TODO AQUELE QUE CRÊ NUM DOGMA, ABDICA COMPLETAMENTE DE SUAS FACULDADES. MOVIDO POR UMA CONFIANÇA IRRESISTÍVEL E UM INVENCÍVEL MEDO DOENTIO, ACEITA A PÉS JUNTOS AS MAIS ESTÚPIDAS INVENÇÕES.

Sexta-feira, 09 de Abril de 2010

 

 

Existência de Deus. - Da natureza divina - A Providência. - A visão de Deus.

 

Existência de Deus

 

1. - Sendo Deus a causa primária de todas as coisas, a origem de tudo o que existe, a base sobre que repousa o edifício da criação, é também o ponto que importa consideremos antes de tudo.

 

2. - Constitui princípio elementar que pelos seus efeitos é que se julga de uma causa, mesmo quando ela se conserve oculta.

Se, fendendo os ares, um pássaro é atingido por mortífero grão de chumbo, deduz-se que hábil atirador o alvejou, ainda que este último não seja visto. Nem sempre, pois, se faz necessário vejamos uma coisa, para sabermos que ela existe. Em tudo, observando os efeitos é que se chega ao conhecimento das causas.

 

3. - Outro princípio igualmente elementar e que, de tão verdadeiro, passou a axioma é o de que todo efeito inteligente tem que decorrer de uma causa inteligente.

Se perguntassem qual o construtor de certo mecanismo engenhoso, que pensaríamos de quem respondesse que ele se fez a si mesmo? Quando se contempla uma obra-prima da arte ou da indústria, diz-se que há de tê-la produzido um homem de gênio, porque só uma alta inteligência poderia concebê-la. Reconhece-se, no entanto, que ela é obra de um homem, por se verificar que não está acima da capacidade humana; mas, a ninguém acudirá a idéia de dizer que saiu do cérebro de um idiota ou de um ignorante, nem, ainda menos, que é trabalho de um animal, ou produto do acaso.

 

4. - Em toda parte se reconhece a presença do homem pelas suas obras.

A existência dos homens antediluvianos não se provaria unicamente por meio dos fósseis humanos: provou-a também, e com muita certeza, a presença, nos terrenos daquela época, de objetos trabalhados pelos homens. Um fragmento de vaso, uma pedra talhada, uma arma, um tijolo bastarão para lhe atestar a presença. Pela grosseria ou perfeição do trabalho, reconhecer-se-á o grau de inteligência ou de adiantamento dos que o executaram. Se, pois, achando-vos numa região habitada exclusivamente por selvagens, descobrirdes uma estátua digna de Fídias, não hesitareis em dizer que, sendo incapazes de tê-la feito os selvagens, ela é obra de uma inteligência superior à destes.

 

5. - Pois bem! lançando o olhar em torno de si, sobre as obras da Natureza, notando a providência, a sabedoria, a harmonia que presidem a essas obras, reconhece o observador não haver nenhuma que não ultrapasse os limites da mais portentosa inteligência humana. Ora, desde que o homem não as pode produzir, é que elas são produto de uma inteligência superior à Humanidade, a menos se sustente que há efeitos sem causa.

 

6. - A isto opõem alguns o seguinte raciocínio:

As obras ditas da Natureza são produzidas por forças materiais que atuam mecanicamente, em virtude das leis de atração e repulsão; as moléculas dos corpos inertes se agregam e desagregam sob o império dessas leis. As plantas nascem, brotam, crescem e se multiplicam sempre da mesma maneira, cada uma na sua espécie, por efeito daquelas mesmas leis; cada indivíduo se assemelha ao de quem ele provejo; o crescimento, a floração, a frutificação, a coloração se acham subordinados a causas materiais, tais como o calor, a eletricidade, a luz, a umidade, etc. O mesmo se dá com os animais. Os astros se formam pela atração molecular e se movem perpetuamente em suas órbitas por efeito da gravitação. Essa regularidade mecânica no emprego das forças naturais não acusa a ação de qualquer inteligência livre. O homem movimenta o braço quando quer e como quer; aquele, porém, que o movimentasse no mesmo sentido, desde o nascimento até a morte, seria um autômato. Ora, as forças orgânicas da Natureza são puramente automáticas.

Tudo isso é verdade; mas, essas forças são efeitos que hão de ter uma causa e ninguém pretende que elas constituam a Divindade. Elas são materiais e mecânicas; não são de si mesmas inteligentes, também isto é verdade; mas, são postas em ação, distribuídas, apropriadas às necessidades de cada coisa por uma inteligência que não é a dos homens. A aplicação útil dessas forças é um efeito inteligente, que denota uma causa inteligente. Um pêndulo se move com automática regularidade e é nessa regularidade que lhe está o mérito. É toda material a força que o faz mover-se e nada tem de inteligente. Mas, que seria esse pêndulo, se uma inteligência não houvesse combinado, calculado, distribuído o emprego daquela força, para fazê-lo andar com precisão? Do fato de não estar a inteligência no mecanismo do pêndulo e do de que ninguém a vê, seria racional deduzir-se que ela não existe? Apreciamo-la pelos seus efeitos.

A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro; a engenhosidade do mecanismo lhe atesta a inteligência e o saber. Quando um relógio vos dá, no momento preciso, a indicação de que necessitais, já vos terá vindo à mente dizer: aí está um relógio bem inteligente?

Outro tanto ocorre com o mecanismo do Universo: Deus não se mostra, mas se revela pelas suas obras.

 

7. - A existência de Deus é, pois, uma realidade comprovada não só pela revelação, como pela evidência material dos fatos. Os povos selvagens nenhuma revelação tiveram; entretanto, crêem instintivamente na existência de um poder sobre-humano. Eles vêem coisas que estão acima das possibilidades do homem e deduzem que essas coisas provêm de um ente superior à Humanidade. Não demonstram raciocinar com mais lógica do que os que pretendem que tais coisas se fizeram a si mesmas?

 

Da natureza divina

 

8. - Não é dado ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Para compreendê-Lo, ainda nos falta o sentido próprio, que só se adquire por meio da completa depuração do Espírito. Mas, se não pode penetrar na essência de Deus, o homem, desde que aceite como premissa a sua existência, pode, pelo raciocínio, chegar a conhecer-lhe os atributos necessários, porquanto, vendo o que ele absolutamente não pode ser, sem deixar de ser Deus, deduz daí o que ele deve ser.

Sem o conhecimento dos atributos de Deus, impossível seria compreender-se a obra da criação. Esse o ponto de partida de todas as crenças religiosas e é por não se terem reportado a isso, como ao farol capaz de as orientar, que a maioria das religiões errou em seus dogmas. As que não atribuíram a Deus a onipotência imaginaram muitos deuses; as que não lhe atribuíram soberana bondade fizeram dele um Deus cioso, colérico, parcial e vingativo.

 

9. - Deus é a suprema e soberana inteligência. É limitada a inteligência do homem, pois que não pode fazer, nem compreender tudo o que existe. A de Deus abrangendo o infinito, tem que ser infinita. Se a supuséssemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, capaz de compreender e fazer o que o primeiro não faria e assim por diante, até ao infinito.

 

10. - Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não sendo o nada coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido criado por outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe supuséssemos um começo ou fim, poderíamos conceber uma entidade existente antes dele e capaz de lhe sobreviver, e assim por diante, ao infinito.

 

11. - Deus é imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o Universo.

 

12. - Deus é imaterial, isto é, a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito ás transformações da matéria.

Deus carece de forma apreciável pelos nossos sentidos, sem o que seria matéria. Dizemos: a mão de Deus, o olho de Deus, a boca de Deus, porque o homem, nada mais conhecendo além de si mesmo, toma a si próprio por termo de comparação para tudo o que não compreende. São ridículas essas imagens em que Deus é representado pela figura de um ancião de longas barbas e envolto num manto. Têm o inconveniente de rebaixar o Ente supremo até às mesquinhas proporções da Humanidade. Daí a lhe emprestarem as paixões humanas e a fazerem-no um Deus colérico e cioso não vai mais que um passo.

 

13. - Deus é onipotente. Se não possuísse o poder supremo, sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim por diante, até chegar-se ao ser cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse. Esse então é que seria Deus.

 

14. - Deus é soberanamente justo e bom. A providencial sabedoria das leis divinas se revela nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua justiça, nem da sua bondade.

O fato do ser infinita uma qualidade, exclui a possibilidade de uma qualidade contrária, porque esta a apoucaria ou anularia. Um ser infinitamente bom não poderia conter a mais insignificante parcela de malignidade, nem o ser infinitamente mau conter a mais insignificante parcela de bondade, do mesmo modo que um objeto não pode ser de um negro absoluto, com a mais ligeira nuança de branco, nem de um branco absoluto com a mais pequenina mancha preta.

Deus, pois, não poderia ser simultaneamente bom e mau, porque então, não possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau supremo, não seria Deus; todas as coisas estariam sujeitas ao seu capricho e para nenhuma haveria estabilidade. Não poderia ele, por conseguinte, deixar de ser ou infinitamente bom ou infinitamente mau. Ora, como suas obras dão testemunho da sua sabedoria, da sua bondade e da sua solicitude, concluir-se-á que, não podendo ser ao mesmo tempo bom e mau sem deixar de ser Deus, ele necessariamente tem de ser infinitamente bom.

A soberana bondade implica a soberana justiça, porquanto, se ele procedesse injustamente ou com parcialidade numa só circunstância que fosse, ou com relação a uma só de suas criaturas, já não seria soberanamente justo e, em conseqüência, já não seria soberanamente bom.

 

15. - Deus é infinitamente perfeito. É impossível conceber-se Deus sem o infinito das perfeições, sem o que não seria Deus, pois sempre se poderia conceber um ser que possuísse o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se mister que ele seja infinito em tudo.

Sendo infinitos, os atributos de Deus não são suscetíveis nem de aumento, nem de diminuição, visto que do contrário não seriam infinitos e Deus não seria perfeito. Se lhe tirassem a qualquer dos atributos a mais mínima parcela, já não haveria Deus, pois que poderia existir um ser mais perfeito.

 

16. - Deus é único. A unicidade de Deus é conseqüência do fato de serem infinitas as suas perfeições. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao poder desse outro e, então, não seria Deus. Se houvesse entre ambos igualdade absoluta, isso equivaleria a existir, de toda eternidade, um mesmo pensamento, uma mesma vontade, um mesmo poder. Confundidos assim, quanto à identidade, não haveria, em realidade, mais que um único Deus. Se cada um tivesse atribuições especiais, um não faria o que o outro fizesse; mas, então, não existiria igualdade perfeita entre eles, pois que nenhum possuiria a autoridade soberana.

 

17. - A ignorância do princípio de que são infinitas as perfeições de Deus foi que gerou o politeísmo, culto adotado por todos os povos primitivos, que davam o atributo de divindade a todo poder que lhes parecia acima dos poderes inerentes à Humanidade. Mais tarde, a razão os levou a reunir essas diversas potências numa só. Depois, à proporção que os homens foram compreendendo a essência dos atributos divinos, retiraram dos símbolos, que haviam criado, a crença que implicava a negação desses atributos.

 

18. - Em resumo, Deus não pode ser Deus, senão sob a condição de que nenhum outro o ultrapasse, porquanto o ser que o excedesse no que quer que fosse, ainda que apenas na grossura de um cabelo, é que seria o verdadeiro Deus. Para que tal não se dê, indispensável se torna que ele seja infinito em tudo.

É assim que, comprovada pelas suas obras a existência de Deus, por simples dedução lógica se chega a determinar os atributos que o caracterizam.

 

19. - Deus é, pois, a inteligência suprema e soberana, é único, eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom, infinito em todas as perfeições, e não pode ser diverso disso.

Tal o eixo sobre que repousa o edifício universal. Esse o farol cujos raios se estendem por sobre o Universo inteiro, única luz capaz de guiar o homem na pesquisa da verdade. Orientando-se por essa luz, ele nunca se transviará. Se, portanto, o homem há errado tantas vezes, é unicamente por não ter seguido o roteiro que lhe estava indicado.

Tal também o critério infalível de todas as doutrinas filosóficas e religiosas. Para apreciá-las, dispõe o homem de uma medida rigorosamente exata nos atributos de Deus e pode afirmar a si mesmo que toda teoria, todo princípio, todo dogma, toda crença, toda prática que estiver em contradição com um só que seja desses atributos, que tenda não tanto a anulá-lo, mas simplesmente a diminuí-lo, não pode estar com a verdade.

Em filosofia, em psicologia, em moral, em religião, só há de verdadeiro o que não se afaste, nem um til, das qualidades essenciais da Divindade. A religião perfeita será aquela de cujos artigos de fé nenhum esteja em oposição àquelas qualidades; aquela cujos dogmas todos suportem a prova dessa verificação sem nada sofrerem.

 

A Providência

 

20. - A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial.

«Como pode Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, imiscuir-se em pormenores ínfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada indivíduo?» Esta a interrogação que a si mesmo dirige o incrédulo, concluindo por dizer que, admitida a existência de Deus, só se pode admitir, quanto à sua ação, que ela se exerça sobre as leis gerais do Universo; que este funcione de toda a eternidade em virtude dessas leis, às quais toda criatura se acha submetida na esfera de suas atividades, sem que haja mister a intervenção incessante da Providência.

 

21. - No estado de inferioridade em que ainda se encontram, só muito dificilmente podem os homens compreender que Deus seja infinito. Vendo-se limitados e circunscritos, eles o imaginam também circunscrito e limitado.

Imaginando-o circunscrito, figuram-no quais eles são, à imagem e semelhança deles. Os quadros em que o vemos com traços humanos não contribuem pouco para entreter esse erro no espírito das massas, que nele adoram mais a forma que o pensamento. Para a maioria, é ele um soberano poderoso, sentado num trono inacessível e perdido na imensidade dos céus. Tendo restritas suas faculdades e percepções, não compreendem que Deus possa e se digne de intervir diretamente nas pequeninas coisas.

 

22. - Impotente para compreender a essência mesma da Divindade, o homem não pode fazer dela mais do que uma idéia aproximativa, mediante comparações necessariamente muito imperfeitas, mas que, ao menos, servem para lhe mostrar a possibilidade daquilo que, à primeira vista, lhe parece impossível.

Suponhamos um fluido bastante sutil para penetrar todos os corpos.

Sendo ininteligente, esse fluido atua mecanicamente, por meio tão-só das forças materiais. Se, porém, o supusermos dotado de inteligência, de faculdades perceptivas e sensitivas, ele já não atuará às cegas, mas com discernimento, com vontade e liberdade: verá, ouvirá e sentirá.

 

23. - As propriedades do fluido perispirítico dão-nos disso uma idéia. Ele não é de si mesmo inteligente, pois que é matéria, mas serve de veículo ao pensamento, às sensações e percepções do Espírito. Esse fluido não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento. Sendo quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido. Na impossibilidade em que nos achamos de o isolar, a nós nos parece que ele, o pensamento, faz corro com o fluido, que com este se confunde, como sucede com o som e o ar, de maneira que podemos, a bem dizer, materializá-lo. Assim como dizemos que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito Pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente.

 

24. - Seja ou não assim no que concerne ao pensamento de Deus, isto é, quer o pensamento de Deus atue diretamente, quer por intermédio de um fluido, para facilitarmos a compreensão à nossa inteligência, figuremo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente que enche o universo infinito e penetra todas as partes da criação: a Natureza inteira mergulhada no fluido divino. Ora, em virtude do princípio de que as partes de um todo são da mesma natureza e têm as mesmas propriedades que ele, cada átomo desse fluido, se assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento, isto é, os atributos essenciais da Divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude. Nenhum ser haverá, por mais ínfimo que o suponhamos, que não esteja saturado dele. Achamo-nos então, constantemente, em presença da Divindade; nenhuma das nossas ações lhe podemos subtrair ao olhar; o nosso pensamento está em contacto ininterrupto com o seu pensamento, havendo, pois, razão para dizer-se que Deus vê os mais profundos refolhos do nosso coração. Estamos nele, como ele está em nós, segundo a palavra do Cristo.

Para estender a sua solicitude a todas as criaturas, não precisa Deus lançar o olhar do Alto da imensidade. As nossas preces, para que ele as ouça, não precisam transpor o espaço, nem ser ditas com voz retumbante, pois que, estando de contínuo ao nosso lado, os nossos pensamentos repercutem nele. Os nossos pensamentos são como os sons de um sino, que fazem vibrar todas as moléculas do ar ambiente.

 

25. - Longe de nós a idéia de materializar a Divindade. A imagem de um fluido inteligente universal evidentemente não passa de uma comparação apropriada a dar de Deus uma idéia mais exata do que os quadros que o apresentam debaixo de uma figura humana. Destina-se ela a fazer compreensível a possibilidade que tem Deus de estar em toda parte e de se ocupar com todas as coisas.

 

26. - Temos constantemente sob as vistas um exemplo que nos permite fazer idéia do modo por que talvez se exerça a ação de Deus sobre as partes mais intimas de todos os seres e, conseguintemente, do modo por que lhe chegam as mais sutis impressões de nossa alma. Esse exemplo tiramo-lo de certa instrução que a tal respeito deu um Espírito.

 

27. - «O homem é um pequeno mundo, que tem como diretor o Espírito e como dirigido o corpo. Nesse universo, o corpo representará uma criação cujo Deus seria o Espírito. (Compreendei bem que aqui há uma simples questão de analogia e não de identidade.) Os membros desse corpo, os diferentes órgãos que o compõem, os músculos, os nervos, as articulações são outras tantas individualidades materiais, se assim se pode dizer, localizadas em pontos especiais do referido corpo. Se bem seja considerável o número de suas partes constitutivas, de natureza tão variada e diferente, a ninguém é licito supor que se possam produzir movimentos, ou uma impressão em qualquer lugar, sem que o Espírito tenha consciência do que ocorra. Há sensações diversas em muitos lugares simultaneamente? O Espírito as sente todas, distingue, analisa, assina a cada uma a causa determinante e o ponto em que se produziu, tudo por meio do fluido perispirítico.

«Análogo fenômeno ocorre entre Deus e a criação. Deus está em toda parte, na Natureza, como o Espírito está em toda parte, no corpo. Todos os elementos da criação se acham em relação constante com ele, como todas as células do corpo humano se acham em contacto imediato com o ser espiritual. Não há, pois, razão para que fenômenos da mesma ordem não se produzam de maneira idêntica, num e noutro caso.

«Um membro se agita: o Espírito o sente; uma criatura pensa: Deus o sabe. Todos os membros estão em movimento, os diferentes órgãos estão a vibrar; o Espírito ressente todas as manifestações, as distingue e localiza. As diferentes criações, as diferentes criaturas se agitam, pensam, agem diversamente: Deus sabe o que se passa e assina a cada um o que lhe diz respeito.

«Daí se pode igualmente deduzir a solidariedade da matéria e da inteligência, a solidariedade entre si de todos os seres de um mundo, a de todos os mundos e, por fim, de todas as criações com o Criador.» (Quinemant, Sociedade de Paris, 1867.)

 

28. - Compreendemos o efeito: já é muito. Do efeito remontamos à causa e julgamos da sua grandeza pela do efeito. Escapa-nos, porém, a sua essência íntima, como a da causa de uma imensidade de fenômenos. Conhecemos os efeitos da eletricidade, do calor, da luz, da gravitação; calculamo-los e, entretanto, ignoramos a natureza íntima do principio que os produz. Será então racional neguemos o princípio divino, por que não o compreendemos?

 

29. - Nada obsta a que se admita, para o principio da soberana inteligência, um centro de ação, um foco principal a irradiar incessantemente, inundando o Universo com seus eflúvios, como o Sol com a sua luz. Mas onde esse foco? É o que ninguém pode dizer. Provavelmente, não se acha fixado em determinado ponto, como não o está a sua ação, sendo também provável que percorra constantemente as regiões do espaço sem-fim. Se simples Espíritos têm o dom da ubiqüidade, em Deus há de ser sem limites essa faculdade. Enchendo Deus o Universo, poder-se-ia ainda admitir, a título de hipótese, que esse foco não precisa transportar-se, por se formar em todas as partes onde a soberana vontade julga conveniente que ele se produza, donde o poder dizer-se que está em toda parte e em parte nenhuma.

 

30. - Diante desses problemas insondáveis, cumpre que a nossa razão se humilhe. Deus existe: disso não poderemos duvidar. É infinitamente justo e bom: essa a sua essência. A tudo se estende a sua solicitude: compreendemo-lo.

Só o nosso bem, portanto, pode-o querer, donde se segue que devemos confiar nele: é o essencial. Quanto ao mais, esperemos que nos tenhamos tornado dignos de o compreender.

 

A visão de Deus

 

31. - Se Deus está em toda parte, por que não o vemos? Vê-lo-emos quando deixarmos a Terra? Tais as perguntas que se formulam todos os dias.

A primeira é fácil responder. Por serem limitadas às percepções dos nossos órgãos visuais, elas os tornam inaptos à visão de certas coisas, mesmo materiais. Alguns fluidos nos fogem totalmente à visão e aos instrumentos de análise; entretanto, não duvidamos da existência deles. Vemos os efeitos da peste, mas não vemos o fluido que a transporta (1); vemos os corpos em movimento sob a influência da força de gravitação, mas não vemos essa força.

 

32. - Os nossos órgãos materiais não podem perceber as coisas de essência espiritual. Unicamente com a visão espiritual é que podemos ver os Espíritos e as coisas do mundo imaterial. Somente a nossa alma, portanto, pode ter a percepção de Deus. Dar-se-á que ela o veja logo após a morte? A esse respeito, só as comunicações de além-túmulo nos podem instruir. Por elas sabemos que a visão de Deus constitui privilégio das mais purificadas almas e que bem poucas, ao deixarem o envoltório terrestre, se encontram no grau de desmaterialização necessária a tal efeito. Uma comparação vulgar o tornará facilmente compreensível.

 

33. - Uma pessoa que se ache no fundo de um vale, envolvido por densa bruma, não vê o Sol. Entretanto, pela luz difusa, percebe que está fazendo sol. Se entra a subir a montanha, à medida que for ascendendo, o nevoeiro se irá tornando mais claro, a luz cada vez mais viva. Contudo, ainda não verá o Sol.

Só depois que se haja elevado acima da camada brumosa e chegado a um ponto onde o ar esteja perfeitamente límpido, ela o contemplará em todo o seu esplendor.

O mesmo se dá com a alma. O envoltório perispirítico, conquanto nos seja invisível e impalpável, é, com relação a ela, verdadeira matéria, ainda grosseira demais para certas percepções. Ele, porém, se espiritualiza, à proporção que a alma se eleva em moralidade. As imperfeições da alma são quais camadas nevoentas que lhe obscurecem a visão. Cada imperfeição de que ela se desfaz é uma mácula a menos; todavia, só depois de se haver depurado completamente é que goza da plenitude das suas faculdades.

 

34. - Sendo Deus a essência divina por excelência, unicamente os Espíritos que atingiram o mais alto grau de desmaterialização o podem perceber. Pelo fato de não o verem, não se segue que os Espíritos imperfeitos estejam mais distantes dele do que os outros; esses Espíritos, como os demais, como todos os seres da Natureza, se encontram mergulhados no fluido divino, do mesmo modo que nós o estamos na luz. O que há é que as imperfeições daqueles Espíritos são vapores que os impedem de vê-lo. Quando o nevoeiro se dissipar, vê-lo-ão resplandecer. Para isso, não lhes é preciso subir, nem procurá-lo nas profundezas do infinito. Desimpedida a visão espiritual das belidas que a obscureciam, eles o verão de todo lugar onde se achem, mesmo da Terra, porquanto Deus esta em toda parte.

 

35. - O Espírito só se depura com o tempo, sendo as diversas encarnações o alambique em cujo fundo deixa de cada vez algumas impurezas.

Com o abandonar o seu invólucro corpóreo, os Espíritos não se despojam instantaneamente de suas imperfeições, razão por que, depois da morte, não vêem a Deus mais do que o viam quando vivos; mas, à medida que se depuram, têm dele uma intuição mais clara. Não o vêem, mas compreendem-no melhor; a luz é menos difusa. Quando, pois, alguns Espíritos dizem que Deus lhes proíbe respondam a uma dada pergunta não é que Deus lhes apareça, ou dirija a palavra, para lhes ordenar ou proibir isto ou aquilo, não; eles, porém, o sentem; recebem os eflúvios do seu pensamento, como nos sucede com relação aos Espíritos que nos envolvem em seus fluidos, embora não os vejamos.

 

36. - Nenhum homem, conseguintemente, pode ver a Deus com os olhos da carne. Se essa graça fosse concedida a alguns, só o seria no estado de êxtase, quando a alma se acha tão desprendida dos laços da matéria que torna possível o fato durante a encarnação. Tal privilégio, aliás, exclusivamente pertenceria a almas de eleição, encarnadas em missão, que não em expiação.

Mas, como os Espíritos da mais elevada categoria refulgem de ofuscante brilho, pode dar-se que Espíritos menos elevados, encarnados ou desencarnados, maravilhados com o esplendor de que aqueles se mostram cercados, suponham estar vendo o próprio Deus. É como quem vê um ministro e o toma pelo seu soberano.

 

37. - Sob que aparência se apresenta Deus aos que se tornaram dignos de vê-lo? Será sob uma forma qualquer? Sob uma figura humana, ou como um foco de resplendente luz? A linguagem humana é impotente para dizê-lo, porque não existe para nós nenhum ponto de comparação capaz de nos facultar uma idéia de tal coisa. Somos quais cegos de nascença a quem procurassem inutilmente fazer compreendessem o brilho do Sol. A nossa linguagem é limitada pelas nossas necessidades e pelo círculo das nossas idéias; a dos selvagens não poderia descrever as maravilhas da civilização; a dos povos mais civilizados é extremamente pobre para descrever os esplendores dos céus, a nossa inteligência muito restrita para os compreender e a nossa vista, por muito fraca, ficaria deslumbrada.

 

 

(1) Nota da Editora: Kardec escreveu de acordo com os conhecimentos da época, antes de 1894.

 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 01:34

Quinta-feira, 08 de Abril de 2010

I

 

Quem, de magnetismo terrestre, apenas conhecesse o brinquedo dos patinhos imantados que, sob a ação do imã, se movimentam em todas as direções numa bacia com água, dificilmente poderia compreender que ali está o segredo do mecanismo do Universo e da marcha dos mundos. O mesmo se dá com quem, do Espiritismo, apenas conhece o movimento das mesas, em o qual só vê um divertimento, um passatempo, sem compreender que esse fenômeno tão simples e vulgar, que a antigüidade e até povos semi-selvagens conheceram, possa ter ligação com as mais graves questões da ordem social. Efetivamente, para o observador superficial, que relação pode ter com a moral e o futuro da Humanidade uma mesa que se move? Quem quer, porém, que reflita se lembrará de que de uma simples panela a ferver e cuja tampa se erguia continuamente, fato que também ocorre desde toda a antigüidade, saiu o possante motor com que o homem transpõe o espaço e suprime as distâncias.

Pois bem! Sabei, vós que não credes senão no que pertence ao mundo material, que dessa mesa, que gira e vos faz sorrir desdenhosamente, saiu uma ciência, assim como a solução dos problemas que nenhuma filosofia pudera ainda resolver. Apelo para todos os adversários de boa-fé e os adjuro a que digam se  deram ao trabalho de estudar o que criticam. Porque, em boa lógica, a crítica só tem valor quando o crítico é conhecedor daquilo de que fala. Zombar de uma coisa que se não conhece, que se não sondou com o escalpelo do observador consciencioso, não é criticar, é dar prova de leviandade e triste mostra de falta de critério. Certamente que, se houvéssemos apresentado esta filosofia como obra de um cérebro humano, menos desdenhoso tratamento encontraria e teria merecido as honras do exame dos que pretendem dirigir a opinião. Vem ela, porém, dos Espíritos. Que absurdo! Mal lhe dispensam um simples olhar. Julgam-na pelo título, como o macaco da fábula julgava da noz pela casca.

Fazei, se quiserdes, abstração da sua origem. Suponde que este livro é obra de um homem e dizei, do íntimo e em consciência, se, depois de o terdes lido seriamente, achais nele matéria para zombaria.

 

II

 

O Espiritismo é o mais terrível antagonista do materialismo. Não é, pois, de admirar que tenha por adversários os materialistas. Mas, como o materialismo é uma doutrina cujos adeptos mal ousam confessar que o são (prova de que não se consideram muito fortes e têm a dominá-los a consciência), eles se acobertam com o manto da razão e da ciência. E, coisa estranha, os mais cépticos chegam a falar em nome da religião, que não conhecem e não compreendem melhor que ao Espiritismo. Por ponto de mira tomam o maravilhoso e o sobrenatural, que não admitem. Ora, dizem, pois que o Espiritismo se funda no maravilhoso, não pode deixar de ser uma suposição ridícula. Não refletem que, condenando, sem restrições, o maravilhoso e o sobrenatural, também condenam a religião.

Com efeito, a religião se funda na revelação e nos milagres. Ora, que é a revelação, senão um conjunto de comunicações extraterrenas? Todos os autores sagrados, desde Moisés, têm falado dessa espécie de comunicações. Que são os milagres, senão fatos maravilhosos e sobrenaturais, por excelência, visto que, no sentido litúrgico, constituem derrogações das leis da Natureza? Logo, rejeitando o maravilhoso e o sobrenatural, eles rejeitam as bases mesmas da religião. Não é deste ponto de vista, porém, que devemos encarar a questão.

Ao Espiritismo não compete examinar se há ou não milagres, isto é, se em certos casos houve Deus por bem derrogar as leis eternas que regem o Universo. Permite, a este respeito, inteira liberdade de crença. Diz e prova que os fenômenos em que se baseia, de sobrenaturais só têm a aparência. E parecem tais a algumas pessoas, apenas porque são insólitos e diferentes dos fatos conhecidos. Não são, contudo, mais sobrenaturais do que todos os fenômenos, cuja explicação a Ciência hoje dá e que parecem maravilhosos noutra época. Todos os fenômenos espíritas, sem exceção, resultam de leis gerais. Revelam-nos uma das forças da Natureza, força desconhecida, ou, por melhor dizer, incompreendida até agora, mas que a observação demonstra estar na ordem das coisas.

Assim, pois, o Espiritismo se apóia menos no maravilhoso e no sobrenatural do que a própria religião. Consequentemente, os que o atacam por esse lado mostram que o não conhecem e, ainda quando fossem os maiores sábios, lhes diríamos: se a vossa ciência, que vos instruiu em tantas coisas, não vos ensinou que o domínio da Natureza é infinito, sois apenas meio sábios.

 

III

 

Dizeis que desejais curar o vosso século de uma mania que ameaça invadir o mundo. Preferiríeis que o mundo fosse invadido pela incredulidade que procurais propagar? A que se deve atribuir o relaxamento dos laços de família e a maior parte das desordens que minam a sociedade, senão à ausência de toda crença? Demonstrando a existência e a imortalidade da alma, o Espiritismo reaviva a fé no futuro, levanta os ânimos abatidos, faz suportar com resignação as vicissitudes da vida. Ousaríeis chamar a isto um mal? Duas doutrinas se defrontam: uma, que nega o futuro; outra, que lhe proclama e prova a existência; uma, que nada explica, outra, que explica tudo e que, por isso mesmo, se dirige à razão; uma, que é a sanção do egoísmo; outra, que oferece base à justiça, à caridade e ao amor do próximo. A primeira somente mostra o presente e aniquila toda esperança; a segunda consola e desvenda o vasto campo do futuro. Qual a mais preciosa?

Algumas pessoas, dentre as mais cépticas, se fazem apóstolos da fraternidade e do progresso. Mas, a fraternidade pressupõe desinteresse, abnegação da personalidade. Com que direito impondes um sacrifício àquele a quem dizeis que, com a morte, tudo se lhe acabará; que amanhã, talvez, ele não será mais do que uma velha máquina desmantelada e atirada ao monturo? Que razões terá ele para impor a si mesmo uma privação qualquer?               

Não será mais natural que trate de viver o melhor possível, durante os breves instantes que lhe concedeis? Daí o desejo de possuir muito para melhor gozar. Do desejo nasce a inveja dos que possuem mais e, dessa inveja à vontade de apoderar-se do que a estes pertence, o passo é curto. Que é que o detém? A lei? A lei, porém, não abrange todos os casos. Direis que a consciência, o sentimento do dever. Mas, em que baseias o sentimento do dever? Terá razão de ser esse sentimento, de par com a crença de que tudo se acaba com a vida? Onde essa crença exista, uma só máxima é racional: cada um por si, não passando de vãs palavras as idéias de fraternidade, de consciência, de dever, de humanidade, mesmo de progresso.

Oh! Vós que proclamais semelhantes doutrinas, não sabeis quão grande é o mal que fazeis à sociedade, nem de quantos crimes assumis a responsabilidade! Para o céptico, tal coisa não existe. Só à matéria rende ele homenagem.

 

IV

 

O progresso da Humanidade tem seu princípio na aplicação da lei de justiça, de amor e de caridade, lei que se funda na certeza do futuro. Tirai-lhe essa certeza e lhe tirareis a pedra fundamental. Dessa lei derivam todas as outras, porque ela encerra todas as condições da felicidade do homem. Só ela pode curar as chagas da sociedade. Comparando as idades e os povos, pode ele avaliar quanto a sua condição melhora, à medida que essa lei vai sendo mais bem compreendida e praticada. Ora, se, aplicando-a parcial e incompletamente, aufere o homem tanto bem, que não conseguirá quando fizer dela a base de todas as suas instituições sociais! Será isso possível? Certo, porquanto, desde que ele já deu dez passos, possível lhe é dar vinte e assim por diante.

Do futuro se pode, pois, julgar pelo passado. Já vemos que pouco a pouco se extinguem as antipatias de povo para povo. Diante da civilização, diminuem as barreiras que os separavam. De um extremo a outro do mundo, eles se estendem as mãos. Maior justiça preside à elaboração das leis internacionais. As guerras se tornam cada vez mais raras e não excluem os sentimentos de humanidade. Nas relações, a uniformidade se vai estabelecendo. Apagam-se as distinções de raças e de castas e os que professam crenças diversas impõem silêncio aos prejuízos de seita, para se confundirem na adoração de um único Deus. Falamos dos povos que marcham à testa da civilização. (789-793)

A todos estes respeitos, no entanto, longe ainda estamos da perfeição e muitas ruínas antigas, ainda se têm que abater, até que não restem mais vestígios da barbaria. Poderão acaso essas ruínas sustentar-se contra a força irresistível do progresso, contra essa força viva que é, em si mesma, uma lei da Natureza? Sendo a geração atual mais adiantada do que a anterior, por que não o será mais do que a presente a que lhe há de suceder? Sê-lo-á, pela força das coisas. Primeiro, porque, com as gerações, todos os dias se extinguem alguns campeões dos velhos abusos, o que permite à sociedade formar-se de elementos novos, livres dos velhos preconceitos. Em segundo lugar, porque, desejando o progresso, o homem estuda os obstáculos e se aplica a removê-los.

Desde que é incontestável o movimento progressivo, não há que duvidar do progresso vindouro. O homem quer ser feliz e é natural esse desejo. Ora, buscando progredir, o que ele procura é aumentar a soma da sua felicidade, sem o que o progresso careceria de objeto. Em que consistiria para ele o progresso, se lhe não devesse melhorar a posição?

Quando, porém, conseguir a soma de gozos que o progresso intelectual lhe pode proporcionar, verificará que não está completa a sua felicidade. Reconhecerá ser esta impossível, sem a segurança nas relações sociais, segurança que somente no progresso moral lhe será dado achar. Logo, pela força mesma das coisas, ele próprio dirigirá o progresso para essa senda e o Espiritismo lhe oferecerá a mais poderosa alavanca para alcançar tal objetivo.

 

V

 

Os que dizem que as crenças espíritas ameaçam invadir o mundo, proclamam, ipso facto, a força do Espiritismo, porque jamais poderia tornar-se universal uma idéia sem fundamento e destituída de lógica. Assim, se o Espiritismo se implanta por toda parte, se, principalmente nas classes cultas, recruta adeptos, como todos facilmente reconhecerão, é que tem um fundo de verdade. Baldados, contra essa tendência, serão todos os esforços dos seus detratores e a prova é que o próprio ridículo, de que procuram cobri-lo, longe de lhe amortecer o ímpeto, parece ter-lhe dado novo vigor, resultado que plenamente justifica o que repetidas vezes os Espíritos hão dito: “Não vos inquieteis com a oposição; tudo o que contra vós fizerem se tornará o vosso favor e os vossos maiores adversários, sem o quererem, servirão à vossa causa. Contra a vontade de Deus não poderá prevalecer a má-vontade dos homens.”

Por meio do Espiritismo, a Humanidade tem que entrar numa nova fase, a do progresso moral que lhe é conseqüência inevitável. Não mais, pois, vos espanteis da rapidez com que as idéias espíritas se propagam. A causa dessa celeridade reside na satisfação que trazem a todos os que as aprofundam e que nelas vêem alguma coisa mais do que fútil passatempo.. Ora, como cada um o que acima de tudo quer é a sua felicidade, nada há de surpreendente em que cada um se apegue a uma idéia que faz ditosos os que a esposam.

Três períodos distintos apresenta o desenvolvimento dessas idéias: primeiro, o da curiosidade, que a singularidade dos fenômenos produzidos desperta; segundo, o do raciocínio e da filosofia; terceiro, o da aplicação e das conseqüências. O período da curiosidade passou; a curiosidade dura pouco. Uma vez satisfeita, muda de objeto. O mesmo não acontece com o que desafia a meditação séria e o raciocínio. Começou o segundo período, o terceiro virá inevitavelmente.

O Espiritismo progrediu principalmente depois que foi sendo mais bem compreendido na sua essência íntima, depois que lhe perceberam o alcance, porque tange a corda mais sensível do homem: a da sua felicidade, mesmo neste mundo. Aí a causa da sua propagação, o segredo da força que o fará triunfar. Enquanto a sua influência não atinge as massas, ele vai felicitando os que o compreendem. Mesmo os que nenhum fenômeno têm testemunhado, dizem: à parte esses fenômenos, há a filosofia, que me explica o que NENHUMA OUTRA me havia explicado. Nela encontro, por meio unicamente do raciocínio, uma solução racional para os problemas que no mais alto grau interessam ao meu futuro. Ela me dá calma, firmeza, confiança; livra-me do tormento da incerteza. Ao lado de tudo isto, secundária se torna a questão dos fatos materiais.

Quereis, vós todos que o atacais, um meio de combatê-lo com êxito? Aqui o tendes. Substituí-o por alguma coisa melhor; indicai solução MAIS FILOSÓFICA para todas as questões que ele resolveu; dai ao homem OUTRA CERTEZA que o faça mais feliz, porém compreendei bem o alcance desta palavra certeza, porquanto o homem não aceita, como certo, senão o que lhe parece lógico. Não vos contenteis com dizer: isto não é assim; demasiado fácil é semelhante afirmativa. Provai, não por negação, mas por fatos, que isto não é real, nunca o foi e NÃO PODE ser. Se não é, dizei o que o é, em seu lugar. Provai, finalmente, que as conseqüências do Espiritismo não são tornar melhor o homem e, portanto, mais feliz, pela prática da mais pura moral evangélica, moral a que se tecem muitos louvores, mas que muito pouco se pratica. Quando houverdes feito isso, tereis o direito de o atacar.

O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da religião; Deus, a alma, as penas e as recompensas futuras; sobretudo, porque mostra que essas penas e recompensas são corolários naturais da vida terrestre e, ainda, porque, no quadro que apresenta do futuro, nada há que a razão mais exigente possa recusar.

Que compensação ofereceis aos sofrimentos deste mundo, vós cuja doutrina consiste unicamente na negação do futuro? Enquanto vos apoiais na incredulidade, ele se apóia na confiança em Deus; ao passo que convida os homens à felicidade, à esperança, à verdadeira fraternidade, vós lhes ofereceis o nada por perspectiva e o egoísmo por consolação. Ele tudo explica, vós nada explicais. Ele prova pelos fatos, vós nada provais. Como quereis que se hesite entre as duas doutrinas?

 

VI

 

Falsíssima idéia formaria do Espiritismo quem julgasse que a sua força lhe vem da prática das manifestações materiais e que, portanto, obstando-se a tais manifestações, se lhe terá minado a base. Sua força está na sua filosofia, no apelo que dirige à razão, ao bom-senso. na antigüidade, era objeto de estudos misteriosos, que cuidadosamente se ocultavam do vulgo. Hoje, para ninguém tem segredos. Fala uma linguagem clara, sem ambigüidades. Nada há nele de místico, nada de alegorias susceptíveis de falsas interpretações. Quer ser por todos compreendido, porque chegados são os tempos de fazer-se que os homens conheçam a verdade. Longe de se opor à difusão da luz, deseja-a para todo o mundo. Não reclama crença cega; quer que o homem saiba por que crê. Apoiando-se na razão, será sempre mais forte do que os que se apóiam no nada.

Os obstáculos que tentassem oferecer à liberdade das manifestações poderiam pôr-lhe fim? Não, porque produziriam o efeito de todas as perseguições: o de excitar a curiosidade e o desejo de conhecer o que foi proibido. De outro lado, se as manifestações espíritas fossem privilégio de um único homem, sem dúvida que, segregado esse homem, as manifestações cessariam. Infelizmente para os seus adversários, elas estão ao alcance de toda gente e todos a elas recorrem, desde o mais pequenino até o mais graduado, desde o palácio até a mansarda. Poderão proibir que sejam obtidas em público. Sabe-se, porém, precisamente que em público não é onde melhor se dão e sim na intimidade. Ora, podendo todos ser médiuns, quem poderá impedir que uma família, no seu lar; um indivíduo, no silêncio de seu gabinete; o prisioneiro, no seu cubículo, entrem em comunicação com os Espíritos, a despeito dos esbirros e mesmo na presença deles? Se as proibirem num país, poderão obstar a que se verifiquem nos países vizinhos, no mundo inteiro, uma vez que nos dois hemisférios não há lugar onde não existam médiuns? Para se encarcerarem todos os médiuns, preciso fora que se encarcerasse a metade do gênero humano. Chegassem mesmo, o que não seria mais fácil, a queimar todos os livros espíritas e no dia seguinte estariam reproduzidos, porque inatacável é a fonte donde dimanam e porque ninguém pode encarcerar ou queimar os Espíritos, seus verdadeiros autores.

O Espiritismo não é obra de um homem. Ninguém pode inculcar-se como seu criador, pois tão antigo é ele quanto a criação. Encontramo-lo por toda parte, em todas as religiões, principalmente na religião Católica e aí com mais autoridade do que em todas as outras, porquanto nela se nos depara o princípio de tudo que há nele: os Espíritos em todos os graus de elevação, suas relações ocultas e ostensivas com os homens, os anjos guardiães, a reencarnação, a emancipação da alma durante a vida, a dupla vista, todos os gêneros de manifestações, as aparições e até as aparições tangíveis. Quanto aos demônios, esses não são senão os maus Espíritos e, salvo a crença de que aqueles foram destinados a permanecer perpetuamente no mal, ao passo que a senda do progresso se conserva aberta aos segundos, não há entre uns e outros mais do que simples diferença de nomes.

Que faz a moderna ciência espírita? Reúne em corpo de doutrina o que estava esparso: explica, com os termos próprios, o que só era dito em linguagem alegórica; poda o que a superstição e a ignorância engendraram, para só deixar o que é real e positivo. Esse o seu papel! O de fundadora não lhe pertence. Mostra o que existe, coordena, porém não cria, por isso que suas bases são de todos os tempos e de todos os lugares. Quem, pois, ousaria considerar-se bastante forte para abafá-la com sarcasmos, ou, ainda, com perseguições? Se a proscreverem de um lado, renascerá noutras partes, no próprio terreno donde a tenham banido, porque ela está em a Natureza e ao homem não é dado aniquilar uma força da Natureza, nem opor veto aos decretos de Deus.

Que interesse, aos demais, haveria em obstar-se a propagação das idéias espíritas? É exato que elas se erguem contra os abusos que nascem do orgulho e do egoísmo. Mas, se é certo que desses abusos há quem aproveite, à coletividade humana eles prejudicam. A coletividade, portanto, será favorável a tais idéias, contando-se-lhes por adversários sérios apenas os interessados em manter aqueles abusos. As idéias espíritas, ao contrário, são um penhor de ordem e tranqüilidade, porque, pela sua influência, os homens se tornam melhores uns para com os outros, menos ávidos das coisas materiais e mais resignados aos decretos da Providência.

 

VII

 

O Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes: o das manifestações, o dos princípios e da filosofia que delas decorrem e o da aplicação desses princípios. Daí, três classes, ou, antes, três graus de adeptos: 1° os que crêem nas manifestações e se limitam a comprová-las; para esses, o Espiritismo é uma ciência experimental; 2° os que lhe percebem as conseqüências morais; 3° os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral. Qualquer que seja o ponto de vista, científico ou moral, sob que considerem esses estranhos fenômenos, todos compreendem constituírem eles uma ordem, inteiramente nova, de idéias que surge e da qual não pode deixar de resultar uma profunda modificação no estado da Humanidade e compreendem que essa modificação não pode deixar de operar-se no sentido do bem.

Quanto aos adversários, também podemos classificá-los em três categorias. 1ª - A dos que negam sistematicamente tudo o que é novo, ou deles não venha, e que falam sem conhecimento de causa. A esta classe pertencem todos os que não admitem senão o que possa ter o testemunho dos sentidos. Nada viram, nada querem ver e ainda menos aprofundar. Ficariam mesmo aborrecidos se vissem as coisas muito claramente, porque forçoso lhes seria convir em que não têm razão. Para eles, o Espiritismo é uma quimera, uma loucura, uma utopia, não existe: está dito tudo. São os incrédulos de caso pensado. Ao lado desses, podem colocar-se os que não se dignam de dar aos fatos a mínima atenção, sequer por desencargo de consciência, a fim de poderem dizer: Quis ver e nada vi. Não compreendem que seja preciso mais de meia hora para alguém se inteirar de uma ciência. 2ª - A dos que, sabendo muito bem o que pensar da realidade dos fatos, os combatem, todavia, por motivos de interesse pessoal. Para estes, o Espiritismo existe, mas lhes receiam as conseqüências. Atacam-no como a um inimigo. 3ª - A dos que acham na moral espírita censura por demais severa aos seus atos ou às suas tendências. Tomado ao sério, o Espiritismo os embaraçaria; não o rejeitam, nem o aprovam: preferem fechar os olhos. Os primeiros são movidos pelo orgulho e pela presunção; os segundos, pela ambição; os terceiros, pelo egoísmo. Concebe-se que, nenhuma solidez tendo, essas causas de oposição venham a desaparecer com o tempo, pois em vão procuraríamos uma quarta classe de antagonistas, a dos que em patentes provas contrárias se apoiassem demonstrando estudo laborioso e porfiado da questão. Todos apenas opõem a negação, nenhum aduz demonstração, séria e irrefutável.

Fora presumir da natureza humana supor que ela possa transformar-se de súbito, por efeito das idéias espíritas. A ação que estas exercem não é certamente idêntica, nem do mesmo grau, em todos os que as professam. Mas, o resultado dessa ação, qualquer que seja, ainda que extremamente fraco, representa sempre uma melhora. Será, quando menos, o de dar a prova da existência de um mundo extracorpóreo, o que implica a negação das doutrinas materialistas. Isto deriva da só observação dos fatos, porém, para os que compreendem o Espiritismo filosófico e nele vêem outra coisa, que não somente fenômenos mais ou menos curiosos, diversos são os seus efeitos.

O primeiro e mais geral consiste e desenvolver o sentimento religioso até naquele que, sem ser materialista, olha com absoluta indiferença para as questões espirituais. Daí lhe advém o desprezo pela morte. Não dizemos o desejo de morrer; longe disso, porquanto o espírita defenderá sua vida como qualquer outro, mas uma indiferença que o leva a aceitar, sem queixa, nem pesar, uma morte inevitável, como coisa mais de alegrar do que de temer, pela certeza que tem do estado que se lhe segue.

O segundo efeito, quase tão geral quanto o primeiro, é a resignação nas vicissitudes da vida. O Espiritismo dá a ver as coisas de tão alto, que, perdendo a vida terrena três quartas partes da sua importância, o homem não se aflige tanto com as tribulações que a acompanham. Daí, mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos. Daí, também, o banimento da idéia de abreviar os dias da existência, por isso que a ciência espírita ensina que, pelo suicídio, sempre se perde o que se queria ganhar. A certeza de um futuro, que temos a faculdade de tornar feliz, a possibilidade de estabelecermos relações com os entes que nos são caros, oferecem ao espírita suprema consolação. O horizonte se lhe dilata ao infinito, graças ao espetáculo, a que assiste incessantemente, da vida de além-túmulo, cujas misteriosas profundezas lhe é facultado sondar.

O terceiro efeito é o estimular no homem a indulgência para com os defeitos alheios. Todavia, cumpre dizê-lo, o princípio egoísta e tudo que dele decorre são o que há de mais tenaz no homem e, por conseguinte, de mais difícil de desarraigar. Toda gente faz voluntariamente sacrifícios, contanto que nada custem e de nada privem. Para a maioria dos homens, o dinheiro tem ainda irresistível atrativo e bem poucos compreendem a palavra supérfluo, quando de suas pessoas se trata. Por isso mesmo, a abnegação da personalidade constitui sinal de grandíssimo progresso.

 

VIII

 

Perguntam algumas pessoas: Ensinam os Espíritos qualquer moral nova, qualquer coisa superior ao que disse o Cristo? Se a moral deles não é senão a do Evangelho, de que serve o Espiritismo? Este raciocínio se assemelha notavelmente ao do califa Omar, com relação à biblioteca de Alexandria: “Se ela não contém, dizia ele, mais do que o que está no Alcorão, é inútil. Logo deve ser queimada. Se contém coisa diversa, é nociva. Logo, também deve ser queimada.”

Não, o Espiritismo não traz moral diferente da de Jesus. Mas, perguntamos, por nossa vez: Antes que viesse o Cristo, não tinham os homens a lei dada por Deus a Moisés? A doutrina do Cristo não se acha contida no Decálogo? Dir-se-á, por isso, que a moral de Jesus era inútil? Perguntaremos, ainda, aos que negam utilidade à moral espírita: Por que tão pouco praticada é a do Cristo? E por que, exatamente os que com justiça lhe proclamam a sublimidade, são os primeiros a violar-lhe o preceito capital: o da caridade universal? Os Espíritos vêm não só confirmá-la, mas também mostrar-nos a sua utilidade prática. Tornam inteligíveis e patentes verdades que haviam sido ensinadas sob a forma alegórica. E, justamente com a moral, trazem-nos a definição dos mais abstratos problemas da psicologia.

Jesus veio mostrar aos homens o caminho do verdadeiro bem. Por que, tendo-o enviado para fazer lembrada Sua lei que estava esquecida, não havia Deus de enviar hoje os Espíritos, a fim de a lembrarem novamente aos homens, e com maior precisão, quando eles a olvidam, para tudo sacrificar ao orgulho e à cobiça? Quem ousaria pôr limites ao poder de Deus e traçar-Lhe normas? Quem nos diz que, como o afirmam os Espíritos, não estão chegando os tempos preditos e que não chegamos aos em que verdades mal compreendidas, ou falsamente interpretadas, devam ser ostensivamente reveladas ao gênero humano, para lhe apressar o adiantamento? Não haverá alguma coisa de providencial nessas manifestações que se produzem simultaneamente em todos os pontos do globo?

Não é um único homem, um profeta quem nos vem advertir. A luz surge por toda parte. É todo um mundo novo que se desdobra às nossas vistas. Assim como a invenção do microscópio nos revelou o mundo dos infinitamente pequenos, de que não suspeitávamos; assim como o telescópio nos revelou milhões de mundos de cuja existência também não suspeitávamos, as comunicações espíritas nos revelam o mundo invisível que nos cerca, nos acotovela constantemente e que, à nossa revelia, toma parte em tudo o que fazemos. Decorrido que seja mais algum tempo, a existência desse mundo, que nos espera, se tornará tão incontestável como a do mundo microscópico e dos globos disseminados pelo espaço. Nada, então, valerá o nos terem feito conhecer um mundo todo; o nos haverem iniciado nos mistérios da vida de além-túmulo? É exato que essas descobertas, se  lhes pode dar este nome, contrariam algum tanto certas idéias aceitas. Mas, não é real que todas as grandes descobertas científicas hão igualmente modificado, subvertido até, as mais correntes idéias? E o nosso amor-próprio não teve que se curvar diante da evidência? O mesmo acontecerá com relação ao Espiritismo, que, em breve, gozará do direito de cidade entre os conhecimentos humanos.

As comunicações com os seres de além-túmulo deram em resultado fazer-nos compreender a vida futura, fazer-nos vê-la, iniciar-nos no conhecimento das penas e gozos que nos estão reservados, de acordo com os nossos méritos e, desse modo, encaminhar para o espiritualismo os que no homem somente viam a matéria, a máquina organizada. Razão, portanto, tivemos para dizer que o Espiritismo, com os fatos, matou o materialismo. Fosse este único resultado por ele produzido e já muita gratidão lhe deveria a ordem social. ele, porém, faz mais: mostra os inevitáveis efeitos do mal e, consequentemente, a necessidade do bem. Muito maior do que se pensa é, e cresce todos os dias, o número daqueles em que ele há melhorado os sentimentos, neutralizado as más tendências e desviado do mal. É que para esses o futuro deixou de ser coisa imprecisa, simples esperança, por se haver tornado uma verdade que se compreende e explica, quando se vêem e ouvem os que partiram lamentar-se ou felicitar-se pelo que fizeram na Terra. Quem disso é testemunha entra a refletir e sente a necessidade de a si mesmo se conhecer, julgar e emendar.

 

IX

 

Os adversários do Espiritismo não se esqueceram de armar-se contra ele de algumas divergências de opiniões sobre certos pontos de doutrina. Não é de admirar que, no início de uma ciência, quando ainda são incompletas as observações e cada um a considera do seu ponto de vista, apareçam sistemas contraditórios. Mas, já três quartos desses sistemas caíram diante de um estudo mais aprofundado, a começar pelo que atribuía todas as comunicações ao Espírito do mal, como se a Deus fora impossível enviar bons Espíritos aos homens: doutrina absurda, porque os fatos a desmentem; ímpia, porque importa na negação do poder e da bondade do Criador.

Os Espíritos sempre disseram que nos não inquietássemos com essas divergências e que a unidade se estabeleceria. Ora, a unidade já se fez quanto à maioria dos pontos e as divergências tendem cada vez mais a desaparecer. Tendo-se-lhes perguntado: Enquanto se não faz a unidade, sobre que pode o homem, imparcial e desinteressado, basear-se para formar juízo? Eles responderam:

“Nuvem alguma obscurece a luz verdadeiramente pura; o diamante sem jaça é o que tem mais valor: julgai, pois, dos Espíritos pela pureza de seus ensinos. Não olvideis que, entre eles, há os que ainda se não despojaram das idéias que levaram da vida terrena. Sabei distingui-los pela linguagem de que usam. Julgai-os pelo conjunto do que vos dizem. Vede se há encadeamento lógico nas suas idéias; se nestas nada revela ignorância, orgulho ou malevolência; em suma, se suas palavras trazem todas o cunho de sabedoria que a verdadeira superioridade manifesta. Se o vosso mundo fosse inacessível ao erro, seria perfeito, e longe disso se acha ele. Ainda estais aprendendo a distinguir do erro a verdade. Faltam-vos as lições da experiência para exercitar o vosso juízo e fazer-vos avançar. A unidade se produzirá do lado em que o bem jamais esteve de mistura com o mal; desse lado é que os homens se coligarão pela força mesma das coisas, porquanto reconhecerão que aí é que está a verdade.

“Aliás, que importam algumas dissidências, mais de forma que de fundo! Notai que os princípios fundamentais são os mesmos por toda parte e vos hão de unir num pensamento comum: o amor de Deus e a prática do bem. Quaisquer que se suponham ser o modo de progressão ou as condições normais da existência futura, o objetivo final é um só: fazer o bem. Ora, não há duas maneiras de fazê-lo.”

Se é certo que, entre os adeptos do Espiritismo, se contam os que divergem de opinião sobre alguns pontos da teoria, menos certo não é que todos estão de acordo quanto aos pontos fundamentais. Há, portanto, unidade, excluídos apenas os que, em número muito reduzido, ainda não admitem a intervenção dos Espíritos nas manifestações; os que as atribuem a causas puramente físicas, o que é contrário a este axioma: Todo efeito inteligente há de ter uma causa inteligente; ou ainda a um reflexo do nosso próprio pensamento, o que os fatos desmentem. Os outros pontos são secundários e em nada comprometem as bases fundamentais. Pode, pois haver escolas que procurem esclarecer-se acerca das partes ainda controvertidas da ciência; não deve haver seitas rivais umas das outras. Antagonismo só poderia existir entre os que querem o bem e os que quisessem ou praticassem o mal. Ora, não há espírita sincero e compenetrado das grandes máximas morais ensinadas pelos Espíritos que possa querer o mal, nem desejar mal ao seu próximo, sem distinção de opiniões. Se errônea for alguma destas, cedo ou tarde a luz para ela brilhará, se a buscar de boa-fé e sem prevenções. Enquanto isso não se dá, um laço comum existe que as deve unir a todos num só pensamento; uma só meta para todas. Pouco, por conseguinte, importa qual seja o caminho, uma vez que conduza a essa meta. Nenhuma deve impor-se por meio do constrangimento material ou moral e em caminho falso estaria unicamente aquela que lançasse anátema sobre outra, porque então procederia evidentemente sob a influência de maus Espíritos.

O argumento supremo deve ser a razão. A moderação garantirá melhor a vitória da verdade do que as diatribes envenenadas pela inveja e pelo ciúme. Os bons Espíritos só pregam a união e o amor ao próximo, e nunca um pensamento malévolo ou contrário à caridade pode provir de fonte pura. Ouçamos sobre este assunto, e para terminar, os conselhos do Espírito Santo Agostinho:

“Por bem largo tempo, os homens se têm estraçalhado e anatematizado mutuamente em nome de um Deus de paz e misericórdia, ofendendo-O com semelhante sacrilégio. O Espiritismo é o laço que um dia os unirá, porque lhes mostrará onde está a verdade, onde o erro. Durante muito tempo, porém, ainda haverá escribas e fariseus que O negarão, como negaram o Cristo. Quereis saber sob a influência de que Espíritos estão as diversas seitas que entre si fizeram partilha do mundo? Julgai-o pelas suas obras e pelos seus princípios. Jamais os bons Espíritos foram os instigadores do mal; jamais aconselharam ou legitimaram o assassínio e a violência; jamais estimularam os ódios dos partidos, nem a sede das riquezas e das honras, nem a avidez dos bens da Terra. Os que são bons, humanitários e benevolentes para com todos, esses os Seus prediletos e prediletos de Jesus, porque seguem a estrada que este lhes indicou para chegarem até Ele.”

SANTO AGOSTINHO.

 

Nota: os grifos são meus Sérgio Ribeiro

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 01:33

Quarta-feira, 07 de Abril de 2010

Como escreveu o Evangelista, Jesus veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Sua Mãe teve de deitá-lo numa manjedoura, porque não havia lugar para ele na hospedaria de Belém. O governante da Galiléia não vacilou em sacrificar toda uma geração de crianças, no intuito declarado de matá-lo. Na sua cidade de Nazaré, foi rejeitado pela sua gente. Os chefes de sua nação não se cansaram de lhe armar ciladas e provocações. Traído e caluniado, acabaram por lhe infligir prisão, abandono e suplícios, para afinal condená-lo e lhe dar morte humilhante. Sua doutrina de amor e paz foi ferozmente combatida, seus discípulos foram perseguidos, proscritos, atormentados e mortos.

A Luz Divina, porém, não seria derrotada. O Cristianismo a tudo resistiu, fortaleceu-se e espraiou-se com a rapidez de um raio. Depressa chegou a Roma, a toda a Ásia Menor, à Grécia, às Gálias e à África do Norte. Os textos evangélicos foram redigidos, a missão de Paulo universalizou os ensinos doutrinários, João recebeu e divulgou o Apocalipse ...

Soara a grande hora do advento da Civilização Cristã no mundo, com amplo aproveitamento da formidável infra-estrutura político-social do Império Romano. Embriagada, porém, de sangue e de prazer, de ouro e de ódio, de intolerância e de orgulho, Roma assumiu a infeliz posição de cruel perseguidora de Jesus. Sob Nero, os cristãos são espezinhados, torturados, entregues às feras e queimados nas praças. A árvore do mal começa então a dar os seus frutos de treva. O templo de Jerusalém é destruído pelos soldados de Flávio Sabino Vespasiano; os judeus são dispersos pelo mundo; os chineses submetem a Asia, até o Golfo Pérsico; o Vesúvio em erupção arrasa Herculano e Pompéia; hordas germanas invadem destruidoramente a Península Itálica; Artaxerxes vence os partas e funda o Império Neopersa. Nas hostes romanas, instalou-se a anarquia militar, cuja assustadora progressão levou Diocleciano a aceitar a divisão do Império Romano em Império do Oriente e Império do Ocidente (este último sob o poder de Maximiano) e a criar um sistema tetrárquico de governo, com dois césares (Galério e Constâncio) associados aos dois imperadores, de quem foram declarados sucessores.

Das terríveis lutas pelo poder, que a isso se seguiram, resultou a aliança de Valério Licínio (sucessor de Galério) com Constantino (sucessor de Constâncio) que derrotou Maximiano e venceu seu filho Maxêncio, morto este último na sangrenta batalha da Ponte Milvius.

Pelo Edito de Milão, os dois imperadores (Licínio, do Oriente, e Constantino, do Ocidente) asseguraram (Em 325, Constantino afastaria Licínio e reunificaria o Império) aos cristãos a sonhada liberdade de culto, levada mais tarde a extremos pelo imperador Teodósio que, em 381, tornou o Cristianismo religião oficial do Império e proibiu os demais cultos em todos os territórios romanos. Desse conúbio entre os interesses do Império e da Igreja nasceu o Catolicismo, cujo voraz apetite de riqueza e de poder e cujos pomposos rituais, refertos de ostentação e de paganismo, deturparam a simplicidade do Evangelho e traíram a mensagem sublimal do Espírito do Cristo. Quando esse trevoso processo de desfiguração do Cristianismo atingiu o auge, o Poder Celeste, depois de esperar 400 anos, decidiu pôr um fim definitivo à glória e à força da poderosa Roma Imperial.

Godos, francos, suevos, saxões, álanos, anglos, vândalos e burgúndios começaram a pilhar os territórios romanos. Tangidos pelos hunos, que flagelavam as Gálias, os visigodos invadiram vastas áreas orientais do Império, devastaram extensas regiões da Grécia e da Itália e, em 410, saquearam a própria cidade de Roma. Em 455 foi a vez dos vândalos pilharem a grande e já então infeliz metrópole, cujo Império acabou por ruir fragorosamente em 476, quando o hérulo Odoacro depôs Rômulo Augústulo, o último imperador romano do Ocidente. Iniciava-se então a Idade Média.

Ante a falência do Império Romano e da Igreja Católica, as Potências do Céu decidiram que a Civilização Ocidental devia ser reconstruída. No esforço de preparar o advento de uma nova era, grandes missionários de Jesus foram enviados à Terra, para regenerar o Cristianismo e reavivar a chama sagrada da fé. Dois dentre esses missionários eram elevadas expressões de capacidade realizadora, que efetivamente se destacaram pela sua ação, de largas conseqüências. Referimo-nos ao grande Bento, nascido em Nursia, em fins do século V, cuja Ordem conseguiu conquistar para o Cristo grande número de bárbaros, principalmente entre os germanos, e o árabe Maomé, nascido em Meca, no ano 570. Infelizmente, o Profeta do Islã não conseguiu vencer as tentações do poder humano e, falhando nos sagrados compromissos assumidos para com o Cristo, deixou no mundo uma doutrina cuja violência e intolerância levariam os árabes a tentar, pela força, o domínio do mundo.

Enquanto isso, e ao fim de intensas lutas, os invasores bárbaros se estabeleceram definitivamente nas terras do extinto Império Romano do Ocidente. Os lombardos instalaram-se na Península Itálica; os anglos e os saxões dominaram a Grã-Bretanha; os francos, após vencerem os borgúndios, se apossaram da Gália. Com o tempo, todos esses povos acabaram por aderir ao Cristianismo, a começar pelos francos, cujo rei, Clóvis, casado com a princesa cristã Clotilde, prometeu abraçar a religião cristã se vencesse, em 496, os alamanos, e foi solenemente batizado por D. Remígio, o bispo de Reims. Sob Clóvis, fundador da dinastia dos Merovíngios, a antiga Gália passou a chamar-se França.

Nomeado pelo próprio Maomé, seu genro, supremo chefe reliigioso, político e militar dos muçulmanos, Abu-Bekr iniciou, com o auxílio do grande general Omar, de Otmã, Ali e Mohaviah, a "Guerra Santa" contra os "infiéis". Revelando extraordinária combatividade e grande perícia guerreira, os islamitas obtiveram, de imediato, êxitos marcantes. Antes do ano 700, já dominavam todo o litoral norte-africano e, em 711, sob o comando do General Tariq Ibn Ziyad, atravessaram o estreito de Gibraltar, conquistaram quase toda a Ibéria e, se não fosse a vitória de Carlos Martel, em 732, na batalha de Poitiers, teriam também submetido a França.

O Império Árabe chegou a ser tão grande que, além da Arábia, abrangia toda a Síria, a Mesopotâmia, a Pérsia, parte do norte da Índia, ilhas do Oceano Índico, a Armênia, o Turquestão, o Egito, a África do Norte, e quase toda a Espanha.

Como a incapacidade e a indolência houvessem passado a caracterizar, desde muito, os descendentes de Clóvis, estes acabaram perdendo o trono para o filho de Carlos Martel, Pepino-o-Breve, cujo sucessor, Carlos Magno, se dedicou a criar, na Europa, um grande império cristão. Depois de conquistar quase todos os terrritórios que integram atualmente a França, as Alemanhas, a Áustria, a Hungria, a Tchecoslováquia e a Itália, recebeu das mãos do Papa Leão III, no Natal do ano 800, a coroa e o título de Imperador do Ocidente.

Esboça-se então, como por encanto, a revivescência do antigo Império Romano, com a perspectiva de ser alcançada a unidade político-administrativa da Eurásia e do conseqüente estabelecimento de um só governo central. Essa expectativa, porém, durou bem pouco, porque com a desencarnação do Imperador Luís, sucessor de Carlos Magno, o Tratado de Verdun, celebrado em 843, efetuou o desmembramento do Império. Luís, o Germânico, ficou com a Alemanha; Carlos, o Calvo, com a França; Lotário, com a Lotaríngia, que abrangia, entre outras, as regiões que constituem hodiernamente a Holanda, a Suíça, quase toda a Itália e a região da Alsácia-Lorena.

Abrimos aqui um rápido parêntese para lembrar que os povos gregos, a quem tanto deve a Humanidade, os latinos, que organizaram o Império Romano, os celtas, os eslavos e os germanos eram, todos eles, povos formados por aqueles mesmos Espíritos que, partindo da Ásia, em tempos remotos, na alvorada das civilizações terrestres, atravessaram os planaltos pérsicos e se espalharam do Báltico ao Mediterrâneo. De todos os exilados de Capela, eram eles os mais revoltados e os menos afeitos à religiosidade, mas eram também os menos preconceituosos e os mais abertos à confraternização com os "filhos da Terra", que por aqui encontraram. Eles criaram as bases democráticas da organização política dos povos ocidentais; sistematizaram a agricultura, o pastoreio e o comércio, e, com a sua inteligência inquieta e fecunda, lançaram os fundamentos da Ciência e a fizeram evoluir até as magnificências de hoje em dia.

Voltemos, porém, a considerar a situação reinante no mundo. No fim do século IX, a Civilização Khmer conheceu a sua idade de ouro. Com capital em Ankor, dominava as vastas regiões onde hoje se situam o Laos, o Camboja, a Tailândia e o Sul do Vietnam. No século X, a Lorena foi anexada à Alemanha e Henrique-o-Passarinheiro fundou o Império Germânico. Córdoba, sob o califado de Abdu-al-Rahman lI, tornou-se o centro da cultura árabe na Europa. Na China, Tai-tsu fundou a dinastia Sung, que governaria até 1279. Foi inventada a pólvora. Oto I, o Grande, fundou, em 962, o Sacro-Império Romano-Germânico, que unia a Itália à Alemanha.

No século XI, Canuto lI, da Dinamarca, tornou-se rei da Inglaterra e da Noruega. Henrique III, do Sacro-Império, dominou a Hungria, a Polônia e a Boêmia. Em 1054, deu-se o Cisma de Miguel Cerulário, Patriarca de Constantinopla, que resultou na separação das Igrejas Bizantina e Romana, que reciprocamente se excomungaram. Em 1066, os normandos conquistaram a Inglaterra e, em 1085, Alfonso VI tomou Toledo e começou a expulsar os árabes da Espanha.

Reconhecendo que a Igreja de Roma havia-se tornado o mais importante centro de poder político do mundo, as Potências Celestes empreenderam, mais uma vez, considerável esforço para promover a regeneração de suas estruturas, àquela altura profundamente corroídas por todos os tipos de descalabro moral e de mercantilismo simoníaco. Para esse fim, as Forças do Bem utilizaram o que restava de dignidade na Ordem Beneditina, que recebeu então o apreciável reforço de numerosos Espíritos, encarnados para a tarefa especifica de fazer dela poderoso fulcro de restauração do verdadeiro Cristianismo. É nesse contexto que se inserem, dentre as nobres missões por muitos desempenhadas, a do Papa Gregório VII, cujos méritos e cuja grandeza espiritual superam todos os aspectos menos felizes de sua atuação humana, ao longo de um pontificado que se desenvolveu de 1073 a 1085.

Nessa época, os guerreiros turcos se haviam apossado de Jerusalém e de toda a Palestina, maltratando os peregrinos cristãos que os árabes sempre haviam recebido sem problemas na "Terra Santa". Pedro, o Eremita, reagindo àqueles maltratos, que ele próprio havia experimentado, começou a percorrer a Europa, pregando a guerra contra os infiéis.

Sensibilizado pelo clamor de revoltadas multidões de católicos, o Papa Urbano II convocou grande concilio em Clermond-Ferrand e sancionou, com a sua pontifical autoridade, a organização de expedições militares contra os islamitas. Era o começo das Cruzadas, de tão assinaladas conseqüências na história dos povos.

Após a primeira e desastrada expedição, chefiada pelo próprio Eremita, quatro grandes grupos armados reuniram-se em Constantinopla, em 1096, e rumaram para os Lugares Santos. A maior parte dos expedicionários nunca chegou ao seu destino, porque numerosos fidalgos, tirando proveito pessoal das vitórias que iam obtendo pelo caminho, preferiram dedicar-se a conquistar para si mesmos terras férteis e ricas que encontravam. Ainda assim, o aguerrido exército que, sob o comando de Godefroy de Bouillon, vencera Nicéia e Antioquia, apoderou-se de Jerusalém.

Valendo-se, porém, das desgastantes disputas que travaram entre si os conquistadores cristãos, os muçulmanos recuperaram, em 1147, a cidade de Edessa e ameaçaram apoderar-se de novo dos demais territórios que haviam perdido. Diante disso, o Papa Eugênio III, promoveu nova Cruzada, sob as ordens de Conrado lII, da Alemanha, e de Luís VII, da França, que durou de 1147 a 1149 e redundou em tão grande fracasso militar que, poucos anos depois, em 1187, o grande sultão Saladino reconquistou Jerusalém.

Reagindo a esse desastre, os três mais poderosos soberanos católicos da Europa - Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, Frederico Barbarroxa, da Alemanha, e Filipe Augusto, da França - decidiram lançar-se a uma terceira Cruzada contra os maometanos; mas, desunidos pelo orgulho e incapazes de somar as próprias forças, resolveram enfrentar separadamente as hostes de Saladino, que os venceu um a um. Frederico Barbarroxa morreu ao tentar a travessia duma corredeira. Ricardo Coração de Leão, aprisionado por seu inimigo Leopoldo, da Áustria, amargou exílio e prisão por longos anos.

A quarta Cruzada desviou-se inteiramente de suas finalidades. Ao invés de combater os muçulmanos, apoderou-se, em 1204, do Império Romano do Oriente, em cujo lugar estabeleceu o Império Latino, sob a égide de reis de ascendência francesa. Logo, porém, em 1262, uma revolta restabeleceu o antigo Império Romano do Oriente.

Houve ainda uma quinta, uma sexta, uma sétima e uma oitava Cruzadas, que terminaram, todas elas, em ruidosos fracassos. As duas últimas foram levadas a efeito por Luís IX, da França, que na sétima foi aprisionado pelos turcos e depois libertado mediante pagamento de pesado resgate. No início da oitava, o rei desencarnou, em Túnis, vítima de epidemia.

Consagrando a violência como arma da fé, em absoluto desacordo com o espírito do vero Cristianismo, as Cruzadas não atingiram os fins a que se propuseram e resultaram em completo desastre militar. Apesar disso, a Sabedoria Celeste aproveitou ao máximo, em favor da Humanidade, o que esses grandes movimentos bélicos foram capazes de criar de bom. Se recordarmos rapidamente qual era a situação da Europa no início do século IX, logo nos daremos conta de que a política de Carlos Magno havia instituído as bases do feudalismo medieval, ao confirmar no poder os seus vassalos, mas lhes impondo a sua imperial autoridade através dos famosos "enviados do senhor".

Os sucessores do grande imperador não tinham, porém, nem de longe, o seu talento, nem a sua força, e, morto ele, os fidalgos, que mais não eram do que chefes guerreiros (ou os seus herdeiros) travestidos de nobres, embora respeitassem, por conveniência própria, as hierarquias formais do poder, passaram a governar os seus feudos como senhores incontestados e absolutos. Despóticos e preguiçosos, completamente despreocupados de seus povos e sem qualquer compromisso com o progresso, seu imobilismo administrativo resultou, a curto prazo, na mais desoladora estagnação da economia, na ociosidade generalizada, na ignorância e no pauperismo das massas.

O contato dos cruzados com o luxo e o conforto dos potentados muçulmanos despertou nos europeus um novo e forte desejo de regalos que dantes ignoravam e que custavam fortunas só adquiríveis através do trabalho produtivo e fecundo. Foi assim que, para conseguir açúcar, cravo, baunilha, pimenta, canela, sofás, almofadas e divãs, sedas e tapetes, aqueles fidalgos, antes ociosos, voltaram aos seus domínios com novas disposições, sem dúvida egoístas, mas que devolveram aos povos europeus a bênção do trabalho, e, com ela, considerável melhora nas condições de vida das populações, amplamente beneficiadas pelo vigoroso crescimento da indústria e do comércio.

Ao lado disso, os cruzados também trouxeram para a Europa muitos livros esquecidos ou desconhecidos no Velho Mundo, até mesmo pelas elites clericais; livros que os árabes haviam traduzido dos gregos, e outros que eles próprios haviam produzido, versando sobre astronomia, medicina, geografia e matemática. Para que se possa medir, de algum modo, a importância disso, deve-se compreender que, sem esse trabalho dos árabes, descoberto e aproveitado pelos europeus, provavelmente não houvessem surgido, nos séculos XIII e XIV, as primeiras universidades européias, que tão esplêndidos serviços iriam prestar à Humanidade; e nem houvessem surgido tão brilhantemente, no firmamento da cultura humana, pensadores como Tomás de Aquino e Rogério Bacon, e poetas do talento de Dante e de Petrarca.

Além desses magnos benefícios, não devemos esquecer que populações inteiras se alforriaram, comprando a própria liberdade a tiranos necessitados de dinheiro. Isso trouxe uma conseqüência política de extraordinária significação, na medida em que o fortalecimento do poder central dos monarcas abalou definitivamente as bases do feudalismo.

Entretanto, nada disso obscurece a verdade de que o panorama do mundo era tão sombrio, nos inícios do século XI, que, nas regiões mais elevadas do arcabouço planetário, o Colégio Crístico determinou a encarnação em massa de um verdadeiro exército de tarefeiros do bem, para sustentar a chama sagrada do ideal evangélico, ameaçada pela terrivel ventania de violência e depravação que varria a Terra. Por isso, enquanto os dignitários da Igreja e os senhores feudais erguiam taças e espadas, em nome de Deus, abnegados penitentes davam, nos mosteiros, nas vilas e nos campos, os mais santos exemplos de piedade e amor cristão. Notabilizaram-se nisso os albigenses e os valdenses, cujo zelo apostolar provocou cruéis perseguições de insensatas autoridades humanas.

Ante tão lamentáveis descalabros e tão profunda deturpação dos ensinos do Divino Mestre, o grande Vidente de Patmos ofereceu-se a Jesus para voltar ao mundo, numa veste de carne, a fim de recordar, com o seu exemplo de amor e de pobreza, as lições imortais do Nazareno. Assim foi que nasceu em Assis, em 1182, o seráfico Francisco, cuja pureza e cuja doçura impregnariam para sempre as paisagens itálicas.

A reação das forças negrejantes foi imediata, e já no ano seguinte, 1183, o Concílio de Verona lançava as bases eclesiásticas da Inquisição, que levaria, daí a vinte e três anos, à fundação da Ordem Dominicana dos Irmãos Pregadores. E como as ameaças e as prisões não houvessem bastado para calar a voz dos albigenses, o próprio Pontífice Romano pediu, em 1209, que se organizassem, contra eles, campanhas militares. Mas nesse mesmo ano de 1209, enquanto as primeiras expedições punitivas eram movidas contra os cristãos de Albi, Francisco fundava, na Úmbria, a Ordem dos Irmãos Menores, para o exercício da mais completa humildade e da mais absoluta pobreza.

O exemplo dos franciscanos não comoveu, porém, o espírito belicoso dos príncipes e dos clérigos, e três anos após a desencarnação do Pobrezinho, as milícias do tenebroso Simão de Monfort perpetraram, contra os albigenses, o massacre de 1229, que os exterminou.

Longe de se satisfazerem com esse sanguinário triunfo, os áulicos do Anticristo trataram de ampliar e consolidar o domínio da Treva sobre as consciências, e dois anos depois, em 1231, o Papa Gregório IX organizou o primeiro Tribunal de Inquisição, cujo funcionamento confiou ao zelo dos frades dominicanos.

As Potências do Bem, entretanto, não desanimaram, e outros insignes missionários de Jesus desceram à Terra, criando novos movimentos de regeneração do Cristianismo. Foi pena que, depois da violenta crise que se instalou na Igreja, em 1309, dando lugar ao que ficou conhecido como o "cativeiro de Babilônia", com a sede do Papado transferida, por Clemente V, para a cidade de Avinhão, outra crise maior espocasse na Europa, em 1337, batizada de "Guerra dos Cem Anos". Não fosse a grande luz projetada por brilhantes Espiritos, como Wicleff, João Huss, Jerônimo de Praga e Joana d'Arc, talvez nos sentíssemos tentados a dizer que as trevas espirituais dominavam, por inteiro, o Velho Mundo.

Também o Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino, que tão valentemente se mantivera até então, prestando assinalados serviços à cultura humana, acabou capitulando para sempre, ante as hordas poderosas do califa Maomé II, que entrou vitoriosamente em Constantinopla no dia 29 de maio de 1453. Naquela data, enquanto Dragases defendia, até morrer, a capital do Império, os frades de Bizâncio, alheios à realidade, travavam discussões acaloradas e estéreis, que passaram à História como "discussões bizantinas".

Com as fogueiras que queimaram vivos João Huss, em 1415; Jerônimo de Praga, em 1416, e Joana d'Arc, em 1431; e com a queda de Constantinopla, em 1453, ruiu o mundo antigo; mas quando Colombo e Cabral, no último decênio do século, chegaram às terras americanas, abrindo a cortina do tempo, surgiram, como por encanto, no cenário humano, um mundo novo e uma nova era.

"É então -escreve Emmanuel, em seu precioso livro "A Caminho da Luz" - que inúmeros mensageiros de Jesus, sob a sua orientação, iniciam largo trabalho de associação dos Espíritos, de acordo com as tendências e afinidades, a fim de formarem as nações do futuro, com a sua personalidade coletiva. A cada uma dessas nacionalidades seria cometida determinada missão no concerto dos povos futuros, segundo as determinações sábias do Cristo, erguendo-se as bases de um mundo novo, depois de tantos e tão continuados desastres da fraqueza humana. Constroem-se os alicerces dos grandes países como a Inglaterra, que, em 1258, organiza os Estatutos de Oxford, limitando os poderes de Henrique III, e em 1265 erige a Câmara dos Comuns, onde a burguesia e as classes menos favorecidas têm a palavra com a Câmara dos Lordes. A Itália prepara-se para a sua missão de latinidade. A Alemanha se organiza. A Península Ibérica é imensa oficina de trabalho e a França ensaia os passos definitivos para a sabedoria e para a beleza. A atuação do mundo espiritual proporciona à história humana a perfeita caracterização da alma coletiva dos povos. Como os indivíduos, as coletividades também voltam ao mundo pelo caminho da reencarnação. É assim que vamos encontrar antigos fenícios na Espanha e em Portugal, entregando-se de novo às suas predileções pelo mar. Na antiga Lutécia, que se transformou na famosa Paris do Ocidente, vamos achar a alma ateniense nas suas elevadas indagações filosóficas e científicas, abrindo caminhos claros ao direito dos homens e dos povos. Andemos mais um pouco e acharemos na Prússia o espírito belicoso de Esparta, cuja educação defeituosa e transviada construiu o espírito detestável do pangermanismo na Alemanha da atualidade. Atravessemos a Mancha e deparar-se-nos-á na Grã-Bretanha a edilidade romana, com a sua educação e a sua prudência, retomando de novo as rédeas perdidas do Império Romano, para beneficiar as almas que aguardaram, por tantos séculos, a sua proteção e o seu auxílio."

Surgem, na Europa, a pólvora, a imprensa, o papel, a bússola.

Vasco da Gama chega a Calicut, na índia; Fernão de Magalhães encontra a "passagem para o Oriente", atingindo, por mar, as Filipinas; e Sebastião Elcano, ao regressar à Espanha, em 1522, prova a redondeza da Terra. De repente, o Velho Mundo, em primavera, se enche de beleza. Pensadores, astrônomos, poetas, físicos, pintores, escultores e matemáticos parecem ter descido à Terra, para nela materializarem alguma coisa do Céu! É o momento radioso de Da Vinci e Miguel Ângelo; de Rafael, de Velásquez, de Murilo; de Rubens e Van Dyck; de Bramante e de Rembrandt; de Ariosto, de Tasso, de Rabelais e de Montaigne; de Cervantes e Camões; de Morus e de Erasmo; de Kepler, Galileu e Shakespeare; de Copérnico, Torricelli, Harvey e Leibniz, de Descartes e de Newton ...

É também a grande hora de Martinho Lutero, de Teresa de Ávíla e João da Cruz; de Zwínglio, de Calvino e de Melanchton; de Servet e João Knox; embora seja também, desgraçadamente, o tempo e a vez de Inácio de Loyola, de Felipe lI, de Leão X, de Paulo III, de Catarina de Médicis e de Las Casas, o bispo escravocrata.

Chega, porém, o século XVII, com os horrores da Guerra dos Trinta Anos, mas os emigrantes do Mayflower desembarcam na América; Pedro-o-Grande ocidentaliza, de algum modo, a Rússia; é assinada, na Inglaterra, a "Declaração de Direitos"; a independência da Holanda e da Suíça é reconhecida e a França se torna a primeira potência militar da Europa.

"O século XVIII iniciou-se entre lutas igualmente renovadoras - comenta Emmanuel, no livro já citado -, mas elevados Espíritos da Filosofia e da Ciência, reencarnados particularmente na França, iam combater os erros da sociedade e da política, fazendo soçobrar os principios do direito divino, em nome do qual se cometiam todas as barbaridades. Vamos encontrar nessa plêiade de reformadores os vultos veneráveis de Voltaire, Montesquieu, Rousseau, D'Alembert, Diderot, Quesnay. Suas lições generosas repercutem na América do Norte, como em todo o mundo. Entre cintilações do sentimento e do gênio, foram eles os instrumentos ativos do mundo espiritual, para regeneração das coletividades terrestres. Historiadores há que, numa característica mania de sensacionalismo, não se pejam de vir a público asseverar que esses espíritos estudiosos e sábios se encontravam a soldo de Catarina II da Rússia, e dos príncipes da Prússia, contra a integridade da França; mas semelhantes afirmativas representam injúrias caluniosas que apenas afetam os que as proferem, porque foi dos sacrifícios desses corações generosos que se fez a fagulha divina do pensamento e da liberdade, substância de todas as conquistas sociais de que se orgulham os povos modernos."

A independência dos Estados Unidos da América, proclamada no dia 4 de julho de 1776 e reconhecida pela Inglaterra no dia 3 de setembro de 1783, teve na França profunda repercussão. A Declaração de Filadélfia era candente e inspiradora: - "Consideramos como evidentes as seguintes verdades: que todos os homens foram criados iguais; que o Criador lhes conferiu certos direitos inalienáveis, dentre os quais contam-se a vida, a liberdade e a procura da felicidade; que, para assegurar esses direitos, os governos foram instituídos entre os homens, originando-se os seus justos poderes do consentimento dos governados ... "

Quando os "Estados Gerais" se reuniram, por convocação do rei, a instâncias do Ministro Necker, os deputados da burguesia propuseram reformas políticas tão radicais, que o rei, partilhando o receio dos nobres, mandou fechar o local das sessões. Desobedecendo à ordem, os deputados proclamaram-se em Assembléia Constituinte. O governo recorreu a mercenários estrangeiros para manter a ordem em Paris, mas a fome do povo, o desemprego, a inconformação com as injustiças sociais e com os privilégios dos nobres e do clero; as novas idéias plantadas pelos enciclopedistas e o exemplo dos norte-americanos; tudo isso - passionalmente ressaltado nos inflamados discursos de Desmoulins - levou a multidão revoltada a invadir a fortaleza da Bastilha, enquanto por todo o país os castelos dos nobres eram incendiados. Estávamos no dia 14 de julho de 1789; era a Revolução Francesa; era o começo da Idade Contemporânea.

Os acontecimentos se precipitaram. Em 1792, a Convenção (conselho eleito pelo povo) proclamou a República. A 12 de janeiro de 1793, Luís XVI foi guilhotinado. O Terror, comandado por Robespierre, estabeleceu-se na França.

A guerra contra a Austria e a Prússia, iniciada em 1792, logo se estendeu a toda uma coligação européia de nações, mas os exércitos franceses, organizados por Carnot e comandados por Roche, Moreau e Jourdan, acumulavam vitórias sucessivas. Foi então que um jovem oficial corso começou a ganhar notoriedade, ao reconquistar brilhantemente dos ingleses a cidade fortificada de Toulon. Em breve, seu nome ganharia fama e prestígio, na França e em toda a Europa, pela eficiência do seu comportamento na repressão ao levante monarquista e pela excelente campanha militar que desenvolveu contra os austríacos no norte da Itália. Os triunfos que obteve em Lodi, em Arcole, em Rívoli e em Castiglioni elevaram Napoleão Bonaparte à categoria de grande guerreiro e herói nacional da França. A "Paz de Campofórmio" foi o resultado incontestável de seu gênio de estrategista. Passando depressa ao Egito, conseguiu, junto às Pirâmides, memorável vitória, mas encontrou depois dificuldades muito grandes, que sua astúcia política soube disfarçar com muito êxito, através de notícias constantes de fantasiosas conquistas, que fazia espalhar na metrópole distante. Para os franceses, seu nome passou a ser, naturalmente, a radiosa esperança de um governo poderoso e honesto, em substituição aos escândalos administrativos de um Diretório incompetente e corrompido. Aconselhado por Talleyrand, Fouché e Sieyés, e mantendo suas tropas na Africa, foi incógnito a Paris e lá, agindo com o apoio dos militares e de alguns políticos insatisfeitos e influentes, dissolveu os Conselhos, destituiu o Diretório e, no Dezoito Brumário - 9 de novembro de 1799 -, assumiu o poder, com O título de Primeiro-Cônsul.

Portando-se com extraordinária sagacidade política e sem nenhum escrúpulo humanitário, Bonaparte conseguiu, em pouco tempo, enriquecer a França, às custas da Europa. Prosseguindo sem descanso em sua faina guerreira, impunha sistematicamente aos vencidos tratados de comércio que recheavam as bolsas dos negociantes e produtores franceses. Sua administração deu ao seu povo inegável prosperidade econômica, excelentes estradas e um Código Comercial modelar. Além disso, sua sensibilidade de estadista devolveu à população, sob a garantia do Estado, plena liberdade de culto, e restabeleceu o calendário cristão, que a Revolução abolira. Tudo isso talvez não justifique, mas provavelmente explicará por que os franceses, que haviam empreendido sangrenta revolução para substituir a monarquia absoluta por uma república igualitária, aplaudiram com entusiasmo a Napoleão Bonaparte, quando ele, depois de tornar-se Cônsul Vitalício, fez o Papa viajar do Vaticano para a França, a fim de o sagrar Imperador.

A verdade é que, deixando-se vencer por ambiciosa vaidade, aquele Espírito de escol não soube realizar a elevada missão de congraçar e liderar os povos europeus, inaugurando nova era de confraternização e paz para o mundo inteiro. É certo que o Código Civil, que deu à França, foi luminoso presente outorgado a toda a Humanidade, por sua feliz contribuição ao progresso do direito social dos povos; mas a sua sede de absolutismo comprometeu todo o programa que o Plano Superior da Vida tão trabalhosamente montara em favor de todos os homens. Desguarnecido do favor celeste que dolorosamente desmereceu, o grande cabo de guerra teve de amargar a terrível derrota de Trafalgar, a tragédia da campanha militar na Rússia e o golpe final de Waterloo.

Enquanto esses acontecimentos se desdobravam no Velho Mundo, o Novo Mundo se emancipava e organizava. Desde os últimos anos do século XVIII, movimentos de libertação espocavam no continente, liderados por Joaquim José da Silva Xavier, no Brasil; Manuel Belgrano e Mariano Moreno, no Prata; Bernardo O'Higgins, nos Andes; Artigas, Lavalleja e Rivera, na Cisplatina; Hidalgo e Morelos, no México; Toussaint-Louverture e Jacques Dessaline, no Haiti; Miranda, em Nova Granada. A independência política não tardou a coroar os sonhos de liberdade dos centro e sul-americanos, muitos deles liderados pelos extraordinários campeões que foram Bolívar e San Martin. Em menos de dez anos, de 1816 a 1825, emanciparam-se o Haiti (1804), o Paraguai (1813), a Argentina (1816), o Chile (1818), o Brasil, o México e Nova Granada (1822), Guatemala, San Salvador, Honduras, Costa Rica e Nicarágua (1823) e a Bolívia (1825).

O grande Espírito do Apóstolo Tomé já estava, a esse tempo, no mundo, onde reencarnou a 3 de outubro de 1804, com a excelsa missão de codificar o Espiritismo. Ele não vinha só. Como assinala Emmanuel, no livro já citado, "fazia-se acompanhar de uma plêiade de companheiros e colaboradores, cuja ação regeneradora não se manifestaria tão-somente nos problemas de ordem doutrinária, mas em todos os departamentos da atividade intelectual do século XIX." E acrescenta: - "A Ciência, nessa época, desfere os vôos soberanos que a conduziriam às culminâncias do século XX. O progresso da arte tipográfica consegue interessar todos os núcleos de trabalho humano, fundando-se bibliotecas circulantes, revistas e jornais numerosos. A facilidade de comunicações, com o telégrafo e as vias férreas, estabelece o intercâmbio direto dos povos. A literatura enche-se de expressões notáveis e imorredouras. O laboratório afasta-se definitivamente da sacristia, intensificando as comodidades da civilização. Constrói-se a pilha de coluna, descobre-se a indução magnética, surgem o telefone e o fonógrafo. Aparecem os primeiros sulcos no campo da radiotelegrafia, encontra-se a análise espectral e a unidade das energias físicas da Natureza. Estuda-se a teoria atômica e a fisiologia assenta bases definitivas com a anatomia comparada. As artes atestam uma vida nova. A pintura e a música denunciam elevado sabor de espiritualidade avançada. A dádiva celestial do intercâmbio entre o mundo visível e o invisível chegou ao planeta nessa onda de claridades inexprimíveis. Consolador da Humanidade, segundo as promessas do Cristo, o Espiritismo vinha esclarecer os homens, preparando-lhes o coração para o perfeito aproveitamento de tantas riquezas do Céu."

Entrementes, os Estados Unidos da América do Norte dedicavam-se a um vasto programa de expansão territorial, tendo incorporado a Luisiana, o Texas, o Novo México, a Califórnia e o Alasca. Seu progresso era rápido e consistente, mas os problemas internos eram grandes, provocados pelas rivalidades econômicas entre os Estados do Norte, industrializados, e os Estados do Sul, essencialmente agrícolas; e pela questão da escravatura. A crise tornou-se tão aguda que, em 1861, a declaração separatista da Carolina do Sul desatou a Guerra de Secessão, que se prolongaria até que as batalhas de Gettysburg, em 1863, e Appomatox, em 1865, decidiriam a sorte das armas a favor dos federados. Por esse triunfo, que foi, acima de tudo, a vitória da fraternidade e da justiça, pagou com a própria vida o grande Abraão Lincoln, covardemente assassinado pelo fanático Booth.

Também no sul do continente surgiram dificuldades e conflitos sangrentos. O Brasil, o Uruguai e a Argentina se envolveram, de 1851 a 1852, na chamada "Guerra de Rosas", e depois, de 1864 a 1870, na "Guerra do Paraguai". De 1879 a 1883, a conflagração entre o Chile, o Peru e a Bolívia gerou problemas até agora não de todo solucionados, o mesmo acontecendo, anos mais tarde, quando a "Guerra do Chaco" pôs em confrontação a Bolívia e o Paraguai.

A derrota de Napoleão havia levado à reorganização da Europa.

Sob a influência poderosa de Metternich, o Congresso de Viena, reunido de 1814 a 1815, remarcou fronteiras, restaurou o domínio das famílias reais que a Revolução Francesa e Bonaparte destronaram e deu origem à famigerada Santa Aliança, que tão maus serviços prestou aos ideais democráticos dos povos, e à Confederação Germânica, formada por todos os Estados alemães, exceto o Império Austro-Húngaro.

A França, porém, que tantas dívidas cármicas contraíra, teria de suportar, na conformidade da lei de justiça divina, ou lei de causa e efeito, uma longa e dolorosa instabilidade político-social. Depois de Luís XVIII, Carlos X não conseguiu sustentar-se no trono e fugiu para a Inglaterra, em 1830. Luís Filipe I não teve melhor sorte; incapaz de superar a revolta popular de 1848, teve de abandonar o país, às pressas. O Governo Socialista que emergiu dessa revolução foi um completo fracasso e deu margem a que fosse eleito Presidente da França o sobrinho do Pequeno Corso, que não demorou a imitar o tio e logo se tornou o Imperador Napoleão III. Engajando-se em guerras sucessivas e após importantes vitórias políticas e militares, acabou sendo fragorosamente derrotado pelos prussianos em Reichshofen, Gravelotte, Saint-Privat, Metz e Sedan, onde caiu prisioneiro, no dia 2 de setembro de 1870. Apesar da heróica resistência oferecida, a Terceira República, então proclamada, não logrou evitar a queda de Paris e teve de ceder, como troféus de guerra, aos prussianos, a Alsácia e a Lorena, além do pagamento de uma indenização de cinco bilhões de francos-ouro. O rosário de dores estava, porém, longe de completar-se. O Governo Republicano teria, a seguir, sérias dificuldades, primeiro para dominar a insurreição denominada "Comuna", que rebentou em Paris, e depois para superar a ameaça monarquista dos partidários de Boulanger, além do escândalo do "Caso Dreyfus". Somente um século depois de Waterloo a França pôde, enfim, respirar aliviada; mas esse alívio duraria muito pouco, pois ela seria logo envolvida no conflito mundial de 1914.

Vivia a França as peripécias que assinalamos, quando o astuto Bismarck, após conduzir com extrema habilidade uma demorada e dificil estratégia de unificação dos Estados alemães, conseguiu, por fim, inclusive às expensas da França, da Dinamarca e da Austria, fazer proclamar, no palácio de Versalhes, no dia 18 de janeiro de 1871, a fundação do Império Alemão.

Nem só de França e Alemanha vivia, porém, a Europa. Na verdade, a mais próspera de todas as nações era então a Inglaterra, a grande marinheira, a banqueira do mundo; a Inglaterra vitoriana de Gladstone; a Inglaterra Imperial de Disraeli. Ela firmou o seu dominio sobre a índia; obrigou a China a abrir portos ao comércio com a Europa; fundou colônias na África; estabeleceu domínios na Ásia e na Oceania. Foi ela quem impediu que o Czar da Rússia esmagasse a Turquia; e foi ela que, pelo Tratado de Berlim, negociado por Benjamin Disraeli,em 1878, garantiu o reconhecimento da independência das nações balcânicas.

Uma outra grande nação surgiu também no século XIX: - a Itália, cuja unificação, preparada por Cavour, foi finalmente terminada por Vitor Manuel II, em 1870.

Ao permitir e incentivar a formação de grandes nacionalidades terrestres, através do agrupamento de coletividades espirituais afins, o Cristo Divino tinha em mira facilitar a aceleração do progresso humano e promover a divisão do trabalho, na Terra, em favor de um regime de diversificação de capacidades que gerasse uma economia de trocas e de interações culturais, com base na interdependência e na cooperação. Tão logo, porém, cada nação se viu senhora de certos patrimônios, começou a pretender, desavisadamente, o domínio do mundo. A Inglaterra, dona dos mares e de vasto império colonial, permitiu-se sonhar com o monopólio do comércio. A Alemanha, vendo-se possuidora de vastas reservas de carvão e aço, e dispondo de avançada tecnologia industrial, imaginou poder impor, pela força, uma hegemonia incontrastável. A França, orgulhosa de sua cultura e de sua intelectualidade, julgou-se com direito a ser a tutora dos povos. Os Estados Unidos e o Japão, animados com os seus êxitos econômicos, consideraram-se aptos a exercer uma liderança mundial mais efetiva. A Itália e a Rússia não faziam segredo de suas ambições imperialistas. A tal ponto as cobiças se desbordavam, que os preparativos para um grande conflito armado não precisaram mais de disfarces. A França, a Inglaterra e a Rússia celebraram um pacto militar chamado a "Tríplice Entente"; a Alemanha, a Itália e a Áustria-Hungria formaram, por sua vez, a "Tríplice Aliança". Um pretexto aceitável era, pois, somente o que faltava para que o conflito começasse.

Quando o príncipe herdeiro da Áustria-Hungria foi assassinado, a tiros, por um estudante sérvio, na capital da Bósnia, os austríacos exigiram da Sérvia reparações tão humilhantes, que a Rússia ofereceu aos sérvios o seu apoio. Considerando esse apoio uma provocação, a Alemanha declarou guerra à Rússia. Era o dia 1° de setembro de 1914 e estava iniciada a Primeira Grande Guerra. Dois dias depois, o conflito já se estendia à França e à Inglaterra. Em pouco tempo, o desforço bélico atingia também a Itália, a Bulgária, a Romênia, Portugal, os Estados Unidos e o Brasil, sem falar no Japão, que só entrou na guerra para apossar-se dos portos alemães no litoral da China e, satisfeito com o saque, retirou-se do conflito.

Corria acesa a guerra, quando ocorreu, na Rússia, a Revolução Socialista, que derrubou a monarquia e pôs no poder Kerensky. Este não se sustentou no governo, que foi tomado pelos comunistas de Lenine e Trotsky. O novo regime apressou-se a firmar a paz com a Alemanha, mesmo ao preço da cessão de vastos territórios, interessado em fechar as fronteiras do país, a fim de remodelá-lo.

Na primavera de 1918, os alemães, em franca ofensiva, estiveram a pique de tomar Paris e vencer a guerra, mas o maciço auxilio chegado dos norte-americanos proporcionou aos aliados recursos materiais suficientes para a resistência e para o contraque dos exércitos do Marechal Foch, que levaram a Alemanha, já exausta, a reconhecer a derrota. O Kaiser Guilherme II fugiu para a Holanda; a Bulgária, a Áustria e a Turquia se renderam e o Armistício foi assinado, no dia 11 de novembro de 1918.

O Tratado de Versalhes, firmado no dia 28 de junho de 1919, iria preparar o terreno, desde logo, para uma guerra futura. A Alemanha foi obrigada a devolver à França a Alsácia-Lorena; perdeu todas as suas colônias; teve o seu território cortado pelo famoso "Corredor Polonês". Surgiram a Hungria e a Tchecoslováquia. A Sérvia transformou-se na Iugoslávia. Ao lado da Rússia, foram instituidos a Finlândia, a Estônia, a Letônia e a Lituânia. Além disso, outras sanções foram impostas aos vencidos, pelos Tratados de Saint-Germain-en-Laye, Neuilly e Trianon.

As grandes injustiças sociais, a fome, a miséria das populações e a propaganda violenta de idéias reformistas e comunizantes acabaram provocando, na Europa, grandes agitações e propiciando o surgimento de grupos exaltados de extremistas. Na Itália, Benito Mussolini, pregando a união absoluta dos patriotas (varas) num poderoso feixe - fascio -, criou o Fascismo, prometendo reformas gerais, restauração moral, prosperidade econômica e um império colonial rico e vasto. Vitorioso em sua "Marcha sobre Roma", tornou-se, em 1922, Primeiro-Ministro, mas realmente assumiu de fato o governo ditatorial do país. A titulo de cumprir suas promessas, o Fascismo instaurou um regime de opressão e violência, colocando sempre os direitos do Estado acima dos direitos dos cidadãos; invadiu e subjugou a Abissínia, em 1936, e ajudou Francisco Franco a tornar-se ditador da Espanha, em 1939. Na Alemanha, Adolfo Hitler, também vitorioso, implantou o Nazismo, e, com a morte de Hindenburg, em 1934, enfeixou nas mãos todos os poderes de governo; anexou a Tchecoslováquia e a Áustria e, no dia 19 de setembro de 1939, invadiu a Polônia, iniciando a Segunda Grande Guerra.

Daqui por diante, a História é recente demais, dispensando-nos os registros, mas não podemos deixar de assinalar a eclosão, sob as vistas e os auspícios do Cristo, dos movimentos de libertação que emanciparam politicamente quase todas as nações africanas, preparando-as para significativas missões no próximo milênio.

Como já escrevemos, em página publicada sob assinatura do companheiro que me serve de instrumento de comunicação, paira no ar uma incerteza profunda. Um arrepio de maus presságios vara o misterioso arcano do futuro. Durante séculos a fio a Humanidade acumulou montanhas de ódios, e já a emanação sedimentosa dos pensamentos sombrios e ferozes se aglomera sobre a Terra, em espessas camadas superpostas e ameaçadoras, que lembram cirros virulentos e invisíveis. O monstro da destruição, por ela alimentado com tanta solicitude, rosna sanhudo à sua face, qual áspide principescamente criada para o assassínio traiçoeiro do seu dono.

O vendaval não tarda a desencadear sobre as valas torturadas do orbe a procela furiosa que se alimenta de sangue e que se banha nas lágrimas. Relegado o Evangelho do Cristo, olvidados os seus divinos ensinamentos, ergastulado no cárcere dos dogmas o espírito sublimado da sua Doutrina de Amor, que outra coisa poderia suceder à Humanidade desvairada, senão a completa bancarrrota dos seus princípios superiores, esmagados perante o esquife da justiça, apunhalada pelo egoísmo feroz, nos delírios da vaidade e da rapina?

Na orgulhosa presunção da sua trágica cegueira, o homem rejeitou a direção de Jesus, chafurdando-se no mar das experiências dolorosas do desvario e dos crimes. Agora, num crepúsculo agoniado de jornada, treme assustadiço ante os densos novelos de fumaça que sobem do monturo letal dos próprios erros!

Armados até os dentes, espreitam-se os povos, numa estranha dança de malabarismos fatídicos, temendo pela sorte. Os engenhos de destruição engendrados pelo homem ameaçam-lhe a própria sobrevivência e a dura necessidade de paz não consegue suplantar a fantástica miragem da luta de extermínio. Eis o salário da rebeldia humana! Eis o altíssimo preço da ambição!

A tormenta desabará. A Justiça Divina, que dá a cada qual segundo as suas obras, não susterá o automatismo da lei de causa e efeito, que o Espiritismo tão bem define e prega. A sementeira de maldades e ignomínias rebentará num oceano de frutos amargos de prantos e de dores, e o homem aprenderá, por fim, que o Evangelho do Senhor não é um conto de fadas, mas uma Lei de Vida, que ninguém pode violar sem funestas conseqüências.

Então, raiará para a Terra um Novo Dia. As lições maravilhosas de Jesus, vivificadas e restabelecidas em sua pureza original pela Terceira Revelação, regerão as manifestações do sentimento enobrecido nas forjas da amargura. Uma Nova Aurora despontará, fecunda, para este orbe triste e a aleluia de há dois mil anos ressoará, mais vívida e mais clara, nas quebradas dos nossos alcantis.

O Espírito do Bem reinará na alma dos homens. Cristo vencerá!

Espírito Áureo
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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 01:46

Terça-feira, 06 de Abril de 2010

"E conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará." - (João, 8:32)

 

O livro "Cristianismo e o Espiritismo de Léon Denis, diz: "Depois da morte do Mestre, os primeiros cristãos possuíam, em sua correspondência com o mundo invisível, abundante fonte de inspirações. Utilizavam-na abertamente. Mas as instruções dos Espíritos nem sempre estavam em harmonia com as opiniões do sacerdócio nascente, que, se nessas relações achava um amparo, nelas, muitas vezes, encontrava também uma crítica severa, e, às vezes, mesmo uma condenação."

Nos primeiros séculos o Cristianismo nascente perdeu duas de suas bases angulares: 1-a comunicação com os Espíritos dos desencarnados e 2-a multiplicidade das existências do Espírito na carne, apesar de o Novo Testamento propiciarem a comprovação da realidade desses dois postulados.

Asseverou o Mestre que "nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se", deixando antever, como decorrência, que Deus, em sua infinita misericórdia e em sua soberana vontade, quer que todos os seus filhos se aprimorem e sejam impregnados de virtudes santificantes, suscetíveis de fazer com que eles dele se aproximem.

Os que seguirem essa senda divisarão um novo horizonte, e nada para eles permanecerá oculto, pois tudo lhes será gradualmente revelado; será como uma luz que brilha nas trevas, dando azo a que se libertem, através do conhecimento da Verdade.

A fim de demonstrar o empenho do Pai Celestial, no sentido de impulsionar as criaturas para a frente e para o Alto, e também confirmar que, para Ele, não existem
privilégios, nem distribuição indevida de graças, Jesus Cristo acrescentou em seus ensinamentos: "Não vos chamo de servos, porque ao servo não é dado conhecer a vontade do seu senhor, mas vos chamo de filho, porque aos filhos é dado saber a vontade do Pai."

Conclui-se, portanto, que é imprescindível o conhecimento da Verdade, para que as criaturas transponham os abismos do erro e do obscurantismo, libertando-se dos liames, dos dogmas e dos preconceitos. Para a conquista desse conhecimento, os estudos e o interesse pelas palavras daqueles que são mais esclarecidos podem fazer com que a luz da Verdade se faça presente, traçando um balizamento para atingir os desideratos superiores, uma vez que a vontade de Deus é que todos os seus filhos se tornem Espíritos Puros.

O Espiritismo representa o cumprimento da promessa de Jesus Cristo sobre o advento do Consolador, do Espírito de Verdade, e foi revelado no tempo propício, quando a Humanidade mais carece de esclarecimentos e quando está apta a levantar uma parte do véu que encobre a Verdade.

Se, até agora, devido às injunções de ordem material e à prevaricação de muitos mentores religiosos, as religiões do ramo cristão não conseguiram manter entre si um elevado elo de fraternidade e de tolerância, entrelaçando-se como irmãos, daqui por diante a Doutrina do Cristo, restaurada em suas primícias, através da Codificação da Doutrina Espírita, fará com que os seres humanos se irmanem, sob a égide do Grande Mestre, que, pelos seus maravilhosos ensinamentos, nos apresentou um Deus que é a expressão máxima do amor, da misericórdia e da justiça, um Pai que deseja, ardentemente, que todos os seus filhos colimem a REDENÇÃO ESPIRITUAL, tornando-se aptos a se libertarem pelo conhecimento da Verdade.

Numerosos missionários que Deus enviou à Terra sofreram flagelações e morte pelo amor à Verdade.
— Jesus Cristo foi crucificado, porque fez uma luz brilhar nas trevas e por ter anunciado Verdades novas;
— Sócrates foi obrigado a tragar uma taça de cicuta, pois, em seu tempo, procurou levantar uma ponta do véu que encobre a Verdade;
- Paulo de Tarso foi decapitado por querer fazer com que a Verdade suplantasse a mentira da idolatria e da falsa mediunidade;
- João Batista foi decapitado por ter evidenciado a Verdade no relacionamento imoral de Herodes;

-Joana D'Arc foi queimada viva, em virtude de ser um instrumento da Verdade, no relacionamento com o mundo espiritual, através de sua mediunidade, uma prática consagrada pelo Cristianismo, mas repudiada por algumas religiões;
- Tiago Maior foi morto à espada, por ordem de Herodes, em virtude de ter desobedecido à ordem de não mais apregoar as Verdades reveladas por Jesus Cristo.

Paulo A. Godoy

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 04:33

Domingo, 04 de Abril de 2010

 

 

De todos os fenômenos da vida, os que se apresentam ao raio visual da ciência humana, mantenedores do seu entretenimento, são os da assimilação e desassimilação; todavia, os que afetam mais particularmente a percepção do homem não são os da atividade vital em si mesma, consubstanciados nas sínteses orgânicas assimiladoras, mas justamente os fenômenos da morte. É um axioma fisiológico a extinção das células que constituem o suporte de todas as manifestações e apenas fazeis geralmente uma idéia da vida por intermédio desses movimentos destruidores.

 

A VIDA CORPORAL – EXPRESSÃO DA MORTE

Quando, no homem ou nos irracionais, um gesto se opera, a Natureza determina o desaparecimento de certa percentagem de substância da economia vital; quando a sensibilidade se exterioriza e os pensamentos se manifestam, eis que os nervos se consomem, gastando-se o cérebro em suas atividades funcionais.

A vida corporal é bem a expressão da morte, através da qual efetuais as vossas observações e os vossos estudos.

Não dispondes, dentro da exigüidade dos vossos sentidos, senão de elementos constatadores da perda de energia, da luta vital, dos conflitos que se estabelecem para que os seres se mantenham no seu próprio habitat.

A vida, em suas causalidades profundas, escapa aos vossos escalpelos e apenas o embriologista observa, no silêncio da penumbra, infinitésima fração do fenômeno assimilatório das criações orgânicas.

 

INACESSIVEL AOS PROCESSOS DA INDAGAÇÃO CIENTÍFICA

Segundo os dados da vossa fisiologia, a célula primitiva é comum a todos os seres vertebrados e espanta ao embriólogo a lei organogênica que estabelece a idéia diretora do desenvolvimento fetal, desde a união do espermatozoário ao óvulo, especificando os elementos amorfos do protoplasma; nos domínios da vida, essa idéia diretriz conserva-se inacessível até hoje aos vossos processos de indagação e de análise, porquanto esse desenho invisível não está subordinado a nenhuma determinação físico-química, porém, unicamente ao corpo espiritual preexistente, em cujo molde se realizam todas as ações plásticas da organização, e sob cuja influência se efetuam todos os fenômenos endosmóticos.

O organismo fluídico, caracterizado por seus elementos imutáveis, é o assimilador das forças protoplasmáticas, o mantenedor da aglutinação molecular que organiza as configurações típicas de cada espécie, incorporando-se, átomo por átomo, à matéria do germe e dirigindo-a segundo a sua natureza particular.

 

RESPONDENDO ÀS OBJEÇÕES

Algumas objeções científicas têm sido apresentadas à teoria irrefutável do corpo espiritual preexistente, destacando-se entre elas, por mais digna de exame, a hereditariedade, a qual somente deve ser ponderável sob o ponto de vista fisiológico. Todos os tipos de reino mineral, vegetal, animal, incluindo-se o hominal, organizam-se segundo as disposições dos seus precedentes ancestrais, dos quais herdam, naturalmente, pela lei das afinidades, a sua sanidade ou os seus defeitos de origem orgânica, unicamente.

De todos os estudos referentes ao assunto, em vossa época, salienta-se a teoria darwiniana das gêmulas, corpúsculos infinitesimais que se transmitem pela vida seminal aos elementos geradores, contendo na matéria embrionária disposição de todas as moléculas do corpo, as quais se reproduzem dentro de cada espécie. A maioria das moléstias, inclusive a dipsomania, é transmissível; porém, isso não implica um fatalismo biológico que engendre o infortúnio dos seres, porque inúmeros Espíritos, em traçando o mapa do seu destino, buscam, com o escolher determinado instrumento, alargar as suas possibilidades de triunfo sobre a matéria, como um fato decorrente das severas leis morais, que, como no ambiente terrestre, prevalecem no mundo espiritual, o que não nos cabe discutir neste estudo.

Não obstante a preponderância dos fatores físicos nas funções procriadoras, é totalmente inaceitável e descabido o atavismo psicológico, hipótese aventada pelos desconhecedores da profunda independência da individualidade espiritual, hipótese que aventada pelos desconhecedores da profunda independência da individualidade espiritual, hipótese que reveste a matéria de poderes que nunca ela possuiu em sua condição de passividade característica.

Reconhecendo-se, pois, a veracidade da argumentação de quantos aceitam a hereditariedade fisiológica nos fenômenos da procriação, representando cada ser o organismo que provêm por filiação, afastemos a hipótese da hereditariedade psicológica, porquanto, espiritualmente, temos a considerar, apenas, ao lado da influência ambiente, a afinidade sentimental.

 

ATRAVÉS DOS ESCANINHOS DO UNIVERSO ORGÂNICO

De todas as funções gerais que caracterizam os seres viventes, somente os fenômenos de nutrição podem ser estudados pela perquirição científica e, mesmo assim, imperfeitamente, há uma força inerente aos corpos organizados, que mantém coesas as personalidades celulares, sustentando-se dentro das particularidades de cada órgão, presidindo aos fenômenos partenogenéticos de sua evolução, substituindo, através da segmentação, quantas delas se consomem nas secreções glandulares, no trabalho mantenedor da atividade orgânica.

Essa força é o que denominais princípio vital, essência fundamental que regula a existência das células vivas, e no qual elas se banham constantemente, encontrando assim a sua necessária nutrição, força que se encontra esparsa por todos os escaninhos do universo orgânico, combinada às substâncias minerais, azotadas e ternárias, operando os atos nutritivos de todas as moléculas. O princípio vital é o agente entre o corpo espiritual, fonte de energia e da vontade, e a matéria passiva, inerente às faculdades superiores do Espírito, que o adapta segundo as forças cósmicas que constituem as leis físicas de cada plano de existência, proporcionando essa adaptação às suas necessidades intrínsecas.

Essa força ativa e regeneradora, de cujo enfraquecimento decorre a ausência de tônus vital, precursor da destruição orgânica, é simplesmente a ação criadora e plasmadora do corpo espiritual sobre os elementos físicos.

 

O SANTUÁRIO DA MEMÓRIA

O corpo espiritual não retém somente a prerrogativa de constituir a fonte da misteriosa força plástica da vida, a qual opera a oxidação orgânica; é também ele a sede das faculdades, dos sentimentos, da inteligência e, sobretudo o santuário da memória, em que o ser encontra os elementos comprobatórios da sua identidade, através de todas as mutações e transformações da matéria.

 

O PRODIGIOS ALQUIMISTA

Todas as células orgânicas renovam-se incessantemente; e como poderia a criatura conhecer-se entre essas continuadas transubstanciações? Para que se manifeste o pensamento – que desconhece as glândulas que o segregam, porquanto constitui a vibração do corpo espiritual dentro de sua profunda consciência – quantas células se consomem e se queimam?

O cérebro assemelha-se a complicado laboratório onde o espírito, prodigioso alquimista, efetua inimagináveis associações atômicas e moleculares, necessárias às exteriorizações inteligentes.

É ainda, pois, ao corpo espiritual que se deve a maravilha da memória, misteriosa chapa fotográfica, onde tudo se grava, sem que os menores coloridos das imagens se confundam entre si.

 

ALMA E CORPO

Tem-se procurado explicar, pela prática dos neurologistas, toda a classe de fenômenos intelectuais, através das ações combinadas do sistema nervoso; e, de fato, a Ciência atingiu certezas irrefutáveis, como, por exemplo, a de que uma lesão orgânica faz cessar a manifestação que lhe corresponde e que a destruição de uma rede nervosa faz desaparecer uma faculdade.

Semelhante asserto, porém, não afasta a verdade da influência de ordem espiritual e invisível, porque se faz mister compreender, não a alma insulada do corpo, mas ligada a esse corpo, o qual representa a sua forma objetivada, com um aglomerado de matérias imprescindíveis à sua condição de tangibilidade, animadas pela sua vontade e por seus atributos imortais.

Algumas escolas filosóficas fizeram da alma uma abstração, mas a psicologia moderna restabeleceu a verdade, unindo os elementos psíquicos aos materiais, reconhecendo no corpo a representação da alma, representação material necessária, segundo as leis físicas imperantes na Terra, as quais colocaram no sensório o limite das percepções humanas, que são exíguas em relação ao número ilimitado das vibrações da vida, que para elas se conservam inapreensíveis.

É, pois, o corpo espiritual a alma fisiológica, assimilando a matéria ao seu molde, à sua estrutura, a fim de materializar-se no mundo palpável. Sem ele, a fecundação constaria de uma composição amorfa e todas as manifestações inteligentes e sábias da Natureza, que para todos nós devem significar a expressão da vontade divina, constituiriam uma série de atos irregulares e incompreensíveis, sem objetivo determinado.

 

A EVOLUÇÃO INFINITA

E como se tem operado a evolução do corpo espiritual?

Remontai ao caos telúrico do vosso Globo nas épocas primárias.

Cessadas as perturbações geológicas, estabelecido o repouso em algumas grandes extensões de matéria resfriada, eis que, entre as forças cósmicas associadas, aparece o primeiro rudimento de vida organizada – o protoplasma. Eis que os séculos se escoam... eis as amebas, os zoófilos, os seres monstruosos das profundidades submarinas...Recapitulemos os milênios passados e acharemos a nossa própria história; a individualidade, o nosso “ego” constitui o nosso maior triunfo. E, chegados ao raciocínio e ao sentimento da Humanidade, através de vidas inumeráveis, teremos atingido o zênite da nossa evolução anímica? Não. Se nos achamos acima dos nossos semelhantes inferiores – os irracionais -, acima de nós se encontram os seres superiores da espiritualidade, que se hierarquizam ao infinito e cuja perfeição nos compete alcançar. 

 

 

Fonte: Livro “Emmanuel”  -  Psicografica Francisco Cândido Xavier - Autor Espiritual: Emmanuel

 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 05:15

Sexta-feira, 02 de Abril de 2010

Francisco de Paula Cândido Xavier reencarnou em Pedro Leopoldo, modesta cidade de Minas Gerais, em 2 de abril de 1910. Desde os 4 anos de idade o menino Chico Xavier teve a sua vida assinalada por singulares manifestações. Seu pai chegou, inclusive, a crer que o seu verdadeiro filho havia sido trocado por outro... Aquele seu filho era estranho! O garoto orava com extrema devoção, conforme lhe ensinara D. Maria João de Deus, a querida mãezinha, que o deixaria órfão aos 05 anos. Dentro de grandes conflitos e extremas dificuldades, o menino ia crescendo, sempre puro e sempre bom, incapaz de uma palavra obscena, de um gesto de desobediência. Tendo clarividência e clariaudiência intensas, mantinha contato direto com os espíritos amigos, sendo que conversava com a mãezinha desencarnada e ouvia vozes confortadoras. Na escola, sentia a presença delas, auxil iando-o nas tarefas habituais. O certo é que os seus primeiros anos o marcaram profundamente; ele nunca os esqueceu... A necessidade de trabalhar desde cedo para auxiliar nas despesas domésticas foi, em sua vida, conforme ele mesmo disse, "uma bênção indefinível".

Em 7 de maio de 1927 participou de sua primeira reunião espírita. Até 1931 recebeu muitas poesias e mensagens, várias das quais saíram a público, estampadas à revelia do médium em jornais e revistas, como de autoria de Francisco Xavier. Nesse mesmo ano, vê, pela primeira vez, o Espírito Emmanuel, seu inseparável mentor espiritual. Francisco Cândido Xavier - Chico Xavier - iniciou, publicamente, seu mandato mediúnico em 08 de julho de 1927, em Pedro Leopoldo. Contando 17 anos de idade, recebeu as primeiras páginas mediúnicas. Em noite memorável, os Espíritos deram início a um dos trabalhos mais belos de toda a história da humanidade. Dezessete folhas de papel foram preenchidas, celeremente, versando sobre os deveres do espírita-cristão.

Depoimento de Chico Xavier: (...) "Era uma noite quase gelada e os companheiros que se acomodavam junto à mesa me seguiram os movimentos do braço, curiosos e comovidos. A sala não era grande, mas, no começo da primeira transmissão de um comunicado do mais Além, por meu intermédio, senti-me fora de meu próprio corpo físico, embora junto dele. No entanto, ao passo que o mensageiro escrevia as dezessete páginas que nos dedicou, minha visão habitual experimentou significativa alteração. As paredes que nos limitavam o espaço desapareceram. O telhado como que se desfez e, fixando o olhar no alto, podia ver estrelas que tremeluziam no escuro da noite.

Entretanto, relanceando o olhar no ambiente, notei que toda uma assembléia de entidades amigas me fitavam com simpatia e bondade, em cuja expressão adivinhava, por telepatia espontânea, que me encorajavam em silêncio para o trabalho a ser realizado, sobretudo, animando-me para que nada receasse quanto ao caminho a percorrer."

Emmanuel, nos primórdios da mediunidade de Chico Xavier, deu-lhe duas orientações básicas para o trabalho que deveria desempenhar. Fora de qualquer uma delas, tudo seria malogrado. Eis a primeira. - "Está você realmente disposto a trabalhar na mediunidade com Jesus? - Sim, se os bons espíritos não me abandonarem... - respondeu o médium. - Não será você desamparado - disse-lhe Emmanuel - mas para isso é preciso que você trabalhe, estude e se esforce no bem. - E o senhor acha que eu estou em condições de aceitar o compromisso? - tornou o Chico. - Perfeitamente, desde que você procure respeitar os três pontos básicos para o Serviço... Porque o protetor se calasse o rapaz perguntou: - Qual é o primeiro? A resposta veio firme: - Disciplina. - E o segundo? - Disciplina. - E o terceiro? - Disciplina". A segunda mais importante orientação de Emmanuel para o médium é assim relembrada: - "Lembro-me de que num dos primeiros contatos comigo, ele me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec e, disse mais, que, se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e de Kardec, que eu devia permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo".

Em 1932 a FEB (Federação Espírita Brasileira) publicou seu primeiro livro, o famoso "Parnaso de Além-Túmulo"; hoje, as obras que psicografou vão a mais de 400. Várias delas estão traduzidas e publicadas em castelhano, esperanto, francês, inglês, japonês, grego, etc. De moral ilibada, realmente humilde e simples, Chico Xavier jamais auferiu vantagens, de qualquer espécie. Sua vida privada e pública tem sido objeto de toda especulação possível, na informação falada, escrita e televisionada. Críticas ferinas têm-no colhido de miúdo, sabendo suportá-las com verdadeiro espírita, ou seja, como verdadeiro cristão. Viajou com o médium Waldo Vieira aos Estados Unidos e à Europa, onde visitaram a Inglaterra, a França, a Itália, a Espanha e Portugal, sempre a serviço da Doutrina Espírita.

Chico Xavier é uma figura de projeção nacional e internacional; suas entrevistas despertaram a atenção de milhares de pessoas, mesmo alheias ao Espiritismo; apareceu em programas de TV, respondendo a perguntas as mais diversas, orientando as respostas pelos postulados espíritas. Recebeu o título de Cidadão Honorário de várias cidades, dentre elas, São José do Rio Preto, São Bernardo do Campo, Franca, Campinas, Santos, Catanduva, todas no Estado de São Paulo; Uberlândia, Araguari e Belo Horizonte, em Minas Gerais; Campos, no Estado do Rio de Janeiro, etc. Dos livros que psicografou já se venderam mais de 12 milhões de exemplares, só dos editados pela FEB, em número de 88.

"Parnaso de Além-Túmulo", a primeira obra publicada em 1932, provocou e comprovou a questão da identificação das produções mediúnicas, pelo pronunciamento espontâneo dos críticos, tais como Humberto de Campos, ainda encarnado na época, Agripino Grieco, severo crítico literário de renome nacional, Zeferino Brasil, poeta gaúcho, Edmundo Lys, cronista, Garcia Júnior, etc.

Prefaciando "Parnaso de Além-Túmulo", escreveu Manuel Quintão: "Romantismo, Condoreirismo, Parnasianismo, Simbolismo, aí se ostentam em louçanias de sons e de cores, para afirmar não mais subjetiva, mas objetivamente, a sobrevivência de seus intérpretes. É ler Casimiro e reviver 'Primaveras'; é recitar Castro Alves e sentir 'Espumas Flutuantes'; é declamar Junqueiro e lembrar a 'Morte de D. João'; é frasear Augusto dos Anjos e evocar 'Eu'".

Romances históricos formam a série Romana, de Emmanuel, composta de: "Há 2000 Anos...", "50 Anos Depois", "Ave, Cristo!", "Paulo e Estevão", provocando a elaboração do "Vocabulário Histórico-Geográfico dos Romances de Emmanuel", de Roberto Macedo, estudo elucidativo dos eventos históricos citados nas obras. "Há 2000 Anos..." é o relato da encarnação de Emmanuel à época de Jesus.

O festejado escritor brasileiro Humberto de Campos, desencarnado em 1934, iniciou, em espírito, a transmissão de várias obras de crônicas e reportagens pela mediunidade de Chico Xavier, todas editadas pela Federação Espírita Brasileira, dentre as quais cita-se "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", de 1938, o qual narra a história de nossa pátria e dos fatos e ela ligados em dimensão espiritual .

A série do espírito André Luiz é reveladora, doutrinária e científica; com obras notáveis no tocante à vida depois da desencarnação, a série nos traz: "Nosso Lar", "Os Mensageiros", "Missionários da Luz", "Obreiros da Vida Eterna", "No Mundo Maior", "Agenda Cristã", "Libertação", "Entre a Terra e o Céu", "Nos Domínios da Mediunidade", "Ação e Reação", "Evolução em dois Mundos", "Mecanismos da Mediunidade", "Conduta Espírita", "Sexo e Destino", "Desobsessão", "E a Vida Continua...".

De parceria com o médium Waldo Vieira, Chico Xavier psicografou 17 obras. A extraordinária capacidade mediúnica de Chico Xavier está comprovada pela grande quantidade de autores espirituais, da mais elevada categoria, que por seu intermédio se manifestaram. Vários de seus livros foram adaptados para encenação no palco e sob a forma de radionovelas e telenovelas. O dom mediúnico mais conhecido de Francisco Xavier é a psicografia Não é, todavia, o único. Ele manifestava e exercitava constantemente, na Terra, outras mediunidades, tais como: psicofonia, vidência, audiência, e outras.

Sua vida, verdadeiramente apostolar, dedicou-a, o médium, aos sofredores e necessitados, provindos de longínquos lugares, e também aos afazeres medianeiros, pelos quais não aceita, em absoluto, qualquer espécie de paga. Os direitos autorais ele os tem cedido graciosamente a várias Editoras e Casas Espíritas, desde o primeiro livro.

Sua vida e sua obra têm sido objeto de numerosas entrevistas radiofônicas e televisadas, e de comentários em jornais e revistas, espíritas ou não, e em livros dos quais podemos citar: o opúsculo intitulado "Pinga-Fogo, Entrevistas", obra publicada pelo Instituto de Difusão Espírita, de Araras; "Trinta Anos com Chico Xavier", de Clóvis Tavares; "No Mundo de Chico Xavier", de Elias Barbosa; "Lindos Casos de Chico Xavier", de Ramiro Gama; "40 Anos no Mundo da Mediunidade", de Roque Jacinto; "A Psicografia ante os Tribunais", de Miguel Timponi; "Amor e Sabedoria de Emmanuel", de Clóvis Tavares; "Presença de Chico Xavier", de Elias Barbosa; "Chico Xavier Pede Licença", de Irmão Saulo, pseudônimo de Herculano Pires; "Nosso Amigo Xavier", de Luciano Napoleão; "Chico Xavier, o Santo dos Nossos Dias" e "O Prisioneiro de Cristo", de R. A. Ranieri; "Chico Xavier - Mandato de Amor", da U.E.M.; "As Vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior, dentre outros.

Eis então quando, em 1944, a viúva de Humberto de Campos ingressa em juízo, movendo um processo, que se torna célebre, contra a Federação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier, no sentido de obter uma declaração, por sentença, de que essa obra mediúnica "é ou não do ‘Espírito’ de Humberto de Campos", e que em caso afirmativo, se apliquem as sanções previstas em Lei.

O assunto causou muita polêmica e, durante um bom tempo, ocupou espaço nos principais periódicos do País. Para que tenhamos uma idéia do que representou o referido processo na divulgação dos postulados espíritas, resumimos aqui alguns dos principais depoimentos da época extraídos da obra do Dr. Miguel Timponi, o principal advogado que trabalhou na defesa do médium e da FEB. Antes, porém, sintamos a beleza das palavras a seguir, enfeixadas no livro A Psicografia ante os Tribunais:

"Entretanto, lá do Nordeste, desse Nordeste de encantamentos e de mistérios, a voz cheia de ternura e de emoção, de uma velhinha santificada pela dor e pelo sofrimento, D. Ana de Campos Veras, extremosa mãe do querido e popular escritor, rompeu o silêncio para ofertar ao médium de Pedro Leopoldo a fotografia do seu próprio filho, com esta expressiva dedicatória: 'Ao Prezado Sr. Francisco Xavier, dedicado intérprete espiritual do meu saudoso Humberto, ofereço com muito afeto esta fotografia, como prova de amizade e gratidão.
Conforme se vê da edição de 'O Globo' de 19 de julho de 1944, essa exma. senhora confirma que o estilo é do seu filho e assegura ao redator de 'O Povo' e 'Press Parga': "- Realmente - disse dona Ana Campos - li emocionada as Crônicas de Além-Túmulo, e verifiquei que o estilo é o mesmo de meu filho. Não tenho dúvidas em afirmar isso e não conheço nenhuma explicação científica para esclarecer esse mistério, principalmente se considerarmos que Francisco Xavier é um cidadão de conhecimentos medíocres. Onde a fraude? Na hipótese de o Tribunal reconhecer aquela obra como realmente da autoria de Humberto, é claro que, por justiça, os direitos autorais venham a pertencer à família. No caso, porém, de os juízes decidirem em contrário, acho que os intelectuais patriotas fariam ato de justiça aceitando Francisco Cândido Xavier na Academia Brasileira de Letras... Só um homem muito inteligente, muito culto, e de fino talento literário, poderia ter escrito essa produção, tão identificada c om a de meu filho."

Na noite de 15 de julho de 1944, quando o processo atingia o clímax, o Espírito Humberto de Campos retorna pelo lápis do médium Chico Xavier, tecendo, no seu estilo inconfundível, uma belíssima e emocionante página sobre o triste problema levantado pela incompreensão humana, página que pode ser devidamente apreciada no livro "A Psicografia ante os Tribunais". Daí por diante, ele passou a assinar-se, simplesmente, Irmão X, versão evangelizada do Conselheiro XX, como era conhecido nos meios literários quando encarnado.
A Autora, D. Catarina Vergolino de Campos, foi julgada carecedora da ação proposta, por sentença de 23 de agosto de 1944, do Dr. João Frederico Mourão Russell, juiz de Direito em exercício na 8ª Vara Cível do antigo Distrito Federal.

Tendo ela recorrido dessa sentença, o Tribunal de Apelação do antigo DF manteve-a por seus jurídicos fundamentos, tendo sido relator o saudoso ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa. E Chico continuou trabalhando incessantemente para Jesus!
Depoimento de Chico Xavier: "(...) Deus nos permita a satisfação de continuar sempre trabalhando na Grande Causa d'Ele, Nosso Senhor e Mestre. Desde criança, a figura do Cristo me impressiona. Ao perder minha mãe, aos cinco janeiros de idade, conforme os próprios ensinamentos dela, acreditei n'Ele, na certeza de que Ele me sustentaria. Conduzido a uma casa estranha, na qual conheceria muitas dificuldades para continuar vivendo, lembrava-me d'Ele, na convicção de que Ele era um amigo poderoso e compassivo que me enviaria recursos de resistência e ao ver minha mãe desencarnada pela primeira vez, com o cérebro infantil sem qualquer conhecimento dos conflitos religiosos que dividem a Humanidade, pedi a ela me abençoasse segundo o nosso hábito em família e lembro-me perfeitamente de que perguntei a ela: - Mamãe, foi Jesus que mandou a senhora nos buscar? Ela sorriu e respondeu: - Foi sim, mas Jesus deseja que vocês, os meus filhos espalhados, ainda fiquem me esperando... Aceitei o que ela dizia, embora chorasse, porque a referência a Jesus me tranqüilizava. Quando meu pai se casou pela segunda vez e a minha segunda mãe mandou me buscar para junto dela, notando-lhe a bondade natural, indaguei: - Foi Jesus quem enviou a senhora para nos reunir? Ela me disse: - Chico, isso não sei... Mas minha fé era tamanha que respondi: - Foi Ele sim... Minha mãe, quando me aparece, sempre me fala que Ele mandaria alguém nos buscar para a nossa casa. E Jesus sempre esteve e está em minhas lembranças como um Protetor Poderoso e Bom, não desaparecido, não longe, mas sempre perto, não indiferente aos nossos obstáculos humanos, e sim cada vez mais atuante e mais vivo".

Neste ínterim, não se pode negar o sentimento de veneração que envolve a nobre figura de Ismael, guia espiritual do Brasil enviado por Jesus. A responsabilidade que detém, na condição de mentor da Federação Espírita Brasileira suscita, da parte da comunidade espírita nacional, um profundo respeito, aliado a um imenso carinho e uma suave ternura. Certa vez, indagaram a Chico Xavier: - Como se processam os encontros, nas esferas resplandecentes da Espiritualidade, de Emmanuel com Ismael? Qual a postura do admirável Espírito do ex-senador romano, diante da também luminosa entidade a quem confiou Jesus os destinos do Brasil? Resposta do médium, curta, serena e firme: De joelhos!

Chico Xavier cursou somente o primário e, posteriormente, foi caixeiro de armazém e modesto funcionário público, aposentado em 1958. A partir de 1959 passou a residir em Uberaba (Minas Gerais)."A bibliografia mediúnica, que foi acrescida à literatura espírita, nestes últimos cinqüenta anos, nascida do lápis de Chico Xavier - e o espaço não nos permite, sequer, considerações ligeiras sobre suas páginas -, é vultosa, considerável. É qualitativamente admirável. Poderíamos, sem dificuldade, num exame sereno e com absoluta isenção, dividir a obra mediúnica, orientada por Emmanuel, igualmente em fases perfeitamente delineadas, dentro de duas grandes divisões: a primeira, provando a sobrevivência e a imortalidade do espírito - 'Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho' - seguida de uma panorâmica da História universal - 'A Caminho da Luz' e de alguns manuais do maior valor: 'Emmanuel, Dissertações Mediúnicas', 'O Consolador', 'Roteiro', etc. Enfim, muitos estudos interessantes e instrutivos virão, a seu tempo. E a obra de Francisco Cândido Xavier, criteriosamente traduzida, estará, tempestivamente, à disposição dos leitores do mundo inteiro, juntamente com a de Allan Kardec e da dos autores que cuidaram dos escritos subsidiários e complementares da Codificação. Mas, enquanto isso, e para que tudo ocorra com a tranqüilidade que se almeja na difusão conscienciosa e responsável da Doutrina dos Espíritos, seria de bom alvitre não perder de vista o fato de que Chico Xavier jamais teria obtido êxito, como instrumento do Alto, se não tivesse seguido a rígida disciplina que lhe foi sugerida por Emmanuel, testemunhando e permanecendo na exemplificação do amor ao próximo e do amor a Deus, vivendo o Evangelho". Francisco Thiesen, então Presidente da Federação Espírita Brasileira
"...Não me considero à altura para escrever algo sobre o Chico. Dele, dão testemunho (e que testemunho!) as belas obras que semeou e semeia por esse Brasil afora, com reflexos benéficos em diversas nações do mundo. E quando digo 'obras', refiro-me não só à palavra escrita e falada, como também aos seus exemplos de caridade, de perdão, de fé, de humildade, aos seus diálogos fraternos e frutíferos, enfim, à sua multiforme vivência evangélica junto a pobres e ricos, num trabalho diário de edificação e levantamento de espíritos."
"Conheço o Chico há bastante tempo. Nos seus livros mediúnicos encontrei forças, luz e paz, e através de suas cartas pude sentí-lo e amá-lo bem no fundo do seu ser. Por várias vezes chorei com suas preocupações e sua dor, vivendo-lhe as graves responsabilidades e lamentando a incompreensão dos homens.

Mas sempre orei pedindo ao Senhor que não lhe tirasse o pesado fardo dos ombros e, sim, que o ajudasse a carregá-lo. Graças a Deus, o nosso caro Chico tem vencido todas as dificuldades e todos os óbices do caminho, numa maratona hercúlea que realmente o dignifica aos olhos dos homens e aos olhos do Pai." Quando fez 40 anos de mediunidade, Chico disse: "Estes quarenta anos de mediunidade passaram para o meu coração como se fossem um sonho bom. Foram quarenta anos de muita alegria, em cujos caminhos, feitos de minutos e de horas, de dias, só encontrei benefícios, felicidades, esperanças, otimismo, encorajamento da parte de todos aqueles que o Senhor me concedeu, dos familiares, irmãos, amigos e companheiros. Quarenta anos de felicidade que agradeço a Deus em vossos corações, porque sinto que Deus me concedeu nos vossos corações, que representam outros muitos corações que estão ausentes de nós. Agora, sinto que Deus me concedeu por vosso intermédio uma vida tocada de alegrias e bênçãos, como eu não poderia receber em nenhum outro setor de trabalho na Humanidade. Beijo-vos, assim, as mãos, os corações.

Quanto ao livro, devo dizer que, certa feita, há muitos anos, procurando o contato com o Espírito de nosso benfeitor Emmanuel, ao pé de uma velha represa, na terra que me deu berço na presente encarnação, muitas vezes chegava ao sítio, pela manhã, antes do amanhecer. E quando o dia vinha de novo, fosse com sol, fosse com chuva, lá estava, não muito longe de mim, um pequeno charco. Esse charco, pouco a pouco se encheu de flores, pela misericórdia de Deus, naturalmente. E muitas almas boas, corações queridos, que passavam pelo mesmo caminho em que nós orávamos, colhiam essas flores, e as levavam consigo com transporte de alegria e encantamento. Enquanto que o charco era sempre o mesmo charco. Naturalmente, esperando também pela misericórdia de Deus, para se transformar em terra proveitosa e mais útil. Creio que nesses momentos, em que ouço as palavras desses corações maravilhosos, que usaram o verbo para comentar o aparecimento desses cem livros, agora cento e dois livros, lemb ro este quadro que nunca me saiu da memória, para declararvos que me sinto na condição do charco que, pela misericórdia de Deus, um dia recebeu essas flores que são os livros, e que pertencem muito mais a vós outros do que a mim. Rogo, assim, a todos os companheiros, que me ajudem através da oração, para que a luta natural da vida possa drenar a terra pantanosa que ainda sou, na intimidade do meu coração, para que eu possa um dia servir a Deus, de conformidade com os deveres que a Sua infinita misericórdia me traçou. E peço, então, permissão, em sinal de agradecimento, já que não tenho palavras para exprimir a minha gratidão. Peço-vos, a todos, licença para encerrar a minha palavra despretensiosa, com a oração que Nosso Senhor Jesus Cristo nos legou".

Na tarefa mediúnica: "Pergunta - Em seu primeiro encontro com Emmanuel, ele enfatizou muito a disciplina. Teria falado algo mais? Resposta - Depois de haver salientado a disciplina como elemento indispensável a uma boa tarefa mediúnica, ele me disse: 'Temos algo a realizar.' Repliquei de minha parte qual seria esse algo e o benfeitor esclareceu: 'Trinta livros pra começar!' Considerei, então: como avaliar esta informação se somos uma família sem maiores recursos, além do nosso próprio trabalho diário, e a publicação de um livro demanda tanto dinheiro!... Já que meu pai lidava com bilhetes de loteria, eu acrescentei: será que meu pai vai tirar a sorte grande? Emmanuel respondeu: 'Nada, nada disso. A maior sorte grande é a do trabalho com a fé viva na Providência de Deus. Os livros chegarão através de caminhos inesperados!'
Algum tempo depois, enviando as poesias de 'Parnaso de Além-Túmulo" para um dos diretores da Federação Espírita Brasileira, tive a grata surpresa de ver o livro aceito e publicado, em 1932. A este livro seguiram-se outros e, em 1947, atingimos a marca dos 30 livros.

Ficamos muito contentes e perguntei ao amigo espiritual se a tarefa estava terminada. Ele, então, considerou, sorrindo: 'Agora, começaremos uma nova série de trinta volumes!' Em 1958, indaguei-lhe novamente se o trabalho finalizara. Os 60 livros estavam publicados e eu me encontrava quase de mudança para a cidade de Uberaba, onde cheguei a 5 de janeiro de 1959. O grande benfeitor explicou-me, com paciência: 'Você perguntou, em Pedro Leopoldo, se a nossa tarefa estava completa e quero informar a você que os mentores da Vida Maior, perante os quais devo também estar disciplinado, me advertiram que nos cabe chegar ao limite de cem livros.' Fiquei muito admirado e as tarefas prosseguiram. Quando alcançamos o número de 100 volumes publicados, voltei a consultá-lo sobre o termo de nossos compromissos. Ele esclareceu, com bondade: 'Você não deve pensar em agir e trabalhar com tanta pressa. Agora, estou na obrigação de dizer a você que os mentores da Vida Superior, que nos orientam, expediram certa instrução que determina seja a sua atual reencarnação desapropriada, em benefício da divulgação dos princípios espíritas-cristãos, permanecendo a sua existência, do ponto de vista físico, à disposição das entidades espirituais que possam colaborar na execução das mensagens e livros, enquanto o seu corpo se mostre apto para as nossas atividades.'

Muito desapontado, perguntei: então devo trabalhar na recepção de mensagens e livros do mundo espiritual até o fim da minha vida atual? Emmanuel acentuou: 'Sim, não temos outra alternativa!' Naturalmente, impressionado com o que ele dizia, voltei a interrogar: e se eu não quiser, já que a Doutrina Espírita ensina que somos portadores do livre-arbítrio para decidir sobre os nossos próprios caminhos? Emmanuel, então, deu um sorriso de benevolência paternal e me cientificou: 'A instrução a que me refiro é semelhante a um decreto de desapropriação, quando lançado por autoridade na Terra. Se você recusar o serviço a que me reporto, segundo creio, os orientadores dessa obra de nos dedicarmos ao Cristianismo Redivivo, de certo que eles terão autoridade bastante para retirar você de seu atual corpo físico!' Quando eu ouvi sua declaração, silenciei para pensar na gravidade do assunto, e continuo trabalhando, sem a menor expectativa de interromper ou dificultar o que passei a chamar de 'Desígnios de Cima.' "

Em 1997, Chico Xavier completou 70 anos de incessante atividade mediúnica, da maior significação espiritual, em prol da Humanidade, abrangendo seus mais diversos segmentos. Psicografou mais de 400 (quatrocentas) obras mediúnicas, de centenas de autores espirituais, abarcando os mais diversos e diferentes assuntos, entre poesias, romances, contos, crônicas, história geral e do Brasil, ciência, religião, filosofia, literatura.

Dias e noites foram por ele ofertados aos seus semelhantes, com sacrifício da própria saúde. Problemas orgânicos acompanharam-lhe a mocidade e a madureza. Cabe observar que as doenças oculares a as intervenções cirúrgicas jamais o impediram de cumprir, fiel e dignamente, sua missão de amparo aos necessitados. Sua postura é uma só, obedeceu e obedece a uma só diretriz: amor ao próximo, desinteresse ante os bens materiais, preocupação exclusiva e constante com a felicidade do próximo.

Ricos e pobres, velhos e crianças, homens e mulheres de todos os níveis sociais têm encontrado, no homem e no médium Chico Xavier, tudo quanto necessitam para o reajuste interior, para o crescimento, em função do conhecimento e da bondade. Francisco Cândido Xavier é um presente do Alto ao século XX, enriquecendo-lhe os valores com a sua vida de exemplar cidadão, com milhares de mensagens psicográficas que, em catadupas de paz e luz, amor e esclarecimento, vêm fertilizando o solo planetário, sob a luminar supervisão do Espírito Emmanuel.

Chico desencarnou em 30 / 06 / 2002. Antes, porém, deitado, perguntou a um amigo se a seleção brasileira de futebol havia ganhado a copa do mundo. Tendo uma resposta afirmativa, Chico disse algo do tipo: "agora que todos estão alegres com a vitória do Brasil, eu posso ir em paz porque, neste momento de festa, ninguém vai ficar triste com a minha desencarnação". Novamente Chico, mesmo fisicamente enfermo, preocupava-se com o bem estar do próximo. Logo após teve uma parada cardíaca e, assim, voltou ao Mundo Espiritual, no qual foi recebido por Jesus.

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 02:42


Autor: Victor Hugo (espírito)

Quando o obscurantismo da fé dominava as mentes, levando-as ao fanatismo desestruturador da dignidade e do comportamento; quando a cultura, enlouquecida pelas suas conquistas no campo da ciência de laboratório, proclamava a desnecessidade de qualquer preocupação com Deus e com a alma, face à fragilidade com que se apresentavam no proscênio do mundo; quando a filosofia divagava pelas múltiplas escolas do pensamento, cada qual mais arrebatadora e irresponsável, inculcando-se como portadora da verdade que liberta o ser humano de todos os atavismos e limitações; quando a arte rompia as ligações com o clássico, o romântico e a beleza convencional, para expressar-se em formulações modernistas, impressionistas, abstracionistas, traduzindo, ora a angústia da sua geração remanescente dos atavismos e limitações do passado, ora a ansiedade por diferentes paradigmas de afirmação da realidade; quando se tornavam necessários diversos comportamentos sociais e políticos para amenizar a desgraça moral e econômica que avassalava a Humanidade; quando a religião perdia o controle sobre as consciências e tentava rearticular-se para prosseguir com os métodos medievais ultramontanos e insuportáveis; quando as luzes e as sombras se alternavam na civilização, surgiu o Espiritismo com a sua razão de ser para promover o homem e a mulher, a vida e a imortalidade, o amor e o bem a níveis dantes jamais alcançados.



Realizando uma revolução silenciosa como poucas jamais ocorridas na História, tornou-se poderosa alavanca para o soerguimento do ser humano, retirando-o do caos do materialismo a que se arrojara ou fora atirado sem a menor consideração, para que adquirisse a dignidade ética e cultural, fundamentada na identificação dos valores morais, indispensável para a identificação dos objetivos essenciais e insuperáveis da paz interna e da consciência de si mesmo durante o trânsito corporal.



Logo depois, no Collège de France, proclamando ser Jesus um homem incomparável, no seu memorável discurso, o acadêmico e imortal Ernesto Renan confirmava, a seu turno, embora sem qualquer contato com a Doutrina nascente, a humanidade do Rabi galileu, rompendo a tradição dogmática do Homem Deus ou do ancestral Deus feito homem.



Sob a ação do escopro inexorável das informações de além-túmulo, o decantado repouso ou punição eterna, o arbitrário julgamento mais punitivo que justiceiro, cediam lugar à consciência da vida exuberante que prossegue morte afora impondo a cada qual a responsabilidade pela conduta mantida durante a trajetória encerrada.



As narrações da sobrevivência tocadas pela legitimidade dos fatos fundamentadas na lógica da indestrutibilidade do ser espiritual, davam colorido diferente às paisagens da Eternidade, diluindo as fantasias e mitos que as adornaram por diversos milênios.



Permitiu que o ser humano se redescobrisse como Espírito imortal que é, preexistente ao berço e sobrevivente ao túmulo, facultando-lhe compreender a finalidade existencial, que é imergir no oceano do inconsciente, onde dormem os atos pretéritos e as construções que projetam diretrizes para o momento e o futuro, a fim de diluir as volumosas barreiras de sombra e de crueldade a que se entregou e que lhe obnubila a compreensão da sua realidade, emergindo em triunfo, para que lobrigue a imarcescível luz da verdade que o há de conduzir pelos infinitos roteiros do porvir.



Intoxicado pelos vapores da organização fisiológica, mergulhado em sombras que lhe impedem o discernimento, vagando pelos dédalos intérminos da busca da realidade, somente ao preço da fé raciocinada e lógica, portadora dos instrumentos que se derivam dos fatos constatados, o homem e a mulher podem avançar com destemor pelas trilhas dos sofrimentos inevitáveis, que são inerentes à sua condição de humanidade, vislumbrando níveis mais nobres que devem ser conquistados.



O Espiritismo traçou novos programas para a compreensão da vida e a mais eficaz

maneira de enfrentá-la, desafiando o materialismo no seu reduto e os materialistas no seu cepticismo, oferecendo-lhes mais seguras propostas de comportamento para a felicidade ante as vicissitudes do processo existencial.



Não se compadecendo da presunção dos vazios de sentimento e soberbos de conhecimentos em ebulição de idéias, demonstrou a sua força arrastando desesperados que foram confortados, violentos que se acalmaram, alucinados que recuperaram a razão, delinqüentes que volveram ao culto do dever, perversos que se transformaram, ateus que fizeram as pazes com Deus, ingratos que se reabilitaram perante os seus benfeitores, miseráveis morais que se enriqueceram de esperança e de alegria de viver, construindo juntos o mundo de bem-estar por todos anelado.



O Espiritismo trouxe a perfeita mensagem da justiça divina, por enquanto mal traduzida pela consciência humana, contribuindo para a transformação da sociedade, mas sem a revolução sangrenta das paixões em predomínio, que sempre impõe uma classe poderosa sobre as outras que são debilitadas à medida que vão sendo extorquidos os seus parcos recursos até a exaustão das suas forças, quando novas revoluções do mesmo gênero explodem, produzindo desgraça e ódios que nunca terminam . . .



Trabalhando a transformação moral do indivíduo, propõe-lhe o comportamento solidário e fraternal, a aplicação da justiça corretiva e reeducativa quando delinqüi, conscientizando-o de que as suas ações serão também os seus juízes e que não fugirá de si mesmo onde quer que vá.



Todo esse contributo moral foi retirado do Evangelho de Jesus, especialmente do Seu Sermão da montanha, no qual reformulou os valores humanos até então aceitos, demonstrando que forte não é o vencedor de fora, mas aquele que se vence a si mesmo, e poderoso, no seu sentido profundo, não é aquele que mata corpos, mas não é capaz de evitar a própria morte.



Revolucionando o pensamento ético e abrindo espaço para novo comportamento filosófico, a Sua palavra vibrante e a Sua vivência inigualável, colocaram as pedras básicas para o Espiritismo no futuro alicerçar, conforme ocorreu, os seus postulados morais através da ética do amor sob qualquer ponto de vista considerado.



Nos acampamentos de lutas que se estabeleciam no Século XIX, quando a ciência e a razão enfrentavam a fé cega e a prepotência das Academias e dos seus membros fascinados como Narciso por si mesmo, o Espiritismo surgiu como débil claridade na noite das ambições perturbadoras e lentamente se afirmou como amanhecer de um novo dia para a Humanidade já cansada de aberrações de conduta como fugas da realidade e sonhos de poder transitório, transformados em pesadelos de guerras infames, cujas seqüelas ainda se demoram trucidando vidas e dilacerando sentimentos.



A razão de ser do Espiritismo encontra-se na sua estrutura doutrinária, diversificada nos seus aspectos de investigação científica ao lado das demais correntes da ciência, do comportamento filosófico com a sua escola otimista e realista para o enfrentamento do ser consigo mesmo e da vivência ético-moral-religiosa que se estrutura em Deus, na imortalidade, na justiça divina, na oração, na ação do bem e sobretudo do amor, única psicoterapia preventiva-curativa à disposição da Humanidade atual e do futuro.



(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 7 de junho de 2001, em Paris, França)


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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 01:30

Quinta-feira, 01 de Abril de 2010

Autor: Rodolfo Calligares

São Inumeráveis os Fatos narrados na Bíblia cuja ação se atribui a Espíritos bons (anjos) ou a Espíritos maus (demônios).

O Livro de Tobias, que não aparece nas edições populares, mas consta da Bíblia oficial católica romana, relata o caso da materialização de um Espírito superior, o anjo Rafael, e sua manifestação ostensiva, qual se fora um homem como nós, em episódios que se prolongaram por muitos dias. Esse anjo, interrogado sobre sua identidade, informou ser "um dos filhos de Israel" e, à pergunta de Tobias: "de que família ou de que tribo és tu?", respondeu: "eu sou Azarias, filho do grande Ananias" (Cap. 5, vv. 7, 16, 18).

O Evangelho de Marcos relata que um homem se chegou a Jesus, dizendo-lhe:

"Mestre, eu te trouxe meu filho possuído de um espírito mudo, o qual, onde quer que o apanha, lança-o por terra, e o moço deita espuma pela boca, e range com os dentes, e vai-se mirrando. Trazei-mo, disse Jesus. Trouxeram-lhe então, e ainda bem ele não tinha visto Jesus, quando logo o espírito imundo começou a agitá-lo com violência, até que caiu por terra, onde se revolvia, babando-se todo.

Perguntou Jesus ao pai dele: Quanto tempo faz que lhe sucede isto?

E ele disse: Desde a infância. O demônio o tem lançado muitas vezes no fogo, e muitas na água, para o matar; porém, se tu podes alguma coisa, ajuda-nos, tem compaixão de nós.

Disse-lhe pois Jesus: Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê.

Imediatamente o pai do moço, gritando, dizia com lágrimas: Sim, Senhor, eu creio, ajuda a minha incredulidade.

E Jesus, vendo que o povo concorria,

ameaçou o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito surdo e mudo, eu te mando, sai desse moço e não tornes a entrar nele" (Cap. 9, vv. 17-25).

Tendo ficado claro, através dos textos acima, que "anjo" e "demônio" são designações equivalentes a "Espírito bom"

e "Espírito mau", podem os leitores verificar, por si mesmos, quanto são abundantes os fenômenos espiríticos registrados nas Sagradas Escrituras.

Eis mais alguns, que oferecemos à consideração dos que não disponham de tempo para uma busca demorada:

David afastava, por meio de música, o Espírito maligno que atormentava o rei Saul (I Samuel, 16: 14 e 23).

Este mesmo Saul, servindo-se da pitonisa de Endor, faz evocar o espírito de Samuel, o qual se manifesta e lhe prediz a morte no dia seguinte, o que de fato sucedeu (I Samuel, cap. 28: 7 a 19).

Elifas refere a Jó: "...e ao passar diante de mim um Espírito, os cabelos de minha carne se arrepiaram" (Jó, 4:15).

O rei da Babilônia vê a mão materializada de um Espírito a escrever na parede (Daniel, 5:5).

O profeta Elias recebe alimentos colocados ao seu lado, no deserto, por um anjo ou espírito do Senhor (I Reis, 19:5 a 7).

O rei Jorão recebe uma comunicação, escrita pelo espírito deste profeta (II Crônicas, 21:12).

Na noite anterior ao combate com Nicanor, Judas Macabeu tem uma visão em que lhe aparecem o sacerdote Onias e o profeta Jeremias, de há muito falecidos. Jeremias ofertou uma espada a Judas e predisse-lhe a vitória. Encorajados pelo relato da visão, os judeus combateram intrepidamente e derrotaram o inimigo (II Macabeus, cap. 15).

Moisés e Elias aparecem a Jesus e falam com ele (Mat., 17:3).

No dia de Pentecostes, achando-se os

apóstolos reunidos, viu-se descer sobre eles algo semelhante a línguas de fogo, e começaram a falar em várias línguas. Isto deu azo a que alguns dos circunstantes, supondo-os embriagados, escarnecessem deles. Pedro, então, tomando a palavra, esclarece: "Isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que eu derramarei do meu espírito sobre toda a carne, e profetizarão vossos filhos e vossas filhas, e os vossos mancebos verão visões, e os vossos anciãos sonharão sonhos. E certamente naqueles dias derramarei do meu espírito sobre os meus servos e sobre as minhas servas, e profetizarão" (Atos, 2: 1-18).

O Espírito de um macedônio aparece ao apóstolo Paulo, e roga-lhe que ajude seus concidadãos (Atos, 16:9).

Este mesmo apóstolo, falando ao rei Agripa, assim lhe descreve como foi chamado ao ministério cristão:

"Ao meio dia, vi, ó rei, no caminho uma luz do céu, que excedia o resplendor do sol, a qual me cercou a mim, e aos que iam comigo. E como todos nós caíssemos por terra, ouvi uma voz que me dizia em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que me

persegues? dura coisa te é recalcitrar contra o aguilhão.

Então disse eu: Quem és tu, Senhor?

E o Senhor me respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Mas levanta-te e põe-te em pé; porque eu por isso te apareci, para te fazer ministro e testemunha das coisas que viste, e de outras que te hei de mostrar em minhas aparições" (Atos, 26: 13-16).

Diante disto, afirmar-se que o Espiritismo não encontra apoio na Bíblia é o mesmo que pretender "tapar o sol com uma peneira".

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 04:27

Autor: Gabriel Delanne

O vocábulo “ideoplastia” foi criado pelo Dr. Durand de Gros, em 1860, para designar os principais caracteres da sugestibilidade.

Mais tarde, em 1864, o Dr. Ochorowicz o empregou para designar os efeitos da sugestão e da auto sugestão, quando ela faculta a realização fisiológica de uma idéia, como se dá nos casos da estigmatização.

Finalmente, o professor Richet o propôs, quando das duas experiências com as senhoritas Linda Gazera e Eva C. . . (1912, 1914), cujas experiências demonstraram, de feição nítida e incontestável, a realidade da materialização de semblantes humanos, que eram, por sua vez, reproduções objetivadas e plásticas de retratos e desenhos vistos pelos médiuns.

Claro é que, desses fatos, dever-se-ia logicamente inferir que a matéria viva exteriorizada é plasmada pela idéia.

E aí está a exata significação do termo “Ideoplastia” aplicado aos fenômenos de materialização mediúnica.

O Espiritismo não inventou nada. Todos os seus ensinos, repousam nos conhecimentos que adquiriu na comunicação com os Espíritos, e é para seus adeptos inigualável alegria ver como cada ponto da doutrina se confirma, à medida que se vai estendendo o inquérito, começado há meio século. Cada passo à frente, dado pela investigação independente, conduz fatalmente para nós. Outrora, era a negação total, obstinada, absoluta das manifestações espíritas, sob todas as suas formas, desde os simples movimentos de mesa e escrita automática até os transportes e as materializações. Em nossos dias, só os tardígrados, os ignorantes, é que contestam, ainda, a realidade dos fatos.

Em virtude da lei do progresso que dá a toda alma a possibilidade de adquirir o bem que lhe falta, como, despojar-se do que tem de mau, conforme o esforço e a vontade próprios, temos que o futuro é franco a todas as criaturas. Deus não repudia nenhum de seus filhos, antes recebe-os em Seu seio à medida que atingem a perfeição, deixando a cada qual o mérito das suas obras.

O Espiritismo, tendo por objetivo o estudo de um dos elementos constitutivos do Universo, toca forçosamente na maior parte das ciências; só podia, portanto, vir depois da elaboração delas; nasceu pela força mesma das coisas, pela impossibilidade de tudo se explicar com o auxílio apenas das leis da matéria.a

Com a reencarnação desaparecem os preconceitos das raças e de castas pois o mesmo espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escrava, homem ou mulher.

O amor, profundo como o mar, infinito como o céu, abraça todas as escrituras. Deus é o seu foco. Assim como o Sol se projeta, sem exclusões, sobre todas as coisas e reaquece a natureza inteira, assim também o amor divino vivifica todas as almas; seus raios, penetrando através das trevas do nosso egoísmo, vão iluminar com trêmulos clarões os recônditos de cada coração humano. Todos os seres se criaram para amar. As partículas da sua moral, os germes do bem que em si repousaram, fecundados pelo foco supremo se expandirão algum dia, florescerão até que todos sejam reunidos numa única comunhão do amor, numa só fraternidade universal.

Somente o progresso moral pode assegurar aos homens a felicidade na Terra, refreando as paixões más; somente esse progresso pode fazer que entre os homens reinam a concórdia, a paz, a fraternidade.Será ele que deitará por terra as barreiras que separam os povos, que fará caiam os preconceitos de casta e se calem os antagonistas de seitas, ensinando os homens a se considerarem irmãos que tem por dever auxiliarem-se mutuamente e não destinados a viver à custa uns dos outros.

Sei bem que o progresso só se faz por degraus, que é necessário tempo para que a opinião pública se acostume às novidades; assim, é sem impaciência que espero a vinda de novos médiuns, com os quais se poderão continuar esses notáveis descobrimentos. Desde que os fenômenos são reais e que se verificam já um tanto por toda a parte, é certo que se reproduzirão, e então triunfaremos porque a verdade acaba sempre por impor-se.

Ninguém nasce destinado ao mal, porque semelhante disposição derrogaria os fundamentos do Bem Eterno sobre os quais se levanta a Obra de Deus.

O espírito renascente no berço terrestre traz consigo a provação expiatória a que deve ser conduzido ou a tarefa redentora que ele próprio escolheu, de conformidade com os débitos contraídos.

A alma ou Espírito sofre na vida espiritual as conseqüências de todas as imperfeições que não conseguiu corrigir na vida corporal. O seu estado feliz ou desgraçado, é inerente ao seu grau de pureza ou impureza.

Não há uma única imperfeição da alma que não importe funestas e inevitáveis conseqüências, como não há uma só qualidade boa que não seja fonte de um gozo.

Toda falta cometida, todo mal realizado é uma dívida contraída que deverá ser paga; se o não for em uma existência, se-lo-á na seguinte ou seguintes, porque todas as existências são solidárias entre si. Aquele que se quita numa existência não terá necessidade de pagar segunda vez.

Os reflexos mentais, segundo a sua natureza, favorecem-nos a estagnação ou nos impulsionam a jornada para a frente, porque cada criatura humana vive no céu ou no inferno que edificou para si mesma, nas reentrâncias do coração e da consciência, independentemente do corpo físico, porque, observando a vida em sua essência de eternidade gloriosa, a morte vale apenas como transição entre dois tipos da mesma experiência, no “hoje imperecível”.

Quão raros na Terra se capacitam de que trazemos conosco os sinais de nossos pensamentos, de nossas atividades e de nossas obras, e o túmulo nada mais faz que o banho revelador das imagens que escondemos do mundo, sob as vestes da carne!. . .

O espiritismo fornece a chave das relações existentes entre a alma e o corpo, e prova que há reação incessante de um sobre ou outro; desta forma, abre para a ciência uma estrada nova; apontando a verdadeira causa de certas afecções, fornece-lhe os meios de combate-las. Quando levar em conta a ação do elemento espiritual na economia, a ciência errará menos.

Os espíritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo físico. Atuam sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das potências da natureza, causa eficiente de uma multidão de fenômenos até então inexplicados ou mal explicados e que não encontram explicação senão no Espiritismo.

A responsabilidade das faltas é toda pessoal, ninguém sofre por alheios erros, salvo se a eles deu origem, quer provocando-os pelo exemplo, quer não os impedindo quando poderia fazê-lo.

Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relações com outros homens para que se tenha ocasião de fazer o bem, e não há dia da existência que não ofereça, a quem não se ache cego pelo egoísmo, oportunidade de praticá-lo. Porque, fazer o bem não consiste, para o homem, apenas em ser caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso venha a ser necessário.

O túmulo é o ponto de reunião de todos os homens. Aí terminam inelutavelmente todas as distinções humanas. Em vão tenta o rico perpetuar a sua memória, mandando erigir faustosos monumentos. O tempo os destruirá, como lhe consumirá o corpo. Assim o quer a Natureza. Menos perecível do que o seu túmulo será a lembrança de suas ações boas e más. A pompa dos funerais não o limpará das suas torpezas, nem o fará subir um degrau que seja na hierarquia espiritual.

Uma vez que o perispírito organiza a matéria, e como esta ressuscita das formas desaparecidas, parece lógico concluir que ele conserva traços desse pretérito, porque a hereditariedade, como veremos, é impotente para fazer-nos compreender o que se passa; parece legítimo supor, portanto, que o próprio perispírito evolveu através de estádios inferiores, antes de chegar ao ponto mais elevado da evolução.

Se a reencarnação é uma verdade, bastante lógico é que as lembranças referentes a uma vida anterior se revelem, como já o disse muitas vezes, mais freqüentemente entre as crianças, visto que o perispírito, antes da puberdade, possui ainda um movimento vibratório que, em certas circunstâncias especiais, pode adquirir bastante intensidade, para fazer renascer recordações da existência anterior.

Melhor ainda: as crianças prodígio provam-nos, com evidência irresistível, que a inteligência é independente do organismo que a serve, e isto porque as mais altas formas da atividade intelectual se mostram entre aqueles cuja idade não atingiu a maturidade plena. É esta uma das melhores objeções que se podem opor à teoria materialista.

Porque o perispírito é indestrutível, conservamos, depois da morte, a integralidade de todas as nossas aquisições terrestres, e a memória acorda, então, completa, nos seres suficientemente evolvidos, por maneira que podemos abraçar o panorama de nossa passada existência.

Vê-se, indiscutivelmente, das pesquisas feitas a meio século, pelos sábios mais notáveis do mundo inteiro, que existe no homem um princípio transcendental, desconhecido dos quadros da fisiologia oficial, porque nos é revelado com faculdades que o tornam muitas vezes independente das condições de espaço e de tempo, que regem o mundo material.

Tudo evoluciona, tanto as nações como os indivíduos, assim os mundos como as nebulosas. Tudo parte do simples para chegar ao composto; da homogeneidade primitiva vai-se à prodigiosa complexidade da Natureza atual, realizada por leis que só pedem tempo para produzir todos os seus efeitos.

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 04:26

Quarta-feira, 31 de Março de 2010

 

As religiões, entendidas como crenças na existência de seres superiores ou forças criadoras do Universo, e que devem ser adorados e obedecidos, criaram suas doutrinas, cada qual com seus preceitos ético-morais e reverências às coisas sagradas.

As religiões geram, em seus  seguidores, sistemas de pensamentos que levam a posicionamento filosóficos, éticos e metafísicos, influindo poderosamente na maneira individual e coletiva a seguir.

Assim, quanto mais próximas estiverem as doutrinas religiosas da Verdade e da realidade, melhores serão suas influências  sobre seus adeptos.

Hoje, à luz da Revelação Espírita, sabemos que todas  as grandes religiões do mundo, desde as mais remotas eras, tiveram, em seus fundadores, os missionários encarregados de orientar e ajudar parcelas da Humanidade a progredir em conhecimentos e sentimentos.

Mas o auxilio do Alto nunca ultrapassou a capacidade de entendimento absorção dos ensinos por parte daqueles aos quais era  dirigido. Esse fato explica a linguagem figurada, sujeita a interpretações e estudos mais aprofundados a respeito dos textos religiosos antigos.

Moisés, Maomé Buda, Lao-Tsé e todos os demais enviados por Jesus, o Cristo – Governador da Terra – utilizaram linguagem inteligível à época   em que cumpriram suas missões.

Entretanto, transformadas as  condições do mundo em que atuamos e deixaram suas mensagens e ensinos, pelo progresso natural, pelas modificações dos usos, costumes e leis humanas, pelos descobrimentos científicos e pela evolução  geral do Planeta e de seus habitantes, é necessários que se  interpretem os textos antigos dos livros sagrados das religiões em suas significações legitimas.

As interpretações literais de textos escritos há milênios, sem os cuidados naturais para se buscar a significação real, levam a enganos e erros como decorrências normais.

Essas considerações  visam focalizar paradoxos que se observam no seio de determinadas religiões,  os quais se tornam incompreensíveis ou inexplicáveis perante a finalidade visada pelos princípios  religiosos, que é o da elevação dos sentimentos e dos conhecimentos da criatura humana.

Referimo-nos ao fanatismo, ao radicalismo e ao fundamentalismo que se observam em determinados movimento religiosos, gerando consequências negativas e diversificadas no seio de grande parte da Humanidade.

O fanatismo é o procedimento, a qualidade e o caráter intolerante e cego religioso.

Entusiasmado e apaixonado pelas ideias que aceitou, é incapaz de examinar qualquer pensamento, principio, ou ideal que não estejam estritamente contidos na sua doutrina. Sua vida de relação se faz extremamente difícil em face de sua presunção de superioridade com  referencia a tudo que o cerca.

Próximo  do fanatismo encontra-se o radicalismo daqueles cuja opinião ou comportamento os tornam inflexíveis, mesmo diante de evidências e provas contrárias ao ponto de vista que aceitaram.

Fanatismo e radicalismo são males que se enraízam nos movimento religiosos, principalmente protestantes, com graves prejuízos para os invigilantes que os aceitam e para aqueles que com eles se relacionam.

Aos prejuízos das interpretações do Velho e Novo Testamento somaram-se os equívocos das igrejas denominadas cristãs, com suas estruturas e hierarquias tradicionais, criando  as organizações religiosas que se desviaram do Cristianismo autentico, resultante dos ensinos do Cristo de Deus.

A interpretação que se deu as palavras céu, inferno, anjos, demônios, penitencia, dia do juízo e tantas outras constantes dos Evangelhos, na sua letra, sem considerar que Jesus se dirigia  a pessoa de pouco entendimento e que sua linguagem, tinha tantas vezes, sentido figurado para ser entendida, levou as doutrinas católica e protestante e erros e enganos evidentes.

CÉU E INFERNO, por exemplo, não podem ser configurados lugares determinados ao gozo eterno ou ao sofrimento eterno das almas, como entendem as igrejas, mas sim estado da alma, resultantes de seus pensamentos e ações no bem ou no mal.

PENITÊNCIA não deve ter o sentido de simples castigo pelo mal feito, mas sim o de arrependimento, sem prejuízo da retificação necessária.

ANJOS OU ESPÍRITOS que já se encontram em avançados estágios evolutivos, mas que iniciaram sua trajetória  como seres simples e ignorantes e não como criaturas especiais como o Criador.

DEMÔNIOS são espíritos que se desviaram, comprazem-se no mal, mas que terão oportunidade de se redimir, dentro da lei de Deus, que é justa e equitativa com toda a Criação.

O JUÍZO FINAL não é um julgamento especial em um tempo indefinido dentro da eternidade, mas sim as consequências dos atos e pensamentos de cada ser pelo automatismo das leis divinas, às quais todas as criaturas estão sujeitas.

O fundamentalismo resultante da interpretação literal, quando se junta à força do poder temporário, conduz os povos, raças e nações à violência e as guerras, como ocorreu no passado e ainda acontece (veja matarias de jornais protestantes invadem e quebram centro espíritas)

O fundamentalismo, o utilitarismo, o subjetivismo e o materialismo são desvios perigosos de vivencia  e de interpretações infelizes, com consequências sérias para que os aceita, contra os quais estão sempre presentes a mensagem do Cristo e a Doutrina Consoladora por Ele prometida e enviada.

  

 

 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 04:22

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Excelente texto. Parabéns!
É como você mesmo colocou no subtítulo do seu blog...
Ok, Sergio.O seu e-amil é só esse: oigres.ribeiro@...
Ok, desejaria sim.
Ola, Sérgio.Gotaria de lhe fazer um convite:Gostar...
Obrigado e abraços.
www.apologiaespirita.org
Ola, Sérgio.Gostei de sua postagem, mas gostaria s...

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