Parece ter-se tornado uma obsessão de certos evangélicos, virem aqui ao Blog exprimir a sua indignação por causa de os espíritas não acreditarem no Diabo.
Para além da óbvia intrusão no espaço sagrado das crenças alheias (nós não vamos aos sites evangélicos clamar que o Diabo não existe), a forma como o fazem, aqui no Blog, costuma ser pouco elegante. A maior parte dessas diatribes não é publicada precisamente por causa disso. Reservamo-nos o direito de não publicar insultos.
No entanto, mesmo aquelas missivas que se "limitam" a chamar-nos "mentirosos", faltam aos deveres básicos de respeito. Os nossos caros leitores evangélicos não perdiam nada em entender que cada um tem o direito de crer ou não no Diabo. Chama-se a isso LIBERDADE.
São opiniões, pontos de vista, e o nosso país ainda não é um Estado teocrático, ao estilo das repúblicas islâmicas, onde quem não pratique a religião oficial é perseguido, ou mesmo executado. O Diabo, na nossa óptica, é um símbolo, mas nunca uma criatura concreta. Os amigos evangélicos terão que aprender a viver com isso. Ainda que os incomode muito, nem todas as pessoas do mundo pensam como os amigos evangélicos.
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Entendemos perfeitamente que, ao lerem uma opinião adversa, os nossos amigos evangélicos habituais deste espaço, fiquem aborrecidos. Afinal, na sua crença, Deus é secundário. O foco principal é posto sobre o Diabo, a quem são atribuídos todos os males do mundo, e a própria razão de existir das igrejas evangélicas neo-pentecostais, é muito mais livrar os frequentadores do Diabo, do que conduzi-los a Deus. O dízimo ajuda claro...
O Espiritismo não é uma religião, cumpre-nos esclarecê-los do modo secular. O Espiritismo é filosofia cristã. Nas religiões tem sido relativamente comum, ao longo dos séculos, os partidários de ideias diferentes chacinarem-se entre si, "para glória de Deus". Nós, espíritas, para evitar essas coisas extremas, preferimos raciocinar livremente, e respeitar a todos.
Já nos cansamos de explicar aqui as razões da nossa descrença do Diabo. Além do que consta nas obras básicas do Espiritismo,
Quem se sente livre para raciocinar por sua conta e risco, já entendeu que, no âmbito bíblico, o termo hebraico "stn", traduzido para o Grego "diabolos" e para o Latim "diabolus" aparece sempre no sentido original de "opositor" ou "caluniador". Onde se lê "diabo", podia por isso muito bem ler-se "malandro", não querendo isso dizer que exista um ser com cornos, rabo e forquilha, denominado "O Malandro", a viver nas profundezas da Terra, num reino de chamas e enxofre, e os caldeirões a abarrotar de espíritas, católicos, budistas, ateus e outros hereges, enquanto acima das nuvens os eleitos esfregam as mãos com o aprazível espetáculo...
Mesmo no Catolicismo, frequentemente acusado de algum imobilismo ideológico, muita da Teologia, e alguma tão antiga com a de Santo Agostinho, apresenta o Diabo como símbolo e personificação da ausência das qualidades que nos aproximam de Deus. De fato, desde o século XVII que o exorcismo é uma prática muito controversa e mesmo combatida, no seio da Igreja Católica. Ao passo que as religiões evangélicas neo-pentecostais consistem basicamente de gigantescas sessões de "descarrego", exorcismos coletivos em que a psicologia das multidões é habilmente usada para alimentar uma fé cega e exuberante.
Estamos, portanto em mundos diferentes, e a mundos de distância, caros amigos evangélicos tão fascinados pelo Blog. Para nós, não existe apenas a Bíblia, como fonte única e inquestionável de conhecimento. Sobretudo, recusamos uma interpretação tendenciosa e falaciosa da Bíblia. A Bíblia carece de conhecimentos que permitam a sua interpretação. De ferramentas que permitam distinguir significado e significante, que permitam considerar contextos históricos e simbologias.
Basta que se diga que para estes amigos evangélicos, a Terra é o centro do Universo, este foi criado literalmente em sete dias, e Adão e Eva existiram objetivamente, como pais da Humanidade, sendo a Teoria da Evolução das Espécies, de Darwin e Wallace (este último era espírita), apenas "bla-bla-bla" e artimanhas do Diabo...
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No Antigo Testamento podemos encontrar um satã que auxilia Jeová, o Deus Único, desempenhando as tarefas menos elegantes, tais como causar calamidades e massacres. Não nos passa pela cabeça que se tratasse de Deus, obviamente, mas entendemos o escasso entendimento da Humanidade de há 3 500 anos.
Noutras passagens bíblicas o famoso Lúcifer, que colocou o seu trono acima do trono de Deus, refere-se à dinastia Babilônica que desafiou o povo Hebreu ao construir o palácio no alto do Monte Sião, pretendendo assim igualar-se à própria Estrela da Manhã.
Durante a ocupação Romana da Palestina, e, sobretudo após a morte física de Jesus de Nazaré, sucederam-se os Messias, e sucederam-se os manifestos contra o "satã" Romano. Ainda hoje, nos nossos dias, Árabes e Norte-Americanos combatem-se mutuamente em nome de Deus e apelidam-se mutuamente de satãs...
Mais do que as considerações históricas e sociológicas que poderíamos estender acerca deste assunto, a própria Razão basta para repelir a ideia do Inferno e do Diabo.
Em lugar algum da Bíblia se fala acerca de um inferno como lugar circunscrito, governado por anjos rebeldes, com lucíferes e satanases de forquilha em punho, a atormentarem por toda a Eternidade (!) os condenados pelo crime de não terem em vida professada uma determinada religião cristã, entre as mais de 35 000 existentes!...
E mesmo que na Bíblia constasse tal coisa, a Razão repeliria tal abominação. O nosso Deus é o Pai que acolhe o Filho Pródigo. Se os pais da Terra não enviam os filhos para eternos suplícios, constitui para nós uma blasfêmia pretender-se que Deus seja um ser capaz de tamanha malvadez, maior que a compreensão humana. Esse é o "Deus" que a imperfeição humana criou.
Os caros amigos que nos leem alguma vez se queimaram? Dói muito! Basta apenas a gente encostar o dedo a uma panela com sopa a escaldar que já é insuportável. Agora imaginem mil anos, dez mil anos, mil milhões de bilhões de trilhões de anos de chama viva em todo o corpo, e sem perspectivas de melhoria de situação! Há mentes perversas...