann Hibbins. Parece que foi acusada por motivos meramente socioeconômicos. Era irmã de um rico comerciante e antigo assistente da colônia, Richard Beilingham, que fora governador da Baía de Massachusetts. O júri a condenou. Os juizes não aceitaram o veredicto. O caso foi levado à Corte Geral. Foi fácil incitar a opinião pública. Tanto pressionaram a Corte que Ann Hibbins foi condenada à morte (17).

ATÉ CRIANÇAS ERAM QUEIMADAS PELOS PROTESTANTES

No ano 1670, na Suécia, houve um processo deplorável: Como conseqüência das declarações, arrancadas pelas interrogações feitas pelos teólogos protestantes, foram queimadas 70 mulheres, açoitadas mais 56, queimadas 15 crianças que já tinham chegado aos 16 anos e outras 40 foram açoitadas (18).

Na Alemanha protestante, o poder civil condenou Anna Maria Schwugelin. Foi decapitada como bruxa em 1759.

No dia 18 de junho de 1782, o governo protestante ainda decapitou uma bruxa na Suíça (19).

Agora os protestantes têem aqui reunidos, grande parte dos números de mortes, nomes e documentos, para a própria cruel “inquisição” de seus tribunais, que tanto omitem. E isso não é tudo.

Atacado por um diabólico ódio racial, Lutero antes de sua morte, lançou o panfleto “Contra os judeus e as suas mentiras.” onde pregava aos alemães, toda sorte de desumanidade contra os judeus, culminando no holocausto nazista. Esta obra, está reproduzida na “História do anti-semitismo”, de Leon Poliakov.
Dia 6 de maio de 1527, quando saquearam Roma, cerca de quarenta mil homens espalharam na Cidade Eterna o terror, a violência e a morte. Eram seis mil espanhóis, quatorze mil italianos e vinte mil alemães, quase todos luteranos, esses últimos, indivíduos perversos, gananciosos, desprovidos de qualquer escrúpulo. Gritavam: ”Viva Lutero, nosso papa!!!” Ávidos, incansáveis na busca das riquezas, dos despojos do inimigo, os lanquenetes luteranos e os outros invasores assaltaram, estupraram, saquearam, incendiaram, trucidaram, arrebentaram as suas vítimas, jogaram crianças pelas janelas ou as esmagaram contra as paredes. Grande parte da população foi dizimada. Conforme disse Maurice Andrieux, esse ataque a Roma “superou em atrocidade todas as tragédias da História”, até mesmo a destruição de Jerusalém e a tomada de Constantinopla.

Todo esse genocídio com requintes de crueldade, parece encontrar doce justificativa nas palavras de Lutero, pai do protestantismo do “somente a fé”:

“… Seja um pecador e peque fortemente, mas creia e se alegre em Cristo mais fortemente ainda…Se estamos aqui (neste mundo) devemos pecar…Pecado algum nos separará do Cordeiro, mesmo praticando fornicação e assassinatos milhares de vezes ao dia”. (Carta a Melanchthon, 1 de agosto de 1521 (American Edition, Luther’s Works, vol. 48, pp. 281-82, editado por H. Lehmann, Fortress, 1963).

Esta “fé”, de Lutero, apesar de dirigida pela vontade, é um simples ato do intelecto. Apesar de necessária à salvação, não é suficiente. Tiago diz que até mesmo os demônios têm esta fé (Tg 2,19). É por este motivo que ele diz: “Vedes como o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé?” (Tg 2,24). Infelizmente, Lutero designou esta carta do Apóstolo de [i/”Carta de Palha”. Ele não entendeu o que Tiago esta querendo dizer (sobre a fé de Abraão): “Vês como a fé cooperava com as suas obras e era completada por elas” (Tg 2,22). Sob o erro do pai do protestantismo, as seitas evangélicas ainda hoje, pregam que seus seguidores já estão “salvos”, só porque simplesmente “crêem” em Jesus. Se assim fosse, iriam encontrar Lúcifer no céu.


publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 01:54

Domingo, 11 de Abril de 2010

Protestantes é nessas coisas que voces acreditam.Duvido que tenham coragem de ler .Teologo,tu que quer ser pastor da uma olhadinha aí.

Foram terríveis os prejuízos causados pelos tradutores protestantes em todas as suas tentativas de traduzir as Sagradas Escrituras.

A incompetência, aliada muitas vezes a má fé, causou danos irreparáveis aos ensinamentos de Jesus Cristo na terra contribuindo decisivamente para a dispersão de seu rebanho.

Acompanhe abaixo cada tradutor protestante e seu atentado às Escrituras:Lutero Na Alemanha, já havia 30 diferentes edições católicas alemãs da Bíblia*, mas, Lutero, fundando o protestantismo, resolveu fazer sua tradução e adulterou Romanos 1,17, onde diz que “o justo viverá pela fé”. Ele acrescentou a palavra alemã “allein” que significa “somente”, e passou a pregar que o justo “viverá SOMENTE pela fé”. Foi o modo desonesto que ele achou para justificar sua nova religião do “Sola fide”.

Ele mesmo confirmou esta adulteração, quando cheio de ódio disse: ”Se um papista lhe questionar sobre a palavra ‘somente’, diga-lhe isto:

Quem não aceitar a minha tradução, que se vá. O demônio agradecerá por esta censura sem minha permissão.

” (Amic. Discussion, 1, 127,’The Facts About Luther,’ O’Hare, TAN Books, 1987, p. 201). - * (Imperial Encyclopedia and Dictionary © 1904 Vol. 4, Hanry G. Allen & Company), (Holman Bible Dictionary © 1991).


A carta de Tiago que condena o “Somente a fé” em (2,20), (2,14-16) e (2,21-22), foi assim tratada pelo dito “reformador”: ”A carta de Tiago é uma carta de palha, pois não contém nada de evangélico.” (’Preface to the New Testament,’ ed. Dillenberger, p. 19.).


Hoje, discretamente retiraram o “somente” das traduções protestantes posteriores, mas a doutrina de Lutero (sola fide) é a essência do protestantismo.

Continua o jeito fácil de salvar-se, “somente” tendo fé, como determinou Lutero:

“Seja um pecador e peque fortemente, mas creia e se alegre em Cristo mais fortemente ainda…Se estamos aqui (neste mundo) devemos pecar…Pecado algum nos separará do Cordeiro, mesmo praticando fornicação e assassinatos milhares de vezes ao dia”.

(Carta a Melanchthon, 1 de agosto de 1521 - American Edition, Luther’s Works, vol. 48, pp. 281-82, editado por H. Lehmann, Fortress, 1963).

ZwinglioZwínglio foi além, na sua tradução alemã, ousou adulterar as mais importantes palavras de Jesus Cristo, com visível intenção de eliminar sua presença na Eucaristia. Colocou a palavra “significa”, onde Jesus diz que o pão “É” seu Corpo e o vinho “É” seu Sangue. Veja o repúdio de um autor protestante da época: “Não é possível de modo algum excusar este crime de Zwínglio; a cousa é por demais manifesta; (…) Não o podeis negar nem ocultar porque andam pelas mãos de muitos os exemplares dedicados por Zwinglio a Francisco, rei de França, e impressos em Zurique no mês de março de 1525. Na aldeia de Munder, na Saxônia, no ano 60 eu vi na casa do reitor do colégio, Humberto, não sem grande maravilha e perturbação, exemplares da Bíblia alemã, impressas em Zurique, onde verifiquei que as palavras do Filho de Deus haviam sido adulteradas no sentido dos sonhos de Zwinglio. Em todos os quatro lugares (Mt., 26; Mc., 14; Lc., 22; I cor., 11) em que se referem as palavras da instituição do Filho de Deus, o texto achava-se assim falseado: Das bedeutet meinen Leib, das bedeutet meinen Blut, isto significa o meu corpo, isto significa o meu sangue.

” (Conr. Schluesselburg, op. cit. f. 44 a.) (citações em padre Leonel Franca, op. cit., pág. 211).


Lutero levantou-se contra Zwinglio, e disse que ”“é “ não pode ser traduzido por “significa””. (Uma Confissão a respeito da Ceia de Cristo - Von Abendmahl Christi, Bekenntnis WA 26, 261-509, LW 37. 151-372, PEC 287-296. - SASSE, H. Isto é o meu Corpo, p. 107). Citado em: http://www.seminarioconcordia.com.br/Art…

Eles corrigiram isso nas versões protestantes seguintes. Mas, até hoje os pastores pregam que “significa”.

TyndaleTyndale foi outro falsário protestante, por isso, morto por um decreto do imperador em Augsburg. O rei Henrique VIII já havia condenado em 1531 a “bíblia” de Tyndale como uma corrupção da Escritura. Nas palavras dos conselheiros do rei: “a tradução da Escritura corrompida por Tyndale deveria ser totalmente expelida, rejeitada e deveria ficar fora das mãos das pessoas…”. Para se pensar, que as “bíblias” protestantes de Tyndale ou Lutero fossem tão boas, por que os protestantes europeus hoje não as usam como fazem com a King James? São Thomas More, que viveu naquele tempo comentou que, procurar erros na “bíblia” de Tyndale era semelhante a procurar água no mar.

(Henry G. Graham, Where We Got The Bible (TAN Books, 1977) pp. 128,130).



Miguel ServetMiguel Servet foi outro protestante que morreu por corromper ao traduzir as Escrituras. João Calvino, o principal “

publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 21:36

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Excelente texto. Parabéns!
É como você mesmo colocou no subtítulo do seu blog...
Ok, Sergio.O seu e-amil é só esse: oigres.ribeiro@...
Ok, desejaria sim.
Ola, Sérgio.Gotaria de lhe fazer um convite:Gostar...
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