TODO AQUELE QUE CRÊ NUM DOGMA, ABDICA COMPLETAMENTE DE SUAS FACULDADES. MOVIDO POR UMA CONFIANÇA IRRESISTÍVEL E UM INVENCÍVEL MEDO DOENTIO, ACEITA A PÉS JUNTOS AS MAIS ESTÚPIDAS INVENÇÕES.

Sábado, 22 de Maio de 2010

 

 

I-Importância da Nação Brasileira no Cenário Mundial.

 

Desembarcava em Manhattan, na América vindo da França, no dia 11 de maio de 1831, o jovem Aléxis de Tocqueville que, em 1835, escrevia seu livro “De la Democratie en América”, no qual expunha suas idéias sobre a Nação que realizaria tarefas sem precedentes na História – os Estados Unidos.

Pelo método comparativo preconizava a bipolaridade, que somente bem mais tarde se implantaria. Vejamos o que escreveu, então:

“Existem hoje sobre a Terra dois povos, que tendo partido de pontos diferentes, parecem adiantar-se para o mesmo fim – são os russos e os anglo-americanos. Ambos cresceram na obscuridade; e enquanto os olhares dos homens estavam ocupados noutras partes, colocaram-se de Improviso na primeira fila entre as nações, e o mundo se deu conta, quase que ao mesmo tempo, de seu nascimento e de sua grandeza. Todos os outros povos parecem ter chegado mais ou menos aos limites traçados pela natureza, nada mais lhes restando se não manter-se onde se acham, enquanto aqueles dois se acham em crescimento; todos os outros vão se deter ou avançar a poder de mil esforços; apenas esses dois marcham a passo fácil e rápido numa carreira cujos limites o olhar humano não poderá ainda perceber. O americano luta contra os obstáculos que a natureza lhe opõe; o russo está em luta com os homens. Um combate o deserto e a barbárie; o outro, a civilização; por isso as conquistas do americano se firmam com o arado do lavrador e as do russo, com a espada do soldado. Para atingir sua meta, o primeiro apóia-se no interesse pessoal e deixa agir, sem dirigí-las, a força e razão dos indivíduos. O segundo concentra num homem, de certa forma, todo o poder da sociedade. Um tem por principal meio de ação a liberdade, o outro, a servidão. O ponto de partida é diferente, os seus caminhos são diversos; não obstante cada um deles será convocado, por um desígnio secreto da Providência, a deter nas mãos, um dia, os destinos da metade do mundo.”

Isso era previsto, veja-se bem, em 1835. E dentro do processo histórico, o ciclo evolutivo das nações marcaria o desaparecimento da supremacia da Espanha e Portugal, nações que, pela bipolaridade, dominavam os destinos do mundo com o advento das grandes navegações. Também desapareceria a hegemonia da França e da Inglaterra e o mundo continuaria dominado, no âmbito da bipolaridade, por nações com grande extensão territorial e amplas fachadas marítimas. Além dos Estados Unidos e da Rússia, outras cinco nações já se haviam estabelecido no Mundo, satisfazendo aquelas condições: o Canadá, a Austrália, a Índia, a China e o nosso Brasil, que ensaiava seu ciclo evolutivo entre as grandes Pátrias da Terra.

Coube ao sueco Rudolf Kjellen, na obra intitulada “O Estado como forma de vida”, de 1916, provar que as nações, como todos os seres vivos, nascem, crescem, projetam-se ou não e morrem, cedendo seu lugar a outras no cenário das grandes potências.

Fato importante, os estudiosos, hoje, vêm mostrando que a Rússia e os Estados Unidos aproximam-se do cone de sombra, que os levará, um dia, ao eclipse de sua supremacia nas áreas em que atuam no Planeta, em face do desmoronamento das estruturas sobre as quais se apóiam. Quanto aos Estados Unidos, a derrocada está prevista no fato de o racismo anglo-saxão ter dificuldade de manter-se majoritário, pois as minorias dos negros, chicanos, porto-riquenhos se reproduzem com mais desenvoltura, formando quistos – podendo desestabilizar-se a estrutura estatal. Quanto à Rússia, tratar-se-ia, como no caso do Império Romano, de regime centralizado, em falência... A Rússia de hoje, envolvendo toda a parte oriental da Europa, atingindo a Ásia sem alcançar o Mediterrâneo, começa a ser solapada pelas Repúblicas Socialistas e “satélites” da periferia.

Esse caso das potências mencionadas já preocupa os especialistas que promovem o processo seletivo, em busca das condições que devam preencher os países destinados à hegemonia dentro do mundo bipolar, em substituição daqueles em declínio (veja-se “Avaliação do Poder Mundial”, de Ray Cline).

Países com vasta extensão territorial e amplas fachadas marítimas, afora os Estados Unidos e a Rússia, são a China, o Brasil, o Canadá, a Índia e a Austrália. Candidatos à hegemonia mundial são mais forte a China e o Brasil, som “sua situação especialíssima e seu patrimônio imenso de riquezas...”.

Afirma, em sua obra “Retrato do Brasil” (Atlas - Texto de Geopolítica), a Professora Therezinha de Castro, do Colégio Pedro II e Conferencista de Geopolítica na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, na Escola de Guerra Naval e na Escola de Comando e Estado Maior da Aeronáutica, além de autora de numerosas obras de História Geral e do Brasil:

 

 

"Dentro da tese de Alexis de Tocqueville de que o mundo, a partir do século XX, em face da bipolaridade, passaria a ser dirigido por grandes nações com ampla extensão territorial e vasta fachada marítima, se opõem as condições básicas. Indispensáveis que um país deve possuir, simultaneamente, para se enquadrar na categoria de nação emergente no âmbito das relações internacionais:

 

· Superfície territorial maior do que 5.000.000 Km2;

· continuidade territorial;

· acesso direto e amplo ao alto-mar;

· recursos naturais estratégicos e essenciais;

· população maior do que 100 milhões de habitantes:

· densidade demográfica maior do que 10 habitantes por Km2 e menor do que 200 habitantes por km2;

· homogeneidade racial.

Essas sete condições básicas, na atualidade só são preenchidas por dois países – a China e o Brasil.

Assim, no âmbito das relações internacionais, apesar dos grandes espaços vazios por preencher e integrar, figuramos entre as nações mais populosas do Globo. Nação das mais populosas, onde a homogeneidade racial se vem impondo desde os primórdios coloniais, com três condições fundamentais para ser Grande Potência, pois temos: espaço, posição e matérias-primas; somos, portanto, dentro do conceito geopolítico global, uma Nação Satisfeita”. (destaques nossos.)

 

Afirma o Professor Pinto Ferreira, sociólogo e jurista, em sua obra “Curso de Educação Moral e Cívica”, 2ª edição, 1974:

 

“É preciso compreender o Brasil para poder amá-lo e engrandecê-lo. O Brasil constitui uma singularidade histórica. É a primeira grande civilização próspera no mundo tropical. O Brasil tem condições para ser uma superpotência mundial no século XXI (págs. 14 e 15). É uma grande potência mundial emergente, que será incontestavelmente uma das seis grandes superpotências do fim do século XX (pág.120). A ascensão do Brasil, como o foi a da Rússia, é uma inegável possibilidade geopolítica”. (pág. 163).

Vimos, assim, que do ponto de vista sócio-histórico-geográfico o destino do Brasil é tornar-se Grande Potência.

 

II - DESTINAÇÃO ESPIRITUAL DO BRASIL.

 

1.      Influência espiritual na História.

 

Segundo o realismo histórico cristão, a História se desenrola conforme a vontade de Deus, sempre soberana, sem prejuízo, porém, do papel do homem, que executa o planejamento divino, de acordo com seu preparo para a missão e seu livre-arbítrio, que o leva, muitas vezes, a desvios históricos, conhecidos.

Assim se expressa, a respeito, o filósofo Basave del Valle, em sua obra “Filosofia do Homem”, cap. XI, itens 13 e 14:

“Deus não pode falhar na realização dos seus fins providenciais... o fim da História será em qualquer caso o que Deus quis... há uma harmonia geral preestabelecida, impossível de anular devido aos desvios do homem”. (destaque nosso). A História, em conclusão, é obra de Deus e obra dos homens. Sob a condução suprema da providência, a livre atividade humana é forjadora da História”.

 

Esse mecanismo da História é assim apreciado pelo conhecido escritor espírita Hermínio C. Miranda, em artigo intitulado “Arquivos Espirituais da Independência do Brasil”, publicado em “Reformador” de setembro de 1972 e do qual extraímos os tópicos seguintes:

 

“(...) sou daqueles que vêem na História a presença inequívoca de Deus e, por isso, também, a importância das lições que elas encerram para melhor entendimento do presente e mais lúcida projeção do futuro.” “(...)É assim que os poderes espirituais fazem a História, escrevendo-a primeiro na memória e no coração dos seres que devem, por assim dizer, materializá-la no plano humano. Há falhas , às vezes, porque os Espíritos não são constrangidos; são convidados. Fica-lhes o livre-arbítrio e, por isso, estão sujeitos a deslizes que podem retardar o programa, mas nunca invalidar o objetivo superior traçado no mundo espiritual”. (Destaques nossos).

 

2. Preparo da raça (segundo elementos colhidos na obra “História da Civilização Brasileira”, da Professora Therezinha de Castro, págs.494/498):

O Brasil é um país mestiço, de raça não pura, de população cruzada. O povo brasileiro formou-se da mestiçagem do

· português, elemento invasor, desbravador, aventureiro, romântico a seu modo;

· negro, elemento importado, sofredor, que veio, como escravo, saudoso de sua terra, mas desprendido e humilde ( a escrava amamentava o filho da Sinhá, enquanto o seu chorava de fome);

· índio, elemento nativo, corajoso, amante da liberdade.

Observe-se que no Norte e no Sul predominou o cruzamento do português com o índio; no Centro-Oeste e Litoral deu-se o cruzamento do português com o negro. Quarto elemento vem complementar a população, por miscigenação – os imigrantes.

“O Brasil, país livre do racismo, com liberdade religiosa, é, na realidade, um país mestiço”.

As influências recebidas foram assimiladas, absorvidas. Surgiu um povo de grande simpatia, marcado pela solidariedade humana, com uma consciência coletiva e fraterna.

 

“(...) o Brasil resulta de três grupos étnicos diferentes, além dos imigrantes, mas nele há unidade de língua, que é a portuguesa. Desenvolveu uma sólida democracia étnica e racial, de que não há notícia no mundo, num sentimento de cálida fraternidade humana”. (“Curso de Educação Moral e Cívica”, do Professor Pinto Ferreira, 2ª ed. 1974, págs. 15 e 102).

 

 

III – O CORAÇÃO DO MUNDO.

 

Coube ao livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, de Humberto de Campos (Espírito), cuja 1ªedição, FEB, data de 1938, colocar para os espíritas a problemática da evolução espiritual do Brasil e delinear a tarefa que lhe cabe na construção evangélica do mundo futuro.

No prefácio da obra escreveu Emmanuel:

”O Brasil não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do Planeta, mas, também, a facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora da crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de claridades espirituais do Orbe inteiro”.

O autor da obra esclarece, na introdução:

“Jesus transplantou da Palestina para a região do Cruzeiro a árvore magnânima do seu Evangelho, a fim de que os seus rebentos delicados florescessem de novo, frutificando em obras de amor para todas as criaturas. (...) Nessa abençoada tarefa de espiritualização, o Brasil caminha na vanguarda. O material a empregar nesse serviço não vem das fontes de produção originariamente terrena e sim do plano invisível, onde se elaboram todos os ascendentes construtores da Pátria do Evangelho”.

Impõe-se transcrito o Capítulo I – O Coração do Mundo, da obra premonitória de Humberto de Campos (Espírito):

“(...) Foi após essa época, no último quartel do século XIV, que o Senhor desejou realizar uma de suas visitas periódicas à Terra, a fim de observar os progressos de sua doutrina e de seus exemplos no coração dos homens.

Anjos e Tronos lhe formavam a corte maravilhosa. Dos céus à Terra, foi colocado outro símbolo da escada infinita de Jacob, formado de flores e de estrelas cariciosas, por onde o Cordeiro de Deus transpôs as imensas distâncias, clarificando os caminhos cheios de treva. Mas, se Jesus vinha do coração luminoso das esferas superiores, trazendo nos olhos misericordiosos a visão de seus impérios resplandecentes e na alma profunda o ritmo harmonioso dos astros, o planeta terreno lhe apresentava ainda aquelas mesmas veredas escuras, cheias da lama da impenitência e do orgulho das criaturas humanas, e repletas dos espinhos da ingratidão e do egoísmo. Embalde seus olhos compassivos procuraram o ninho doce de seu Evangelho; em vão procurou o Senhor os remanescentes da obra de um dos seus últimos enviados à face do orbe terrestre. No coração da Úmbria haviam cessado os cânticos de amor e de fraternidade cristã. De Francisco de Assis só havia ficado as tradições de carinho e de bondade; os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio, haviam descido outra vez das selvas misteriosas das iniqüidades humanas, roubando às criaturas a paz e aniquilando-lhes a vida.

- Helil – disse a voz suave e meiga do Mestre a um dos seus mensageiros, encarregado dos problemas sociológicos da Terra -, meu coração se enche de profunda amargura, vendo a incompreensão dos homens, no que se refere às lições do meu Evangelho. Por toda a parte é a luta fratricida, como polvo de infinitos tentáculos, a destruir todas as esperanças; recomendei-lhes que se amassem como irmãos e vejo-os em movimentos impetuosos, aniquilando-se uns aos outros como Cains desvairados.

- Todavia – replicou o emissário solícito, como se desejasse desfazer a impressão dolorosa e amarga do Mestre – esses movimentos, Senhor, intensificaram as relações dos povos da Terra, aproximando o Oriente e o Ocidente, para aprenderem a lição da solidariedade nessas experiências penosas; novas utilidades da vida foram descobertas; o comércio progrediu além de todas as fronteiras, reunindo as pátrias do orbe. Sobretudo, devemos considerar que os príncipes cristãos, empreendendo as iniciativas daquela natureza guardavam a nobre intenção de velar pela paisagem deliciosa dos Lugares Santos.

Mas – retornou tristemente a voz compassiva do Cordeiro – qual o lugar da Terra que não é santo? Em todas as partes do mundo, por mais recônditas que sejam, paira a benção de Deus, convertida na luz e no pão de todas as criaturas. Era preferível que Saladino guardasse, para sempre, todos os poderes temporais na Palestina, a que caísse um só dos fios de cabelo de um soldado, numa guerra incompreensível por minha causa, que, em todos os tempos, deve ser a do amor e da fraternidade universal ”.

O diálogo continua, vindo, em dado momento, Jesus a perguntar:

“ – Helil(...) onde fica, nestas terras novas, o recanto planetário do qual se enxerga, no infinito, o símbolo da redenção humana?

-Esse lugar de doces encantos, Mestre, onde se vêem, no mundo, as homenagens dos céus, aos vossos martírios na Terra, fica mais para o Sul.

E quando no seio da paisagem repleta de aromas e melodias, contemplavam as almas santificadas dos orbes felizes, na presença do Cordeiro, as maravilhas daquela terra nova, que seria mais tarde o Brasil, desenhou-se no firmamento, formado de estrelas rutilantes, no jardim das constelações de Deus, o mais imponente de todos os símbolos.

Mãos erguidas para o Alto, como se invocasse a bênção de seu Pai para todos os elementos daquele solo extraordinário e opulento, exclama então Jesus:

- Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e de amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo, todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal. Sob estes céus serão entoados os hosanas mais ternos à misericórdia do Pai Celestial. (...) Aproveitamos o elemento simples de bondade, o coração fraternal dos habitantes destas terras novas, e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de muitos Espíritos já purificados no sentimento da humildade e da mansidão, entre as raças sofredoras das regiões africanas, para formarmos o pedestal de solidariedade do povo fraterno que aqui florescerá, no futuro, a fim de exaltar o meu Evangelho, nos séculos gloriosos do porvir. Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o CORAÇÂO DO MUNDO!” (Destaques nossos.)

.................................

 

Foi por isso que o Brasil, onde confraternizam hoje todos os povos da Terra e onde será modelada a obra imortal do Evangelho do Cristo, muito antes do Tratado de Tordesilhas, que fincou as balizas das possessões espanholas, trazia já, em seus contornos, a forma geográfica do CORAÇÃO DO MUNDO.”(Destaque nosso.)”.

 

IV – A PÁTRIA DO EVANGELHO.

 

Fala-nos Humberto de Campos (Espírito), em sua obra profética, da descoberta do Brasil (V. Capítulo II) e de como repercutiu no mundo espiritual:

“A bandeira das quinas desfralda-se então gloriosamente nas plagas da terra abençoada, para onde transplantara Jesus a árvore de seu amor e de sua piedade, e, no céu, celebra-se o acontecimento com grande júbilo. Assembléias espirituais, sob as vistas amorosas do Senhor, abençoam as praias extensas e claras e as florestas cerradas e bravias. Há um contentamento intraduzível em todos os corações, como se um pombo simbólico, trouxesse as novidades de um mundo mais firme, após novo dilúvio.

Henrique de Sagres (o HELIL), o antigo mensageiro do Divino Mestre, rejubila-se com as bênçãos recebidas do céu. Mas, de alma alarmada pelas emoções mais carinhosas e mais doces, confia ao Senhor as suas vacilações e os seus receios:

- Mestre – diz ele -, graças ao vosso coração misericordioso, a terra do Evangelho florescerá agora para o mundo inteiro. Dai-nos a Vossa benção para possamos velar pela sua tranqüilidade, no seio da pirataria de todos os séculos. Temo, Senhor, que as nações ambiciosas matem as nossas esperanças, invalidando as suas possibilidades e destruindo os seus tesouros....

Jesus, porém, confiante, por sua vez, na proteção de seu Pai, não hesita em dizer com a certeza e a alegria que traz em si:

- Helil, afasta essas preocupações e receios inúteis. A região do Cruzeiro, onde se realizará a epopéia do meu Evangelho, estará, antes de tudo, ligada eternamente ao meu coração. As injunções políticas terão nela atividades secundárias, porque, acima de todas as coisas, em seu solo santificado e exuberante estará o sinal da fraternidade universal, unindo todos os espíritos. Sobre a sua volumosa extensão pairará constantemente o signo da minha assistência compassiva e a mão prestigiosa e potentíssima de Deus pousará sobre a terra de minha cruz, com infinita misericórdia.”

No último capítulo da obra, o Autor espiritual justifica-a assim:

 

“Nosso objetivo, trazendo alguns apontamentos à história espiritual do Brasil, foi-se tão-somente encarecer a excelência da sua missão no planeta, demonstrando, simultaneamente, que cada nação, como cada indivíduo, tem sua tarefa a desempenhar no concerto dos povos. Todas elas têm seus ascendentes no mundo invisível, de onde recebem a seiva espiritual necessária à sua formação e conservação. E um dos fins principais do nosso escorço foi examinar, os olhos de todos, a necessidade da educação pessoal e coletiva, no desdobramento de todos os trabalhos do país. (...) Só o legítimo ideal cristão, reconhecendo que o reino de Deus ainda não é deste mundo, poderá, com a sua esperança e o seu exemplo, espiritualizar o ser humano, espalhando com os seus labores e sacrifícios as sementes produtivas na construção da sociedade do futuro.” (São nossos todos os destaques deste capítulo.)

 

V - CONSIDERAÇÕES FINAIS.

 

O Espiritismo nos ensina que, planejadas na Espiritualidade as nossas tarefas, com vistas a garantir nosso progresso intelectual e espiritual, cabe-nos a responsabilidade de executá-las, o que fazemos de acordo com a nossa vontade livre, bem ou mal, apressando ou retardando a própria evolução. Retardando, dissemos, não a frustrando, porém.

No artigo “Uma avaliação do Espiritismo no Brasil”, publicado em “Reformador” de março de 1978, Hermínio C. Miranda assim se manifesta a respeito da missão atribuída aos espíritas brasileiros, pela obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”:

“É certo, pois, que o nosso país está investido de uma grande responsabilidade na implementação desse esquema de trabalho e tudo se fará conforme planejado, mesmo porque, segundo Humberto, “todos os obstáculos serão, um dia, removidos para sempre do caminho ascensional no progresso”. Está, porém, nas mãos dos homens a faculdade de influir no ritmo da caminhada.

(...) “os discípulos encarnados bem poderiam atenuar o vigor das dissensões esterilizadoras, para se unirem na tarefa impessoal e comum, apressando a marcha redentora” – informa ainda Humberto à pág. 228.”

Eis aí, pois, o programa de trabalho, as responsabilidades de cada grupo- encarnados e desencarnados- e as dificuldades a vencer que, como facilmente se depreende, estão em nós mesmos e não naquilo que temos de fazer.

O êxito do empreendimento é indubitável, mas a sua concretização no tempo e no espaço depende, em grande parte, do nosso posicionamento nesse vastíssimo contexto histórico, do grau de maturidade que demonstrarmos na execução das pequeninas tarefas que nos cabem na tarefa maior. Se optarmos pelas dissensões de que fala Humberto, ou pelo “personalismo e vaidade... que as forças das sombras alimentam” , como ele ainda insiste à pág.223, então estaremos entre aqueles que, transformados em obstáculos, terão de ser removidos”.

Fala-nos, então, o articulista num modelo espírita brasileiro e alerta:

“Não sei se estamos todos bastante conscientes e alertados, no Brasil, para a importância do que poderíamos identificar como modelo”.

E termina o artigo com esta reflexão:

“O modelo está pronto e não falhará; os Espíritos orientadores também estão a postos e não falharão, porque seguem o comando de Alguém que jamais nos despontou. E nós?” (Destaque do original.)

    O assunto foi objeto de outro artigo, este de lavra de Passos Lírio e publicado em “Reformador” de janeiro de 1979, no qual o articulista arrola os fatos que, a seu ver, justificam a previsão, constante da obra citada, da tarefa a ser executada pelo Espiritismo no Brasil, para realização dos desígnios do Alto, a respeito.

    Desses fatos salientamos apenas alguns, remetendo o paciente leitor ao artigo, que merece lido na íntegra:

    . Circulação ininterrupta de “Reformador”, cujo primeiro centenário de fundação ocorreu em 21 de janeiro de 1983, sempre lido por grande número de adeptos do Espiritismo;

    ·  os vários Congressos espiritualistas e espíritas, realizados fora do País, com a presença do Brasil, em 1898 (Londres), 1900 (Paris), 1908 (México), 1910 (Bruxelas), 1925 (Paris);

    · tradução em língua portuguesa das obras de Allan Kardec e de renomados escritores espíritas;

    · a extraordinária difusão do Espiritismo graças ao Departamento Editorial da FEB, que vem publicando e distribuindo milhões de exemplares de obras específicas, muitas das quais em língua estrangeira;

    · a memorável façanha mediúnica de Francisco Cândido Xavier, psicografando livros que abrangem os mais diversos assuntos, como poesia, romance, conto, crônica, histórias, ciência, filosofia, religião (aqui se salientando as mensagens de Emmanuel, André Luiz e outros);

    · o aumento acentuado do número de editoras de obras espíritas;

    · a imprensa doutrinária com muitos importantes órgãos;

    · as obras sociais mantidas pelas entidades espíritas;

    · a divulgação da Doutrina Espírita no Exterior feita, principalmente, por Divaldo Pereira Franco, médium psicógrafo que responde por muitos títulos editoriados;

    · a ação elucidativa e renovadora de doutrinadores, expositores, jornalistas e escritores espíritas;

    · o Sistema Federativo nacional.

    Cumpre não esquecer o editorial de “Reformador”, que antecede o artigo de Passos Lírio, em algumas de suas considerações e advertências sobre a missão que a obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho” veicula:

    “De cunho nitidamente espirítico, com sabor de genuína brasilidade. Mas, também, de transcendental significação histórica e civilizadora, dando os contornos de vastas e nobilíssimas tarefas – e aqui aludimos apenas à esfera das coisas do Espírito – que envolvem as origens e as razões da missão de uma Pátria e de um Povo, no desdobramento, no espaço e no tempo, do programa crístico do Evangelho, em espírito e verdade.

 

..................................

 

       É inteiramente falsa e despropositada a acusação dos que vêem nessa obra do médium Francisco Cândido Xavier presunção de brasileiros quanto à posição de povo eleito, privilegiado, com pretensão de superioridade e ânsia de hegemonia sobre os demais. (Destaque do original).

 ......................................

 

    A Pátria do Evangelho, destinação do Brasil – como Coração do Mundo, em lenta formação – está sendo construída há algum tempo. O resultado pertence a Deus. (...) Isso quer dizer que a missão pode resultar em vitória ou fracasso, como precedentemente aconteceu com o desastroso comportamento daqueles que se consideravam orgulhosamente o “povo eleito”. (Destaque do original).

.................................

 

    A Árvore do Evangelho, entre nós, não é ainda do porte que terá no Grande Futuro: está em desenvolvimento, crescendo, erguendo e espalhando galhos e folhagem, florescendo e frutificando, estendendo alimento e sombra acolhedora, protegendo mananciais e aprofundando raízes. Um dia abrigará a todos. (...)

    (...) Assim, o Brasil deve ser considerado, desde já, como a Grande Pátria Mundial dos homens, expressão confortadora de universalidade e de unidade com pertinência à Unificação geral com que nos acena o próximo milênio, o qual será de lutas árduas, durante séculos de esforço na reconstrução da fé e de civilização.”

 

VI – CONCLUSÃO.

    Diz o citado editorial de “Reformador”:

    “A árvore do Evangelho, entre nós, não é ainda do porte que terá no Grande Futuro (...) Um dia abrigará a todos.”

    Castro Alves reafirma a idéia, no belo poema que ditou à psicografia de Francisco Cândido Xavier, em Brasília, na abertura do VI Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas, na noite de 15 de abril de 1976, lembrando que

 

    “Nos domínios do Universo,

     Ninguém evolui a sós,

     A Humanidade na Terra

     É a soma de todos nós.”

 

    Eurípedes Barsanulfo, em mensagem psicográfica recente, adverte:

 

    “E não nos esqueçamos de que o Brasil é o “Coração do Mundo”, mas somente será a “Pátria do Evangelho” se este Evangelho estiver sendo sentido e vivido por cada um de nós.” (Ver “Alavanca”, de julho de 1987, pág.5.)

 

    A inspiração é apanágio dos poetas, cuja sensibilidade capta as grandes idéias do planejamento divino, por antecipação no tempo. Assim se deu com o Professor Daltro Santos, do Colégio Militar, que, muito antes do lançamento do livro de Humberto de Campos (Espírito), vinha brindar-nos com esta jóia incrustada em seis versos de ouro:

 

    “Pátria! Inda há de ser teu povo, um dia,

    Dentre os povos da Terra a primazia,

    Pelo esplendor que teu futuro encerra;

    Pela cultura e pelo amor profundo,

    Inda hás de ser o cérebro da Terra,

    Inda hás de ser o coração do Mundo!”

 

Revista “Reformador” - setembro 1987-Editorial

 

 

publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 04:54

 

A alma, depois de residir temporariamente no Espaço, renasce na condição humana, trazendo consigo a herança, boa ou má, do seu passado; renasce criancinha, reaparece na cena terrestre para representar um novo ato do drama da sua vida, pagar as dívidas que contraiu, conquistar novas capacidades que lhe hão de facilitar a ascensão, acelerar a marcha para a frente.

A lei dos renascimentos explica e completa o princípio da imortalidade. A evolução do ser indica um plano e um fim. Esse fim, que é a perfeição, não pode realizar-se em uma existência só, por mais longa que seja. Devemos ver na pluralidade das vidas da alma a condição necessária de sua educação e de seus progressos. É à custa dos próprios esforços, de suas lutas, de seus sofrimentos, que ela se redime de seu estado de ignorância e de inferioridade e se eleva, de degrau a degrau, na Terra primeiramente, e, depois, através das inumeráveis estâncias do céu estrelado.

A reencarnação, afirmada pelas vozes de além-túmulo, é a única forma racional por que se pode admitir a reparação das faltas cometidas e a evolução gradual dos seres. Sem ela, não se vê sanção moral satisfatória e completa; não há possibilidade de conceber a existência de um Ser que governe o Universo com justiça.

Se admitirmos que o homem viva atualmente pela Primeira e última vez neste mundo, que uma única existência terrestre é o quinhão de cada um de nós, a incoerência e a parcialidade, forçoso seria reconhecê-lo, presidem à repartição dos bens e dos males, das aptidões e das faculdades, das qualidades nativas e dos vícios originais.Por que para uns a fortuna, a felicidade constante e para outros a miséria, a desgraça inevitável? Para estes a força, a saúde, a beleza; para aqueles a fraqueza, a doença, a fealdade? Por que a inteligência, o gênio, aqui; e, acolá, a imbecilidade? Como se encontram tantas qualidades morais admiráveis, a par de tantos vícios e defeitos?

Por que há raças tão diversas? Umas inferiores a tal ponto que parecem confinar com a animalidade e outras favorecidas com todos os dons que lhes asseguram a supremacia? E as enfermidades inatas, a cegueira, a idiotia, as deformidades, todos os infortúnios que enchem os hospitais, os albergues noturnos, as casas de correção? A hereditariedade não explica tudo; na maior parte dos casos, estas aflições não podem ser consideradas como o resultado de causas atuais. Sucede o mesmo com os favores da sorte. Muitíssimas vezes, os justos parecem esmagados pelo peso da prova, ao passo que os egoístas e os maus prosperam!

Por que também as crianças mortas antes de nascer e as que são condenadas a sofrer desde o berço? Certas existências acabam em poucos anos, em poucos dias; outras duram quase um século! Donde vêm também os jovens-prodígios - músicos, pintores, poetas, todos aqueles que, desde a meninice, mostram disposições extraordinárias para as artes ou para as ciências, ao passo que tantos outros ficam na mediocridade toda a vida, apesar de um labor insano? E igualmente, donde vêm os instintos precoces, os sentimentos inatos de dignidade ou baixeza contrastando às vezes tão estranhamente com o meio em que se manifestam?

Se a vida individual começa somente com o nascimento terrestre, se, antes dele, nada existe para todas as uni de nós, debalde se procurarão explicar estas diversidades pungentes, estas tremendas anomalias e ainda menos poderemos conciliá-las com a existência de um poder sábio, previdente, eqüitativo. Todas as religiões, todos os sistemas filosóficos contemporâneos vieram esbarrar com este problema; nenhum o pôde resolver. Considerado sob seu ponto de vista, que é a unidade de existência para cada ser humano, o destino continua incompreensível, ensombra-se o plano do Universo, a evolução pára, torna-se inexplicável o sofrimento. O homem, levado a crer na ação de forças cegas e fatais, na ausência de toda justiça distributiva, resvala insensivelmente para o ateísmo e o pessimismo. Ao contrário, tudo se explica, se torna claro com a doutrina das vidas sucessivas. A lei de justiça revela-se nas menores particularidades da existência. As desigualdades que nos chocam resultam das diferentes situações ocupadas pelas almas nos seus graus infinitos de evolução. O destino do ser não é mais do que o desenvolvimento, através das idades, da longa série de causas e efeitos gerados por seus atos. Nada se perde; os efeitos do bem e do mal se acumulam e germinam em nós até ao momento favorável de desabrocharem. Às vezes, expandem-se com rapidez; outras, depois de longo lapso de tempo, transmitem-se, repercutem, de uma para outra existência, segundo a sua maturação é ativada ou retardada pelas influências ambientes; mas, nenhum desses efeitos pode desaparecer por si mesmo; só a reparação tem esse poder.

Cada um leva para a outra vida e traz, ao nascer, a semente do passado. Essa semente há de espalhar seus frutos, conforme a sua natureza, ou para nossa felicidade ou para nossa desgraça, na nova vida que começa e até sobre as seguintes, se uma só existência não bastar para desfazer as conseqüências más de nossas vidas passadas. Ao mesmo tempo, os nossos atos cotidianos, fontes de novos efeitos, vêm juntar-se às causas antigas, atenuando-as ou agravando-as e formam com elas um encadeamento de bens ou de males que, no seu conjunto, urdirão a teia do nosso destino.

Assim, a sanção moral, tão insuficiente, às vezes tão sem valor, quando é estudada sob o ponto de vista de uma vida única, reconhece-se absoluta e perfeita na sucessão de nossas existências. Há uma íntima correlação entre os nossos atos e o nosso destino. Sofremos em nós mesmos, em nosso ser interior e nos acontecimentos da nossa vida, a repercussão do nosso proceder. A nossa atividade, sob todas as suas formas, cria elementos bons ou maus, efeitos próximos ou remotos, que recaem sobre nós em chuvas, em tempestades ou em alegres claridades. O hoir am constrói o seu próprio futuro. Até agora, na sua incerteza, na sua ignorância, ele o construiu às apalpadelas e sofreu a sua sorte sem poder explicá-la. Não tardará o momento em que, mais bem instruído, penetrado pela majestade das leis superiores, compreenderá a beleza da vida, que reside no esforço corajoso, e dará à sua obra um impulso mais nobre e elevado.

 

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A variedade infinita das aptidões, das faculdades, dos caracteres, explica-se facilmente, dizíamos nós. Nem todas as almas têm a mesma idade, nem todas subiram com o mesmo passo seus estádios evolutivos. Umas percorreram uma carreira imensa e aproximaram-se já do apogeu dos progressos terrestres; outras mal começam o seu ciclo de evolução no seio das humanidades. Estas são as almas jovens, emanadas a menos tempo do Foco Eterno, foco inextinguível que despede sem cessar feixes de Inteligências que descem aos mundos da matéria para animarem as formas rudimentares da vida. Chegadas à humanidade, tomarão lugar entre os povos selvagens ou entre as raças bárbaras que povoam os continentes atrasados, as regiões deserdadas do Globo. E, quando, afinal, penetram em nossas civilizações, ainda facilmente se deixam reconhecer pela falta de desembaraço, de jeito, pela sua incapacidade para todas as coisas e, principalmente, pelas suas paixões violentas, pelos seus gostos sanguinários, às vezes até pela sua ferocidade; mas, essas almas ainda não desenvolvidas subirão por sua vez a escala das graduações infinitas por meio de reencarnações inúmeras. Outro elemento do problema é a liberdade de ação do Espírito. A uns, ela permite que se demorem na via da ascensão, que percam, sem cuidado com o verdadeiro fim da existência, tantas horas preciosas à cata das riquezas e do prazer; a outros, deixa-os se apressarem a trilhar os carreiros escabrosos e alcançar os cimos do pensamento, se, às seduções da matéria, preferem a posse dos bens do espírito e do coração. São desse número os sábios, os gênios e os santos de todos os tempos e de todos os países, os nobres mártires das causas generosas e aqueles que consagraram vidas inteiras a acumular no silêncio dos claustros, das bibliotecas, dos laboratórios, os tesouros da ciência e da sabedoria humana.

Todas as correntes do passado se encontram, juntam-se e confundem-se em cada vida. Contribuem para fazer a alma generosa ou mesquinha, luminosa ou escura, poderosa ou miserável. Essas correntes, entre a maior parte dos nossos contemporâneos, apenas conseguem fazer as almas indiferentes, incessantemente balouçadas pelos sopros do bem e do mal, da verdade e do erro, da paixão e do dever.

Assim, no encadeamento das nossas estações terrestres, continua e completa-se a obra grandiosa de nossa educação, o moroso edificar de nossa individualidade, de nossa personalidade moral. É por essa razão que a alma tem de encarnar sucessivamente nos meios mais diversos, em todas as condições sociais; tem de passar alternadamente pelas provações da pobreza e da riqueza, aprendendo a obedecer para depois mandar. Precisam das vidas obscuras, vidas de trabalho, de privações para acostumar-se a renunciar às vaidades materiais, a desapegar-se das coisas frívolas, a ter paciência, a adquirir a disciplina do espírito. São necessárias as existências de estudo, as missões de dedicação, de caridade, por via das quais se ilustra a inteligência e o coração se enriquece com a aquisição de novas qualidades; virão depois as vidas de sacrifício pela família, pela pátria, pela Humanidade. São necessários também à prova cruel, cadinho onde se fundem o orgulho e o egoísmo, e as situações dolorosas, que são o resgate do passado, a reparação das nossas faltas, a norma por que se cumpre à lei de justiça. O Espírito retempera-se, aperfeiçoa-se, purifica-se na luta e no sofrimento. Volta a expiar no próprio meio onde se tornou culpado. Acontece às vezes que as provações fazem de nossa existência um calvário, mas esse calvário é um monte que nos aproxima dos mundos felizes.

Logo, não há fatalidade. É o homem, por sua própria vontade, quem forja as próprias cadeias, é ele quem tece, fio por fio, dia a dia, do nascimento à morte, a rede de seu destino. A lei de justiça não é, em essência, senão a lei de harmonia; determina as conseqüências dos atos que livremente praticamos. Não pune nem recompensa, mas preside simplesmente à ordem, ao equilíbrio do mundo moral como ao do mundo físico. Todo dano causado à ordem universal acarreta causas de sofrimento e uma reparação necessária até que, mediante os cuidados do culpado, a harmonia violada seja restabelecida.

O bem e o mal praticado constituem a única regra do destino. Sobre todas as coisas exerce influência uma lei grande e poderosa, em virtude da qual cada ser vivo do Universo só pode gozar da situação correspondente a seus méritos. A nossa felicidade, apesar das aparências enganadoras, está sempre em relação direta com a nossa capacidade para o bem; e essa lei acha completa aplicação nas reencarnações da alma. É ela que fixa as condições de cada renascimento e traça as linhas principais dos nossos destinos. Por isso há maus que parecem felizes, ao passo que justos sofrem excessivamente. A hora da reparação soou para estes e, breve, soará para aqueles.

Associarmos os nossos atos ao plano divino, agirmos de acordo com a Natureza, no sentido da harmonia e para o bem de todos, é preparar nossa elevação, nossa felicidade; agir no sentido contrário, fomentar a discórdia, incitar os apetites malsãos, trabalhar para si mesmo em menoscabo dos outros, é semear para o futuro fermentos de dor; é nos colocarmos sob o domínio de influências que retardam o nosso adiantamento e por muito tempo nos acorrentam aos mundos inferiores.

É isso o que é necessário dizer, repetir e fazer penetrar no pensamento, na consciência de todos, a fim de que o homem tenha um único alvo em mira – conquistar as forças morais, sem as quais ficará sempre na impotência de melhorar a sua condição e a da Humanidade! Fazendo conhecer os efeitos da lei de responsabilidade, demonstrando que as conseqüências de nossos atos recaem sobre nós através dos tempos, como a pedra atirada ao ar torna a cair ao solo, pouco a pouco serão levados os homens a conformar o seu proceder com esta lei, a realizar a ordem, a justiça, a solidariedade no meio social.

Certas escolas espiritualistas combatem o princípio das vidas sucessivas e ensinam que a evolução da alma depois da morte continua a efetuar-se somente no mundo invisível; outras, conquanto admitam a reencarnação, crêem que ela se realiza em esferas mais elevadas; o regresso a Terra não lhes parece ser uma necessidade.

 

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Aos partidários dessas teorias lembraremos que a encarnação na Terra tem um objetivo e esse objetivo é o aperfeiçoamento do ser humano. Ora, dada à infinita variedade das condições da existência terrestre, quer quanto à duração, quer quanto aos resultados, é impossível admitir que todos os homens possam chegar ao mesmo grau de perfeição numa única vida. Daí, a necessidade de regressos sucessivos que permitam adquirirem-se as qualidades requeridas para ter entrada em mundos mais adiantados.

O presente tem a sua explicação no passado. Foi precisa uma série de renascimentos terrestres para que o homem conquistasse a posição que atualmente ocupa, e não parece admissível que este ponto de evolução seja definitivo para a nossa esfera. Os seus habitantes não estão todos em estado de transmigrar depois da morte para sociedades mais perfeitas; pelo contrário, tudo indica a imperfeição da sua natureza e a necessidade de novos trabalhos, de outras provas que lhes completem a educação e lhes dêem acesso a um grau superior na escala dos seres.

Em toda a parte, a Natureza procede com sabedoria, método e morosidade. Numerosos séculos foram-lhe indispensáveis para fabricar a forma humana; só volvidos longos períodos de barbaria é que nasceu a Civilização. A evolução física e mental e o progresso moral são regidos por leis idênticas; não basta uma única existência para dar-lhes cumprimento. E para que havemos de ir buscar muito longe, a outros mundos, os elementos de novos progressos, quando os encontramos por toda parte em volta de nós ? Desde a selvageria até a mais requintada civilização, não nos oferece o nosso planeta vasto campo ao desenvolvimento do Espírito?

Os contrastes, as oposições que aí apresentam, em todas as suas formas, o bem e o mal, o saber e a ignorância, são outros tantos exemplos e ensinamentos, outras tantas causas de emulação.

Renascer não é mais extraordinário do que nascer; a alma volta à carne para nela submeter-se às leis da necessidade; as precisões e as lutas da vida material são outros tantos incentivos que a obrigam a trabalhar, aumentam a sua energia, avigoram-lhe o caráter. Tais resultados não poderiam ser obtidos na vida livre do Espaço por Espíritos juvenis, cuja vontade é vacilante. Para avançarem, tornam-se precisos o látego da necessidade e as numerosas encarnações, durante as quais a alma vai concentrar-se, recolher-se em si mesma, adquirir a elasticidade, a impulsão indispensável para descrever mais tarde a sua imensa trajetória no céu.

O fim dessas encarnações é, pois, de alguma sorte, a revelação da alma a si mesma ou, antes, a sua própria valorização pelo desenvolvimento constante das suas forças, dos seus conhecimentos, da sua consciência, da sua vontade. A alma inferior e nova não pode adquirir a consciência de si mesma senão com a condição de estar separada das outras almas, encerrada num corpo material.

Ela constituirá, assim, um ser distinto, que vai afirmar a sua personalidade, aumentar a sua experiência, acentuar a sua marcha progressiva na razão direta dos esforços que fizer para triunfar das dificuldades e dos obstáculos que a vida terrestre lhe semeia debaixo dos pés.

As existências planetárias põem-nos em relação com uma ordem completa de coisas que constituem o plano inicial, a base de nossa evolução infinita e que se acha em perfeita harmonia com o nosso grau de evolução; mas, esta ordem de coisas e a série das vidas que com ela se relacionam, por mais numerosas que sejam, representam uma fração ínfima da existência sideral, um instante na duração ilimitada dos nossos destinos.

A passagem das almas terrestres para outros mundos só pode ser efetuada sob o regime de certas leis. Os Globos que povoam a extensão diferem entre si por sua natureza e densidade. A adaptação dos invólucros fluídicos das almas a esses meios novos somente é realizável em condições especiais de purificação. É impossível aos Espíritos inferiores, na vida errática, penetrarem nos mundos elevados e lhes descreverem as belezas aos nossos médiuns. Encontra-se a mesma dificuldade, maior ainda, quando se trata da reencarnação nesses mundos. As sociedades que os habitam, por seu estado de superioridade, são inacessíveis à imensa maioria dos Espíritos terrestres, ainda demasiadamente grosseiros, em insuficiente grau de elevação. Os sentimentos psíquicos dos últimos, mui pouco apurados, não lhes permitiriam viver da vida sutil que reina nessas esferas longínquas. Achar-se-iam lá como cegos na claridade ou surdos num concerto. A atração que lhes encadeia os corpos fluídicos ao Planeta prende-lhes, do mesmo modo, o pensamento e a consciência às coisas inferiores. Seus desejos, seus apetites, seus ódios, seu amor mesmo fazem-nos voltar a este mundo e ligam-nos ao objeto da sua paixão.

E necessário aprendermos primeiramente a desatar os laços que nos amarram a Terra, para, depois, levantarmos o vôo para mundos mais elevados. Arrancar as almas terrestres ao seu meio, antes do termo da evolução especial a esse meio, fazê-las transmigrar para esferas superiores, antes de terem realizado- os progressos necessários, seria desarrazoado e imprudente. A Natureza não procede assim, sua obra desenrola-se majestosa, harmônica em todas as suas fases. Os seres, cuja ascensão suas leis dirigem, não deixam o campo de ação senão depois de terem adquirido virtudes e potências capazes de lhes darem entrada num domínio mais elevado da Vida Universal.

 

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A que regras estão sujeito o regresso da alma à carne? As da atração e da afinidade. Quando um Espírito encarna, é atraído para um meio conforme as suas tendências, ao seu caráter e grau de evolução. As almas seguem umas as outras e encarnam por grupos, constituem famílias espirituais, cujos membros são unidos por laços ternos e fortes, contraídos durante existências percorridas em comum. Às vezes esses Espíritos são temporariamente afastados uns dos outros e mudam de meio para adquirirem novas aptidões. Assim se explicam, segundo os casos, as analogias ou dessemelhanças que caracterizam os membros de uma mesma família, filhos e pais; mas, sempre aqueles que se amam tornam, cedo ou tarde, a encontrar-se na Terra, como no Espaço.

Acusa-se a doutrina das reencarnações de amesquinhar a idéia de família, de inverter e confundir as situações que ocupam, uns em relação aos outros, os Espíritos unidos por laços de parentesco, por exemplo, as relações de mãe para filho, de marido para mulher, etc. ; o contrário é que é a verdade. Na hipótese de uma vida.Única, os Espíritos dispersam-se depois de breve coabitação e, muitas vezes, tornam-se estranhos uns aos outros. Segundo a doutrina católica, as almas permanecem, depois da morte, em lugares diversos, segundo os seus méritos, e os eleitos são para sempre separados dos réprobos. Assim, os laços de família e de amizade, formados por uma vida transitória, afrouxam-se na maior parte dos casos e até se quebram de vez; ao passo que, pelos renascimentos, os Espíritos reúnem-se de novo e prosseguem em comum as suas peregrinações através dos mundos, tornando-se, assim, a sua união cada vez mais íntima e profunda.

Nossa ternura espontânea por certos seres deste mundo explica-se facilmente. Já os havíamos conhecido, em outros tempos, já os encontráramos. Quantos esposos, quantos amantes não têm sido unidos por inúmeras existências, percorridas dois a dois!

Seu amor é indestrutível, porque o amor é à força das forças, o vínculo supremo que nada pode destruir. As condições da reencarnação não permitem que nossas situações recíprocas se invertam; quase sempre se conservam os graus respectivos de parentesco. Algumas vezes, em caso de impossibilidade, um filho poderá vir a ser o irmão mais novo do seu pai de outros tempos, a mãe poderá renascer irmã mais velha do filho. Em casos excepcionais, e somente a pedido dos interessados, podem inverter-se as situações. Os sentimentos de delicadeza, de dignidade, de mútuo respeito que sentimos na Terra não podem ser desconhecidos no mundo espiritual. Para supô-lo, é preciso ignorar a natureza das leis que regem a evolução das almas!

O Espírito adiantado, cuja liberdade aumenta na razão direta da sua elevação, escolhe o meio onde quer renascer, ao passo que o Espírito inferior é impelido por uma força misteriosa a que obedece instintivamente; mas, todos são protegidos, aconselhados, amparados na passagem da vida do Espaço para a existência terrestre, mais penosa, mais temível que a morte.

A união da alma com o corpo efetua-se por meio do invólucro fluídico, o perispírito, de que muitas vezes temos falado. Sutil por sua natureza, vai ele servir de laço entre o Espírito e a matéria. A alma está presa ao gérmen por "este mediador plástico", que vai retrair-se, condensar-se cada vez mais, através das fases progressivas da gestação, e formar o corpo físico. Desde a concepção até o nascimento, a fusão opera-se lentamente, fibra por fibra, molécula por molécula. Pelo afluxo crescente dos elementos materiais e da força vital fornecidos pelos genitores, os movimentos vibratórios do perispírito da criança vão diminuir e restringirem-se, ao mesmo tempo em que as faculdades da alma, a memória, a consciência esvai-se e aniquilam-se. É a essa redução das vibrações fluídicas do perispírito, à sua oclusão na carne que se deve atribuir à perda da memória das vidas passadas. Um véu cada vez mais espessa envolve a alma e apaga-lhe as radiações interiores. Todas as impressões da sua vida celeste e do seu longo passado volvem às profundezas do inconsciente e a emersão só se realiza nas horas de exteriorização ou por ocasião da morte, quando o Espírito, recuperando a plenitude dos seus movimentos vibratórios, evoca o mundo adormecido das suas recordações.

O papel do duplo fluídico é considerável; explica, desde o nascimento até a morte, todos os fenômenos vitais. Possuindo em si os vestígios indeléveis de todos os estados do ser, desde a sua origem, comunicam-lhe a impressão, as linhas essenciais ao gérmen material. Eis aí a chave dos fenômenos embriogênicos.

O perispírito, durante o período de gestação, impregna-se de fluido vital e materializa-se quanto baste para tornar-se o regulador da energia e o suporte dos elementos fornecidos pelos genitores; constitui, assim, uma espécie de esboço, de rede fluídica permanente, através da qual passará a corrente de matéria que destrói e reconstitui sem cessar, durante a vida, o organismo terrestre; será a armação invisível que sustenta interiormente a estátua humana. Graças a ele, a individualidade e a memória conservar-se-ão no plano físico, apesar das vicissitudes da parte mutável e móvel do ser, e assegurarão, do mesmo modo, a lembrança dos fatos da existência presente, recordações cujo encadeamento, do berço à cova, fornece-nos a certeza íntima da nossa identidade.

A incorporação da alma não é, pois, subitânea, como o afirmam certas doutrinas; é gradual e só se completa e se torna definitiva à saída da vida uterina. Nesse momento, a matéria encerra completamente o Espírito, que deverá vivificá-la pela ação das faculdades adquiridas.

Longo será o período de desenvolvimento durante o qual a alma se ocupará em pôr à sua feição o novo invólucro, em acomodá-lo às suas necessidades, em fazer dele um instrumento capaz de manifestar-lhe as potências íntimas; mas, nessa obra, será coadjuvada por um Espírito preposto à sua guarda, que cuida dela, a inspira e guia em todo o percurso da sua peregrinação terrestre. Todas as noites, durante o sono, muitas vezes até de dia, o Espírito, no período infantil, desprende-se da forma carnal, volve ao Espaço, a haurir forças e alentos para, em seguida, tornar a descer ao invólucro e prosseguir o penoso curso da existência.

 

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Antes de novamente entrar em contacto com a matéria e começar nova carreira, o Espírito tem, dissemos, de escolher o meio onde vai renascer para a vida terrestre; mas, essa escolha é limitada, circunscrita, determinada por causas múltiplas. Os antecedentes do ser, suas dívidas morais, suas afeições, seus méritos e deméritos, o papel que está apto para desempenhar, todos esses elementos intervêm na orientação da vida em preparo; daí a preferência por uma raça, tal nação, tal família. As almas terrestres que havemos amado atraem-nos; os laços - do passado reatam-se em filiações, alianças, amizades novas. Os próprios lugares exercem sobre nós a sua misteriosa sedução e é raro que o destino não nos reconduza muitas vezes às regiões onde já vivemos, amamos, sofremos. Os ódios são forças também que nos aproximam dos nossos inimigos de outrora para apagarmos, com melhores relações, inimizades antigas. Assim, tornamos a encontrar em nosso caminho a maior parte daqueles que constituíram nossa alegria ou fizeram nossos tormentos.

Sucede o mesmo com a adoção de uma classe social, com as condições de ambiente e educação, com os privilégios da fortuna ou da saúde, com as misérias da pobreza. Toda esta causa tão variada, tão complexa, vã combinar-se para assegurar ao novo encarnado as satisfações, as vantagens ou as provações que convêm ao seu grau de evolução, aos seus méritos ou às suas faltas e às dívidas contraídas por ele.

Pelo que fica dito, compreender-se-á quão difícil é a escolha. Por isso, esta escolha é-nos, as mais das vezes, inspirada pelas Inteligências diretoras, ou, então, em proveito nosso, hão de elas próprias fazê-lo, se não possuirmos o discernimento necessário para adotar com toda a sabedoria e previdência os meios mais eficazes para ativarem a nossa evolução e expurgarem o nosso passado.

Todavia, o interessado tem sempre a liberdade de aceitar ou procrastinar a hora das reparações inelutáveis. No momento de se ligar a um gérmen humano, quando a alma possui ainda toda a sua lucidez, o seu Guia desenrola diante dela o panorama da existência que a espera; mostra-lhe os obstáculos e os males de que será eriçada, faz-lhe compreender a utilidade desses obstáculos e desses males para desenvolver-lhe as virtudes ou expurga-la dos seus vícios. Se a prova lhe parecer demasiado rude, se não se sentir suficientemente armado para afrontá-la, é lícito ao Espírito diferir-lhe a data e procurar uma vida transitória que lhe aumente as forças morais e a vontade.

Na hora das resoluções supremas, antes de tornar a descer à carne, o Espírito percebe, atinge o sentido geral da vida que vai começar, ela lhe aparece nas suas linhas principais, nos seus fatos culminantes, modificáveis sempre, entretanto, por sua ação pessoal e pelo uso do seu livre-arbítrio; porque a alma é senhora dos seus atos; mas, desde que ela se decidiu, desde que o laço se dá e a incorporação se debuxa, tudo se apaga, esvai-se tudo. A existência vai desenrolar-se com todas as suas conseqüências previstas, aceitas, desejadas, sem que nenhuma intuição do futuro subsista na consciência normal do ser encarnado. O esquecimento é necessário durante a vida material. O conhecimento antecipado dos males ou das catástrofes que nos esperam paralisariam os nossos esforços, sustariam a nossa marcha para a frente.

Quanto à escolha do sexo, é também a alma que, de antemão, resolve. Pode até variá-lo de uma encarnação para outra por um ato da sua vontade criadora, modificando as condições orgânicas do perispírito. Certos pensadores admitem que a alternação dos sexos seja necessária para adquirir virtudes mais especiais, dizem eles, a cada uma das metades do gênero humano; por exemplo, no homem, à vontade, a firmeza, a coragem; na mulher, a ternura, a paciência, a pureza.

Cremos de preferência, de acordo com os nossos Guias, que a mudança de sexo, sempre possível para o Fspírito, é, em princípio, inútil e perigosa. Os Espíritos elevados reprovam-na. É fácil reconhecer, à primeira vista, em volta de nós, às pessoas que numa existência precedente adotaram sexo diferente; são sempre, sob algum ponto de vista, anormais. As viragos, de caráter e gostos varonis, algumas das quais apresentam ainda vestígio dos atributos do outro sexo, por exemplo, barba no mento, são, evidentemente, homens reencarnados. Elas nada têm de estético e sedutor; sucede o mesmo com os homens efeminados, que têm todos os característicos das filhas de Eva e acham-se como que transviados na vida. Quando um Espírito se afez a um sexo, é mau para ele sair do que se tornou a sua natureza.

Muitas almas, criadas aos pares, são destinadas a evoluírem juntas, unidas para sempre na alegria como na dor. Deram-lhes o nome de almas-irmãs ; o seu número é mais considerável do que geralmente se crê; realizam a forma mais completa, mais perfeita da vida e do sentimento e dão às outras almas o exemplo de um amor fiel, inalterável, profundo; podem ser reconhecidas por exale característico. Que seria de sua afeição, de suas relações, de seu destino, se a mudança de sexo fosse uma necessidade, uma lei? Entendemos antes que, pelo próprio fato da ascensão geral, os caracteres nobres e as altas virtudes multiplicar-se-ão nos dois sexos ao mesmo tempo; finalmente, nenhuma qualidade ficará sendo apanágio de um só dos sexos, mas atributo dos dois.

A mudança de sexo poderia ser considerada como um ato imposto pela lei de justiça e reparação num único caso, o qual se dá quando maus-tratos ou graves danos, infligidos a pessoas de um sexo, atraem para este mesmo sexo os Espíritos responsáveis, para assim sofrerem, por sua vez, os efeitos das causas a que deram origem; mas, a pena de talião não rege, como mais adiante veremos, de maneira absoluta, o mundo das almas; existem mil formas de se fazer à reparação e de se eliminarem as causas do mal. A cadeia onipotente das causas e dos efeitos desenrola-se em mil anéis diversos.

Objetar-nos-ão talvez que seria iníquo coagir metade dos Espíritos a evoluírem num sexo mais fraco e bastas vezes oprimido, humilhado, sacrificado por uma organização social ainda bárbara. Podemos responder que este estado de coisas tende a desaparecer, de dia para dia, para dar lugar a maior soma de eqüidade. E pelo aperfeiçoamento moral e social e pela sólida educação da mulher que a Humanidade se há de levantar.

Quanto às dores do passado, sabemos que não ficam perdidas. O Espírito que sofreu iniqüidades sociais, colhe, por força da lei de equilíbrio e compensação, o resultado das provações por que passou. O Espírito feminino, dizem-nos os Guias, ascende com vôo mais rápido para a perfeição.

O papel da mulher é imenso na vida dos povos. Irmã, esposa ou mãe, é a grande consoladora e a carinhosa conselheira. Pelo filho é seu o porvir e prepara o homem futuro. Por isso, as sociedades que a deprimem, deprimem-se a si mesmas. A mulher respeitada, honrada, de entendimento esclarecido, é que faz a família forte e a sociedade grande, moral, unida!

 

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Temíveis são certas atrações para as almas que procuram as condições de um renascimento, por exemplo, as famílias de alcoólicos, de devassos, de dementes. Como conciliar a noção de justiça com a encarnação dos seres em tais meios? Não há aí, em jogo, razões psíquicas profundas e latentes e não é as causa físicas apenas uma aparência? Vimos que a lei de afinidade aproxima os seres similares. Um passado de culpas arrasta a alma atrasada para grupos que apresentam analogias com o seu próprio estado fluídico e mental, estado que ela criou com os seus pensamentos e ações.

Não há, nestes problemas, nenhum lugar para a arbitrariedade ou para o acaso. É o mau uso prolongado de seu livre-arbítrio, a procura constante de resultados egoístas ou maléficos que atrai a alma para genitores semelhantes a si. Eles fornecer-lhe-ão materiais em harmonia com o seu organismo fluídico, impregnados das mesmas tendências grosseiras, próprios para a manifestação dos mesmos apetites, dos mesmos desejos. Abrir-se-á nova existência, novo degrau de queda para o vício e para a criminalidade. E a descida para o abismo.

Senhora do seu destino, a alma tem de sujeitar-se ao estado de coisas que preparou, que escolheu. Todavia, depois de haver feito de sua consciência um antro tenebroso, um covil do mal, terá de transformá-lo em templo de luz. As faltas acumuladas farão nascer sofrimentos mais vivos; suceder-se-ão mais penosas, mais dolorosas as encarnações; o círculo de ferro apertar-se-á até que a alma, triturada pela engrenagem das causas e dos efeitos que houver criado, compreenderá a necessidade de reagir contra suas tendências, de vencer suas ruins paixões e de mudar de caminho. Desde esse momento, por pouco que o arrependimento a sensibilize, sentirá nascer em si forças, impulsões novas que a levarão para meios mais adequados à sua obra de reparação, de renovação, e passo a passo irá fazendo progressos. Raios e eflúvios penetrarão na alma arrependida e enternecida, aspirações desconhecidas, necessidades de ação útil e de dedicação hão de despertar nela. A lei de atração, que a impelia para as últimas camadas sociais, reverterá em seu benefício e tornar-se-á o instrumento da sua regeneração.

Entretanto, não será sem custo que ela se levantará; a ascensão não prosseguirá sem dificuldades. As faltas e os erros cometidos repercutem como causas de obstrução nas vias futuras e o esforço terá de ser tanto mais enérgico e prolongado quanto mais pesadas forem às responsabilidades, quanto mais extenso tiver sido o período de resistência e obstinação no mal. Na escabrosa e íngreme subida, o passado dominará por muito tempo o presente, e o seu peso fará vergar mais de uma vez os ombros do caminhante; mas, do Alto, mãos piedosas estender-se-ão para ele e ajudá-lo-ão a transpor as passagens mais escarpadas. "Ha.     alegria no Céu por um pecador que se arrepende do que por cem justos que perseveram."

O nosso futuro está em nossas mãos e as nossas facilidades para o bem aumentam na razão direta dos nossos esforços para o praticarmos. Toda vida nobre e pura, toda missão superior é o resultado de um passado imenso de lutas, de derrotas sofridas, de vitórias ganhas contra nós mesmos; é o remate de trabalhos longos e pacientes, a acumulação de frutos de ciência e caridade colhidos, um por um, no decurso das idades. Cada faculdade brilhante, cada virtude sólida reclamou existências multíplices de trabalho obscuro, de combates violentos entre o espírito e a carne, a paixão e o dever. Para chegar ao talento, ao gênio, o pensamento teve de amadurecer lentamente através dos séculos. O campo da inteligência, penosamente desbravado, a principio apenas deu escassas colheitas; depois, pouco a pouco, vieram as searas cada vez mais ricas e abundantes.

Em cada regresso ao Espaço procede-se ao balanço dos lucros e perdas; avaliam-se e firmam-se os progressos. O ser examina-se e julga-se; perscruta minuciosamente a sua história recente, em si mesmo escrita; passam em revista os frutos de experiência e sabedoria que a sua última vida lhe proporcionou, para mais profundamente assinalar-lhes a substância.

A vida do Espaço é, para o Espírito que evoluiu, o período de exame, de recolhimento, em que as faculdades, depois de se terem gasto no exterior, refletem-se, aplicam-se ao estudo íntimo, ao interrogatório da consciência, ao inventário rigoroso da beleza ou fealdade que há na alma. A vida do Espaço é a forma necessária e simétrica da vida terrestre, vida de equilíbrio, em que as forças se reconstituem, em que as energias se retemperam, em que os entusiasmos se reanimam, em que o ser se prepara para as futuras tarefas; é o descanso depois do trabalho, a bonança depois da tormenta, a concentração tranqüila e serena depois da expansão ativa ou do conflito ardente.

 

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Segundo a opinião dos teósofos, o regresso da alma à carne efetua-se de mil e quinhentos em mil e quinhentos anos. Esta teoria não é confirmada nem pelos fatos nem pelo testemunho dos Espíritos. Estes, interrogados em grande número, em meios muito diversos, responderam que a reencarnação é muito mais rápida; as almas ávidas de progresso demoram-se pouco no Espaço. Pedem o regresso à vida deste mundo para conquistar novos títulos, novos méritos. Possuímos sobre as existências anteriores de certa pessoa indicações recolhidas, em pontos muito afastados uns dos outros, da boca de médiuns que nunca se conheceram, indicações perfeitamente concordes entre si e com as intuições do interessado. Demonstram que apenas vinte, trinta anos, quando muito, separaram as suas vidas terrestres. Não há, quanto a isto, regra exata. As encarnações aproximam-se ou se distanciam segundo o estado das almas, seu desejo de trabalho e adiantamento e as ocasiões favoráveis que se lhes oferecem; nos casos de morte precoce, são quase imediatas.

Sabemos que o corpo fluídico materializa-se ou purifica-se conforme a natureza dos pensamentos e das ações do Espírito. As almas viciosas atraem a si, por suas tendências, fluidos impuros, que lhes tornam mais espesso o invólucro e lhes diminuem as radiações. A morte, não podem elevar-se acima das nossas regiões e ficam confinadas na atmosfera ou misturadas com os humanos; se persistem no mal, a atração planetária torna-se tão poderosa que lhes precipita a reencarnação.

Quanto mais material e grosseiro é o Espírito, tanto mais influência tem sobre ele a lei de gravidade; com os Espíritos puros, cujo perispírito radioso vibra a todas as sensações do Infinito e que acham nas regiões etéreas meios apropriados à sua natureza e ao seu estado de progressão, produz-se o fenômeno inverso. Chegados a um grau superior, esses Espíritos prolongam cada vez mais a sua estada no Espaço; as vidas planetárias tornam-se, para eles, a exceção, e a vida livre a regra, até que a soma das perfeições realizadas os liberte para sempre da servidão dos renascimentos.

 

Léon Denis

publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 00:01

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Excelente texto. Parabéns!
É como você mesmo colocou no subtítulo do seu blog...
Ok, Sergio.O seu e-amil é só esse: oigres.ribeiro@...
Ok, desejaria sim.
Ola, Sérgio.Gotaria de lhe fazer um convite:Gostar...
Obrigado e abraços.
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Ola, Sérgio.Gostei de sua postagem, mas gostaria s...
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